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18/10/23

Divina Mente Vazia


Coração romântico
Cabeça filosófica
Combinação maldita
Que só traz a derrota
 
Pensar, não mais!
Buscarei o silêncio
A mente vazia
Oficina do demo
 
Ditado idiota 
Pois nada há que se assemelhe
A tão divina magia
Que é fechar os olhos
E limpar a própria mente
 
Coisa de Deus
E não do Diabo
Pois ao Senhor pertence
O nome mais sagrado
O "yod-he vav-he"
Que na quietude se ouve
Sem ser pronunciado

09/10/23

Estranhíssima Trindade


Habitam em mim 

um bobo

um sábio 

e um bruto


A maioria tolera o bobo,

porque diverte

Alguns toleram o sábio, 

quando ilumina


Já o bruto não é tolerado,

pois aterroriza:

Carrasco, 

filia-me aos perversos

e me escandaliza ante os puros

Acorrenta-me:

a uma espiral de paixões lunares

guerras gratuitas

e devassidões dos sentidos


Quero ceder, devo lutar

Bem maior

supremo e sagrado

É a alma

Coisa linda é ter uma

Mas, infeliz a minha,

porque, fracionada


E mesmo assim

frágil, muito frágil, 

tenho alma 

Sagrada, gloriosa

transcendente

É por ela que continuo, e luto:

Cresça em mim o sábio

ou o bobo;

nunca, jamais, o bruto.


20/07/22

George Orwell Continua Indispensável

George Orwell foi, sem dúvidas, um dos escritores políticos mais importantes do século XX. Seus livros mais famosos, “1984” e “A Revolução dos Bichos”¹, são leitura obrigatória para quem deseja se instruir sobre os complexos dilemas enfrentados pela civilização ocidental no alvorecer do século passado. 
Considerado um clássico contemporâneo, 1984 é um livro sofisticado que expõe a maneira pela qual sistemas totalitários manipulam a linguagem a fim de manipular as mentes de suas vítimas. Orwell imaginou o que lhe parecia a forma mais terrível de totalitarismo, na qual toda a vida doméstica e até mesmo os pensamentos são vigiados. O termo Big Brother e a ideia de ausência quase total de privacidade (que acabou virando uma forma grotesca de entretenimento) vem do livro. O termo Polícia do Pensamento também. Saber disso já dá uma certa noção do clima opressor que permeia a obra.

Não vá o leitor pensar que é um livro fácil. Devo confessar que 1984 é um livro perturbador. Lê-lo te fará compreender como 2+2 = 5, e como, enfim, as ideologias podem destruir nosso bom senso, nossa moralidade e nossa civilização.
Obama com certeza leu Orwell.

Ao falar de 1984, não posso deixar de citar um outro, que é irmão e ao mesmo tempo contraponto. Me refiro ao famoso “Admirável Mundo Novo”² de Aldous Huxley, outro livro e outro autor indispensáveis para compreender o século passado e também o nosso. Os dois livros descrevem distopias e indicam um futuro sombrio para a civilização. Os dois livros são clássicos e tiveram grande influência. O que gera, nos meios intelectuais, o vício de compará-los de modo asaber qual deles mais se aproximou das possibilidades totalitárias de hoje. Quem teria sido, afinal, o profeta mais preciso? Questão estimulante, mas é discussão pra outro texto. Por ora, fiquemos com Orwell.
Enquanto 1984 é um livro denso, A Revolução dos Bichos, uma fábula, é obra mais amena. Pode ser lida em um dia. De fato, se o leitor a pega pra ler, dificilmente a vai largar antes de concluir. De forma alegórica, o livro nos conta a história do fracasso do comunismo e de como seus teóricos e praticantes se traíram uns aos outros. É um lembrete cruel do quanto, sendo homens, estamos próximos de ser porcos.

Também jornalista, Orwell ganhou notoriedade entre os intelectuais britânicos por sua preocupação moral, sendo um crítico do imperialismo britânico e ao mesmo tempo do comunismo soviético. Suas premissas humanitárias, sua honestidade (mesmo tendo algo de socialista, engajou-se em expor as mazelas dessa ideologia) e sua recusa à alienação política amparada num esteticismo puro influenciaram boas escolas de jornalismo mundo à fora, antes de serem quase todas arruinadas pelo irresponsável jornalismo gonzo de Hunter S. Thompson.

Uma coisa curiosa sobre Orwell é que seu nome, hoje em dia, é cooptado tanto pela esquerda quanto pela direita. Essa última evoca o autor e sugere que suas obras refletem uma posição anti-esquerdista. Enquanto a outra se apropria da fama de socialista de Orwell e conclui afirmando que ele era um esquerdista democrático. Ambas erram.
Aldous Huxley, outro profeta de distopias.

Num artigo que já não me lembro o nome, Orwell explica acreditar que o socialismo não é uma contraposição ao liberalismo, mas que, na verdade, o socialismo visa estender as liberdades que o liberalismo advoga. Não é uma posição estritamente original. Bertrand Russel, o filósofo logicista, ganhador do nobel da paz e contemporâneo de Orwell, acreditava em algo parecido. Assim, o escritor se situava politicamente numa posição de centro. Algo que tanto a esquerda quanto a direita detestariam admitir.
Se você nunca leu nada dele, vá correndo ler. É obrigatório. Tem muito a te acrescentar na vida intelectual. E para que você não diga que não sou camarada, indico aqui uma breve reflexão muito pertinente e cativante do autor, onde, com certo espírito agnóstico, ele evidencia que o acúmulo de informações disponíveis na modernidade nos torna muito mais crédulos que críticos.

Sempre atento à questões importantes, sempre bem humorado e sempre afiado, assim era Orwell.

Notas:

1. Tanto 1984 quanto A Revolução dos Bichos foram transpostos para a Sétima Arte. O primeiro tem duas versões famosas, uma de 1956 e esta outra, lançada em…1984. O segundo tem também duas versões, uma normal e a outra em animação.