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08/03/23

Sobre a Virilidade Flácida de um Velho e Sábio Poeta

Épico, inesquecível mesmo, foi o dia, num longínquo ano de 2008, em que o Gerald Thomas, gênio incontestável, foi mais Kitsch que o Kitsch e conseguiu algo que parecia impossível: constrangeu os humoristas do anárquico Pânico na TV. (Muito diferente de um certo Wagner Moura que, depois de avacalhado, resolveu "manter a classe" e escreveu cartinha pública de censura e chorôrô)

Com seus sessenta e tantos, sempre transgressor, depois de ser avacalhado pelos humoristas enquanto lançava livro, Gerald fez orgia: mostrou o flácido bingulim, sarrou a Nicole Bahls; e, cínico, procurou "as bolas" da moça. Tudo isso em público, numa livraria, filmado.
Eis o pleno retrato de uma maturidade saudável, artística, cínica e filosófica, de homem ponderado e probo, que sabe como agir ante a calamidade cultural de sua época.
Admirável.
Se não for pra envelhecer assim, eu nem quero

Gerald Thomas avacalhando os avacalhadores

22/02/22

Foi-se o Comentarista



Imagino que os amigos de mesma geração tiveram experiência semelhante. No meu caso, aconteceu assim: sentado no sofá da sala, acompanhando meus pais enquanto assistiam ao Jornal Nacional (evento rigidamente tradicional para famílias brasileiras dos anos noventa), eu ficava deslumbrado e perturbado quando, em algum momento do noticiário, surgia um senhor grisalho e muito eloquente; que falava dos principais eventos com comentários irônicos, certeiros, perversamente bem-humorados e espirituosos.

Pré-adolescente, eu não entendia muito, mas catava, numa frase ou em outra, um deboche, uma sátira, um pastiche. Notava que ali havia humor e achava estranho, pois contrastava com a sisudez do jornal. E não era o humor que eu conhecia. Era algo novo, mais refinado.
Esse curioso comentarista tinha nome: Arnaldo Jabor.
Mais tarde, soube que ele era um figurão da cultura nacional. Participou do Cinema Novo, ajudando a fazer história num período de grande efervescência da cultura brasileira. Como colunista, antes de se focar no mundo político, entreteve e ilustrou milhares de leitores durante décadas. Publicado semanalmente em 23 jornais, esbanjava crônicas culturais engraçadas, inteligentes e enriquecidas com referências à dramaturgia, cinema, pintura, música, quadrinhos, literatura e história. Há em sua prosa o olhar desiludido de um ex-militante comunista, mas também a confissão cínica de quem viveu nossa história; e, para não enlouquecer, fez tragicomédia com nossos personagens e enredos quotidianos.
Certo ou errado, sempre culto e opinativo, era uma mente instigante.