Mostrando postagens com marcador Casamento. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Casamento. Mostrar todas as postagens

28/12/22

Relações duradouras têm pouco a ver com amor



É raro que um casal fique junto, durante um longo período de tempo (leia-se mais de trinta anos), por amor. Pode acontecer? Pode. Mas é raro. O amor faz querer casar, ficar junto e até mesmo separar-se de alguém, mas não dá o que é necessário para conviver, domesticamente, a longo prazo.

Isso acontece porque o amor é um bem sujeito à lei da utilidade marginal. Noutras palavras: a quantidade de prazer, satisfação e desejo de proximidade que ele gera decaí com o uso.

O que realmente faz um casal ficar unido por muito tempo - até mesmo quando a paixão e o amor já se esvaíram - é uma série de outros elementos, dentre os quais se incluem: dependência afetiva, necessidade, hábito, medo de mudança brusca e medo da perda de vantagens já obtidas (o ser humano é mais reativo diante da possibilidade de perder um privilégio do que da possibilidade de ganhar outro).

Daí que não se deve confundir as coisas. Se você tem mais de trinta anos de casado, já está de saco cheio da sua esposa (e ela de você). Mesmo que vocês ainda se amem, esse amor é bem menos poderoso, em termos de coesão, do que era no início. No entanto, devido aos outros motivos citados, é grande a tendência de que vocês continuem juntos, mesmo que, lá no fundo, ruminem outras possibilidades. 

Se soubesse disso quando adolescente, eu teria entendido porque meus pais viviam falando em se separar, ou viviam reclamando um do outro, mas nunca se separavam.

                                                                   
                                                                  ***

   Texto originalmente publicado em perfil antigo no Facebook (em 2016 ou 2017).

07/09/22

O Homem Que Perdeu a Mulher Amada



O amor conjugal, quando verdadeiro, só pode culminar em angústia, dor e intenso sofrimento. A união baseada nessa forma de amor engendra no espírito humano uma profunda e irrecuperável dependência. É pesado, é agonizante, é comovente e é trágico o sofrimento do homem que perdeu sua amada, que perdeu sua outra metade, sua razão de viver. Ele chorará com a facilidade de uma criança, mas sofrerá como se o próprio ar lhe aviltasse, como se cada inspiração o envenenasse; e a vida para ele figurará como equívoco, lástima, desvario. 

Desejaria aceitar o capricho divino, mas seu coração não pode, seu amor não permite. Quer a amada a seu lado. Queria antes, quer agora, quererá depois e sempre, sempre, sempre. Mas ele não passa de criatura humana, não tem o poder de ressuscitar os mortos, e a sua fé, mesmo quando grande, não lhe serve senão como consolo. A dor, a intensidade do sofrimento, o fará descobrir que não é verdade que a fé move montanhas, não é verdade que ressuscita os mortos... Descobrirá que não é mais forte a fé do que o fato, de tal modo que lhe consumirá o sofrimento, o sentimeno de perda, o amargor. Para continuar a viver, precisará acostumar-se com o vazio, com a saudade e com o sofrimento. 

Sabemos que o gênero humano, para o bem ou para o mal, é do tipo que se acostuma. Assim, o mais provável é que o homem que perdeu a amada, depois de intenso sofrimento e desilusão, um dia deixará de chorar; e se não deixar de sofrer, ao menos se acostumará a viver com o sofrimento. 

Amar, viver, sofrer... A tudo o homem se acostuma.