Mostrando postagens com marcador Lima Barreto. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Lima Barreto. Mostrar todas as postagens

17/08/22

Lima Barreto: Sangue Nobre e Esquecido


 [Manuel Feliciano Pereira de Carvalho]      [Lima Barreto]

                              

Mulata livre, filha de escrava alforriada, a mãe de Lima Barreto - Amália Augusta - era originária da família Pereira de Carvalho. Segundo boatos, filha (bastarda) de algum dos varões da família.

Quem eram esses tais Pereira de Carvalho? Tratava-se, na verdade, duma importante e tradicional família carioca. Destacava-se o patricarca: o renomado cirurgião Manuel Feliciano Pereira de Carvalho. De ascendência portuguesa, Manuel Feliciano presidiu a Academia Imperial de Medicina e foi professor do médico espírita Bezerra de Menezes. Era tido como justo, caridoso e solícito; conhecido por seu tratamento humanista aos negros e mulatos. Os Pereira de Carvalho muito apoio concederam ao pai de Lima Barreto, o culto e jovem tipógrafo João Henriques. (Tanto apoio que foi da casa deles que veio a sua esposa, Amália).

Então, vejam, meus caros: de tal modo são as coisas neste mundo que, para nossa surpresa, o famoso escritor Lima Barreto, a quem conhecemos por anarquista, humilde e desafortunado, muito provavelmente tinha em suas veias o sangue da alta burguesia carioca - embora por vias bastardas.

A comparação entre suas feições e a de seu possível bisavô, Manuel Feliciano, é bastante sugestiva.

...

06/12/21

Breve Nota Sobre Um Maldito

Lima Barreto com cara de poucos amigos.

Nascido numa funesta sexta feira 13, quase tudo em Lima Barreto parece triste, melancólico e cheirando à misantropia rancorosa. Mas não devemos nos deixar levar pelas aparências , pois o olhar desconfiado escondia um homem sensível, puro e nobre  -  talvez sensível demais.

Leitor de Dostoiévski e dos moralistas franceses, Lima Barreto desenvolveu uma afiada sensibilidade para notar as injustiças, contradições e misérias da condição humana. Se Machado preferia zombar do palhaço cósmico que é o homem, imergindo no cinismo cético, Lima preferia sinalizar sua revolta contra essa condição.

Simpático à monarquia, o autor de Policarpo Quaresma bateu-se contra os expoentes da Primeira República. Não era um homem de fazer concessões. Chegou a dizer que a República destinaria o Brasil à corrupção. Disse também que o Futebol iria produzir ódio e guerras entre os brasileiros. Ninguém o levou a sério. Hoje, porém, quando olhamos os jornais e vemos as tantas notícias sobre os roubos do governo ou sobre as brigas entre torcidas, fica difícil não lembrar de suas palavras.

Em mero início do século passado, e portanto bem antes da moda feminista, Lima já protestava contra o mau hábito dos brasileiros de assassinar suas esposas e  amantes. Hábito muito difundido entre os varões da nação e que, infelizmente, como atestam os noticiários, perdura até os dias atuais.

Taxado de autor marginal e de anarquista, Lima Barreto era, na verdade, um homem simples e frágil. Era homem do povo, mesmo sem ser popular.