Mostrando postagens com marcador webcultura. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador webcultura. Mostrar todas as postagens

10/02/24

O Blogueiro Extemporâneo




Acho fascinante dispor do blogger numa era em que essa opção já não é tão popular entre os internautas. Com essa atitude eu ingresso na galeria dos blogueiros extemporâneos - os que usaram antes de ser moda e os que ainda usam depois da moda. Antevendo a pergunta: por que você ainda escreve no blogger? Deixo registrada, aqui, a minha resposta.

Faço-o porque traz consequências curiosas e interessantes. Começo explicando que, em relação aos leitores, a relativa invisibilidade do blogger no Google me blinda dos olhares indiscretos de uma multidão de internautas analfabetos culturais; muitos deles proselitistas ideológicos (à esquerda e à direita), com parca ou nenhuma formação filosófica, pouco acostumados à discordância esportiva, pesquisa, leitura, crítica racional e argumentação inteligente. A discrição protege-me também da geração floco de neve, para a qual toda conduta avessa ao sentimentalismo tóxico progressista é um venenoso fruto da árvore de algum ismo. Esses, formados quase integralmente por mocinhos e mocinhas histéricas, teriam verdadeiros ataques epilépticos ao constatarem minhas opiniões sociais e políticas. Excluída - ou minimizada - a possibilidade de visitação desses tipos, minha preocupação quanto a possíveis reações debilóides ao meu conteúdo já decai um bocado. As piores coisas para o escritor são a auto-censura e a crítica leviana.  

Ou seja: gosto da liberdade que o blogger me traz, da paz que tenho aqui. Paz: bem precioso que eu jamais teria em antros de caos e perdição, verdadeiras selvas de gritaria, como Facebook, Twitter ou Instagram. Ainda sobre os leitores: descobri que prefiro atrair gente da minha convivência ou quase – parentes, leitores antigos, amigos e amigos de amigos. Ao menos esses, quando não são cultos, demonstram interesse na elevação cultural. Buscam compreender antes de julgar.  Atrair essa gente foi um dos propósitos originais deste Notas de Um Blogueiro Em Crise (NdBC).  

Há pouco mais de três anos, em conversas, eu às vezes revelava que escrevia. Surpresas, as pessoas me perguntavam sobre o quê e onde. Para responder essas duas perguntinhas simples eu me enrolava todo. Havia escrito sobre vários temas, em gêneros distintos, e minha produção estava fragmentada em dezenas de postagens no Quora, Facebook, Medium e em blogs minúsculos no Wordpress e no Blogger. Eu não sabia nem quais eram os temas ou os gêneros que praticava com maior frequência. Por isso tomei vergonha na cara e decidi pegar todo texto que eu achasse relevante, ou divertido, e pôr num lugar só, um blogzinho, simples, minimalista, com tudo bem organizado por tags. Assim nasceu o NdBC.

E agora, quem diria, estou no quarto ano de blog. Ostentando um bocado de textos devidamente alocados e catalogados (130 textos, incluindo este). Há ainda alguns por incluir, creio que algo entre dez e quinze, porém só o farei depois de severa edição. Na transferência dos meus textos para cá eu fiz três curiosas descobertas: (1) como nos incomodam alguns dos nossos textos do passado!;(2) como cometemos plágio involuntário!; e (3) como mudam as nossas ideias! Muitos dos textos postados em outras redes, que eu achei que viriam para cá, acabaram se mostrando datados, levianos ou de inteligibilidade restrita ao ambiente original. Com isso surgiu a vontade de escrever textos inéditos para o blog, o que fiz em algumas ocasiões, geralmente na forma de crônicas, notinhas e até poemas. Tive, é verdade, vontade de escrever artigos mais elaborados, mas não consegui porque optei em focar na edição e organização dos meus diários, material que a cada ano se avoluma.

Não decidi ainda qual será a tônica do NdBC neste ano.  Sei que não tenho ânimo para falar de política e filosofia política aqui, porque é o assunto mais deprimente e é um dos mais exigentes (eu não conseguiria escrever sem ilustrar o discurso com referências, o que tornaria a produção mais demorada). Sem contar que política é o tema que mais atrai problema. Melhor evitar, como sabiamente tenho feito. 

Dos meus temas de estudo e interesse, brasilidade e violência são dois que talvez mereçam comentários. Indicações e comentários tematizando a vida intelectual e literária devem aparecer, assim como notinhas sobre livros, eventuais poesias e crônicas. Pensei em pôr aqui a correspondência que tive com amigos intelectualizados na juventude, o que houver de interessante para publicar, como exemplo a ser seguido aos meus leitores mais jovens. É uma possibilidade..

Listas de música, as famosas playlists, e dicas de música, devo publicar aqui também? Dicas de blogs, comentários sobre internet, tecnologia e blogosfera devem aparecer. E talvez eu entreviste alguns intelectuais, blogueiros, escritores e artistas, amigos ou não. Pensei em voltar a desenhar, e poderia publicar aqui os desenhos. Pensei também em traduzir alguns artigos interessantes em inglês. Eu poderia falar sobre quadrinhos,  cultura pop e sobre programas antigos de TV. Ou poderia falar de magia, tarôt, astrologia, parapsicologia, hipnose e outras heterodoxias, embora o melhor seja nunca falar sobre essas coisas à luz do dia e sóbrio, afinal, podem desconfiar – ou descobrir – que eu sou doido.

Bem, sem respostas precisas agora, vejamos o que o tempo e o capricho do autor trará ao blog. Que reine a liberdade. 

02/05/22

Aniversário: Um Ano Do Notas de Um Blogueiro Em Crise


Na última quinta feira, dia 27 de Abril de 2022 do calendário gregoriano - quatro dias atrás, portanto -  este meu pequeno e isolado blog atingiu a marca de um ano de atividade; o que significa um ano compartilhando textos com regularidade (em regra, semanalmente). Sei que nada demais fiz por aqui, mas isso não me impede de ficar alegre com tão singela conquista - que mostra algum esforço meu na busca de disciplina e constância literária.

Por conveniência, desde o início, andei lendo alguns  blogs e reflexões sobre blogs. Terei aprendido alguma coisa? Vejamos: com certeza aprendi, horrorizado, o quão decaída está a posição da blogosfera amadora nos resultados de busca do Google. A abundância de sites e blogs comerciais movidos a SEO e tráfego pago - que pipocaram a partir de 2015 com a explosão do mercado de marketing digital - fez despencar a relevância do blogspot no Google. Assim tem sido com os atuais algoritmos do maior buscador da web. Felizmente, no Duckduckgo, um buscador alternativo famoso, os blogs blogspot ainda aparecem.

A maioria das pessoas ainda usa o Google para pesquisa, então o potencial desses blogs  de atrair novos leitores despencou muito - falo aqui dos blogs feitos no plano gratuito, sem SEO sofisticado e sem tráfego pago. A queda desmotivou aqueles que por paixão mantinham seu blogzinho amador e através do Google recebiam estimulantes dúzias de novos visitantes ao mês. Coisa que levou muitos blogueiros a divulgar seus blogs em grupos e páginas no Facebook (quando valia a pena) e perfis no Instagram, procurando resgatar as antigas e saudosas médias de visualizações dos tempos áureos.

Como a situação só foi piorando, continuaram ativos em planos gratuitos no blogspot apenas os que não ligavam para visualizações ou aqueles cujos blogs já eram grandes e já recebiam muitas visualizações - fosse por causa de posts muito relevantes, parcerias com outros blogs, oferta de serviço útil (download), público fiel e engajado ou uma mistura de todos esses elementos. 

Apesar de alguns bons e velhos blogs ainda continuam ativos, o certo é que foi-se o tempo em que o blogger (em sua versão gratuita) tinha relevância pública. Quando comecei este projeto, eu até fazia alguma ideia disso, no entanto, a coisa foi ficando muito mais clara ao longo do tempo. Hoje em dia, para o iniciante que quer ter um blog público na internet, o melhor é experimentar alternativas como Wordpress, Medium, Quora, Amino, algum site colaborativo como a Obvious, ou até, quem sabe, uma página do Facebook.

Descobri também que os bons fóruns de discussão, muito comuns na web2.0, não andam bem das pernas. Além do já finado Fórum Anti Nova Ordem Mundial, que era um dos lugares mais estranhamente divertidos e malucos da internet em português, fechou também o Fórum Realidade, que era um dos fóruns interessantes; tão interessante que o Manuel Dória (um dos sujeitos mais inteligentes que eu conheci na internet) e o Hugo Motta (que é o meu amigo mais erudito) conheceram-se por lá. O A.R.R.A.F, que é o que restou do F.A.R.R.A, é agora um morto-vivo, mas, pelo caminhar, em algum tempo tornará-se um morto-morto. Curiosamente, mantém-se frequentado o Fórum do Búfalo, mas pra esse eu já não tenho paciência: é muito chororô e ressentimento de homem chifrado.

Legal mesmo foi ver que  vários blogs de plano gratuito no blogger- alguns de downloads de scans, outros de álbuns de música e outros literários - continuam muito ativos, sendo que alguns blogueiros e blogueiras vêm mantendo atividade em seus blogs por um período de dez anos, alguns mais! Isso é incrível e muito inspirador: dá até vontade de escrever um pouco sobre esses blogs e esses blogueiros. Farei isso algum dia. Hoje vou ficando por aqui, pois é tarde e já sinto sono.

Vai-se um ano de blog, começa outro.  

O projeto não se altera: continuarei trazendo pra cá meus melhores textos publicados em locais diversos da web e continuarei focando em produzir crônicas. Mesmo assim, alguma novidade pode surgir, talvez uma resenha ou entrevista, talvez mais downloads. Será? Vai depender da minha organização. 

Sigamos e vejamos no que vai dar...

14/03/22

Pirataria Digital: Tô Dentro!

 


Brasileiro pobre, nascido nos anárquicos anos 90 e formado internauta na gloriosa web 2.0, a pirataria e o compartilhamento virtual estão entranhados no modo como encaro a internet. Para mim, sem compartilhamento a internet não é internet, até porque ela nasceu para isso...

Carrego a nostalgia pelo tempo áureo dos blogs, onde era possível compartilhar de quase tudo - e impunemente. Hoje em dia não é mais assim, de dez anos pra cá o compartilhamento, embora ainda não seja crime, em muitos casos revelou-se problemático... De qualquer modo, problemático ou não, é a tradição a qual me filio; e sendo como sou, pirata inveterado, jamais poderia tocar um blog pessoal sem essa atividade. 

Por isso decidi compartilhar aqui quadrinhos, filmes e o que mais der na telha. Com sorte, não terei problemas. Felizmente, costumo ser um homem de sorte. Pois vejamos...

27/02/22

Passado, Presente e Futuro deste Blog

 


Quando comecei este blog eu queria duas coisas. A primeira era fugir do Facebook; fugir da dinâmica dos debates perpétuos, pois desanimava-me a ideia de ter que justificar uma opinião logo depois de publicizá-la. Tenho pouca fé no debate racional e nenhuma vontade de convencer as pessoas -  ainda mais quando sei que estou certo e melhor informado.

O segundo objetivo era criar uma área de produção literária  pública e livre, mas descompromissada, ou apenas compromissada com minha dispersão cultural. Uma área para escrever sobre o que eu quisesse, com o texto que eu quisesse, do tamanho que eu quisesse, mas inicialmente orientada para crônicas e textos em formatos mais fáceis, do tipo que caberia bem num blog, coluna de jornal ou newsletter pessoal. Isso porque eu já havia constatado minha inclinação para a crônica e, coerente, desejava um meio adequado para fomentar minha produção.

Depois eu julguei que seria boa ideia aglutinar aqui meus textos espalhados em blogzinhos, redes sociais e cantos diversos da internet, fazendo desta página não apenas um blog pessoal, mas também um repositório dos textos interessantes que escrevi e publiquei online desde 2012, ano em que pela primeira vez um texto meu foi publicado em um blog (projeto feito com amigos literatos mas que acabou incipiente). Publicando os textos aqui eu posso editá-los e catalogá-los, assim ganho maior clareza sobre as temáticas e os estilos que marcaram minha produção literária até agora. O ritmo de publicação tem sido o de um texto por semana, a frequência mais fácil para manter uma rotina literária básica. 

Escrever é fundamental para minha saúde e organização mental. Não que eu seja muito são escrevendo, mas, sem escrever, eu provavelmente enlouqueceria. Há, portanto, uma orientação terapêutica neste meu vício, e o lado bom é que posso recorrer a ela sempre que um leitor mais culto e refinado praguejar contra a má qualidade de minha prosa. Acusado de mau escritor, escuso-me dizendo que não escrevo por talento, mas por necessidade. Conto sempre com a complacência do leitor.

Mas escrevo e, escrevendo, sinto também alguma ambição. O problema é que conforme a literatura perde prestígio e lugar na cultura, sendo a cada dia mais substituída pela vídeomania, meu pouco interesse em produzir alguma forma mais elaborada de literatura vai pelo ralo, e as ideias que tenho para contos  e ensaios já sofrem com o mofo resultante da pouca exposição ao sol. 

Além disso, minha vida está uma bagunça. Escrever exige recursos: concentração, livros para consultar e ambiente adequado. O meu perene desemprego me impede de comprar os livros e de dedicar-me a estudá-los. As contas e as mesquinharias burocráticas do quotidiano acabam se impondo, então, até que eu resolva essas questões mais práticas da vida, atuarei na crônica e em formatos mais leves, o que, aliás, já venho fazendo. É pouco, mas é melhor que nada, e ao menos me impedirá de enlouquecer.