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13/07/22

Filosofia: Ruim Com Ela, Pior Sem Ela


O pensador, de Auguste Rodin


Um dos Loops Filosóficos mais divertidos é a ideia de que a Filosofia é inescapável. Começa-se pela alegação de que a Filosofia é *inútil, sem valor e desnecessária*. Depois percebe-se que para convencer alguém de que a Filosofia é *inútil, sem valor e desnecessária* será preciso argumentar. Acontece que argumentar já é fazer filosofia: quem argumenta acredita (ou parece acreditar) que essa prática tem valor ou é necessária, caso contrário não argumentaria.

Logo, como podemos notar, para contrapor a Filosofia é preciso filosofar sobre a Filosofia. Disso concluí-se que o anti-filósofo é também um filósofo (um mau filosofo, eu diria) mesmo que não saiba e que não admita. A Filosofia seria, assim, uma espécie de “mal” inescapável, uma demanda do intelecto tal como o oxigênio é do organismo.

“Homens práticos, que acreditam estar imunes a qualquer influência intelectual, são em geral escravos de algum economista  falecido.”

John Maynard Keynes (economista)

Se pensarmos nessa frase de Lord Keynes, veremos que ela também se aplica aos filósofos. (Vale lembrar que a própria Economia foi criada por filósofos, como Adam Smith). De fato a maioria das pessoas são escravas de algum filósofo morto, elas apenas não se dão conta. Aquelas que pretendem fugir da Filosofia, ao tomarem essa postura, demonstram apenas que são maus filósofos, pouco amigos da sabedoria.

Infelizmente as coisas são de tal modo que não há escapatória: ou você pensa ou estará fadado a ser escravo mental de alguém que pensou mais que você.

15/06/22

Notinha #5: Breve Reflexão Sobre Meritocracia

Não é que meritocracia não exista. Existir, existe. Mas, diria eu, existem ao menos três problemas principais em torno do tema.

O primeiro é que meritocracia não implica, necessariamente, em valorizar os melhores comportamentos. Na verdade, os critérios tendem a ser problemáticos: em contextos corporativos, por exemplo, premia-se a astúcia, a malandragem e a capacidade de influenciar; então, não se trata exatamente de "trabalhar duro"; mas de ser eficiente e gerar resultados (independente dos meios).

Já em contextos culturais, premia-se aquele que é capaz de produzir engajamento e produtos derivados (ruído comercial), independente da qualidade do conteúdo. Nesse caso, o critério é meramente gravitacional. Como os vícios chamam mais atenção que as virtudes, os agentes culturais com comportamento mais sórdido e reprovável levam vantagem, fazendo com que as pessoas orbitem em torno de suas obras e consumam seus derivados. Esse é o mérito de quem produz Kitsch Trash Culture, e por isso são premiados.

O segundo problema é que, cá no Brasil, a lógica do formalismo burguês (onde prevalece a igualdade formal) nunca dominou. Nossa psicologia é aristocrática, mentalidade herdeira da escravidão. O que isso significa na prática? Significa que aqueles que pertencem ao meu grupo social estão acima dos outros, por isso deverão ser favorecidos. O "mérito" (e também o "direito") será dado a quem é mais próximo socialmente ou afetivamente. Eis a tipologia política do "homem cordial".

E o terceiro problema é que, no mundo real, existem redes de fidelidade institucional não declaradas e mesmo obscuras que decidem "quem tem mérito". Isso é particularmente verdadeiro quando se adentra no submundo das de poder e influência: Maçonaria, Lions Clubs, Rotary Clubs e outras organizações, secretes, discretas ou desconhecidas, que influenciam escolhas e agendas em Editoras, Jornais, Canais de TV, Universidades, etc. E nem vou falar de espiões, agentes infiltrados e ativistas que se destacam e até parecem independentes, mas que são, na verdade, sócios e representantes de algum clubinho (como parece ser o caso do Guru da Virgínia).

10/05/22

Notinha #3: A Beleza da Fé

Vemos com desconfiança a crença na inexistência de um Deus consciente e criador porque ela viola a comum intuição de uma hierarquia cósmica entre os seres, as dimensões e as consciências.

É bela a ideia de um Deus bom, justo, planejador, que organiza e intervém no universo. Para além da metafísica e da teologia, a crença nesse Deus resulta também da sensibilidade estética: é mais elegante que sua negação.

20/03/22

11 Conselhos Para Jovens Nerds


[Dexter, o pequeno e arrogante gênio.]
                                          
Há poucas coisas realmente importantes na vida. Inteligência é uma delas. Alguém aí duvida que tudo que temos de bom e de valoroso na sociedade (e que todos os bens, físicos ou conceituais,dos quais desfrutamos) são frutos da inteligência e do esforço contínuo dos homens do passado?

Se alguém ainda tem dúvidas, basta olhar ao redor. Celulares, arranha-céus, carros, geladeiras, televisores, lâmpadas, trens… Todos esses bens não vieram do nada, não se construíram sozinhos. O processo de construção de apenas alguns deles, como um computador ou um carro, ou mesmo um simples lápis, é tão complexo e apresenta tantas dificuldades técnicas que causa profunda impressão observar tais artefatos serem construídos aos montes, apesar de toda a dificuldade envolvida na confecção.

A inteligência humana aplicada tem permitido identificar e resolver problemas não apenas em questões de engenharia, mas também na medicina, na psicologia, no direito, na política e em qualquer outra área que você possa imaginar. Além disso, a quantidade de conhecimento acumulado, utilizado e acessível nunca foi tão alta em toda a história humana (o amigo leitor certamente já ouviu falar que vivemos na “Era da Informação”) e nossa civilização é totalmente dependente desses conhecimentos, dessa estrutura informacional.

Sabendo disso, percebendo que a manutenção da nossa frágil civilização e de seus bens depende do conhecimento e da inteligência, era de se esperar que nossas crianças e jovens tivessem sua curiosidade natural (esse elemento formador da inteligência) mais do que estimulada. Era de se esperar que as mentes mais destacadas, os espíritos introspectivos, dados à leitura e à reflexão, ao cálculo, à descoberta e à solução de problemas difíceis, fossem encorajados e incentivados, tidos até como heróis mantenedores da vida, da civilização e do progresso, afinal, se não houver ninguém para guardar, descobrir e utilizar o conhecimento, que será de uma civilização baseada nele?

Infelizmente, porém, o brasileiro está longe, muito longe, de compreender isso. E consequentemente está longe de valorizar e de incentivar a inteligência e a curiosidade dos mais jovens. Por outro lado, os brasileiros são excelentes em incentivar a sexualização precoce e o retardamento infanto-juvenil.

14/03/22

Pirataria Digital: Tô Dentro!

 


Brasileiro pobre, nascido nos anárquicos anos 90 e formado internauta na gloriosa web 2.0, a pirataria e o compartilhamento virtual estão entranhados no modo como encaro a internet. Para mim, sem compartilhamento a internet não é internet, até porque ela nasceu para isso...

Carrego a nostalgia pelo tempo áureo dos blogs, onde era possível compartilhar de quase tudo - e impunemente. Hoje em dia não é mais assim, de dez anos pra cá o compartilhamento, embora ainda não seja crime, em muitos casos revelou-se problemático... De qualquer modo, problemático ou não, é a tradição a qual me filio; e sendo como sou, pirata inveterado, jamais poderia tocar um blog pessoal sem essa atividade. 

Por isso decidi compartilhar aqui quadrinhos, filmes e o que mais der na telha. Com sorte, não terei problemas. Felizmente, costumo ser um homem de sorte. Pois vejamos...

02/02/22

Não Caia na Falácia da Igualdade

diversidade

Existe, no mercado de crenças contemporâneo, a ideia extremamente emburrecedora (muito vendida e muito comprada) de que somos todos iguais. Ela é tão alardeada, propagandeada e massificada que aposto que você, amigo leitor, já se deparou com alguma versão.

Se você é um dos inocentes que comprou essa ideia, estou aqui pra te avisar que fez péssimo negócio: você caiu numa vigarice intelectual. Sim, meu amigo, é triste dizer, mas você foi feito de otário. 

Calma, não fique bravo comigo: meu papel aqui é te alertar, e não posso fazer isso sem ser claro, sem ser realista e sem dizer as coisas tais como elas são. Por favor, caro leitor, não seja tão vaidoso a ponto de só aceitar a verdade quando ela vem recheada de eufemismos ou quando ela só favorece o que você acredita. 

Compreendo que isso pode ser difícil numa era em que o politicamente correto ameaça dominar a linguagem, mas garanto que ser autocrítico e realista lhe trará maturidade. Honrado e nobre é o ser humano que, ao identificar um tirano filho da puta, alerta seus companheiros declarando alto e em bom som: “Eis aqui um tirano filho da puta”. Por outro lado, vil e imperdoável deve ser aquele que mascara a linguagem para transformar assassinos em santos. 

Dito isso, podemos voltar ao tema central.

Já vou explicar o por que você foi enganado. Mas, para isso, lhe darei algumas pequenas tarefas. Nada que doa, eu prometo. Só preciso que você reflita um pouquinho.

Pense por alguns minutos na pessoa mais inteligente que você já conheceu. Pensou? Ok, muito bem. Agora pense na mais burra, na mais ignorante, na mais tola. Notou alguma diferença fundamental?

Pense agora, por alguns minutos, na Madre Tereza de Calcutá. Pense em Chico Xavier, em Jesus Cristo, em Mahatma Gandhi, em Martin Luther King ou simplesmente na pessoa mais sábia que você já conheceu. Agora pense em Hitler, em Charles Manson, em Calígula, no Maníaco do Parque ou simplesmente na pessoa mais cruel e depravada que você já conheceu. Percebeu alguma diferença?

Sem dúvidas, todas essas pessoas tinham algo em comum. Todas elas tinham uma estrutura biológica similar, a estrutura biológica dos humanos. Isso só significa, contudo, que elas tinham coisas em comum, não significa que eram iguais. Ao pensar nelas e compará-las, você provavelmente percebeu que elas não eram psicologicamente iguais. Em outras palavras, você percebeu que elas não pensavam e não agiam da mesma forma. 

Os seres humanos, quando comparados, possuem coisas em comum e também discrepâncias. É justamente por conta das discrepâncias, características individuais, exclusivas, que as pessoas não podem são exatamente iguais. O que torna cada ser humano único é o fato de que ninguém possui as mesmas particularidades. É aquela coisa de existir características em você que só existem em você. Aquela coisa da sua digital ser única: a isso chamamos individualidade 

Note que é crucial aqui entender o significado da palavra “igual”. Um ente “igual” a outro é um ente cuja constituição total é a mesma que a de outro ente. Agua é igual a H20. Cachorro é igual a Cão. Na boa e velha linguagem da lógica, o princípio da igualdade é formulado como A=A.

 Ocorre que seres humanos são constituídos por elementos comuns, como a estrutura fisiológica, mas também por elementos individuais, exclusivos, como a constituição psicológica de cada um. Ou seja: seres humanos não possuem exatamente a mesma constituição total. É por isso que eu sou eu, você é você e ele é ele. Se fossemos literalmente iguais, esses pronomes nem fariam sentido.Resumindo: temos coisas em comum, mas como temos características exclusivas, não somos iguais.

Acreditar que somos iguais é, portanto, negar a realidade. E a consequência dessa negação é muito perigosa, pois não estabelece a devida distinção. Tal negação coloca os maus no mesmo nível em que os bons, os virtuosos no mesmo nível em que os depravados, os honestos no mesmo nível em que os mentirosos. Tal negação equivale a não diferenciar um tigre de um gatinho.

 Equivale a dizer que Hitler e Jesus eram iguais. Pior: equivale a dizer que você é essencialmente igual ao que foi Hitler. Dizer que todo mundo é igual favorece os piores membros da espécie e praticamente anula a grandeza e o esforço dos melhores.

Por isso, não caia mais nessa, meu amigo.

 Aprenda a diferenciar as coisas — e os homens — segundo suas qualidades e atributos. Afinal, é para isso que serve sua inteligência.

12/01/22

Estoicismo e Política

 

Busco de Marco Aurélio, o Imperador Estóico

Se há um juízo que considero verdadeiro é a noção de que, neste mundo em que vivemos, TODAS as coisas boas - o amor, a amizade, a lei, a honra, a honestidade, a justiça, a moral, etc - são extremamente frágeis e demandam de nós um esforço colossal para serem mantidas sem perderem a essência.

A lei da tendência à entropia parece não se aplicar apenas a  sistemas físicos, mas também à realidade ontológica das relações e construções humanas: tudo que é bom é fácil de ser perdido, roubado, arruinado. O  mal, por sua vez, nos é dado naturalmente - não é a barbárie o estado natural do "sapiens-sapiens"?
 
É aí que reside, penso, a grande força do pensamento conservador. A ideia de pecado, de tendência natural ao erro, de desconfiança da capacidade humana, torna-se um complemento essencial ao liberalismo iluminista. Pode-se dizer que o conservador será sempre mais realista que o liberal, enquanto o liberal será sempre mais realista que o socialista.

Diante das loucuras e incongruências humanas o socialista irá se deprimir e propor 'um outro socialismo' e 'um outro homem', o liberal vacilará em sua crença no progresso e na ciência, já o conservador, estóico, se limitará a dizer o seu ponderado  "eu avisei".



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Nota do editor: o comentário acima  foi escrito em 2015 e originalmente publicado no Faceboook.

29/12/21

Educação e Crescimento do Pênis


Concordo cem por cento com a frase do Daniel Fraga de que “pobre deveria pedir licença para existir”. Contudo, devo esclarecer: penso em outro tipo de pobre.

O Sr.Fraga, um anarco-capitalista, provavelmente se refere ao pobre da classificação econômica. Já eu, estudioso de Psicologia, penso numa pobreza mais séria, mais profunda e mais difícil de ser resolvida: a pobreza mental, da psique, do espírito.

Daniel Fraga
O lendário Daniel Fraga
Como apesar de novo sou um tanto vivido, já conheci fortes candidatos a mais baixos exemplares de nossa espécie (excluindo a hipótese — bastante provável — de que fossem neanderthais infiltrados).

Durante dois anos, senti-me como Immanuel Kant se sentiria se fosse obrigado a viver entre galinhas, que são, como diz meu irmão, os bichos mais burros que existem. A burrice, no meio onde fiquei, era tanta, mais tanta, que cheguei a me sentir primeiro um sujeito esperto; depois, inteligente; e, por fim, um gênio de capacidade incontestável.

conhecimento
O pobre de mente

Nesse lugar, superabundavam os pobres de mente. Pessoas que são incapazes de compreender a função de um livro, ou o prazer do aprendizado, ou de qualquer coisa que exija algum grau de abstração pós-primário.

Nesse antro, um sujeito me questionou certa vez o porquê eu lia tanto. Pensei que era impossível explicar sobre educação àquela criatura. Então, respondi apenas que gostava e que aprendia como o mundo funcionava. Dizendo também que, caso ele se interessasse por algum assunto, ler a respeito poderia informá-lo e esclarecê-lo.
 

Ele, brilhante, filosoficamente me respondeu:

“Ah, fala sério, ler não vai fazer minha pica crescer!”

Depois disso, eu compreendi que existem pessoas que realmente não tem interesse algum de enriquecer a própria mente. Foi só então que percebi que há membros da massa, meus caros, que adoram ser massa.
 
O mais curioso, no entanto, é que ele estava errado.




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Nota do editor: a crônica acima  foi originalmente escrita no ano de 2015.