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14/02/24

Academia Individual do Esforço Intelectual e Literário




Na sua condição de criatura pensante, o filósofo  questiona até mesmo a natureza de seu ofício. Que é a filosofia e o que é o filosofar? Por que fazer tantas perguntas, desfilar tantas ideias e passar a vida investigando problemas talvez insolucionáveis? Refletindo a respeito ele percebe que, como tudo em filosofia, não existe apenas uma resposta possível.


A mesmíssima conclusão acomete os escritores que se indagam na tentativa de compreender suas motivações. E eu, escrevendo aqui no blog, não escapo desse comum destino do filósofo e do escritor. Assim, ponho-me a questionar o porquê escrevo.


Penso que é preciso, tanto para mim quanto para o meu leitor, que  as ideias na cabeça e as coisas no mundo fiquem claras. Busco organização e clareza. Não terá sido esse, desde sempre, o meu objetivo ao escrever? Quis sempre organizar meus pensamentos, sentimentos, experiências e entendimentos. Tudo nomear, classificar, empacotar, analisar e guardar para consulta e revisão futura. Demandava conhecer, ponderar, e a partir disso, orientar-me.


Isso dito, devo, agora, voltar-me ao passado. Devo, num esforço de auto-compreensão, recordar meus primeiros sentimentos na feitura dos primeiros textos dotados de ambição. Esse exercício há de me revelar detalhes. Daí a pergunta: qual era, aos treze anos, ao escrever o primeiro registro na primeira agenda, a minha ambição?


Sei bem a resposta. Eu queria memória. O que havia de específico naquele tempo, na minha vivência individual, no meu mundinho de adolescente letrado, eu queria fixar. Tencionava uma fotografia dos meus estados interiores, eu queria descrever, dar a conhecer, trazer luz ao que ao mundo era oculto. Era a ânsia do testemunho, a necessidade de contar minha história, com os atos e angústias dos quais era eu a única testemunha. 


Mas... Por quê? Donde é que me vinha essa ambição do testemunho? Qual era sua origem externa? Lembro de algumas influências.  Um homem interessante que escrevia reflexões em seu diário, e que vi num filme épico - O Último Samurai. Alguns livros infanto-juvenis da coleção Vaga-Lume, por terem histórias protagonizadas por adolescentes, como O Mistério do Cinco Estrelas e A Serra dos Dois Meninos. Os quadrinhos do Homem Aranha, onde eram mostrados os pensamentos, a voz interior do personagem. E o evento decisivo; que foi ler, na casa de um bom amigo, um trecho de seu diário (na verdade uma agenda), mostrado por ele com a casualidade de quem mostra um novo relógio ou uma fita de video-game. Esse amigo chamava-se Tiago e foi também ele quem me  apresentou a estética e o Rock do Guns N' Roses, além de outras referências culturais que, em meu meio neopentecostal, eu não tinha acesso. 


Foi pela soma dessas primeiras influências que pesou sobre mim uma intuição histórica: a necessidade de registrar e recordar. Registrar para recordar. Reflexões e memórias anotadas, lidas e relidas, eis a matéria prima da consciência. Eis o motivo pelo qual sei hoje sobre mim o que não vejo os outros saberem sobre si mesmos.  Com o tempo, Tiago abandonou seu diário. Eu continuei o meu. Continuo ainda hoje, e, até morrer, ou ser impedido, continuarei.


Feita essa retrospectiva, eu já consigo distinguir, com mais clareza, algumas causas do meu escrever. É certo que havia em mim tanto a sensibilidade quanto a vocação do memorialista. Sendo esse o gênero no qual, até hoje, a maior parte da minha literatura foi escrita. Gênero eminentemente doméstico, privado, familiar, e que só se torna célebre quando é também célebre o seu autor. 


No curso da vida o meu conhecimento literário foi crescendo e eu passei a apreciar, e as vezes cortejar, outros gêneros. O artigo, a crônica, o prefácio, o manual, o manifesto, o ensaio, o conto, a novela, o romance, a confissão, a análise crítica, o obituário, a poesia, a resenha crítica, o texto filosófico, a carta, o e-mail literário, o texto humorístico, a sátira, a polêmica, a retórica, a elaboração fina e sarcástica em redes sociais, o diálogo, as respostas em sites de perguntas, os relatos de internet, os bilhetes suicidas, a trollagem; as confissões, piadas, reflexões e relatos emocionados dos comentários dos vídeos de músicas antigas no Youtube; os roteiros de cinema e quadrinhos, as notas soltas; e, finalmente, o texto de blog, que é o mais contemporâneo, o mais completo, o que comporta todos os outros, mas o que em status é talvez o menor gênero, o menos prestigiado, sendo a um só tempo o mais acessível e o mais inacessível de todos.


Direi que esses gêneros, por mais diversos que pareçam entre si,  pertencem todos  a um mesmo grupo, um macrogênero que chamo de "o vasto conjunto das ideias interessantes que podem ser  transmitidas textualmente com beleza e charme". E como escrevinhador eu entendo que, por aqui, é nesse macrogênero que devo atuar.


O que quero aqui, no blog, é clarear as ideias, desenvolver e registrar os meus raciocínios sobre os meus temas de interesse. Não, não é verdade, eu quero mais. Preciso pôr aqui o meu pensamento primário, e depois, relendo-o, revisá-lo e apará-lo. Devo plantar aqui reflexões como quem planta arbustos e depois, carinhoso, faz a poda. É isso. Quero aqui não só os primeiros pensamentos, mas as revisões e reanálises. Quero, em suma, fazer da minha selva mental um belo jardim frutífero, único e singular, extirpando sempre as ervas daninhas. Quero dizer o que só eu posso dizer, numa minha linguagem própria e precisa; bela, porque simples.


É com essa pretensão que escrevo neste blog, e não com outra. Se algum bem eu posso fazer aqui, este bem é, primeiramente, em prol do meu pensamento e do meu progresso enquanto escritor. Lutar pelo encontro da própria voz, lutar pela descoberta dos próprios valores e conhecimentos fundamentais, e lutar pela  melhor expressão das próprias ideias. São essas as três grandes batalhas do escritor.


Devo pensar neste blog como o espaço público, embora discreto, de uma minha Academia Individual do Esforço Intelectual e Literário. Entidade essa que é a soma dos meus esforços, públicos e privados, nesse âmbito. Nela treino e fortaleço meus músculos da mente, do raciocínio e do estilo para avançar nas batalhas que o mundo literário e intelectual me impõe.

10/02/24

O Blogueiro Extemporâneo




Acho fascinante dispor do blogger numa era em que essa opção já não é tão popular entre os internautas. Com essa atitude eu ingresso na galeria dos blogueiros extemporâneos - os que usaram antes de ser moda e os que ainda usam depois da moda. Antevendo a pergunta: por que você ainda escreve no blogger? Deixo registrada, aqui, a minha resposta.

Faço-o porque traz consequências curiosas e interessantes. Começo explicando que, em relação aos leitores, a relativa invisibilidade do blogger no Google me blinda dos olhares indiscretos de uma multidão de internautas analfabetos culturais; muitos deles proselitistas ideológicos (à esquerda e à direita), com parca ou nenhuma formação filosófica, pouco acostumados à discordância esportiva, pesquisa, leitura, crítica racional e argumentação inteligente. A discrição protege-me também da geração floco de neve, para a qual toda conduta avessa ao sentimentalismo tóxico progressista é um venenoso fruto da árvore de algum ismo. Esses, formados quase integralmente por mocinhos e mocinhas histéricas, teriam verdadeiros ataques epilépticos ao constatarem minhas opiniões sociais e políticas. Excluída - ou minimizada - a possibilidade de visitação desses tipos, minha preocupação quanto a possíveis reações debilóides ao meu conteúdo já decai um bocado. As piores coisas para o escritor são a auto-censura e a crítica leviana.  

Ou seja: gosto da liberdade que o blogger me traz, da paz que tenho aqui. Paz: bem precioso que eu jamais teria em antros de caos e perdição, verdadeiras selvas de gritaria, como Facebook, Twitter ou Instagram. Ainda sobre os leitores: descobri que prefiro atrair gente da minha convivência ou quase – parentes, leitores antigos, amigos e amigos de amigos. Ao menos esses, quando não são cultos, demonstram interesse na elevação cultural. Buscam compreender antes de julgar.  Atrair essa gente foi um dos propósitos originais deste Notas de Um Blogueiro Em Crise (NdBC).  

Há pouco mais de três anos, em conversas, eu às vezes revelava que escrevia. Surpresas, as pessoas me perguntavam sobre o quê e onde. Para responder essas duas perguntinhas simples eu me enrolava todo. Havia escrito sobre vários temas, em gêneros distintos, e minha produção estava fragmentada em dezenas de postagens no Quora, Facebook, Medium e em blogs minúsculos no Wordpress e no Blogger. Eu não sabia nem quais eram os temas ou os gêneros que praticava com maior frequência. Por isso tomei vergonha na cara e decidi pegar todo texto que eu achasse relevante, ou divertido, e pôr num lugar só, um blogzinho, simples, minimalista, com tudo bem organizado por tags. Assim nasceu o NdBC.

E agora, quem diria, estou no quarto ano de blog. Ostentando um bocado de textos devidamente alocados e catalogados (130 textos, incluindo este). Há ainda alguns por incluir, creio que algo entre dez e quinze, porém só o farei depois de severa edição. Na transferência dos meus textos para cá eu fiz três curiosas descobertas: (1) como nos incomodam alguns dos nossos textos do passado!;(2) como cometemos plágio involuntário!; e (3) como mudam as nossas ideias! Muitos dos textos postados em outras redes, que eu achei que viriam para cá, acabaram se mostrando datados, levianos ou de inteligibilidade restrita ao ambiente original. Com isso surgiu a vontade de escrever textos inéditos para o blog, o que fiz em algumas ocasiões, geralmente na forma de crônicas, notinhas e até poemas. Tive, é verdade, vontade de escrever artigos mais elaborados, mas não consegui porque optei em focar na edição e organização dos meus diários, material que a cada ano se avoluma.

Não decidi ainda qual será a tônica do NdBC neste ano.  Sei que não tenho ânimo para falar de política e filosofia política aqui, porque é o assunto mais deprimente e é um dos mais exigentes (eu não conseguiria escrever sem ilustrar o discurso com referências, o que tornaria a produção mais demorada). Sem contar que política é o tema que mais atrai problema. Melhor evitar, como sabiamente tenho feito. 

Dos meus temas de estudo e interesse, brasilidade e violência são dois que talvez mereçam comentários. Indicações e comentários tematizando a vida intelectual e literária devem aparecer, assim como notinhas sobre livros, eventuais poesias e crônicas. Pensei em pôr aqui a correspondência que tive com amigos intelectualizados na juventude, o que houver de interessante para publicar, como exemplo a ser seguido aos meus leitores mais jovens. É uma possibilidade..

Listas de música, as famosas playlists, e dicas de música, devo publicar aqui também? Dicas de blogs, comentários sobre internet, tecnologia e blogosfera devem aparecer. E talvez eu entreviste alguns intelectuais, blogueiros, escritores e artistas, amigos ou não. Pensei em voltar a desenhar, e poderia publicar aqui os desenhos. Pensei também em traduzir alguns artigos interessantes em inglês. Eu poderia falar sobre quadrinhos,  cultura pop e sobre programas antigos de TV. Ou poderia falar de magia, tarôt, astrologia, parapsicologia, hipnose e outras heterodoxias, embora o melhor seja nunca falar sobre essas coisas à luz do dia e sóbrio, afinal, podem desconfiar – ou descobrir – que eu sou doido.

Bem, sem respostas precisas agora, vejamos o que o tempo e o capricho do autor trará ao blog. Que reine a liberdade. 

04/01/23

Como convencer alguém a acreditar em algo surreal e absurdo

É possível fazer alguém acreditar no que você diz,  mesmo que se trate de inverdades, teorias mirabolantes e surreais. Mas, cuidado, pois sempre depende do nível mental do ouvinte e do contexto. Vamos às explicações:

[Não é só o Frank que manipula seus eleitores. Quase toda autoridade te manipula intencionalmente]

Basicamente, para convencer alguém a aceitar alguma crença absurda (especialmente se ela for falsa) você precisa de três fatores, todos baseados em manipulação de viézes cognitivos.

1.Alegação de Autoridade. Seja ela real ou fictícia. Essa autoridade pode ser sua, expressa em superioridade intelectual, superioridade espiritual, superioridade social, bélica, política, etc. Ou pode ser de outro, com quem você alegue ter tido contato ou de quem seja próximo (ou pode mesmo ser até algum livro ou mesmo uma experiência).

2.Repetição Exaustiva. Mesmo as crenças mais irracionais e absurdas passam a ser aceitas quando repetidas um número suficiente de vezes por um número suficiente de autoridades. (Se uma pessoa tende a não ser crítica sobre algo que acabou de aprender, a consequência natural é que quanto mais ela escute a mesma explicação, mais acredite nela. Crenças também são hábitos condicionados e modelados por reforço.

3.Vantagem Emocional e Apelo à Vaidade. Aqui está uma chave crucial: é preciso que a crença traga alguma vantagem emocional para o seu portador. Ela precisa favorecê-lo em algum sentido. Seja elevando seu ego, seja pacificando seus temores, seja lhe dando coragem, seja oferecendo esperança. (As pessoas tendem a acreditar primeiro no que lhes agrada e parece oportuno e conveniente.)

                             [Ben Linos, mestre da manipulação e da trapaça em Lost]

Tenha em mente que o comportamento humano foi modelado pela evolução e pela cultura para obedecer e seguir líderes (os "alfas"), então existe um forte viés cognitivo para acreditar no que é dito por pessoas em tais posições, daí o fundamento da nossa tendência de crença irracional em autoridades. Sobre isso, vale se informar sobre o famoso Experimento de Milgram

Sobre repetição, pequise a repeito de Goebbels e da propaganda nazista, assim como sobre Edward Bernays e as técnicas da propaganda moderna.

Sobre vantagem emocional, pesquise sobre o "maior 171 do Brasil" Marcelo Nascimento, que enganava pessoas oferecendo benefícios e vantagens absurdas, o que despertava a cobiça das vítimas e lhes atiçava a vaidade, já que se imaginavam muito espertas por conseguirem um negócio tão vantajoso.

Mas cuidado! Não é qualquer público que vai acreditar em qualquer discurso. Pessoas mais inteligentes, mais informadas, mais maliciosas e com senso crítico mais apurado tendem a ser mais criteriosas, mais céticas e a ter uma atitude investigativa quando se deparam com conjuntos de crenças ou afirmações aparentemente absurdas ou que demandam comprovação. Existe um bordão dos céticos que ilustra bem essa disposição crítica/analítica:

"Alegações extraordinárias demandam evidências extraordinárias."

Então, um primeiro passo é fazer uma medição geral das inteligências - a famosa "caça aos trouxas" - e deixar de lado aquelas pessoas que estão bem informadas sobre o assunto ou que são inteligentes e investigativas.

Em outras palavas: tentar convencer um geofísico de que a Terra é plana não é boa ideia. É melhor tentar convencer aquele seu vizinho abobado que se acha um espertalhão, mas todos sabem que é um idiota.

Sobre isso, aprenda com os erros do ex-astrólogo, jornalista, pseudofilósofo e guru da Nova Direita Olavo de Carvalho. Quase todas as vezes em que ele se meteu a desafiar um especialista no assunto, foi ridiculamente humilhado. Vou citar aqui as vezes em que, a meu ver, foram as mais interessantes:

Note que esses episódios constrangedores jamais acontecem dentro da seita olavista, pois, via de regra, Olavo é a pessoa melhor informada em seu bando, que é onde ele sempre é reconhecido como a autoridade suprema, o que o permite manipular os demais. Uma coisa básica que se pode notar em qualquer "olavette" é o culto a personalidade e a erudição do Olavo (sim, ele pode ser vigarista em alguns aspectos, mas é um erudito genuíno).

Olavo consegue convencer seus seguidores de que a Terrra não é redonda, de que Barack Obama não nasceu nos USA, que existe uma conspiração comunista orquestrada pelo Foro de São Paulo, que a Teoria da Relatividade está errada, que Georges Cantor não entendia matemática e que Newton era uma anta. Ele é provavelmente o maior guru, manipulador e mestre da persuasão que o Brasil já teve, o que, evidentemente, me faz ter uma extrema simpatia por ele. Recomendo acompanhá-lo e ficar de olho em suas técnicas e retórica delirante.

Aprenda a mentir, trapacear e bem enganar que o mundo será seu!

                                                                         

                                                                   ***

OBS: Assim como outras postagens deste blog, o texto acima foi originalmente publicado como resposta no site Quora.

30/11/22

Uma Introdução à História do Rock e seus Principais Subgêneros

Aquilo que nós hoje chamamos de "Rock" nasceu como "Rock N' Roll" em meados dos anos cinquenta, tendo como representantes clássicos Elvis PresleyChuck Berry e Little Richards. Era uma música descompromissada, rebelde, feita para dançar e falar sobre amor.

Para a época, o rock era chocante por vários motivos: o rebolado, o barulho, a tensão sexual evidente nas letras, as referências a bebedeira e vida noturna, etc. Diziam que o Elvis "dançava como um negro" e inicialmente os programas de TV não mostravam os movimentos sinuosos e sugestivos que, ao dançar, ele fazia com a pélvis. De fato, Elvis realmente dançava como um negro, afinal muito do rock vinha da música negra. E isso era algo totalmente inaceitável para o Establishment cultural dos anos cinquenta.




Elvis. Belo, branco e sensual. Era tudo que o Rock precisava para decolar.


Johnny B. Good - Chuck Berry. Se você gosta de cinema, já deve ter ouvido essa música em De Volta Para o Futuro, nesta cena épica: 




Como você pode ver, o rock já nasceu com vocação para o escândalo e para a fanfarrice. Tendência que só iria se acentuar com o desenvolvimento dos vários subgêneros que surgiram.

É interessante notar que o Rock N' Roll é um gênero do pós-guerra. E que embora tenha lá sua inspiração no Blues, não carregava nadinha do dramalhão dos afroamericanos sofridos que despejavam sua tristeza melodiosa em sinistros acordes de violão "endiabrado".


O clássico Blues do negro triste e místico.


Crossroads- Robert Johnson


Nada de tristeza como no Blues. O Rock era festeiro e dançante.

E esse foi o início.

Até que vieram os anos 60.

Os anos sessenta, meu chapa. A década do Woodstock, da Guerra do Vietnã, da Guerra Fria, dos Movimentos Civis, das Milícias Revolucionárias, do Assassinato de Kennedy, do Maio de 68, da Ditadura Militar no Brasil e da Viajem à Lua. O mundo estava em completa ebulição e nada mais seria como antes. E é claro que o rock iria mudar também.

Aos poucos os músicos foram adicionando, retirando e reorganizando os elementos formativos do estilo. O rock britânico dos Beatles já era muito diferente do rock do Elvis. E o próprio Elvis não gostava dos Beatles.

Se na década de 50 o Rock foi um fenômeno basicamente norte-americano, na década de 60 o rock explodiria como um fenômeno fonográfico (e cultural) mundial. E aí, em paralelo com o movimento hippie e toda a contracultura, surge a mitologia do "Sexo, Drogas e Rock N' Roll".


"Um pequeno passo para o homem, um grande salto para a humanidade". Foram as palavras de Neil Armstrong ao pisar na Lua.


Agora o rock vai ficando mais sofisticado, filosófico e cada vez mais experimental. O chamado Rock "clássico" é dessa época. Além dos Beatles e dos Rolling Stones, despontando na cultura havia: Jimmy HendrixJanis Joplin, The DoorsFrank Zappa and The Mothers Of InventionCreedence Clearwater RevivalThe WhoThe AnimalsThe Velvet Underground, etc.

No Brasil nós tínhamos, sobretudo, Mutantes e Raul Seixas (Raul era muito fã de Elvis e os Mutantes eram muito fãs dos Beatles e do Rock Psicodélico).

Foi nos anos sessenta que o rock começou a se ramificar muito e todo mundo começou a flertar com ele. Mas acho que o grande estilo da década foi o Rock Psicodélico mesmo. Com suas guitarras distorcidas, vozes alucinadas e muito, muito ácido (*LSD*) na cabeça.


Alguns clássicos dos anos 60:


Twist and Shouts - Beatles


The End- The Doors


For What it's Worth - Buffalo Springfield


House of the rising sun - The Animals


All Along the Watchtower - Jimmy Hendrix (um dos pioneiros do Rock Psicodélico).

Na década seguinte, os anos 70, a loucura continua. Surgiram (ou se consolidaram) o Metal (Heavy Metal) e o Rock Progressivo.

O Heavy Metal foi o primeiro gênero do Rock que apostou de forma sistemática numa atmosfera musical mais sombria e declaradamente pagã. O principal nome do Metal é o Black Sabbath. Outra banda importante (embora nem todos concordem que ela é de Heavy Metal) foi o Led Zeppelin.



Black Sabbath- Black Sabbath. Essa música é genialmente assustadora.


Stairways to Heaven - Led Zeppelin. Acredite ou não, devido a várias referências esotéricas sutis, essa bela canção é considerada uma das músicas mais satânicas do Rock. Como diz a própria canção: "nem tudo o que reluz é ouro".


No Rock Progressivo, subgênero caracterizado por composições extremamente elaboradas, os grandes nomes foram o Pink Floyd, o Gênesis e o Yes. Os caras faziam músicas de 6, 10, 15 e até 20 minutos. Eram de uma dedicação e virtuosismo impressionante. Eu não sei dizer exatamente se o Queen chegou a ser considerado rock progressivo. Se não foi, chegou muito perto.

Nos 70 despontou também o grande David Bowie. Como definir seu estilo? Space Rock, talvez? Possível, ao menos no Ziggy. Acredite, cara, Ziggy Stardust and The Spiders From Mars é um dos melhores álbuns de rock dos anos 70. É realmente obrigatório. (Apesar de toda a estranheza da temática e do próprio Bowie).


Five Years - David Bowie
Shine on You Crazy Diamond - Pink Floy


                                                         Five Years - David Bowie


Shine on You Crazy Diamond - Pink Floyd


Bohemian Raphsody- Queen

Quem diria que aquele rockzinho do Elvis, alguns anos depois, iria se transmutar nisso aí, heim?


Também é nos anos setenta que surge o Punk Rock, cujas bandas mais famosas da época foram Ramones e The Sex Pistols. O Punk geralmente é descrito como uma reação debochada ao Rock Progressivo. Os músicos do Punk Rock pensavam: "E daí que eu não sei fazer uma composição com quinze ou vinte acordes? Será que eu preciso saber mesmo isso para ser um bom músico? Vou fazer uma musiquinha de três ou quatro acordes e vou cantar mesmo assim!". E foi o que eles fizeram. Só que acrescentaram algo: atitude. Ou melhor: muita atitude rebelde, debochada e mais ou menos antissocial.

O lema dos punks? "Do It Yourself" ("Faça você mesmo") e também tinham, claro, o bom e velho "Fuck The System" ("Foda-se o Sistema").



My Way- The Sex Pistols. Sid Vicious promovendo o caos e avacalhando a música de Frank Sinatra. (Para anarquistas arruaceiros como eu, Sid é um herói)
Pet Sematery- Ramones


My Way- The Sex Pistols. Sid Vicious promovendo o caos e avacalhando a música de Frank Sinatra. (Para anarquistas arruaceiros como eu, Sid é um herói)


Pet Sematery- Ramones



Hard Rock também surgiu nos anos setenta e os historiadores do rock apontam o AC\DC e o KISS como os maiores nomes desse subgênero. Normalmente as pessoas confundem Hard Rock com Heavy Metal, mas há uma dica que quase sempre funciona: se é muito barulhento e só fala de amor, vida noturna e putaria, então é Hard Rock (esse seria o caso de bandas como Skid Row e Guns N' Roses). Se é muito barulhento mas só fala de demônio, fantasmas, ocultismo, blasfêmias e coisas sombrias, então é Heavy Metal (como Iron MaidenJudas Priest e congêneres).




Rock and Roll All Nite - Kiss. Um clássico do hard rock.
Back in Black - AC\DC


Rock and Roll All Nite - Kiss. Um clássico do hard rock.


Back in Black - AC\DC



Nos anos oitenta a cena do Rock é praticamente dominada pelo Punk e pelo Hard Rock. O Hard vira uma loucura e surge o pessoal do chamado "Rock Farofa", bandas de qualidade duvidosa e estilo excêntrico e repetitivo, como Motley CrueEurope e Bon Jovi. Todos eles meio que surfavam na sonoridade pegajosa do KISS, mas sem a autenticidade do KISS.

Agora você pode até me julgar um rockeiro degenerado e de mal gosto, o que eu realmente sou, mas devo confessar que eu adoro rock farofa. Especialmente Bon Jovi. Que posso fazer? Eu nasci para o mal.




Europe - The Final Countdown


Living on a prayer - Bon Jovi.


Veja bem, nós ainda estamos nos anos 80 e a essa altura os rockeiros já tinham flertado com tudo: samba, bossa, funk, jazz, música erudita, reggae, soul, etc. Então eu estou apenas tentando resumir as correntes principais, o bê-a-bá para o recém chegado, ok?

Por conta dessas misturebas todas, todo mês aparecia uma banda de rock nova expressando uma sonoridade muito maluca que ninguém sabia como chamar. Todo mês, cara. Loucura total. Até que um dia algum jornalista espertinho teve a brilhante ideia de chamar todos esses estilos diferentões de… "Rock Alternativo".

E desde então, sob essa alcunha, nada original, se encontram bandas que nada tem a ver umas com as outras, como Red Hot Chilli PepersSmashing PumpkinsNick Cave and The bad seedsThe PixiesTalking Heads, quase todas as bandas de "pós-punk" e qualquer coisa que não se enquadrasse nas categorias usuais.




É tão inovador que você não sabe como chamar? Relaxa, meu compradre: é Rock Alternativo!



Where is my mind- Pixies.



Psycho-Killer- Talking Heads


Aliás, importante saber: o Rock é o gênero musical com mais divisões, subdivisões, microdivisões, discordâncias sobre as divisões e, para facilitar, cantores que não aceitam rótulos. Eu já vi amigo brigando sobre a diferença entre "Black Metal" e "Death Metal", chega a ser hilário.



Black Metal ou Death Metal? Para mim tanto faz. Só sei que se tem mulher diaba envolvida, eu tô dentro.


No Brasil, nos anos 80, desponta o que hoje nós chamamos de B-Rock ou Rock BR, que nada mais é do que o Rock Nacional popular, que tocava nas rádios. Se for ouvir escute as bandas clássicas: Barão VermelhoLegião UrbanaParalamasTitãsRPMIraCapital InicialEngenheiros do Hawaí, Biquíni Cavadão e afins.




Uma boa playlist de rock br:




Chegando ao fim dos 80 e início dos 90 temos a explosão do Grunge.

NirvanaPearl Jam e Stone Temple of Pilots. O grunge é uma espécie de punk sofisticado, menos intenso e muito mais cínico. Há atitude no grunge , mas não é uma atitude de mudança ou de faça você mesmo. É mais aquela coisa do vagabundo desiludido com o mundo. Grunge não toma banho, anda com roupa rasgada, tá se lixando para sucesso material. (Dizem as más línguas que o Kurt Cobain fedia um bocado).

O Grunge tem aquela coisa de "Ah, tudo é uma merda, a humanidade é uma merda, a mídia é uma merda, a politica é uma merda, a indústria musical é uma merda; então vamos encher a cara e tirar sarro desses idiotas". Mano, vou te falar uma coisa: eu adoro grunge! Rs.




Clássicos do Grunge:


Come As You Are - Nirvana


Alive- Pearl Jam


Ainda nos anos noventa desponta o BritPop, rock popular britânico, como Oasis e Blur, e ainda tem o que nós poderíamos chamar de "Rock Eletrônico", que englobaria o Trip Rock do Gorillaz, do Massive Attack e, talvez, a sonoridade do Radiohead e das bandas de New Metal, que iriam misturar música eletrônica, rock e hip-hop (Linkin Park, Rage Against The Machine e Limp Biskit).





Don't Look Back In Anger - Oasis


Clint Eastwood- Gorillaz


Faint - Linkin Park


Dos anos 90, cá no Brasil, nós tivemos o interessante MangueBeat, encabeçado pelo Chico Science e Nação Zumbi e pelo Mundo Livre S/A. Tivemos os Mamonas Assassinas, que eram um rock de humor anárquico e também Raimundos, que conseguiam ser ainda mais anárquicos que os Mamonas.

Mamonas e Raimundos são bem divertidos, especialmente se você é adolescente ou jovem ou adora uma piada de duplo sentido e uma letra sacaninha. (Evidentemente é o meu caso).





Selim - Raimundos (com a clássica frase: "Eu queria ser a calcinha daquela menina, para ficar bem perto da vagina e as vezes até me molhar")


Vira- Mamonas


Também nos 90, cá no Brasil, tivemos duas bandas muito influentes de rock: O Rappa e Planet Hemp. Duas bandas obrigatórias para rockeiros cariocas.




A culpa é de quem - Planet Hemp. Todo maconheiro adora essa música.


Tribunal de Rua - O Rappa. Essa música é a cara do Rio.


Dos anos 2000 para cá quase tudo que surgiu de interessante no Rock foi chamado de "Indie Rock". "Indie" sendo uma corruptela de "Independent". Aconteceu que com a popularização dos computadores e a ascensão da globalização, a acessibilidade dos recursos de composição e edição aumentou drasticamente. Algumas bandas dessa leva são Artistic Monkeys, Kaiser Chiefs e Franz Ferdinand.





I predict a Riot - Kaiser Chiefs


Take Me Out - Franz Ferdnand


Nas primeiras décadas deste século houve também o Pop Punk (Green DayBlink 182Avril Lavigne…), o Emo (My Chemical RomancePanic Até The DiscFall Out Boy… ).

E depois veio aquela coisa estrambótica chamada Happy Rock (Restart e congêneres) . Mas aí a coisa é triste e sobre esse tipo de subgênero me dá ânsia de vômito, então acho melhor terminar por aqui.

O que veio depois eu não acompanhei muito. Mas tem coisa boa sendo feita atualmente. Eu recomendaria fortemente MGMTTime Impala, qualquer coisa do John Frusciante e, claro, Beirut.





Nantes - Beirute


Minha a dica seria procurar as melhores músicas de cada uma das bandas que eu mencionei, em ordem cronológica, e ouvir ao menos cinco músicas de cada banda, para conhecer. Gostou muito de uma banda? Vá ouvir o melhor álbum dela. Gostou demais desse álbum? Escute os outros. Não perca tempo demais numa banda, pois há muita coisa para se conhecer. Conheça tudo o que puder, depois selecione apenas os seus favoritos.

Mas cuidado! Rock vicia! Digo por experiência própria!

Aprecie sem moderação!



                                                                                   ***


Nota do editor: assim como outros textos publicados neste blog, a primeira versão do texto acima foi originalmente publicada como resposta no site Quora.