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10/08/22

Como Expressar Melhor Suas Opiniões

 


1- Leia mais, especialmente Literatura (romances de ideias, como os de Machado e Dostoiévisky) e Filosofia (especialmente Lógica, Argumentação e Ensaios). Ler material dessas áreas vai te permitir ampliar seu vocabulário, sua visão de mundo, sua imaginação e conhecer discursos e formas de pensar variadas. Ler artigos opinativos e articulísticos de revistas e jornais, e acompanhar debates nesses veículos, vai te ajudar muito também.

A vantagem de se conhecer Filosofia é saber enquadrar suas ideias em categorias e saber sobre a natureza dessas ideias e como elas se relacionam com outras, assim como raciocinar de forma lógica, coerente e bem estruturada. A vantagem de se dominar a literatura é conhecer as formas mais belas, poderosas, engraçadas, sarcásticas, sérias, dramáticas, nebulosas e eficientes de expressar as ideias, de concretizá-las em imagens e histórias e de ridicularizá-las.

2-Escreva. Mantenha um diário, um caderno de registros ou algo do tipo. E sempre o releia de tempos em tempos. Ao contrário do que os idiotas pensam, um diário não serve para escrever coisas tolas como “hoje eu fiz isso e isso”, mas para meditar, refletir, raciocinar, estudar, entender e dar significado a eventos importantes na sua história pessoal. Portanto, você só deve escrever quando sente que precisa registrar algo ou compreender algo que se passou contigo, seja na vida prática, seja na vida mental ou emocional.

Na medida em que você for ampliando seu conhecimento em filosofia e literatura, vai notar que sua forma de pensar e suas opiniões vão ficando mais complexas e sofisticadas do que antes.

3. Trave debates (respeitosos) escritos e orais com gente mais inteligente que você. Essas atividades vão exigir que você pense, avalie, reflita, busque conhecimento e aprenda a desenvolver suas ideias.

4- Ensine outras pessoas. Quando eu era mais novo, uma das formas que eu mais usava pra memorizar o que lia nos livros era contando aos meus pais, irmãos e amigos. Eu não esperava, mas acabei desenvolvendo uma habilidade razoável em expor minhas ideias e opiniões. Note que quanto mais claro algo estiver para você, maior será sua facilidade em expressá-lo.

5- Faça listas ou textos para você mesmo, buscando esclarecer suas opiniões. Coisas do tipo “O que eu penso sobre aborto?” e do tipo “Quais as principais razões para ser contra ou a favor do aborto?”.

6. Consuma Cultura que te obrigue a pensar. Leia bons livros, veja bons filmes, bons documentários,escute bons podcasts eouça boas músicas sobre os assuntos que te interessam. Mas não coisas rasas e tolas, procure o material que esteja acima do seu nível de compreensão atual. Isso vai te forçar a estudar e se atualizar. E quanto mais informado, melhor e mais fundamentadas serão suas opiniões.

7- Outra dica boa é prestar atenção em pessoas inteligentes e educadas falando, notar o modo como elas falam, e começar a se apropriar desse modo. Você pode tornar sua opinião mais acessível ou convincente apenas mudando algumas palavras ou expondo o raciocínio de forma mais sequencial e didática.


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Obs: O texto acima foi originalmente publicado como resposta  no Quora

20/07/22

George Orwell Continua Indispensável

George Orwell foi, sem dúvidas, um dos escritores políticos mais importantes do século XX. Seus livros mais famosos, “1984” e “A Revolução dos Bichos”¹, são leitura obrigatória para quem deseja se instruir sobre os complexos dilemas enfrentados pela civilização ocidental no alvorecer do século passado. 
Considerado um clássico contemporâneo, 1984 é um livro sofisticado que expõe a maneira pela qual sistemas totalitários manipulam a linguagem a fim de manipular as mentes de suas vítimas. Orwell imaginou o que lhe parecia a forma mais terrível de totalitarismo, na qual toda a vida doméstica e até mesmo os pensamentos são vigiados. O termo Big Brother e a ideia de ausência quase total de privacidade (que acabou virando uma forma grotesca de entretenimento) vem do livro. O termo Polícia do Pensamento também. Saber disso já dá uma certa noção do clima opressor que permeia a obra.

Não vá o leitor pensar que é um livro fácil. Devo confessar que 1984 é um livro perturbador. Lê-lo te fará compreender como 2+2 = 5, e como, enfim, as ideologias podem destruir nosso bom senso, nossa moralidade e nossa civilização.
Obama com certeza leu Orwell.

Ao falar de 1984, não posso deixar de citar um outro, que é irmão e ao mesmo tempo contraponto. Me refiro ao famoso “Admirável Mundo Novo”² de Aldous Huxley, outro livro e outro autor indispensáveis para compreender o século passado e também o nosso. Os dois livros descrevem distopias e indicam um futuro sombrio para a civilização. Os dois livros são clássicos e tiveram grande influência. O que gera, nos meios intelectuais, o vício de compará-los de modo asaber qual deles mais se aproximou das possibilidades totalitárias de hoje. Quem teria sido, afinal, o profeta mais preciso? Questão estimulante, mas é discussão pra outro texto. Por ora, fiquemos com Orwell.
Enquanto 1984 é um livro denso, A Revolução dos Bichos, uma fábula, é obra mais amena. Pode ser lida em um dia. De fato, se o leitor a pega pra ler, dificilmente a vai largar antes de concluir. De forma alegórica, o livro nos conta a história do fracasso do comunismo e de como seus teóricos e praticantes se traíram uns aos outros. É um lembrete cruel do quanto, sendo homens, estamos próximos de ser porcos.

Também jornalista, Orwell ganhou notoriedade entre os intelectuais britânicos por sua preocupação moral, sendo um crítico do imperialismo britânico e ao mesmo tempo do comunismo soviético. Suas premissas humanitárias, sua honestidade (mesmo tendo algo de socialista, engajou-se em expor as mazelas dessa ideologia) e sua recusa à alienação política amparada num esteticismo puro influenciaram boas escolas de jornalismo mundo à fora, antes de serem quase todas arruinadas pelo irresponsável jornalismo gonzo de Hunter S. Thompson.

Uma coisa curiosa sobre Orwell é que seu nome, hoje em dia, é cooptado tanto pela esquerda quanto pela direita. Essa última evoca o autor e sugere que suas obras refletem uma posição anti-esquerdista. Enquanto a outra se apropria da fama de socialista de Orwell e conclui afirmando que ele era um esquerdista democrático. Ambas erram.
Aldous Huxley, outro profeta de distopias.

Num artigo que já não me lembro o nome, Orwell explica acreditar que o socialismo não é uma contraposição ao liberalismo, mas que, na verdade, o socialismo visa estender as liberdades que o liberalismo advoga. Não é uma posição estritamente original. Bertrand Russel, o filósofo logicista, ganhador do nobel da paz e contemporâneo de Orwell, acreditava em algo parecido. Assim, o escritor se situava politicamente numa posição de centro. Algo que tanto a esquerda quanto a direita detestariam admitir.
Se você nunca leu nada dele, vá correndo ler. É obrigatório. Tem muito a te acrescentar na vida intelectual. E para que você não diga que não sou camarada, indico aqui uma breve reflexão muito pertinente e cativante do autor, onde, com certo espírito agnóstico, ele evidencia que o acúmulo de informações disponíveis na modernidade nos torna muito mais crédulos que críticos.

Sempre atento à questões importantes, sempre bem humorado e sempre afiado, assim era Orwell.

Notas:

1. Tanto 1984 quanto A Revolução dos Bichos foram transpostos para a Sétima Arte. O primeiro tem duas versões famosas, uma de 1956 e esta outra, lançada em…1984. O segundo tem também duas versões, uma normal e a outra em animação.