16/03/22

Mais Estranho Que A Ficção: E mais fácil do que deveria...




Há mais de dez anos, em algum canal de TV - acho que foi na extinta Play TV, passou uma interessante resenha sobre este filme. O enredo parecia inusitado e criativo, promissor, o suficiente para eu querer assistir. Mas o tempo passou e esqueci o nome do filme. Persistiu, porém, a vontade de assisti-lo. Foi só em 2021, no Segundo Ano da Peste, que eu descobri o nome, baixei o torrent e finalmente assisti Stranger Than Fiction.

E então, o filme é bom ou ruim?

Bem... eu não diria que é um filme ruim, mas parece-me que está fadado a ser mais interessante para amantes de Literatura que para o público geral. E sou obrigado a escrever isso pois existe um grande problema no desenvolvimento da obra: as relações acontecem com mais facilidade do que deveriam. Quero dizer: as reações e comportamentos dos coadjuvantes não são verossímeis. 

Vejamos: (1) a secretária, uma negra norte americana, é demasiado complacente com a escritora em crise, quando o esperado seria que brigassem e não se suportassem - afinal a escritora inglesa é terrivelmente arrogante e autocentrada, ao ponto de irritar o expectador. Pessoas vividas sabem que os negros norte-americanos não levam desaforo pra casa, logo; uma mulher negra americana sendo destratada por uma inglesa metida soa ridículo e inverossímil; (2) o professor de literatura decide passar o tempo tentando descobrir de quem é a voz narrativa que o protagonista escuta, mas faz isso sem ter nenhum bom motivo, simplesmente aceita a história fantástica de um desconhecido que possivelmente é esquizofrênico; e (3) a confeiteira esquerdista trata afetuosamente o protagonista, sujeito que ela detestava, e vai além, apaixonando-se pelo mesmo, que aliás é morno, monótono, burocrata, sem beleza e que em nada tem a ver com ela.

A piada é que, com isso tudo, o expectador fica com a sensação de que são os coadjuvantes que fazem parte de um roteiro invisível e abusivo, no qual são privados de autonomia e necessariamente devem ajudar o protagonista. É claro que os coadjuvantes precisam se comportar como se comportam para que a trama vá para frente - esse não é o problema. O problema é que suas motivações ou não existem ou são mal explicadas e não convencem.

Os que gostam de Literatura e de obras relacionadas, especialmente se possuírem interesse em gnosticismo hollywoodiano, poderão dar um desconto e focar na boa atuação de Will Ferrel e Emma Thompson.

Assim, Stranger Than Fiction, na opinião crítica deste blogueiro metido a cinéfilo, está longe de ser um grande filme e é apenas divertido e ligeiramente engraçado. Numa comparação qualitativa, eu diria que fica uma estrela abaixo de The Professor (2018), filme que tem ritmo semelhante e intensidade igualmente amena, mas com a vantagem de possuir personagens com justificações convincentes.

Para não parecer chato demais, vale dizer que a atuação de Emma Thompson como escritora está magistral, convincente e charmosa.

Dei ao filme duas estrelas e meio no Filmow, onde originalmente publiquei este comentário. Considero que três estrelas sejas bom, portanto, duas estrelas e meio seria algo como quase-bom.

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