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21/03/22

Afinal de contas, o que é a Matrix?


Quer mesmo saber?

Então deixe-me te mostrar até onde vai a toca do coelho, pequeno neoPreparado? Vamos lá:

Sobre o Filme:

Basicamente, a “matrix”, segundo o contexto da trilogia cinematográfica dos irmãos wachowski, é o termo usado para descrever uma realidade virtual produzida por formas de inteligência artificial (A.I )que se rebelaram contra os seres humanos no passado, numa guerra onde as máquinas venceram.

Desde então, as máquinas vem utilizando os seres humanos como fonte de energia. Ao mesmo tempo, para que os humanos não tomem consciência disso, as máquinas criaram um meio de controlar a mente humana, criando um mundo virtual, ilusório, uma prisão mental a matrix—, mas que a maioria dos humanos aceitam como real.

02/03/22

Dica Herética Para Se Aproximar de Deus



Se não me engano, era Rasputin quem dizia que a melhor forma de se aproximar de Deus era pecando.

Eu sei que parece contra senso, mas tem lógica nisso aí.

Deixe-me explicar:

Acontece que, no Cristianismo, a via de acesso à misericórdia de Cristo é o arrependimento. O arrependimento, contudo, é um estado mental e emocional que só pode ser alcançado por um pecador.

Quanto mais pecarmos, mais nos arrependeremos, quanto mais arrependidos, mais próximos da misericórdia e da graça de Cristo estaremos.

Logo, meu conselho é: pequem bastante.

26/01/22

Nick Cave, Um Ateu Espiritual

 

Nos anos 90, depois de se apaixonar por uma brasileira, Nick Cave abandonou sua rotina de turnês internacionais e foi viver uma vidinha quase pacata  em  São Paulo.

Lá ele gravou um álbum chamado "The Good Son". Logo na primeira faixa, Nick homenageia uma música que eu ouvi centenas de vezes na igreja, mas que nunca vi ser executada de um jeito tão melodioso e tocante.

Acho fascinante o modo como Nick e outros artistas que são ateus/agnósticos conseguem expressar uma espiritualidade muito mais pura e sincera do que muita gente que é nominalmente religiosa.

Nick Cave pode até ser ateu, mas uma coisa é inegável:  ele tem alma.

25/01/22

A Morte do Guru



Morreu o véio lôco. Pela erudição e erística, era interessante como ensaísta heterodoxo. Ao reviver o anticomunismo mais caricato e tacanho, digno de um Carlos Lacerda, o Guru da Virgínia fez mal danado ao jornalismo político brasileiro. Sionista declarado, Olavo chegou a dizer que muitos judeus ricos estavam envolvidos com Nova Ordem Mundial, e denunciou o infame George Soros, o que surpreende.
Certa vez, foi condescendente com o Integralismo, dizendo que ter pertencido ao movimento não macula o passado de ninguém, opinião que lhe rendeu a ridícula acusação de antissemitismo, feita pelo ridículo Intercept.
Em artigo para o seu excelente blog Matemática e Sociedade, o físico Adonai Sant'Anna, comentando uma entrevista antiga do ensaísta, escreveu que Olavo conseguia misturar uma descrição precisa e inteligente da situação educacional brasileira com opiniões problemáticas e nonsense.
De gênio desequilibrado à doido varrido, de místico iluminado à agente da CIA, as opiniões sobre Olavo são tantas e tão diversas que só confirmam a complexidade do sujeito. Erudito de personalidade cativante e belicosa, tido por alguns como líder de seita, Olavo foi uma espécie de Chacrinha intelectual da Nova Direita: comandou um programa bizarro que influenciou grandes setores da cultura brasileira.
Essencialmente um anarquista místico que se fez conservador, Olavo formou-se na tradição intelectual do entre guerras - que incluia pensadores como Arthur Koestler, Curzio Malaparte, Rene Guenon e Aldous Huxley (foi provavelmente à partir de Huxley que chegou em Guenon) - e na escola do Realismo Fantástico dos franceses Jacques Berguier e Louis Pauwels, veiculado pela famosa revista Planète.
Revista que, aliás, teve uma versão nacional - "Planeta" - para a qual Olavo, ao lado de Paulo Coelho, chegou a colaborar. Tenho a edição que uma ex-amiga furtou da Biblioteca da UnB para me presentear- sabia ela que eu era fã da revista e leitor de Olavo -, nessa edição há artigo do ex-astrólogo sobre Cristianismo Esotérico, onde ele faz seus primeiros comentários públicos da obra de René Guenon e, de passagem, menciona que os conhecimentos de Dante Alighieri sobre alquimia árabe foram expressos na Divina Comédia.
Sempre atraído pelo bizarro e pelo heterodoxo, ao longo dos anos recorri à erudição arcana de Olavo e me vi seduzido por seu carisma galhofeiro e depravado. Mas não tardei a ver - certamente com a ajuda de amigos, como o Marlos Salustiano e o Hugo Motta - que a influência do homem era nefasta.
Uma vez, em casa de amigos hipsters, feministos e desconstruídos, citei o nome maldito. Os presentes emudeceram, o ar tornou-se aspero, o chão tremeu, nuvens negras subiram aos ceus, faltou o teto cair: e então, para minha surpresa e espanto, os presentes me olharam como se eu acabasse de confessar o estupro de minha genitora.
Noutra ocasião, na Baratos da Ribeiro (o tradicional sebo alternativo do Rio de Janeiro), em roda de intelectuais mesmo sem ser um deles, descobri que o Maurício Gouveia, o icônico dono da loja, também havia lido e criticado os livros do guru. Conversamos a respeito das reações exageradas à obra do Olavo, e os méritos e deméritos da mesma. Logo alguns presentes na roda fizeram aquela carinha de nojo. "Ah, não. Olavo não!" alguém bradou.
É sempre assim, o que talvez seja compreensível. Todas as opiniões sobre Olavo têm algum mérito, porque o homem era tudo isso ao mesmo tempo. Não era um todo coerente. Era uma dessas misturas impossíveis que só o Brasil é capaz de fabricar.
Com a morte de Olavo e o favoritismo de Lula na disputa eleitoral deste ano a Nova Direita perde força. O Olavismo era um de seus pilares. Resistirá o Olavismo sem Olavo de Carvalho? Em carisma e erudição, não há nenhum discípulo que se equipare ao mestre. O que tem mais chances é Ítalo Marsili, mas este peca pela arrogância, sempre ostentando seu vínculo a uma família de passado aristocrático, seu público é menor e em grande parte vinha pelo Olavo. Quanto aos filhos do guru, o mais inteligente é Luiz Gonzaga de Carvalho Neto (o "Gugu"), mas este é bem menos político e mais esotérico; e é muçulmano, não católico.
De minha parte, creio que o Olavismo não morrerá com Olavo. O que é vil e equívoco tende a perdurar entre os homens. O mais provavel é que continuaremos ouvindo as ideias estranhas de Olavo, mas através de outras faces e vozes. O exército de papagaios olavetes fará a única coisa que sabe fazer: repetirá Olavo. Mas sem o charme e o estranho carisma do mestre.
Para o bem ou para o mal, Olavo deixa este mundo para entrar na História. Foi o homem que ajudou a enlouquecer um Brasil que já não era muito são. Ajudou a eleger o demente retardado que usurpa a faixa presidencial e presta continência à bandeira estadunidense.
Olavo de Carvalho foi um homem carismático, inteligente, manipulador e perigoso. Que sua morte inaugure uma era de decreptude aos movimentos que ele ajudou a alimentar.

24/12/21

Como Lidar Com Cristãos Irracionais e Dogmáticos - Um Guia Para Pessoas Pacíficas

Ateus, agnósticos, céticos, religiosos democráticos, místicos, estudantes de filosofia, livres pensadores… Enfim, quem quer que seja razoavelmente democrático, racional e já tenha tido a experiência de lidar com um cristão dogmático e fundamentalista sabe que não é a mesma coisa que lidar com uma pessoa em seu pleno juízo.

Quanto mais você alega que o religioso está louco, mais ele dá glórias à Deus; quanto mais se diz que algumas passagens da Bíblia são absurdas e até desumanas e criminosas, mas o crente afirma que a palavra de Deus é “mistério”. E assim o debatedor racional sai completamente frustrado e sem saber argumentar contra alguém que não aceita argumentos.
 

O fato é que é preciso toda uma malícia especial para lidar com os crentes fundamentalistas. Tendo eu tido a oportunidade de desenvolver tal malícia (sou agnóstico e convivo com pessoas desse tipo desde muito tempo), pensei ser interessante expor alguns métodos simples que aprendi ou desenvolvi, na esperança de que possam ser úteis a outros.

Se for possível ficar longe de cristãos dogmáticos, fique. Se não for, use as dicas.
 
1. Regra de ouro: mantenha o bico calado sobre religião.

O modo como você pensa sobre religião só diz respeito a você. Ninguém que seja dogmático irá respeitar ou sequer analisar seus pontos de vista. Se quer falar ou debater sobre esse assunto, seja sensato: procure alguém com mente aberta.

crente chatinho

 

Nunca caia no erro de conversar sobre religião com um cristão irracional e dogmático; porque, caso você demonstre interesse sobre o tema, o religioso provavelmente verá uma deixa para explanar o próprio ponto de vista — dogmático e não racional — a respeito, ou pior, poderá ainda tentar lhe converter.

Obs: essa dica deve ser aplicada nos “conhecidos” com quem se tem pouca intimidade, mas também funciona para pregadores chatos. Tudo que eles querem é alguém com quem falar, então não dê corda.
 

2 . Resista e Manipule

Considere que estamos no Brasil e que aqui há fortes credos católicos, protestantes e neopentecostais. Assim sendo, é muito provável que uma hora ou outra, em alguma situação, você acabe tendo de ouvir o discurso de um religioso dogmático.
 

crente chato do caralho

Em vista disso, caso você seja um sujeito polido e pacífico, treine seus ouvidos e sua mente para ficar impassível ante as maiores incongruências e bizarrices nonsense que o religioso dogmático irá proferir (recomendo fazer isso lendo a Bíblia com frequência,vendo vídeos do Olavo de Carvalho ou ouvindo testemunhos como este aqui).

 Se acabarem as desculpas para sair de perto da pessoa, saiba mudar de assunto sem que ela perceba (de preferência emendando algum tema que a ela goste e fazendo praticamente uma entrevista sobre ele).
 

Para os mais ousados, vale a pena treinar a hipocrisia social a ponto de poder esboçar um sorriso cordial ao mesmo tempo em que sente sua capacidade crítica ser ofendida e observa a lógica e a sanidade serem grotescamente violentadas, as duas ao mesmo tempo.

Invista na falsidade e manipulação, elas são indispensáveis nos relacionamentos sociais com pessoas imaturas (ou seja, quase todos os brasileiros, em especial os crentes). As pessoas preferem as mentiras reconfortantes mais absurdas do que qualquer verdadezinha que lhes fira o ego e a sensibilidade.
 
Portanto, utilize isso a seu favor: aprenda a fingir que não se importa em orar. Aprenda a orar como se acreditasse na oração. Aprenda a dizer “ore por mim” e a dizer “amém”.

Guarde sua honestidade para quem possui maturidade e inteligência para aceitá-la. Quando se trata do cristão dogmático, vale o dito bíblico de não jogar pérolas aos porcos.

Obs: essa dica deve ser aplicada em pessoas legais mas terrivelmente crentes, com as quais você não gostaria de discutir. Eu sempre a utilizo para parentes queridos e pessoas religiosas e dogmáticas que me tratam muito bem.
 

3. Se for para contrapor, faça-o com exigências intelectuais e sarcasmo brutal

 Ainda assim, nem sempre será possível fazer vista grossa, manter a boca fechada ou mudar o tema do assunto. Dependendo da postura, da burrice, do fanatismo e da intolerância do religioso com o qual você estiver lidando, ficar calado será praticamente impossível.

sarcasmo.gif

 
Nesse contexto, as pessoas polidas e de tendências pacíficas devem apenas mencionar que discordam, sendo tão enfáticas em sua posição quanto a pessoa religiosa for na sua. Talvez seja preciso dizer ao religioso que você não acredita no mesmo que ele, ou mesmo que acha que ele está errado. Evite, pois o dogmático irá crer que você precisa de salvação, de toda burrice que ele pode oferecer e de outras coisas mais (talvez ele até pense que você está com o demônio no corpo ou que está sendo usado pelo tinhoso).

 

cristianismo pagao

O melhor a fazer é mostrar que você entende mais de Bíblia do que ele: diga que ele não entendeu a bíblia, e que ela é um livro histórico e cultural. Conte a ele sobre a alegoria da caverna de Platão e diga que ele está aprisionado. Questione-o se ele sabe como a bíblia foi composta, fale sobre os conselhos ecumênicos, os textos apócrifos e as diversas interpretações divergentes do credo ortodoxo.

Fale sobre as centenas de fracionamentos do protestantismo. Se possível, mencione o livro Cristianismo Pagão, de Frank Viola. Evite as falácias usadas no documentário Zeitgeist, grande parte daquilo é mentira. Diga que a melhor interpretação teológica do apocalipse é a de que ele já aconteceu.
 

Monopolize o discurso. Mostre as incoerências e contradições Bíblicas. Afirme categoricamente que a evolução é um fato e exemplifique com termos técnicos da biologia evolucionista (se você, como eu, não entende muito de biologia evolucionista, comece pesquisando as referências deste texto aqui, ou apenas reproduza o que ele diz). Quando o religioso se opor, continue no mesmo ritmo frenético com bombardeio de informações contrastantes. Ele te achará perigoso e provavelmente se afastará.

 Obs: essa dica você vai saber em quem aplicar.
 

4. Mude de estratégia.

 Caso nada disso funcione, é melhor você começar a ser belicoso ou debochado e provocativo.





***





Nota do editor: o texto acima foi escrito em 2017 e originalmente publicado no Medium

30/04/21

Em Defesa do Charlatão — ou: porque Olavo de Carvalho é um mal necessário

 

Em artigo originalmente publicado na (ótima) revista Café Colombo, Joel Pinheiro da Fonseca — mestre em Filosofia, baluarte do EPL e integrante do Partido Novo— ataca com unhas, dentes e argumentos um antigo conhecido e colaborador. O atacado é ninguém menos que Olavo de Carvalho, o famoso Guru da Virgínia.

O senhor Pinheiro, que vem conquistando um público cada vez maior, é figurinha carimbada nos meios liberais. Eu mesmo já fui fã de seu trabalho e devo a ele, entre outros, a possibilidade de, anos atrás, ler in portuguese divergências inteligentes e racionais às falácias histéricas do Guru e de seus asseclas. Coisa que se deu no finado Ad-Hominem, blog do qual Joel fez parte e onde travou duelos intelectuais com seus amigos olavettes. Onde vislumbrei pela primeira vez na internet uma esgrima intelectual jovem, madura e inteligente, sem os vícios, xingamentos e aberrações que tanto vi em outras páginas de esquerda e direita.

Contudo, apesar de minha simpatia para com Pinheiro, farei aqui, dentro das minhas limitações (que são muitas), um esforço em apresentar um sincero ponto de vista divergente do exposto em seu artigo. Tentarei apresentar um ponto de vista que, ao mesmo tempo em que reconhece certo charlatanismo em Olavo, reconhece também os aspectos positivos dele.

Em principio, estou completamente de acordo com a crítica que Joel traça ao ego acachapante, ao aspecto sectário e à afetação de sabedoria mística tão evidentes em Olavo. Como o mestre em filosofia argumenta, para aqueles que estão familiarizados com o modus operandi do Guru, com seu passado sufi-perenialista, com suas frequentes incongruências, com seus erros cabeludos, paranoias, acusações infundadas e absurdos teóricos, nada é mais notório que o fato de se tratar de um sofista bem preparado, empenhando em vencer e influenciar incautos à qualquer custo.

A questão que quero enfatizar, porém, é que embora Olavo possa atrair gente inteligente e racional para perto de si, acredito que ele, como qualquer guru, só é capaz de hipnotizar aquelas pessoas que já querem ser hipnotizadas.

Explico. Acho que Olavo se aproveita do sentimento de devoção religioso e da disposição de crença de centenas de jovens e fiéis católicos, notavelmente ignorantes em filosofia, mas ao mesmo tempo ansiosos para fundamentar suas expectativas religiosas e condenar a plenos pulmões tudo o que destoe de seus dogmas. Assim, Olavo põe no ar a velha ideia medieval de que a “filosofia é serva da teologia” e os fiéis sentem que aderindo ao credo católico-olavético estarão a contemplar a mais sofisticada e profunda das ciências. Aqui, vê-se que Olavo é, acima de tudo, um místico disfarçado de filósofo.

Já o Olavo político, que só é ouvido e levado a sério pelos sectarios fiéis conquistados através da erística místico-filosófica, aparece como uma bizarra síntese de Gurdgieff, Alborghetti, Joseph Mccarthy e Alex Jones. Uma cria autêntica do espírito brasileiro de compor misturas impossíveis.

Para pessoas razoáveis, é difícil levar Olavo de Carvalho a sério depois de ler o que Orlando Fedeli escreveu sobre sua “Gnose Tradicionalista”. Ou depois de saber que ele, Olavo, rejeita a Teoria da Relatividade, defendendo a terra como centro do universo. Ou, ainda, que covardemente desistiu de um debate — que já havia sido marcado — com o vlogger e Biólogo Pirulla. E fica mais difícil quando compararmos seu comportamento de vinte anos atrás ao comportamento que tem hoje. Vê-se que o homem anda cada vez mais paranoico e enfurecido, vendo em todo lugar “agentes não pagos” do KGB.

Por isso, penso, Olavo só é levado a sério por gente desinformada ou fiéis que seriam capazes de levar a sério qualquer irracionalismo, qualquer guru, uma vez que a cosmovisão religiosa é pautada por uma necessidade de crença no absoluto e não pela necessidade de investigação sobre a natureza última da realidade, como é requisito da busca filosófica.

Entretanto, para nós outros — não olavettes em geral — , Olavo aparece como uma figura ímpar que merece ser lida e analisada, que merece ser discutida por quem pode evidenciar com racionalidade e seriedade suas paranoias e equívocos, justamente para desmascará-los. Falo aqui de conhecedores da obra de Olavo que hoje se opõe a ele, como Francisco Razzo, Jorge Velasco, Caio Rossi e o próprio Joel.

Apesar disso, é importante lembrar que não é em tudo que o guru se equivoca. Ouso dizer que há coisas boas na obra olavética. Sem dúvidas, a melhor delas é a diversidade de referências bibliográficas e intelectuais (“a bibliografia arcana” como chamou um amigo). Eu mesmo, por exemplo, conheci o excelente Antônio Paim lendo artigos do Olavo. E sei que muita gente só atentou para autores como Vilém Flusser, J.G. Merquior, Meira Penna, Alan Sokal, Otto Maria Carpeaux, Roger Scruton, Mario Ferreira dos Santos e Vicente Ferreira da Silva depois de ler artigos dele ou de seguidores. Neste caso, ao menos devemos reconhecer que Olavo é eficiente em indicar autores notáveis. Ao menos como propagandista de intelectuais de peso ele presta.

Em segundo plano, como temas relevantes na obra de Olavo, pode-se citar as explanações sobre importância da Filosofia e Educação Clássica; validade de sistemas de ensino como Trivium e Quadrivium; discussões metodológicas sobre o filosofar; discussões sobre a argumentação, a erística e a lógica simbólica; assim como sobre a questão da importância da biografia de determinado filósofo no que se refere ao entendimento de sua filosofia. Tudo isso aparece na obra do guru, as vezes em forma de duelo com intelectuais divergentes. A rigor, tais conteúdos me parecem questões pertinentes e que devem ser discutidas.

Quando o assunto é Olavo, há que se falar também da questão do desenvolvimento intelectual dos indivíduos, coisa que se dá através do fundamental encontro com o erro. Eu mesmo já fui olavette e — quão difícil é confessar! — já andei a ruminar contra o Foro de São Paulo.

Sei que Joel e tantos outros já passaram por essa fase também. E suspeito que se voltarmos um pouco mais no tempo, veremos que provavelmente já fomos também mais inocentes às ideias de esquerda e às armadilhas da vida intelectual como um todo. Agora, um pouco mais preparados, podemos constatar que evoluímos e fomos desenvolvendo, aprimorando, nossa capacidade de juízo. Ora, tal progresso seria completamente impossível se não tivéssemos errado, não é mesmo? Afinal, que é o progresso senão a superação dos erros? Olavo é, creio, um dos erros mais importantes pelos quais devemos passar.

Costumo dizer ao meu irmão que há três passos para se iniciar na vida filosófica e intelectual: O primeiro é refutar o relativismo; o segundo é refutar o marxismo; e o terceiro é refutar o olavismo. Certamente que é uma piada, mas não deixa de ser séria. Creio mesmo que é preciso dialetizar, absorver o que há de bom e depois derrotar a erística olavética. Insisto que para o real investigador do mundo não há outra alternativa: é preciso investigar toda filosofia — ou filodoxia — que reivindique o status de verdade última. 

Puxando sardinha para o meu lado, faço notar que outro tema importante na obra de Olavo é o estímulo ao autodidatismo, aspecto educacional e cognitivo praticamente ignorado no sistema de ensino oficial. Jamais conheci um intelectual de língua portuguesa que desse tanta ênfase à curiosidade intelectual autônoma e espontânea e ao mesmo tempo fosse tão acessível quanto Olavo, e digo isso como um interessado em autodidatismo.

Não que não haja grandes defensores da pedagogia libertária entre os intelectuais brasileiros. Ainda reluzem os nomes de Jaime Cubero e Maurício Tragtenberg entre os expoentes do assunto. Mas, verdade seja dita, nenhum deles possui a mesma acessibilidade que a obra de Olavo.

Vejamos, por exemplo, o meu triste caso. Sou um sujeito pobre, e livro no Brasil é um troço bastante caro. Bibliotecas públicas, para quem mora no interior, são sempre distantes e extremamente precárias. Se desejo me educar, me informar, e então passo a ter contato com a obra de um sujeito preocupado justamente em não se prender a ideia de que educação é algo externo, feita num lugar específico e validada por carimbos oficiais; sendo ainda um sujeito culto e com variadas referências bibliográficas, é óbvio que ele terá papel importante em incentivar minha vida intelectual.

Precisamente o mesmo incentivo que me levou a instruir-me sobre posições outras e chegar até intelectuais como Joel Pinheiro ou mesmo o heterodoxo e interessantíssimo Uriel Irigaray. Nesse aspecto, Olavo está muito a frente dos intelectuais da academia que falam para pessoas que desejam carimbos e ignoram por completo as que estão ávidas por conhecimento. Afinal, porque as pessoas fora da universidade não poderiam buscar se educar e obter um bom nível cultural e humanístico? A falta quase total de consideração aos autodidatas deste país mostra que tal questão nem sequer passa pela cabeça de nossos pedagogos.

De qualquer forma, assuma ou não o Joel, a verdade é que Olavo tem lá suas qualidades, algumas das quais procurei mencionar neste texto. Além disso, Olavo também tem mérito: é o pai espiritual da Nova Direita, sendo uma figura proeminente no novo vigor que recebeu o ambiente intelectual brasileiro, principalmente na internet, particularmente nos últimos dez anos.

Sem dúvidas, é preciso falar sobre ele. Diria ainda que é preciso lê-lo e enfrentá-lo, e até mesmo expô-lo como fez o Marco Antônio Villa, como o próprio Joel está a fazer agora.

Enfim, digo com todas as letras: até que apareça um intelectual popular, realmente culto e bem mais simpático, o Guru da Virgínia será um mal necessário. E os que, como Joel, Uriel e Razzo, conseguirem passar por ele, certamente sairão fortalecidos e poderão contribuir intelectualmente, confrontado as incongruências do guru e abrindo os olhos das pessoas.