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25/02/25

Deus e o Diabo na Mistura das Raças


Os Operários, quadro de Tarsila do Amaral


A parte mais destacada da minha família, na geração dos meus pais, é composta de nordestinos mestiços e negros que, pelo estudo, trabalho e moralismo pentecostal, tornaram-se advogados, professores e servidores públicos. Aprenderam muito com gente de classe média que lhes deu oportunidade. Hoje, estabelecidos em suas áreas, nenhum deles tem ressentimentos de classe ou de raça. E todos são gratos.

Por isso eu penso, e defendo, que o nosso país não pode ser reduzido à fórmula sociológica simplista de que: "O Brasil é um país racista". Isso é meia verdade, pois há também, entre nós, o congraçamento racial, a índole personalista, a paixão pelo carisma, a compaixão cristã, católica, a meritocracia protestante. Elementos que, muitas vezes, fazem relativizar ou superar os preconceitos de raça.

Qualquer um que não tenha a sensibilidade ou experiência de vida para notar na nossa história social um emaranhado de linhas de força contraditórias, em que preconceito e inclusão se entrechocam a todo o tempo (até no Movimento Eugenista, no Monarquista e no Integralismo havia negros incluídos..), não conseguirá entender o que é o nosso país e por que ele é único. Em resumo: o Diabo é brasileiro; mas Deus também é.

22/06/22

Notinha #6: Contra Gigantes

Ocorre, vez ou outra, de encontrar pessoas que parecem voar níveis acima dos meus em desenvolvimento moral, espiritual, artístico, cultural e intelectual. Falam sobre assuntos difíceis e complicados, de modo que nunca as compreendo na totalidade. Por vezes, sinto que emanam uma sapiência - poderia dizer uma superioridade - que não apenas surpreende, mas paralisa. Diante delas, envergonho-me de meu tamanho e tudo quanto sei ou fiz parece raso e sem valor.

Que fazer diante de quem em tudo se mostra superior? Que fazer com o brilho alheio que ofusca e cega?  Uma tragédia que haja no mundo qualquer criatura melhor e maior que eu! A mera ideia de olhar ao alto, de precisar erguer-me para alcançar outro ser, ofende-me demasiado. Que desigual e cruel batalha é a luta contra gigantes!

Não podendo jamais me elevar, seja por insuficiência de força moral ou de inteligência, só posso desprezar os que se elevam. A verdade é que primeiro senti a inveja, depois, o ranço; agora, rumino vingança. Vingar-me-ei do sentimento de mediocridade, de inferioridade, de nada, ao qual me condenaram. Zombarei dos ideais elevados, caluniarei seus nomes, desmentirei suas conquistas. Com a pena que empunho, tramarei para que sigam na história como fraudes e paspalhos.

Um mundo no qual eu não possa reinar é um mundo que não merece existir. Que caiam os gigantes, para que este pequenino seja rei.