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13/04/22

O Melhor Filme de Viagem no Tempo




Dois jovens engenheiros geniais e obsessivos estão trabalhando num projeto de redução da gravidade. Acidentalmente, descobrem uma forma de voltar no tempo.

Um deles, ambicioso, decide usar essa descoberta para regressar no tempo, com informação privilegiada, e manipular o mercado de ações. O outro não acha que é boa ideia, mas acaba concordando. Ambos precisarão lidar com as imprevistas consequências.

Que filme é esse?

Trata-se de "Primer". Uma obra que, entre cinéfilos, é considerada um das melhores e mais acuradas produções cinematográficas sobre viajem no tempo. O diretor, Shane Carruth, é um físico (e engenheiro) que caprichou na coerência teórica e técnica da coisa toda.

Não é exatamente um filme fácil de se entender, mas qualquer problema de entendimento pode ser resolvido pelos vídeos explicativos que os fãs fizeram e compartilharam na internet.

Filme altamente recomendável para nerds.

Segue o trailer:




 ***


Texto originalmente publicado como resposta no Quora

02/01/22

Lucas Fez Contato: Breve Nota Sobre o Meu Amigo Mais Descolado

A foto do Lucas que capturou um interessante período de nossas vidas.

Fotógrafo e mestre em historia da arte, Lucas Lopes está entre os amigos que mais invejei. Um dos meus  mais longevos camaradas, a origem de nossa amizade deu-se há muitos anos numa divertida turma de oitava série. A paixão por rock, cinema, terror e contracultura nos uniu; assim como nossa sensibilidade melancólica, ou existencialista. Veio dele o primeiro CD do System of a Down que eu ouvi na vida. Sempre gentil, Lucas emprestou-me até o discman para que eu ouvisse o cd. Era 2006 e eu o achava muito descolado por ter um discman, além disso, simpatizava com seu estilo grunge, de cabelos grandes e desgrenhados, vez ou outra declamando alguma frase triste de Kurt Cobain.

Branco, de olhos claros, volumosos cabelos negros, lábios de um vermelho incisivo, olhar sereno, corpo magro e esbelto, deve ter quase um metro e setenta e cinco de altura. Seu rosto, fino e alongado, lembra um pouco o do escritor Robert Louis Stenvenson. Sua aparência, que sugere um perfil de modelo ou ator, sempre encantou as meninas. Daí parte de minha inveja, já que era impossível vencê-lo na arte de encantar as fêmeas. E, de fato, o safado abocanhou algumas meninas com quem eu gostaria de ter ficado, incluindo a bela e badalada Miss R.... Apesar da inveja, nunca levei para o lado pessoal. Não se pode ter tudo, afinal.

Desde os tempos do ensino fundamental continuamos amigos, travando contato as vezes mais e as vezes menos. Acho curioso notar que nosso desenvolvimento pessoal ocorreu por vias contrárias. Enquanto eu tornava-me cada vez mais ressentido, antissocial e arrogante intelectualmente, Lucas tornava-se cada vez mais aberto, humilde e acessível. Enquanto eu permanecia trancado em meu quarto cultuando filósofos mortos, Lucas desbravava o mundo, cultivando as pessoas legais e artísticas que existem nele. Sempre que nos encontrávamos eu ficava admirado com a popularidade e o carisma de meu amigo, que eu percebia pela quantidade de pessoas interessantes que o cercavam. Apesar disso, na maior parte do tempo eu desprezava sua abertura social. Apesar de bom leitor, Lucas não era tão intelectualizado quanto eu - ele era um hipster, e eu um projeto de intelectual diletante - ou ao menos era o que eu pensava, e por esse raciocínio eu concluía que para ele era mais fácil socializar com não-literatos e "cult-bacaninhas". (Na época, não me passava pela cabeça que o nível intelectual não é o melhor critério para julgar as pessoas. Eu realmente achava que era.)

Lucas e eu numa foto improvisada, num momento lúdico-canábico, há oito ou nove anos.

Hoje eu sei perfeitamente bem que a abertura social é uma das melhores qualidades de meu amigo, e que isso lhe proporcionou  muitas  experiências interessantes com gente diversa. Qualidade que aprendi a admirar e invejar. 

Por vezes noto certa atmosfera de mistério em meu amigo, algo difícil de descrever... Sempre achei que ele tinha algo de melancólico, não digo depressivo, mas uma aura de solidão resignada, com certo ar de nouvelle vague, apesar de vê-lo muito mais sociável e melhor integrado. Posso estar errado, mas parece que há um sentimento nele... Algo profundo e doloroso que eu não sei o que é. Impressão que faz lembrar a frase de Cobain que ele costumava citar: "Se meus olhos mostrassem minha alma, todos, ao me verem sorrir, chorariam comigo".

Eu e Lucas vivemos algumas boas aventuras juntos (uma delas foi acampar com amigos em comum). A última vez que o vi foi no início de 2019. Como eu visitava o Rio de Janeiro, marcamos encontro na casa do Matheus Antunes, um velho amigo em comum, aproveitando a ocasião para reunir alguns membros de nossa antiga gangue juvenil, os "Pés Pretos". Foi uma divertida noite, regada a boas substâncias ilícitas, bom álcool, boa conversa, sentimentos nostálgicos e boas músicas. Infelizmente, meu contato com Lucas arrefeceu consideravelmente nos últimos tempos, em parte porque passei anos morando em outro estado (Brasília) e em parte devido a escolhas naturais que nos levaram a caminhos distintos, o imprevisível fluxo da vida. Mas a amizade continua. Quem tem um bom amigo sabe como é: o respeito e o carinho permanece mesmo quando a frequência do contato se vai.

Em fins de 2021, uma grande surpresa: Lucas, que tem redes sociais mas raramente as usa, enviou enorme texto a um de meus perfis no Facebook. Com sua prosa poética e intimista, o amigo trazia sua perplexidade diante da vida, mandava um abraço e denunciava sua saudade. Foi inesperado mas ótimo presente de fim de ano. Uma dessas boas surpresas que a vida traz, e ótima oportunidade para retomar o contato.

29/11/21

Blogueiro: O Cronista da Cultura Esquecida


Assistiu, leu, ouviu? Registre, blogueiro, registre!

Acrescentei a este blog o recurso de exibir os assuntos em tags por frequência. Feito isso, descobri que até agora (depois de 6 postagens) o tema sobre o qual eu mais falei foram blogs. Um blog falando sobre blogs e sobre pessoas que escrevem blogs - que recursivo, não? 

Felizmente criei este site para publicar nele o que eu quiser, e como é um blog sem leitores, ou de leitor único, tem a rechonchuda felicidade de ser um blog acima de críticas. Em verdade, confesso ao meu público inexistente: gosto do que estou fazendo aqui. É simples, é econômico e me impele a escrever. 

Há, para escritores iniciantes, várias vantagens em ter um blog, a principal delas talvez seja a efetivação de uma rotina, de uma regularidade no ofício. Outra coisa muito legal e interessante é que não importa o quão descompromissado possa ser um blog, se ele fala a respeito de algo (um produto cultural, uma notícia, um evento) que as mídias maiores não falam, então ele se torna uma fonte alternativa, uma mídia alternativa. Desse ponto de vista os blogs nada mais são que os fanzines da era digital.

Apenas para exemplificar, citarei dois exemplos de blogs descompromissados e em estilo antigo, amador, que me trouxeram informações sobre assuntos culturais não tratados em mídias maiores. 

O primeiro deles foi o divertido e meio monótono meuqiabaixodezero.blogspot.com, que é divertido por ser um daqueles blogs "nerds" que compilam informações sobre desenhos, séries e músicas dos anos 80, 90 e início dos 2000, e que é meio monótono porque em todas as postagens a autora começa com a mesma frase: "pois é, minha gente..."

Foi nele que encontrei informações sobre um desenho antigo chamado "Creepy Crawlers", que aqui no Brasil foi batizado como "Os Monstruosos". E foi fuxicando esse blog  que encontrei a indicação de uma banda divertida e pouco conhecida, chamada Jumbo Elektro.

Já recentemente, depois de ouvir esta divertida paródia (que é ainda mais divertida para quem já morou ou visitou Sepetiba):



Como eu dizia: depois de ouvir a paródia, indicada pelo meu queridíssimo irmão, eu quis saber quem eram os autores. Lá fui eu pesquisar no Google, e, para minha surpresa, cai num bloguezinho descompromissado de um amante de rock contando sobre sua experiência de ouvir um álbum da tal "Didi Subiu No Cristo", a obscura banda autora do Sepetiba Dreams.

Nos dois casos, os blogs, notavelmente despretensiosos, documentaram fenômenos culturais que não chamaram a atenção da mídia maior, mas que nem por isso deixam de ser interessantes ou relevantes para certos públicos. 

E assim o blogueiro cultural, esse personagem menor das Letras e do Web-Jornalismo, se afirma como um cronista da cultura esquecida. Nós lembramos daquilo que os outros esquecem. 

Eu gosto, e quem acha que cultura e informação nunca é demais, agradece.


24/11/21

Covardia e Citação

Nayane L: bela, culta e descolada. Figura sempre presente em meu passado. 
 
Reconheço que, afetivamente, sou um covarde. Medroso, negligente e magistralmente covarde. Frequentemente penso que deveria dizer certas coisas a certas pessoas. Explicar, esclarecer, fazer com que me entendam, pedir desculpas pelos tantos vacilos, mostrar que apesar de ser um imbecil, eu gostaria de não ser tão imbecil. No entanto, raramente sou capaz de abrir a boca e, olhando nos olhos, dizer o que é necessário no momento em que é preciso dizê-lo. Minha opção é outra: sair de fininho e esperar que a pessoa me esqueça. É a covardia afetiva em ação. Como sei ser solitário e estou mais acostumado que a maioria, a solidão não me apavora - embora a ideia de solidão eterna certamente cause alguns arrepios. 

E assim este estranho blogueiro prefere a solidão a ver-se em situação de fraqueza emocional. Sente o maior pavor de que descubram seu lado sensível e consciente, já que no fundo não passa de um romântico sentimentalóide.

Essa característica medíocre, que é apenas uma das várias características medíocres que constituem a minha personalidade medíocre, faz com que eu abandone ou perca várias relações interessantes e inspiradoras. Especialmente com as mulheres. Especialmente com as mulheres que importam: as cultas, literatas, espirituosas, vivazes...

Foi o que aconteceu em minha amizade com a Nayane L. Estudamos juntos na Universidade, fomos amigos e trocamos e-mails durante dois anos. Um moça deveras interessante, uma amiga literata e  virginiana. Mais uma das boas amizades que perdi. 

Hoje senti vontade de escrever a ela. Ao invés disso, preferi visitar-lhe o blog, num exercício de nostalgia covarde. A última vez que visitei não estava disponível. Mesmo assim, quis visitar. Nayane é uma escritora, tenho certeza disso. Escritores precisam manifestar-se. Os blogs, sendo populares ou obscuros, cumprem essa demanda. 

Grata surpresa foi descobrir que o blog de minha (antiga) amiga está novamente disponível. Conferi alguns textos e fui procurar o trecho que mais me comove. Ei-lo:

"Até que ponto podemos nos sentir sozinhos? Outro dia, recebi um e-mail onde um amigo diz que quase todos meus textos soam como um grito desesperado de socorro. Talvez sejam. Talvez eu sempre cantarole músicas tristes, enquanto caminho pela vida com a pose de mulher bem-resolvida, pedindo um socorro baixinho. Acho que você nunca notou essa minha anatomia extremamente frágil e melancólica. Eu constantemente peço socorro, – aqui respondo ao meu bom amigo – um socorro não se de quê, não sei de quem, não sei de onde. Eu tenho um desassossego na alma que me engole inteira, sem pestanejar."

O amigo era eu.

19/11/21

Pequeno Incremento (em homenagem aos blogs antigos)


A página do antigo jornal O Indivíduo, editado por Pedro Sette Câmara

Andei vasculhando alguns blogs antigos (os bons blogs antigos, amadores, blogspot, .org ou wordpress, sem muito SEO...) e concluí que devo incrementar algo em minhas postagens por aqui. Devo adicionar imagens. Uma imagem para cada texto, à moda dos blogs antigos.

Por causa do charme, simplicidade e funcionalidade, o formato imagem + texto se impôs como estilo blogueirístico par excellence. Nos blogs de resenhas, especialmente neles, a organização gráfica mais comum era a foto do livro, ou do autor, seguida da resenha.

Acho elegante e econômico. Além disso, é conveniente, pois o efeito é quebrar a monotonia gráfica que o texto impresso sugere. Será essa a organização que adotarei por aqui. Em dia de maior disposição, editarei os textos já publicados aqui no blog, adicionando a eles alguma imagem apropriada (ou, talvez, inapropriada). 

Curiosidade: mal tomei a decisão mencionada e sinto que a estética retrô de blog antigo e de poucos leitores já me anima a escrever mais. Mas pode ser sentimento ilusório. Veremos.


15/11/21

Xixizinho Literário Para Não Dizer que Abandonei o Blog


"Não olhem, senão eu não consigo"

Havia esquecido da possibilidade de escrever neste blog. Justifico explicando que tenho dificuldade de gerenciar postagens nos vários blogs e plataformas em que publico. Não que eu tenha publicado muito ultimamente. Para dizer a verdade, nem em meus diários tenho escrito muito...

"Escrever é como fazer xixi. Dá vontade, você vai lá e faz, aí passa. Depois de algum tempo dá vontade de novo". Foi o que disse Paulo Lins, o premiado autor de "Cidade de Deus". Na minha experiência de escrevinhador - um escritor menor, menor, menor - a coisa é bem desse jeitinho, cheia de flutuações. É claro que podem pensar que isso tem a ver com o humor de certos escritores, frequentemente acusados, com razão, de serem excessivamente volúveis.

Nesse time - o dos escritores sem ânimo - há os que escrevem espaçadamente, os que vão escrevendo cada vez menos e os que repentinamente desistem da Literatura. O caso repentino mais célebre e comentado é o de Raduan Nassar (autor que, aliás, eu devo reler em algum momento). Um que jamais levou o próprio texto a sério - talvez com razão - foi Ivan Lessa. Quando publicou, só o fez por insistêcia de seus amigos, especialmente Diogo Mainardi. Radical foi Herberto Salles, que teria queimado o próprio romance. Por sorte, uma versão enviada a um amigo sobreviveu e foi publicada.

Caso menos conhecido, mas também emblemático, é o do meu amigo Wanderson Duke Ramalho, ex-jornalista cultural que escrevia para o CineZenCultural e para o OutrasRotinas. A resolução de Wanderson surpreendeu-me. Pensando melhor, não sei se foi bem uma resolução ou se foi algo inesperado que acabou acontecendo. Wanderson é militar - conheci-o numa escola da Marinha - e sei que os meios militares não são exatamente os tipos mais cultos e letrados. Embora seja muito bem casado com a culta Hosana, acho que o meu amigo não recebia muitos estímulos para escrever. Não, ao menos, de seu meio mais imediato. Aparentemente, contrariando a própria premissa que dá nome a seu blog, Wanderson caiu na rotina iletrada da vida do trabalhador brasileiro.

Ele não foi o único. Darlan Grossi, nosso amigo em comum, artista e blogueiro que chegou a ter texto incluído em coletânea da FluPensa, também não escreve mais. Darlan também é militar e também é casado. Alguém notou o padrão? O meu palpite é de ambos foram absorvidos pelas rotinas da vida burocrática e assim a vida contemplativa, literária e descompromissada foi perdendo lugar. Hoje em dia são homens sérios, de família e respeitáveis, não os vagabundos ébrios e românticos dos nossos tempos de escola militar. Mas já não escrevem. Como poderia um homem sério escrever literatices?

Eu, por outro lado, ainda escrevo. E até, vejam só!, sofro apoio e pressão da família para escrever. Querem porque querem que eu escreva um livro. Estão certos. Escritor sem livro não é escritor. Há anos sonho com a possibilidade de dar o golpe e magicamente mudar minha alcunha de "blogueiro" para "escritor". Ual, fico excitado e eriçado só de pensar nas mocinhas me chamando de escritor. Sim, vaidade, eu sei. Mas é pura verdade e é a vaidade de todos os semiletrados, especialmente os mais pretenciosos como eu.

Tenho que escrever. É o que decidi fazer, afinal. É o que gosto e o que consigo. Pretendo adquirir alguma outra habilidade, especialmente uma que me dê dinheiro e me agrade. Assim conseguirei sobreviver, comprar meus livros e escrever o que der na telha.

E é assim, com estas reflexões mixurucas, que volto a fazer-me presente neste blogzinho sem leitores. Felizmente este blog foi pensado para ser livre e me deixar à vontade, o que permite textos de natureza mais crônica e pessoal. 

É apenas um xixizinho, digamos assim. Por hora, esse é o caminho mais prático. Melhor isso do que nada.