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11/05/22

O Dia Em Que Eu Percebi Que Era Apenas Um Blogueiro Metido

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— Introdução —

Não é fácil lidar com a realidade, especialmente quando ela nos obriga a reconhecer que nossa posição não é tão lisonjeira quanto gostaríamos. 

Só vem a maturidade quando confrontamos nossas vaidades...

Parte 1 _ Ambiguidade

Sempre me vi de formas diversas e contraditórias ao longo da vida. Tenho meu lado cético, mas também meu lado místico, sou minimamente intelectualizado, mas não chego a ser acadêmico ou cientista; amo ensinar e aprender, mas detesto escola e tenho pavor da carreira de professor; amo as mulheres, mas, desde que uma tentou me atropelar, morro de medo delas.

Por ser uma criatura essencialmente ambígua, fico perplexo quando me deparo com aquelas pessoas com posturas firmes, confiantes, repletas de crenças inabaláveis. Caramba! Como conseguem?

Parte 2 _ Matrix

Nunca fui assim, tenho tanta inveja quanto estranhamento em relação a esse povo. Há certos dias em que acordo, olho para o Merlin (meu gato preto ) e lhe acosso:

“ Confesse, Merlin. Esse mundo é a matrix e você não passa de um dèjá-vu fofinho, pode dizer”.

Então ele dá um miado, como que debochando, e fica me encarando com aqueles olhos amarelos, o que eu evidentemente interpreto como uma confirmação.

“Rá! Eu sabia, esse mundo é a matrix!”

Houve o dia em que fiquei tão fissurado nessa ideia que cheguei a responder, no Quora, explicando um pouco sobre a matrix.

Matrix, de certa forma, pode ser interpretado como a grande metáfora cinematográfica do nosso tempo para as ilusões que fazemos do mundo e de nós mesmos. Ilusões que, via de regra, costumam ser muito importantes para a manutenção da falsa autoimagem que gostamos de construir. Convenientemente falsa, porque a realidade é sempre menos glamorosa que a ficção. Belas mulheres, por exemplo, não soltam peidos na ficção, mas os soltam na realidade (e infelizmente eles não são perfumados).

Mas mesmo que estejamos fadados a nos iludir, felizmente ou infelizmente, os mais autocríticos também estão fadados a perceber e ter que encarar as próprias ilusões. Foi justamente o que aconteceu comigo no dia em que percebi que, longe de ser escritor, eu era mero blogueiro.

Parte 3 _ Pau No C# do Leitor

Há gente que escreve por hobby e sem nenhuma pretensão literária, mas esse não é exatamente o meu caso. Sempre fui polêmico e pretensioso, para o bem ou para o mal. Kafka dizia que um texto deve ser como um soco no estômago. Em outras palavras, deve ser algo que cause alguma reação e impacto no leitor. Não basta dizer uma verdade, as vezes é preciso dizê-la de forma desagradável, e até mesmo leviana. O leitor hoje em dia anda tão entorpecido com literatura best-seller idiota que já perdeu o hábito de refletir, ou mesmo de perceber o quanto a reflexão é importante.

Quando um escritor percebe isso, o dever dele é provocar os leitores, e o escritor pode realizar essa missão dizendo coisas importantes novas e inimagináveis ou dizendo coisas importantes antigas de um jeito novo e inusitado. O importante é incomodar o leitor, não deixá-lo confortável; afinal, um bom leitor é sempre um leitor incomodado, daquele tipo que te enche na caixa de mensagens ou te para na rua para falar alguma coisa daquele seu último texto, nem que seja para meter o malho. (E os bons escritores acham especialmente divertido quando os leitores metem o malho com propriedade).

Parte 4 _ Vaidade Besta

Nesse quesito, provocar a inteligência alheia, provocar reações, em minha recém carreira literária, eu tive algum sucesso, considerável até. Talvez mais sucesso do que um escritor iniciante e metido deveria ter. Tive a sorte de atrair leitores, alguns admiradores, alguns incentivadores e até um certo renome em alguns ambientes. Não quero falar em números, mas imagine ir dormir sendo um blogueiro absolutamente desconhecido e acordar sendo um nome relativamente conhecido numa das maiores plataformas para escritores online.

Foi mais ou menos o que me aconteceu. Um dia eu percebi que minhas iniciativas literárias estavam dando frutos, monetários, inclusive. Não era muita coisa, mas para alguém que achava que iria demorar ao menos uns vinte anos, era muita coisa. E foi então que comecei a querer introduzir um elemento de glamur na coisa. Mas, felizmente, em minha defesa, eu posso culpar uma mulher. Na verdade, duas.

Parte 5_ Golpista Afetivo

Tudo começou numa festa safada numa capital federal. Daquelas festas que as pessoas vão para fazer coisas inconfessáveis com pessoas que nunca viram na vida. E lá estava eu, no auge dos meus vinte e cinco, em minha fase junkie-intelectual, experimentando os prazeres da vida boêmia e da sexualidade desregrada. Conversava com duas loiras lindas, alunas de medicina, e preparava o bote. Conversa vai, conversa vem, uma delas pergunta o que eu faço.

Tecnicamente, na época, eu era um vagabundo profissional, blogueiro, golpista afetivo e psiconauta intelectualizado. Mas eu não respondi com a verdade. O diabo sussurrou a poderosa palavra em meus ouvidos: escritor. Fiquei excitado com aquela possibilidade, me apresentar como um homem de letras, um profissional da palavra, não um iniciante. Nenhuma mulher fica excitada com iniciantes. Não, eu tinha que posar de profissional, de garanhudo literato, e tinha de fazer isso porque era cool, divertido e interessante. E foi o que eu fiz.

Parte 6_ Pacto Com o Tinhoso

Deu certo. E eu peguei as louras. As duas. Assim o pacto com o Diabo foi consolidado. E eu não parei mais. Em qualquer canto que chegasse, dava a carimbada: “escritor”. Como o meu meio social não é o de pessoas letradas (no Brasil nem as classes letradas são realmente letradas), o impacto era fulminante. Todos os olhares se voltavam para mim, todas as atenções. E logo vinham as sugestões: “bem que você poderia escrever um livro sobre isso, ou sobre aquilo”.

Não vou mentir: foi bastante divertido. Mas, para ser franco, algo, em meu íntimo, me incomodava. Pelo simples fato de que, embora eu escreva, ainda não sou um escritor. Nem tenho livro publicado ainda. Sou apenas um blogueiro intelectualizado que conseguiu cativar algum público em alguns ambientes na internet. Blogueiro, futuro escritor. Sou um quase, uma promessa. Se eu terminar meu livro, e publicar, viro escritor. Estreante. Que não é lá grande coisa, mas já é um começo.

Parte 7 _ Blogueiro

“Ué, John, mas blogueiro não é escritor?”

Alguns são, outros não. A maioria não é. Eu não sou. Se for pegar o significado mecânico do termo, então até quem escreve bula de remédio é escritor, pois está escrevendo. Mas se considerarmos o aspecto artístico ou cultural da coisa, ou o caráter intelectual, veremos que nem todo mundo que escreve é, de fato, escritor.

Houve o dia em que percebi isso. Foi o dia em que eu saí da matrix. Foi quando finalmente percebi que só poderia virar um escritor quando reconhecesse que eu sou, por hora, um blogueiro. Um blogueiro interessante e promissor? Talvez. Mas preciso melhorar. Melhorar em muita coisa.

E, claro, preciso terminar o livro que comecei.

Até foi legal fingir que eu era escritor, mas resolvi parar.

Parte 8 _ Escritor Safadinho

É hora de começar a tentar ser um, de fato.

Afinal, ainda há muitas louras, e morenas, e negras, para quem quero me apresentar, e conceder alguns íntimos autógrafos. Se é que vocês me entendem…

23/03/22

Um Breve Resumo de Como Chegamos até Aqui


Cabe notar que não chegaríamos tão longe sozinhos. Antes de tudo, devemos compreender que fomos vitimados por influências terríveis.

Dessas influências terríveis, foram agentes: o liberal,  que atua contra a liberdade do vizinho em ser socialista; o socialista,  que sonha em mudar o mundo mas atenta contra a ordem moral que inspirou o socialismo; o conservador, que rejeita a latinidade, da qual é herdeiro histórico, despreza a alta cultura do país onde vive, deixa seus museus queimarem e fetichiza o modo de vida americano; o cristão, que não lê a Bíblia e ainda não descobriu que o cristianismo ensina uma vida simples de abnegação, caridade e retiro; o  educador, que abomina hierarquia, correção e superioridade intelectual; o jornalista, que nem tenta ser imparcial porque na verdade é um militante travestido; o policial miliciano, que é mais criminoso que bandido, e de quem o pobre frequentemente é vítima colateral; o político, que roubou ontem, roubou hoje, roubará amanhã e roubará sempre, e que continuará a se eleger pregando contra a corrupção; o empresário, que detesta concorrência e prefere os favores escusos de políticos que receberam seu dinheiro em campanhas eleitorais; o amante, apaixonado e volúvel, que trai e mata sua mulher; a amante, pródiga e volúvel, que é fatalmente seduzida pelo amante apaixonado que a matará; o funcionário público, que não sabe informar corretamente e prefere conversar com os colegas a nos atender; o artista, limitado, que nada vê na arte senão uma arma de guerra cultural e subversão; o pastor, o guru ou o líder espirital, que é na verdade grande empresário e marqueteiro; o escritor desiludido, que se  ressente com as panelinhas e hipocrisias da classe intelectual na qual outrora almejava ingressar; o raro homem honesto que, diante de toda essa estranha fauna, entende rapidamente que sua conduta está fora de moda e, fatalmente, se deprime.

Eis a surrealista marcha da vida social no país onde todos os pecados são pressentidos na véspera e esquecidos logo após a consumação. O país cuja vida nacional nas últimas décadas parece um pastiche de Chaves ou de Chapolim: história viciada e repetitiva onde conhecemos todos os personagens, todas as falas, todas as tiradas, mas, por algum motivo inexplicavel, continuamos assistindo e amando. Mais que meramente assistir, fazemos espetáculo: sorrimos, sambamos, bebemos e brindamos, e então, tarde da noite, entorpecidos, no auge de nosso hedonismo tropical imediatista, desregrados na vida e no gozo, nos vemos ante uma orgia sardônica e absurda: com anões, putas, travestis, padres pedófilos e crianças amputadas. O que aconteceu? Quem são essas pessoas? Onde estamos? Como chegamos a isto?  Queremos correr, escapar da cena, estamos arrependidos, envergonhados, queremos mudar, ficar sóbrios, sentimos culpa, confessamos, tentamos sair, mas não conseguimos: mãos e braços nos puxam, bocas deformadas por tratamentos com botox nos beijam, silicones exagerados de prostitutas televisivas nos atacam, corrompendo nossa face amedrontada. De um lado, a escandalosa gargalhada da Inês Brasil, do outro, o sorriso diabólico do Kid Bengala. E finalmente, depois de abusos que o pudor me impede de narrar, sentimos o mal imponderável: ELE: o elemento grosso, rijo, cilíndrico, pulsante, a violar sem qualquer piedade o nosso orifício sensível. Vindo sabe-se lá de quem e aviltando o que nos restava em dignidade.

E foi assim que, mais uma vez, no curso da vida nacional, por termos nos deixado levar, fomos magoados, naquele lugar.  Que ainda dói.

Agora só nos resta mancar. E agradecer, ou reclamar, a todos cuja influência foi decisiva. 

...

O texto acima foi originalmente publicado no Facebook. Abaixo, as reações:



02/03/22

Dica Herética Para Se Aproximar de Deus



Se não me engano, era Rasputin quem dizia que a melhor forma de se aproximar de Deus era pecando.

Eu sei que parece contra senso, mas tem lógica nisso aí.

Deixe-me explicar:

Acontece que, no Cristianismo, a via de acesso à misericórdia de Cristo é o arrependimento. O arrependimento, contudo, é um estado mental e emocional que só pode ser alcançado por um pecador.

Quanto mais pecarmos, mais nos arrependeremos, quanto mais arrependidos, mais próximos da misericórdia e da graça de Cristo estaremos.

Logo, meu conselho é: pequem bastante.

12/01/22

Estoicismo e Política

 

Busco de Marco Aurélio, o Imperador Estóico

Se há um juízo que considero verdadeiro é a noção de que, neste mundo em que vivemos, TODAS as coisas boas - o amor, a amizade, a lei, a honra, a honestidade, a justiça, a moral, etc - são extremamente frágeis e demandam de nós um esforço colossal para serem mantidas sem perderem a essência.

A lei da tendência à entropia parece não se aplicar apenas a  sistemas físicos, mas também à realidade ontológica das relações e construções humanas: tudo que é bom é fácil de ser perdido, roubado, arruinado. O  mal, por sua vez, nos é dado naturalmente - não é a barbárie o estado natural do "sapiens-sapiens"?
 
É aí que reside, penso, a grande força do pensamento conservador. A ideia de pecado, de tendência natural ao erro, de desconfiança da capacidade humana, torna-se um complemento essencial ao liberalismo iluminista. Pode-se dizer que o conservador será sempre mais realista que o liberal, enquanto o liberal será sempre mais realista que o socialista.

Diante das loucuras e incongruências humanas o socialista irá se deprimir e propor 'um outro socialismo' e 'um outro homem', o liberal vacilará em sua crença no progresso e na ciência, já o conservador, estóico, se limitará a dizer o seu ponderado  "eu avisei".



***


Nota do editor: o comentário acima  foi escrito em 2015 e originalmente publicado no Faceboook.

26/11/21

Parabéns ao Diabo


Pequei contra o Espírito Santo.  Pecado fatal, de morte. Venho, portanto, reconhecer a  vitória triunfal da besta. Vitória, uma vez mais, contra este  sorumbático escrevinhador. Este farrapos de homem,  quase  demônio  quase anjo, que aspira fazer o bem, mas só encontra volição para o pérfido,  o torpe,  o hediondo.

Homem? Homem não. Homem: São Jorge, que venceu o Dragão.  São jorge: masculino, guerreiro, forte, símbolo de fé e vitorioso. Eu, quando muito, sou menino. Sofro a inocência frustrada de um garoto tímido, deslocado, que jamais ousou sair do mundo das idéias. Exceto para o que avilta o espírito; as causas do horror e da decadência, da pestilência e da profanação.

Mas se há defesa, e se havendo defesa eu me possa defender, diria, proclamaria até, única e derradeira verdade: eu fujo do mal. Ele, porém, me alcança e derruba. Nas lutas morais combato inimigo maior e mais forte, que esmaga-me sem a menor piedade. Apesar de tudo, apesar das inumeráveis derrotas e humilhações, apesar de ter o nome na lista dos malditos, apesar dos tantos recomeços, jamais -jamais! - deixei de desafiar o inimigo. A cabeça segue ensanguentada, mas não curvada.

Pois digo e repito: não me curvo ante a besta. Teatral e cínico, faço-me cordial. Evoco-a, encaro-lhe os olhos sem fundo, feitos de negrume abjeto, cumprimento; dou-lhe os parabéns. Vencestes hoje, criatura vil. Amanhã, porém, será outra luta. Guarda teus planos e ardis. Amanhã, no ringue dos pequenos dramas do universo, mais uma vez, duelaremos.

E neste dia, que eu tenha a força e a fé de São Jorge, que  este farrapos de homem,  quase  demônio  quase anjo, que aspira fazer o bem, mas só encontra volição para o pérfido,  o torpe,  o hediondo... Que este sorumbático escrevinhador,  um dia, ao menos, vença o Dragão.

Até lá, saibam todos: o pecado há de dominar-me as ações, escravizar-me os sentimentos.

24/11/21

Covardia e Citação

Nayane L: bela, culta e descolada. Figura sempre presente em meu passado. 
 
Reconheço que, afetivamente, sou um covarde. Medroso, negligente e magistralmente covarde. Frequentemente penso que deveria dizer certas coisas a certas pessoas. Explicar, esclarecer, fazer com que me entendam, pedir desculpas pelos tantos vacilos, mostrar que apesar de ser um imbecil, eu gostaria de não ser tão imbecil. No entanto, raramente sou capaz de abrir a boca e, olhando nos olhos, dizer o que é necessário no momento em que é preciso dizê-lo. Minha opção é outra: sair de fininho e esperar que a pessoa me esqueça. É a covardia afetiva em ação. Como sei ser solitário e estou mais acostumado que a maioria, a solidão não me apavora - embora a ideia de solidão eterna certamente cause alguns arrepios. 

E assim este estranho blogueiro prefere a solidão a ver-se em situação de fraqueza emocional. Sente o maior pavor de que descubram seu lado sensível e consciente, já que no fundo não passa de um romântico sentimentalóide.

Essa característica medíocre, que é apenas uma das várias características medíocres que constituem a minha personalidade medíocre, faz com que eu abandone ou perca várias relações interessantes e inspiradoras. Especialmente com as mulheres. Especialmente com as mulheres que importam: as cultas, literatas, espirituosas, vivazes...

Foi o que aconteceu em minha amizade com a Nayane L. Estudamos juntos na Universidade, fomos amigos e trocamos e-mails durante dois anos. Um moça deveras interessante, uma amiga literata e  virginiana. Mais uma das boas amizades que perdi. 

Hoje senti vontade de escrever a ela. Ao invés disso, preferi visitar-lhe o blog, num exercício de nostalgia covarde. A última vez que visitei não estava disponível. Mesmo assim, quis visitar. Nayane é uma escritora, tenho certeza disso. Escritores precisam manifestar-se. Os blogs, sendo populares ou obscuros, cumprem essa demanda. 

Grata surpresa foi descobrir que o blog de minha (antiga) amiga está novamente disponível. Conferi alguns textos e fui procurar o trecho que mais me comove. Ei-lo:

"Até que ponto podemos nos sentir sozinhos? Outro dia, recebi um e-mail onde um amigo diz que quase todos meus textos soam como um grito desesperado de socorro. Talvez sejam. Talvez eu sempre cantarole músicas tristes, enquanto caminho pela vida com a pose de mulher bem-resolvida, pedindo um socorro baixinho. Acho que você nunca notou essa minha anatomia extremamente frágil e melancólica. Eu constantemente peço socorro, – aqui respondo ao meu bom amigo – um socorro não se de quê, não sei de quem, não sei de onde. Eu tenho um desassossego na alma que me engole inteira, sem pestanejar."

O amigo era eu.