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01/07/24

Lembranças de Uma Utopia Virtual


Samuel Fernando polemizando
                                             

Há alguns anos eu tive um perfil excluído pela moderação do Facebook. O feice diz oferecer ao usuário um espaço de discurso, mas seu verdadeiro objetivo  é monitorar as ações dos usuários para criar perfis de consumo precisos; e, com isso, otimizar algoritmos de escolha de anúncios personalizados. Todos sabem disso, e eu sabia na época, mas quis jogar o jogo perigoso da liberdade de expressão, testar os limites, até porque, ingênuo, eu não esperava o pior. Deu no que deu, e me arrependo, pois havia conversas interessantes no perfil. 

Uma delas foi com o professor Adonai Santana, que é um importante físico teórico do país, e discípulo de Newton da Costa, um dos nossos maiores filósofos da ciência. Na conversa perdida, o ilustre professor (que durante a Pândemia escreveu um esclarecedor guia de Matemática) disse que o meu perfil era um dos mais divertidos, e que comentara a meu respeito com sua esposa.

John Ramalho: um caso psiquiátrico.

                     

Outro que disse coisa semelhante foi o meu mestre e amigo Paulo Cesar Santos. Programador, físico, músico e professor de Ciência Política da UFF, nas palavras dele o meu (antigo) perfil faria muito sucesso se o público geral fosse mais inteligente (disse isso ou algo parecido com isso). Era, de fato, um perfil bastante irreverente. Meio tresloucado, as vezes de um humor pitoresco, geralmente maligno, anti-humanista, misantrópico, apaixonadamente anti-sionista, muito politicamente incorreto e as vezes de uma paranoia quase delirante, palatável apenas às mais altas mentes. Prova disso é que até mesmo a Natália Sulman, essa modesta musa maior do olavismo, chegou a curtir e comentar uma minha humilde publicação.

Mas o arauto maior, o grande entusiasta das Más Letras Ramalhescas, aquele que me conduziu ao Olimpo dos Intelectuais e Musas Letradas do Facebook, foi, certamente, o indefectível Samuel Fernando. Biólogo, neurocientista e polímata paulista que, por algum período, engajou-se no mais elevado ativismo cultural que a comunidade letrada da internet tupiniquim já testemunhou. 

O perfil do Samuel Fernando – “Samuca” para os íntimos – era a Meca dos Pedantes. Todo mundo que achava que sabia muito (ou que desejava saber muito) acabava chegando lá, e, entre o deslumbramento e a inveja, descobria que o Samuel sabia mais; muito, muito mais

No que ele postava, e sobre o que ele postava, comentavam físicos, matemáticos, filósofos, biólogos, autistas com hiperfoco em ciências, altos QIs, professores, psiquiatras, psicólogos, neuropesquisadores, literatos, marxistas, olavetes, engenheiros, programadores; gente de todo o Brasil e de fora dele também. Era uma verdadeira utopia de gente articulada, que falava coisas com sentido e com algum (ou muito) conhecimento. E o Samuel, para o meu espanto e prazer, compartilhava, vez ou outra, algumas das minhas postagens. Logo pessoas começaram a me adicionar. Mulheres, inclusive. Era bom. Foi legal. Mas acabou. E acabou mal: com meu perfil excluído.


Diagnóstico rápido: "ele é doido".
       

Lembro carinhosamente desse período, não apenas por minha pequena popularidade de subcelebridade letrada de alto nicho, mas principalmente pelos amigos que fiz, as pessoas legais, divertidas e inteligentes que conheci. 

Gente como o querido Mateus Marcuzzo, engenheiro de software brasiliense e leitor filosófico com um coração nobre e ético, alguém cuja sensibilidade humanista exerce sobre mim um inegável efeito positivo. A Maria Cristina Batoni Abdalla Ribeiro, uma das maiores físicas do país - amiga de figurões como Marcelo Gleiser. Maria tornou-se uma amiga querida, uma fonte de inspiração e de bons conselhos. Cheguei a me encontrar com ela na UnB. 

Também o brilhante Stanis Lucksys, um expert em Linux que chegou a desenvolver seu próprio sistema operacional. Autodidata no que quisesse, Stan era também filósofo, músico, intelectual e um talentoso cronista. Amigo querido e cuja identificação foi grande e mútua. Stan cunhou para o nosso grupo de amigos a divertida alcunha de "Os Irresistíveis"

Enriquecia-nos a presença da Isa Murphy, apelidada “Lady Murphy”, uma goiana bela e cativante, melancolicamente solitária, falava francês, apreciava HQs, o gosto musical excelente, alma compatível, flertamos, claro. 



Havia também o sempre ponderado, lúcido, filosófico e divertido Marcus Vinícius. Psicólogo erudito, Marcus vive a combater os excessos e equívocos do identitarismo progressista. Por sua prosa bela, sóbria e profunda, considero-o um dos melhores escritores e comentaristas culturais do país. Tinha o Pedro Luiz Borba, de grande pendor argumentativo e estimulante inteligência, com quem travei alguns respeitáveis debates.

E a Carol Sorokin, que namorava o Stanis, mas que eu sonhava em ter para mim, porque era brilhante, linda e amiga. Também a queridíssima Paloma Rangel, de quem eu já falei numa carinhosa crônica e de quem pretendo falar ainda mais em outras. E não posso esquecer da doutora Ana, uma médica autista fascinante, com ouvido absoluto, inteligentíssima, a quem eu gostava de confundir com contradições, ironias e afetações de insanidade. Ela, a bela doutora de olhos hipnotizantes, fazendo o corolário de nossa divertida interação, proferiu a que talvez seja a melhor descrição que já fizeram deste blogueiro. Além desses amigos, havia outros cujo contato era menos frequente, mas de inegável enriquecimento mútuo. 

                                 Richard Nixon sorri no inferno..

Compartilho aqui as palavras da doutora Ana, pois até hoje me deliciam e divertem. Disse ela uma frase que, por seu poder de síntese, deverá constar nos comentários dos meus críticos futuros: “John Ramalho é para mentes privilegiadas”.


***

Abaixo, publico um inesquecível presente da Carol Sorokin. Gaúcha e psicóloga formada pela USP, a Carol era também enxadrista, poliglota, musicista e escritora. Sua aparência era tão sublime que ela evitava as fotos. De fato, Carol era praticamente uma sósia da Natalie Portman

Lembro dela mais pelas ótimas conversas madrugada afora, pela mente afiada e pela foto peculiar do perfil, que mostrava apenas dois pezinhos envoltos em meias de lã vermelha. Mas incluo aqui o fato da sua beleza, que era notável, e que ninguém poderia negar, ou esquecer. Nunca falei disso com ela, nem sequer um elogio, e conto a vocês apenas porque é verdade e ajuda a dimensionar as muitas qualidades dessa moça impressionante. Quando ela cismou de homenagear as pessoas que lhe eram queridas, fui um dos contemplados, e ganhei dela um tocante discurso: 

                                

O Homem Que Ri


Que as pessoas são todas diferentes todos dizem! Todos parecem ter decorado isto como se fosse a tabuada do um, mas na prática pouca gente compreende o significado dessa afirmação. Que existem problemas cuja a solução está fora do nosso alcance, seja na vida pessoal, ou em termos científicos, isso já é algo que nem todos sabem.

Ele sabe tudo isto! Ele manja de todas as coisas que não importam para quase ninguém, mas que na verdade são as coisas que mais importam para quem não é ninguém, é muito alguém!

E eu converso com ele e vivo elogiando terceiros e ele talvez não saiba que também falo dele pelas costas. Todas as suas qualidades! Mas só depois de minuciar cada mísero defeito, claro...

O que faz ele especial é que não é vaidoso, soberbo nem invejoso, é um romancista, filosofista, cronista, psicologista e até letrista, em crise com seu próprio lado romântico, que ele desesperadamente tenta esconder e não consegue. Mas nem todos percebem, só nós, os outros românticos. Pois ele é um personagem de um livro do Victor Hugo com ideias do século XXIII.

Assim, ele é bem humorado e carinhoso com as palavras. Com as palavras! Não necessariamente com quem ele as dirige. Tem um ar sedutor, dispendido para com as meninas inocentes em fóruns de literatura e filosofia, e é do tipo que escreve cartas e não envia. Depois, ainda reescreve para não reenviar!

Tem um carisma incomparável e não há quem não fique bravo com tamanhas bobagens inteligentes que ele fala. O carisma dele consiste em ser belo e imagético, mas só até certo ponto e até certa hora, depois ele muda de ideia em 180 graus e, num segundo, já é pela sua voz de locutor de radionovela da extinta Tupi.

E isto tudo é só um tiquinho, pois eu não conheço ele tão bem quanto eu gostaria, mas é uma brincadera com muito fundo de verdade, porque ele é, e todos sabem disso, uma pessoa excepcional, no melhor sentido. Em nada eu menti e espero sempre conhecer mais dele.

E como eu estou escrevendo essa série e disse que ia incluir algumas pessoas, hoje é o meu homenageado. De coração!

John, meu querido, é uma felicidade saber que a internet e as pessoas em comum que temos afinidades proporcionaram que eu pudesse lhe conhecer. Você é um amigo, quero que você considere-se assim, como se nos conhecêssemos há tempos e vidas. Você é especial, tem uma mente e um coração especial que trabalham em plena sintonia entre si e com os outros.

John Ramalho é mais ou menos isto tudo, mais mais do que menos.


***

E eu respondi:

 

Sempre me perguntei se, numa amizade, é possível fugir à pieguice. Sempre concluí, indignado, que não. A coisa é inevitável: quando temos amigos, em algum momento seremos obrigados a demonstrar afeto. Pois não tendo ânimo para pieguices e demonstrações de afeto, decidi, por bem, não ter amigos. E assim matei dois coelhos numa cajadada só. Ou, ao menos, tentei.


Curiosamente, como em tudo o mais na vida, também nisso eu fracassei. Não só não consegui não ter amigos, como também não consegui não me afeiçoar a eles.


Coitados. Pobres coitados dos meus amigos. Coitados, porque meu amor é como um vírus sorrateiro: intoxica e faz adoecer. Por isso sempre aviso: não ande com o John, não converse com o John, não dê ideia para o John. O John é perigoso. Ele pode te fazer pensar. Ele pode te fazer duvidar. Ele pode te ferir, te fazer desistir ou te fazer tentar. E pior de tudo, ele pode te fazer acreditar. E nunca, nunquinha, jamais, você irá entender o John, porque ele é tão etéreo quanto as ideias que professa e tão verdadeiro quanto o éter que os físicos teorizaram no século XIX.

O John é como o átomo: é divisível e formado mais por vazio que por matéria. Ele é um nada que existe. John Ramalho é alguma coisa como um fantasma. Sua mãe sempre lhe disse que, em decorrência de dificuldades pulmonares que teve após o nascimento, ele "nasceu sem respirar" e, portanto, "nasceu praticamente morto".

Como vocês sabem, não é todo mundo que nasce praticamente morto. A maioria, segundo consta, nasce praticamente vivo. John Ramalho, portanto, é uma raridade. É um zumbi. Nasceu praticamente morto e viveu ainda mais morto. Sobre o Fernando Sabino dizem que nasceu homem e morreu menino. Sobre o John Ramalho dirão que nasceu morrendo e viveu a morte.

Seja como for, apesar dos avisos, há sempre algum tolo, ou tola, que não escuta. E lá vai, desprevenido ou desprevenida, fazer o pacto com o Fantasma, com o Zumbi, com a Besta. E acaba descobrindo que o Diabo, apesar de feio, é menos feio do que parece.

Há gente nesse mundo que tem o coração tão grande e tão generoso que consegue apaziguar mesmo aqueles que estão destinados ao inferno.

Você é uma dessas pessoas, Carol Sorokin.

Agradeço a amizade, a paciência, a boa prosa e as palavras, tão belas e divertidas, e que foram muito mais gentis do que a verdade. Não que tenhas feito mal, afinal, pelos amigos, sempre vale a pena mentir.

A Isa se foi e me deixou cá no peito um vazio. Um sentimento de trouxa. Mas quer saber? A Isa era legal, mas ela que se foda. Se ela era legal, você é muito mais.

 

        ***

 

Apesar da boa amizade e do afeto verdadeiro entre nós, pouco tempo depois de escrever isso, Carol desapareceu da minha vida. Sei bem porquê, e não posso dizer que não havia motivo, já que não foi só comigo. Mas ainda não sei se perdoo. Talvez a homenagem fosse a sua forma de despedida...

Fato astrológico curioso é que Carol fazia aniversário apenas um dia antes de mim. Era virginiana. Na verdade: eram; tanto ela quanto a Isa. Mas para a Lady Murphy eu nunca perguntei o dia do aniversário. Ao descobrir que a Isa era virginiana eu soube imediatamente da atração fatal que nos acometeria. Caso descobrisse que ela fazia aniversário no mesmo dia que eu, tal coisa teria um efeito profundo em minha mente, gerando uma ansiedade mística que eu preferia evitar.

Antes do sumiço da Carol, eu e Isa nos afastamos, não por brigas ou rancores, mas por contingências da vida que se colocaram entre nós. Ou, talvez, por conta da minha covardia afetiva; a constante fuga de tudo o que pode me levar a uma grande paixão.

Não foram elas as primeiras moças virginianas de quem eu fui próximo, nem serão as últimas. Na verdade essa tem sido uma ocorrência tão peculiar e recorrente em minha vida que mudou minhas antigas ideias sobre a Astrologia (coisa sobre a qual devo escrever noutra ocasião).

 

***


Além de mim, e dos amigos já citados, há outra testemunha. O amigo Maycon Antônio, um jovem universitário com boa ambição intelectual, estudante da UFPR e leitor deste blog. Maycon frequentava o meu perfil e lá interagiu com essas pessoas, presenciando muitos dos debates e episódios divertidos. 

Registro tudo isso, pois aconteceu; e é bom que saibam que aconteceu. Resta a consciência de que, usando adequadamente a internet, esses encontros de pessoas afins, e de boas confrarias, acontecem. São as nossas pequenas utopias virtuais. Encontros que seriam muito difíceis de acontecer na realidade, mas são possíveis na web. 

Deixo, enfim, calorosos abraços aos meus amigos (e beijos e abraços às amigas). Que esta webcrônica sirva como testemunho do meu afeto aos que ficaram e aos que sumiram, onde quer que estejam. Por mim jamais serão esquecidos. 


10/02/24

O Blogueiro Extemporâneo




Acho fascinante dispor do blogger numa era em que essa opção já não é tão popular entre os internautas. Com essa atitude eu ingresso na galeria dos blogueiros extemporâneos - os que usaram antes de ser moda e os que ainda usam depois da moda. Antevendo a pergunta: por que você ainda escreve no blogger? Deixo registrada, aqui, a minha resposta.

Faço-o porque traz consequências curiosas e interessantes. Começo explicando que, em relação aos leitores, a relativa invisibilidade do blogger no Google me blinda dos olhares indiscretos de uma multidão de internautas analfabetos culturais; muitos deles proselitistas ideológicos (à esquerda e à direita), com parca ou nenhuma formação filosófica, pouco acostumados à discordância esportiva, pesquisa, leitura, crítica racional e argumentação inteligente. A discrição protege-me também da geração floco de neve, para a qual toda conduta avessa ao sentimentalismo tóxico progressista é um venenoso fruto da árvore de algum ismo. Esses, formados quase integralmente por mocinhos e mocinhas histéricas, teriam verdadeiros ataques epilépticos ao constatarem minhas opiniões sociais e políticas. Excluída - ou minimizada - a possibilidade de visitação desses tipos, minha preocupação quanto a possíveis reações debilóides ao meu conteúdo já decai um bocado. As piores coisas para o escritor são a auto-censura e a crítica leviana.  

Ou seja: gosto da liberdade que o blogger me traz, da paz que tenho aqui. Paz: bem precioso que eu jamais teria em antros de caos e perdição, verdadeiras selvas de gritaria, como Facebook, Twitter ou Instagram. Ainda sobre os leitores: descobri que prefiro atrair gente da minha convivência ou quase – parentes, leitores antigos, amigos e amigos de amigos. Ao menos esses, quando não são cultos, demonstram interesse na elevação cultural. Buscam compreender antes de julgar.  Atrair essa gente foi um dos propósitos originais deste Notas de Um Blogueiro Em Crise (NdBC).  

Há pouco mais de três anos, em conversas, eu às vezes revelava que escrevia. Surpresas, as pessoas me perguntavam sobre o quê e onde. Para responder essas duas perguntinhas simples eu me enrolava todo. Havia escrito sobre vários temas, em gêneros distintos, e minha produção estava fragmentada em dezenas de postagens no Quora, Facebook, Medium e em blogs minúsculos no Wordpress e no Blogger. Eu não sabia nem quais eram os temas ou os gêneros que praticava com maior frequência. Por isso tomei vergonha na cara e decidi pegar todo texto que eu achasse relevante, ou divertido, e pôr num lugar só, um blogzinho, simples, minimalista, com tudo bem organizado por tags. Assim nasceu o NdBC.

E agora, quem diria, estou no quarto ano de blog. Ostentando um bocado de textos devidamente alocados e catalogados (130 textos, incluindo este). Há ainda alguns por incluir, creio que algo entre dez e quinze, porém só o farei depois de severa edição. Na transferência dos meus textos para cá eu fiz três curiosas descobertas: (1) como nos incomodam alguns dos nossos textos do passado!;(2) como cometemos plágio involuntário!; e (3) como mudam as nossas ideias! Muitos dos textos postados em outras redes, que eu achei que viriam para cá, acabaram se mostrando datados, levianos ou de inteligibilidade restrita ao ambiente original. Com isso surgiu a vontade de escrever textos inéditos para o blog, o que fiz em algumas ocasiões, geralmente na forma de crônicas, notinhas e até poemas. Tive, é verdade, vontade de escrever artigos mais elaborados, mas não consegui porque optei em focar na edição e organização dos meus diários, material que a cada ano se avoluma.

Não decidi ainda qual será a tônica do NdBC neste ano.  Sei que não tenho ânimo para falar de política e filosofia política aqui, porque é o assunto mais deprimente e é um dos mais exigentes (eu não conseguiria escrever sem ilustrar o discurso com referências, o que tornaria a produção mais demorada). Sem contar que política é o tema que mais atrai problema. Melhor evitar, como sabiamente tenho feito. 

Dos meus temas de estudo e interesse, brasilidade e violência são dois que talvez mereçam comentários. Indicações e comentários tematizando a vida intelectual e literária devem aparecer, assim como notinhas sobre livros, eventuais poesias e crônicas. Pensei em pôr aqui a correspondência que tive com amigos intelectualizados na juventude, o que houver de interessante para publicar, como exemplo a ser seguido aos meus leitores mais jovens. É uma possibilidade..

Listas de música, as famosas playlists, e dicas de música, devo publicar aqui também? Dicas de blogs, comentários sobre internet, tecnologia e blogosfera devem aparecer. E talvez eu entreviste alguns intelectuais, blogueiros, escritores e artistas, amigos ou não. Pensei em voltar a desenhar, e poderia publicar aqui os desenhos. Pensei também em traduzir alguns artigos interessantes em inglês. Eu poderia falar sobre quadrinhos,  cultura pop e sobre programas antigos de TV. Ou poderia falar de magia, tarôt, astrologia, parapsicologia, hipnose e outras heterodoxias, embora o melhor seja nunca falar sobre essas coisas à luz do dia e sóbrio, afinal, podem desconfiar – ou descobrir – que eu sou doido.

Bem, sem respostas precisas agora, vejamos o que o tempo e o capricho do autor trará ao blog. Que reine a liberdade. 

16/11/22

Rick Beato: o produtor que te ensina a compreender a estrutura musical das grandes canções do rock


Esse cara manja dos paranauês

Falta música neste blog. Para corrigir essa falha, a postagem de hoje inaugura a minha série de dicas e digressões sobre temas musicais - bandas, gêneros, canções, cantores, clássicos, alternativos, álbuns, produtores, bastidores, tretas, listas e o que mais houver de interessante no mundo da música. O critério é falar sobre música de qualidade, especialmente de gêneros e bandas que eu gosto, ou ao menos dos relevantes históricamente e musicalmente. Mas claro que, como John Ramalho é John Ramalho, pode aparecer por aqui algumas referências musicais kitsch, trash, humorísticas e bizarríssimas para provar que nem só de Chopin vive o homem. Espere por Rogério Skylab e coisas ainda mais doentias. Mas tenha calma: tudo em seu devido tempo.

Por hora, a minha dica número um é o canal de Youtube do músico e produtor norte-americano Rick Beato. Artista e produtor experiente, Rick faz exatamente o que eu sempre quis ver algum professor de música fazer: decompõe a música original mostrando a pegada de cada instrumento, fala sobre a mixagem, os efeitos sonoros, a progressão de acordes e o que torna a música em questão especial ou interessante. E faz tudo isso com uma naturalidade que é absolutamente inspiradora. É definitivamente um mestre em sua área. Seu canal é excelente para quem está começando a estudar música ou simplesmente gosta de saber um pouco mais. (Sugiro fortemente conferir a lista dele de melhores guitarristas, cita uma grande variedade de clássicos dos anos 30 e 40, do blues e até do jazz, sobre os quais eu jamais tinha ouvido falar.)

Abaixo, em sua série de vídeos chamada "What Makes This Song Great", no episódio 75, Rick explica a estrutura, a sonoridade e as sacadas de Under The Bridge, canção famosa da banda Red Hot Chilli Peppers:

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A dica está dada. Confira o canal do Rick, veja suas playlists, procure um vídeo de uma banda que te interesse e aprenda sobre música enquanto se diverte ouvindo música (e ainda pratica o seu inglês).

05/10/22

O Mundo É Muito Interessante...

Gosto de conhecimento, tanto ao ponto de sentir prazer em obtê-lo. Essa é uma característica tão expressiva em minha personalidade que já me acusaram de "viciado em conhecimento". Descobrir algo novo, fascinante, incrível e inusitado me deixa animado, meditativo, embasbacado; me faz pensar que o mundo é mesmo um lugar muito interessante, cheio de coisas doidas, inacreditáveis. Coisas que podem tornar  nossa experiência de vida muito mais dinâmica e interessante. E quando eu digo "mundo", refiro-me a tudo mesmo: pessoas, animais, objetos, ideias, relações...


                            [ O que fazer quando uma ponte resolve dançar?]

Suspeito que todo mundo tem, ao menos algumas vezes - talvez depois de assistir um documentário do Netgeo - certo deslumbramento com as coisas estranhas e maravilhosas do mundo. Mas, infelizmente, acontece que com o tempo as pessoas se esquecem e param de pensar nas coisas incríveis e misteriosas. Limitam-se ao cotidiano mais imediato, à vidinha suburbana e suas necessidades mequetrefes.

A experiência de estar no mundo e observá-lo é muito mais intensa e impressionante  quando somos mais jovens, e parece diminuir  de intensidade enquanto crescemos. Raramente um homem adulto olha para um cachorro do modo como ele olhou pela primeira vez, ou do modo como as crianças os olham. Raramente um adulto sente o mesmo que uma criança quando vai ao zoológico. Mas por quê? O que torna os adultos menos impressionáveis com as coisas do mundo?

[A mula certamente era lenda, mas frango sem cabeça existiu. E pelo que consta, sobreviveu por mais de um ano.]

Uma forma de explicar esse fenômeno - a apatia dos adultos - é por meio de uma teoria econômica chamada de Lei da Utilidade Marginal. Ela diz, mais ou menos, que quanto mais usamos um bem (ou quanto maior a quantidade dele), mais decresce o valor de utilidade subjetiva desse bem.  Não entendeu? Calma. O melhor jeito de entender é pensar no consumo da água. Se estivermos com muita sede, o primeiro copo de água que tomarmos terá, para nós, um alto valor de saciação. (Quanto mais sede, mais nos alegrará um copo de água). Contudo, nossa satisfação será menor no segundo e provavelmente sumirá no terceiro copo. Se continuarmos, embora já com pouquíssima sede, indo pro quarto e para o quinto copos, não ficaremos tão intensamente  satisfeitos quanto ficamos com o primeiro copo, pois já estaremos saturados. No jargão econômico isso significa que o "valor  de utilidade" subjetiva  do bem - no caso, a água - diminuiu com o consumo.

[E a teoria científica de que alguns dos nossos antepassados eram..macacos aquáticos?! ]

Resumindo, a ideia é que o valor que damos a um bem está, de algum modo, relacionado com a nossa exposição e consumo desse bem. Quando não temos um objeto, ou o temos em pouca quantidade, mais valoroso ele é. Quanto mais o temos, menos valoroso ele nos parece. Isso explica o chamado Paradoxo da Água e do Diamante, que é o fato da água ser objetivamente mais útil que um diamante, mas ser estranhamente muito mais barata que o mesmo. A explicação é que  o diamante é mais caro porque é mais raro, o que aumenta o seu valor subjetivo.


[Vão dizer que é loucura, mas... há indícios de que os fenícios vieram ao Brasil. Será?]

Se pensarmos no mundo como uma fonte de bens do quais dispomos, e daí aplicarmos a lei da utilidade marginal, ficará claro que nossa experiência com o mundo perde valor quando nos limitamos a consumir os mesmos bens, ou quando temos apenas o mesmo circuito de experiências. Um adulto, por exemplo, já teve muito mais experiências de interação com um cachorro que uma criança. Ficamos deslumbrados com as coisas quando elas são raras, quando são novidades,quando fogem do que já conhecemos.


                     [Sabia que em nosso planeta existem lagos cor de rosa?]

Sabendo disso, é preciso lembrar que o nosso planeta é enorme e está repleto de coisas  e experiências que desconhecemos, de bens ( mentais ou físicos) que não temos e que podemos obter ou conhecer, direta ou indiretamente. O fato da nossa inteligência ser limitada faz com que o conhecimento seja sempre escasso. Não importa o quanto você saiba, sempre haverão perguntas, sempre haverão mistérios. Não é preciso reduzir o mundo a nossa experiência mais imediata, ao que já conhecemos. Esse comportamento denota mediocridade, rigidez cognitiva e é terrivelmente limitador. A pior das prisões é a prisão mental, especialmente quando é reducionista.

             [O mestre kame existiu. E isso é algo realmente impressionante.]


Do que foi dito até  agora é possível concluir que a curiosidade é uma aliada imprescindível  dos que querem enriquecer suas mentes e ter uma visão mais ampla do mundo. A pessoa curiosa, com espírito inquieto e investigativo, sempre está descobrindo algo fantástico, curioso e muita vezes incrivelmente útil. Quem é curioso e imaginativo nãose limita a pensar apenas no mundo imediatamente acessível, porque sabe que existe um universo de possibilidades inexploradas das quais ela pode conhecer e dispor.
          
[Se você achou o lago rosa curioso é porque ainda não ouviu falar do tigre azul.]

Portanto se você já estava acostumado com o mundo, espero ter ajudado a mudar isso. Há muito pra se conhecer, para deslumbrar e maravilhar-se. A vida é, como dizem por aí, uma caixinha de surpresas. O mundo também. Mas para descobrir suas surpresas é preciso procurar. E a internet está aí pra isso.

Há milhares de coisas incríveis por aí. Algumas delas muito mais surpreendentes que as que eu mencionei aqui. Se for corajoso, poste uma nos comentários para que eu possa me maravilhar com ela também. E trate de lembrar que nosso mundo é mesmo um lugar muito interessante.



 [Ah, eu não poderia terminar sem dizer que existe uma agua viva que é imortal.]

14/09/22

Um Drama Profundamente Reacionário — Ou: Eu Ainda Não Mostrei o Popozão




Apesar de ter alguma pouca ambição literária (pecado infantil que ainda não perdi) não chego a me classificar como “escritor” e tampouco como “escritor em formação”. Quer o desejo de precisão que eu me qualifique pelo que fiz e faço. O que fiz e faço? Blogs: fiz e faço blogs. Tive-os aos montes e agora mantenho alguns. Sou, portanto, um blogueiro. Blogueiro blogspot. Blogspot, lembram o que é?

Há 10 ou 15 anos, o termo “blogueiro” designava uma pessoa geralmente jovem que tinha aptidão ou paixão literária e, por algum motivo, queria exercitá-la. Essa pessoa podia ser o seu vizinho adolescente, aquele seu amigo metido a cronista, aquele outro que se acha crítico cultural, ou podia ser um músico como o Lobão, o Humberto Gessinger e o Tico Santa Cruz (sim, todos eles tiveram blogs), podia ser também um escritor iniciante talentoso e com alguma reputação, como aconteceu com o Daniel Galera e o Alexandre Soares Silva, ou podia até ser um autor de nome consolidado e reputação mais ou menos ilibada, como o Sérgio Rodrigues. O comum entre todos era a paixão pelas letras, a busca do cuidado com as palavras, a performance literária, a reflexão.

Hoje, em grande parte por culpa de redes sociais como o Instagram, o termo “blogueiro” perdeu essa capacidade descritiva. Hoje qualquer jovenzinha de bunda mais ou menos arrebitada ou que saiba copiar e colar frases da Clarice Lispector se entitula “produtora de conteúdo” e “blogueirinha”.

Eu, que não quero de forma alguma me ver associado a esse tipo de gente, que pra mim nem é gente, ando tendo enormes crises de identidade. Não sei se me atualizo na carreira, migro pro Instagran e passo a tirar fotos da minha bunda e intercalá-las com versículos bíblicos e frases de empoderamento; ou se, estóico e teimoso, mantenho a tradição de blogueiros que escrevem — e tentam escrever algo mais ou menos interessante — em plataformas para blogs.

A minha solução provisória é me apresentar como cronista e blogueiro à moda antiga. Gosto, inclusive, de como soa reacionário e demodé. Já antecipo os olhares indignados da multidão, as falas de protesto: “Como assim ele é blogueiro e não mostra a bunda? Como ele não faz dancinhas? Como assim nenhuma citação da Clarice? Como ele quer ser blogueiro sem falar da opressão do polvo preto? Da dor das mulheres virgens com cachumba no joelho na Vila Inhaúma do Sertão de Atibáia? Como ele não usa SEO? Como não faz tráfico pago e não escreve copiaburro, digo: coypright? Que sujeito reacionário!”

Tenho medo que meu nome seja lançado aos guerreiros da justiça social e eu saia nos comentários do Twitter como o mais novo opressor das blogueirinhas. Estou amargo, desiludido, o peito dói. Mundo triste este em que nem os blogueiros de ofício são respeitados.

Ainda não mostrei o popozão. Mas até quando?

14/03/22

Pirataria Digital: Tô Dentro!

 


Brasileiro pobre, nascido nos anárquicos anos 90 e formado internauta na gloriosa web 2.0, a pirataria e o compartilhamento virtual estão entranhados no modo como encaro a internet. Para mim, sem compartilhamento a internet não é internet, até porque ela nasceu para isso...

Carrego a nostalgia pelo tempo áureo dos blogs, onde era possível compartilhar de quase tudo - e impunemente. Hoje em dia não é mais assim, de dez anos pra cá o compartilhamento, embora ainda não seja crime, em muitos casos revelou-se problemático... De qualquer modo, problemático ou não, é a tradição a qual me filio; e sendo como sou, pirata inveterado, jamais poderia tocar um blog pessoal sem essa atividade. 

Por isso decidi compartilhar aqui quadrinhos, filmes e o que mais der na telha. Com sorte, não terei problemas. Felizmente, costumo ser um homem de sorte. Pois vejamos...

10/03/22

Do Biquini à Piriquita: a ascensão do Kitsch nas metamorfoses da canção “Tédio”

 


Era 1985 quando a banda de rock Biquini Cavadão lançou a canção “Tédio”. Em cima de uma levada pop rock, a letra reproduzia o conteúdo de uma suposta ligação na qual uma das partes confessava sofrer do desagradável sentimento. 


Não era brilhante, mas era divertida e fazia sentido, já que tédio é algo que todo mundo sente ocasionalmente. A canção fez mais sucesso do que a banda esperava, tocou exaustivamente nas rádios e há relatos de que foi muito reproduzida em departamentos públicos.

Para os críticos musicais da época, o rock brasileiro oitentista, cheio de influências Punk e New Wave, era musicalmente inferior ao que fora produzido nos anos 70 e 60, como Jovem Guarda e Mutantes. De tal modo que as músicas do Biquini Cavadão eram consideradas como expressão de uma vertente cultural simplória e menos interessante em termos artísticos. Era música medíocre. Mesmo assim, ou talvez por isso, a melodia de “Tédio” grudou na cabeça do público.

Vinte e quatro anos depois, uma irrelevante banda de brega pop paraense chamada Banda Katrina, numa explosão de humor de duplo sentido, ressuscitou a melodia de “Tédio”, dessa vez expressando-a junto a uma letra criativa ao estilo Raimundos, na qual destacava-se o título: “Quem Vai Querer A Minha Piriquita”. Contava a história de moça fogosa, ou brincalhona, interessada em dar a piriquita. Música extremamente ruim, porém engraçada, foi sucesso instantâneo. A velha melodia voltou a grudar na cabeça do povo. 



Dois anos depois do estrago da Banda Katrina, o funkeiro Mr. Catra, que no início da carreira tocava numa banda de rock, entrou na onda e resolveu dispor da melodia de “Tédio”. Uma versão funk, por que não? Pôs na música batidas mais acentuadas, maior destaque na melodia e, claro, uma letra para lá de sacana. Chamou a canção de “Adultério”.



O perfil artístico de Catra é o de um oportunista que submeteu o pouco talento que tinha ao escracho, ao cinismo e ao deboche. Suas músicas mais relevantes são brincadeiras sacanas ou paródias. Produziu Kitsch e surfou no Trash Culture do funk proibidão. Nessa área a performance e a ousadia — ousadia aqui nada mais é do que a coragem de exibir sua mediocridade musical em público — são muito mais importantes que o talento. Catra era desinibido, excêntrico, bem humorado e carismático. Foi o suficiente para que os brasileiros ouvissem suas músicas e lhe devotassem atenção. A música “Adultério” foi um imenso sucesso. Tanto que até hoje muitos jovems quando escutam “Tédio” acreditam que é uma cópia da canção de Catra. É a criatura devorando o criador. A melodia, mais uma vez, grudou na cabeça do povo.

Finalmente, como o Brasil não é para amadores, neste ano de 2022 as coisas chegaram a um nível ainda mais estranho. Uma espertinha chamada Juliana Bonde, vocalista do Bonde do Forró, resolveu repaginar a versão da Banda Katrina, alterando um pouco a letra, mantendo o terrível teclado eletrônico e elevando a sonoridade forró. Eis a versão mais lixo de todas, o que no Brasil significa a fórmula mágica do sucesso. Mas como Juliana Bonde além de bela é astuta, deu o golpe fatal: tratou de ridicularizar na letra uns nomes famosos da cultura nacional. Atirou para todos os lados: religiosos, políticos e músicos. Disse que daria sua piriquita para o padre Fábio de Melo, mas não para Luan SantanaLula e Bolsonaro.

Antes dela, o último a dar o golpe das citações foi Serginho Malandro; em sua espirituosa paródia de Drake.



Desnecessário dizer, mas a versão de Juliana ( que o dileto leitor pode conferir no video abaixo) está fazendo tremendo sucesso. A melodia está grudando na cabeça do público.



O que não é bom sinal, e provavelmente indica que em breve vem coisa pior por aí.  E assim, uma vez mais, constatamos o Kitsch como expressão máxima da preferência nacional, neste caso — que está longe de ser um evento isolado, e por isso serve para ilustrar a tendência mais geral que assola a música comercial brasileira — temos uma canção boboca que é a cópia da cópia, sempre prometendo uma futura versão ainda pior; numa sucessão sempre previsível, numa dinâmica perpetuamente monótona.

É ou não é de entediar qualquer um?

07/02/22

O Texto, a Divulgação e a Polêmica da Piriquita



Embora desprovido de grandes pretensões literárias e consciente de minhas limitações nessa arte, creio que - mesmo sendo blogueiro e cronista de menor categoria -, mereço ser lido pelos leitores de crônicas e blogs; especialmente pelos leitores de crônicas e blogs de menor categoria, e mais especialmente ainda pela parcela que sofre de masoquismo literário e desprezo pelos gramáticos. Em minha autoindulgência chego até a considerar que posso, em alguma ocasião, ter escrito algum texto interessante ou provocativo, digno de um público maior.

No entanto, uma dificuldade persiste. Onde publicizar um texto quando você é apenas um blogueiro desconhecido e escritor amador? Como conseguir leitores que tenham interesse no que você tem a dizer? São questões que frequentemente me afligem.

Eis uma verdade universal que todo escritor digital deve saber: para quem quer leitores, não basta escrever; divulgar é tão importante quanto. É nesse aspecto - o da publicidade - onde muitos blogueiros falham, inclusive o autor destas linhas. Encontrar o público de certos textos pode dar trabalho, é preciso uma disposição que nem sempre me anima. Sou cronista preguiçoso, reconheço.

Além disso, há vantagem na obscuridade: ela nos protege da crítica indevida. A desvantagem é que protege-nos também da crítica pertinente. Ter o texto exposto e criticado pode servir - e geralmente serve - para amadurecer o entendimento do escritor sobre o próprio texto e as reações que ele suscitou. Outra parte interessante da exposição textual na internet é a oportunidade de interagir com os leitores. Digo: interagir com os bons leitores, aqueles que compreendem o texto e têm alguma contribuição cultural ou argumentativa a fornecer. Quanto aos maus leitores: o jeito é ignorá-los.

Trarei a seguir um bom exemplo prático de como a divulgação pode trazer resultados interessantes. Mas antes devo confessar, meus caros, que apesar ter iniciado este blog com o objetivo de abandonar o Facebook, eu continuo escrevendo, ocasionalmente, na rede social do Zuckerberg. E foi surfando por lá que, outro dia, em reação à postagem de uma amiga que compartilhou a "Piriquita" - refiro-me a inusitada e recente música de Juliana Bonde - escrevi um comentário longo (para os padrões do Facebook) a respeito da manifestação do Kitsch em tão peculiar canção. No comentário eu explicava o processo de decadência que sofreu a canção "Tédio", da banda Biquini Cavadão, até virar a estrambótica e terrivelmente bem humorada versão do Bonde do Forró.

Sujeito de tendências misantrópicas, tenho poucos amigos no Facebook - cerca de 168. Desses, há um pequeno grupo, que varia entre 10 e 15 pessoas, com quem interajo de modo recorrente. Formam o seleto grupo de insensatos que lêem as bobagens que escrevo por lá. Como são leitores qualificados e que sempre acrescentam, não tenho do que reclamar. No entanto, desta vez, como fiz comentário de um evento atual, coisa que evito, fiquei curioso para saber como outros leitores reagiriam ao texto, já que o assunto está muito falado no Twitter e em outras redes sociais.

De início, achei que era boa ideia publicá-lo em meu perfil no Medium, já que faz tempo que não publico por lá. Faria bem um texto novo, pra variar. Foi o que eu fiz. Porém, logo em seguida, lembrei-me que o ritmo de interação no Medium é mais lento, e que lá não é a melhor plataforma para explorar as polêmicas da semana. Então percebi que para que o texto fosse lido por mais leitores, eu deveria divulgar o link do texto do Medium em grupos do Facebook. Felizmente, por sorte, faço parte de alguns grupos de música cujos membros são muito engajados em debates e polêmicas. Divulguei o texto num desses grupos e o resultado foi melhor do que eu esperava. Os recortes das métricas confirmam:

Recorte 1) O alcance e as reações do seleto público do meu perfil principal no Facebook.



Recorte 2) O alcance e as reações à divulgação do texto no grupo "Psicodelia Brasileira"



Recorte 3) Em um dia e meio, as estatísticas de visualização do texto no Medium subiram de 0 para 213.


Recorte 4) Comparando com os textos não divulgados, e que estão no Medium há muito mais tempo, a diferença nas estatísticas é abissal.


Tal experiência prática, além de confirmar a importância da divulgação, me fez pensar um bocado. Então, veja você, escritor iniciante, cronista, ou blogueiro, o como é possível e fácil ampliar o público de seus textos. Depois de escrever, basta a estratégia correta para divulgar. E depois é encarar as reações, boas e ruins.

No meu caso, entre as várias reações ao texto, este comentário, presente num debate cheio de farpas entre este autor e um leitor inteligente, foi difícil de ler, pois demasiado verdadeiro. Doeu-me o coração sensível.


Já este outro, eu adorei, por ser mais verdadeiro que o anterior e ser expresso por uma bela mulher, o que é ainda melhor.