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10/01/25

Algumas Noções e Técnicas de Estudo para Intelectuais Autodidatas - Parte I


A Espiral de Livros

Na educação escolar nós revemos o mesmo assunto em níveis cada vez mais avançados e séries sucessivas no tempo. Essa progressão didática é inevitável e eu a chamo de Estudo em Espiral. A forma geométrica  da espiral descreve um fluxo concêntrico que, mesmo repetindo o movimento, expande-se à cada volta. 

Na espiral há começo, mas não há fim. O mesmo ocorre em relação ao conhecimento. É possível passar toda a vida estudando apenas as obras de Aristóteles ou a Biodivesidade da Amazônia. Fato esse que entristece os polímatas, pois eles, capazes de alcançar o ponto mais alto da vida intelectual, gostariam de saber o máximo que se pode saber sobre todos os assuntos que importam.  


I- A Superioridade dos Polímatas

O excesso de informação, a senescência e o curto tempo de vida impedem a máxima realização da libido sciendi dos polímatas. O que lhes restitui o ânimo é a consciência da sua inteligência superior, a posse do cérebro extraordinário, com alto QI e memória privilegiada. 

Mentalmente avançados, seu desempenho é muito acima da média em quase todas as tarefas de ordem intelectual. É nesse nível que estão os grandes gênios intelectuais da humanidade. E o polimatismo não é outra coisa senão expressão dessa condição.

Não que não façam esforço, não precisem de disciplina ou que não sintam dificuldades; tudo isso também acontece com eles. E acontece em intensidade maior, pois os assuntos aos quais se dedicam são mais difíceis do que aqueles aos quais nos dedicamos. 

Os polímatas atraem-se pelos mais difícies problemas, intuindo que podem fornecer alguma contribuição inovadora. E seu maior trunfo, não há dúvidas, está na condição mental privilegiada.


II- Ser Intelectual Sem Ser Polímata

Mas poucos são os polímatas. Em maior número estão aqueles que, como eu, não foram abençoados com um cérebro excepcional. Esses, para o seu martírio e infelicidade, precisam trabalhar com um cérebro que mais parece processador Pentium IV que desliga ao superaquecer. Nesses casos a possibilidade do polimatismo está excluída de antemão, e o máximo que se pode fazer é cultivar um generalismo cultural esclarecido, perpetuamente engajado na busca pela Erudição. 

Esse tipo de intelectual jamais será polímata, mas, com esforço, método e disciplina, poderá, em duas ou três décadas de estudo, tornar-se um intelectual digno de ser lido e comentado por gente muito inteligente; e, eventualmente, até mesmo por polímatas (como já me ocorreu). 

O trunfo desses é, sem dúvidas, o método e a persistência. 


III- A Espiral do Conhecimento

O Método de Estudo em Espiral é um dos métodos que gente como eu - autodidatas intelectualizados - devem usar, pois se adapta bem às exigências da vida urbana.

Suponhamos que o autodidata tenha lido “A Marcha Para o Oeste”, dos irmãos Cláudio e Orlando Villas Boas, e tenha se interessado em conhecer mais a respeito da temática sertanista, antropológica e indígena no Brasil. Imaginemos ainda que ele, atualmente, não pode dar continuidade a esses estudos por estar se preparando para um concurso público.

Conseguirá minorar seu problema caso tenha o hábito de registrar num caderno de notas o que de mais importante encontrou no livro. Assim ele poderá, sem muita dificuldade, retomar esse tema de estudo no futuro.

Um blog discreto (como este) é um excelente meio de manter ao menos um caderno de registros virtuais. É mais empolgante escrever notas de estudos quando sabemos que, sem ser a última e a maior referência no assunto, elas podem ser úteis aos outros.

A cada nova incursão na espiral temática, o autodidata deve revisar e melhorar suas anotações. Daí, também, a utilidade do blog, já que neste é possível editar o texto, enquanto no caderno o jeito é escrever em nova página e censurar a antiga (o que dá mais trabalho).

Tão importante quanto ler livros é a capacidade de reter na memória o que foi lido. Com o alucinante bombardeio de informações aos quais somos submetidos, essa capacidade anda comprometida. O uso de cadernos de registros, além de aumentar o tempo de contato com o assunto, obriga o sujeito a refletir sobre o que leu e a sintetizar, de modo crítico e hierárquico, o conteúdo.

O ideal é que, para cada assunto complexo que pretende estudar, o autodidata tenha um caderno de anotações. Pode ter um físico e um virtual. No virtual deve escrever mais demoradamente, fazendo resumos maiores, tomando notas. Já no caderno físico deve compactar a estrutura em mapas mentais, palavras chave, conceitos fundamentais, esquemas gráficos, significados essenciais. 

Seus cadernos devem ser preservados e utilizados como fonte pessoal de esclarecimento no assunto. Ele, com o tempo, acabará por ser grato a sua versão do passado, pois verá que suas anotações, mesmo se primárias e contendo equívoco, são extremamente úteis. 

Esse método é utilizado por muitos intelectuais e é a partir dele que surgiram muitos livros interessantes, como  o Guia de Curiosidades Matemáticas, do professor Ian Stuart.


IV-Imagem e  Peso do Esforço Cognitivo

Outra coisa importante é que, ao ver a quantidade de cadernos acumulados, o autodidata terá uma imagem mental concreta do próprio esforço reflexivo nos temas pelos quais se interessou. Pode empilhar os cadernos e sentir, literalmente, o peso de suas reflexões.

É preciso ter a consciência de que, ao exercitar essas técnicas, o que se está fazendo é, além do aspecto mnemônico, fomentar um progressivo aumento na qualidade e na profundidade das reflexões, coisa que muito ajuda no progresso da compreensão. 

A compreensão individual, enquanto não for uma compreensão máxima, deve ser tomada como uma compreensão parcial e limitada, uma ferramenta intelectual apenas, e deve ser tratada como tal, o que significa manter-se aberto para receber novos dados, analisá-los, e, com isso, ampliar sempre o nível de compreensão.

Eu, de forma relativamente desorganizada, tenho aplicado, ou tentado aplicar, essa conjunção de noções e técnicas ao longo dos anos. Faço adicionando duas outras técnicas, muito importantes, que são a anotação estratégica nos livros e a releitura orientada. Mas sobre elas eu falarei numa próxima postagem. 

Muitos leitores, e alguns deles inteligentes, ficam para trás no desenvolvimento intelectual por desconhecerem a importância desses pequenos hábitos. Recomendo que vocês os pratiquem com obstinada persistência. 

Finalizo com uma imagem: a manifestação concreta do engajamento reflexivo deste cronista, na forma de seus diários e cadernos de anotações.



30/08/23

Uma Verdade Desanimadora Sobre Debates

Querem saber uma verdade desanimadora que aprendi? Foi sobre debates.

[Sabem o que é isso? É um circo, é um Show de Horrores, é um atentado à inteligência. É qualquer coisa, MENOS um debate]


Aprendi que, em geral, não é a pessoa mais virtuosa, melhor informada e com a razão que vence o debate. Quase sempre é o contrário: quase sempre é o vigarista, o demagogo, o manipulador e o trapaceiro, ou o lado menos informado, quem vence.

Isso acontece por vários motivos, alguns naturais, outros artificiais.

Antes de tudo, é preciso compreender que um debate real e sincero só pode acontecer em determinadas condições específicas; quando uma certa conjunção de fatores é satisfeita.

Alguns dos principais fatores necessários para um debate verdadeiro são:

  • Profundidade adequada (exigência intelectual) – Ambos os debatedores devem compreender e tratar o problema com o nível de profundidade necessário. Se estão a falar, por exemplo, de um tema que está em debate a milhares de anos, com farta literatura, fartos debates anteriores, fartas polêmicas e muitas sutilezas, eles não podem tratar o tema com leviandade ou com simplificação rasteira. Exemplo: debates sobre a existência de Deus, sobre a maldade humana, sobre a função do Estado, etc.
  • Honestidade (exigência moral) – Ambos os debatedores devem buscar: a) a verdade; b) uma conciliação entre duas opções; ou c) a opção menos danosa (o mal menor). Se um lado deseja manipular a opinião pública, defender um grupo de poder específico, defender uma agenda política, provocar desinformação, desestabilizar uma classe, acusar o outro lado... Então não haverá de fato um debate, mas apenas um pseudodebate; que será usado para manipular a opinião pública sobre determinado assunto. (95% dos “debates” televisivos são dessa natureza, e ainda acrescidos dos fabulosos recursos da edição).
  • Paridade/ nivelamento (exigência comparativa) – Ambos os debatedores devem ter um nível mínimo de conhecimento sobre o tema para poderem analisá-lo de forma satisfatória. Isso inclui, certamente, o conhecimento do que já foi dito e pensando ao longo da história sobre o assunto, especialmente nos níveis mas elevados. O requisito mais básico e primário para se discutir qualquer tema é estar bem informado a respeito. Nunca, em hipótese alguma, deve-se levantar um debate sobre ideias, fatos ou temas sobre os quais não se tem um conjunto robusto ou mínimo de informação e contexto. Se um debatedor souber muito mais que o outro, ou souber de pontos importantes que o outro não sabe, o debate é precarizado; e o tempo que seria usado para debater o ponto em questão, será usado para informar a outra parte; o que faz a coisa virar uma aula e não um debate.
  • Privacidade/ localidade adequada (exigência de meio adequado) – Em vista das três exigências acima, o debate deve ser travado num local ou meio que permita o pleno cumprimento desses requisitos. E esse local não é a TV, menos ainda o rádio, menos ainda o Youtube. Primeiro porque aqui no Brasil não há cultura do debate racional; então, para começar, as pessoas não fazem nem idéia de como debater sem xingar umas às outras ou mesmo sem partir para a agressão. Segundo porque o brasileiro não é um leitor minimamente variado e inteligente; o que significa que ele perde toda a informação contextual, histórica, científica e analítica que os livros divulgam e aprofundam. (Em geral o brasileiro lê sobre temas espirituais, auto ajuda, sexo e ficção, quando muito, lê sobre política). E terceiro porque a platéia física favorece o manipulador. De fato, o bom manipulador pode praticamente ignorar o debatedor adversário e jogar para a platéia; já que o público é bem fácil de ser manipulado. Daí que os meios adequados para certos debates acabam sendo, quase sempre, os livros e as revistas especializadas. As vezes os jornais; e em alguns casos eventos promovidos em universidades e outras entidades culturais (como o debate entre Chomsky e Foucault).

[Na cena cultural/ intelectual brasileira (e mesmo mundial) tem tanta gente que merece esse selo…]


E mesmo no contexto literário e universitário, a maioria dos debatedores mais famosos são, em certo grau, falsários e manipuladores. Chomsky, por exemplo, é oposição controlada do lobby sionista, enquanto Foucault era agente do lobby pedófilo (se alguém se chocar com essas alegações é sinal de que está mal informado). Então, em questões políticas, o discurso de ambos se mistura com pontuações filosóficas válidas e estratagemas retóricos que visam sustentar interesses ocultos, jamais declarados.


Os debates honestos, rigorosos e que apresentam uma discussão profunda e pertinente, respeitando todos os critérios e exigências necessárias, na maioria das vezes são considerados chatos e enfadonhos para o público médio. Isso pode ser facilmente percebido pela ojeriza instantânea que o brasileiro médio nutre diante de Filosofia e Matemática; duas áreas que consistem basicamente em trabalhar com definições essenciais, critérios, lógica, conjuntos de possibilidades, provas e demonstrações. Ou seja: reflexão aprofundada e exigente.

Além disso, existe um outro problema, relativo à própria natureza do conhecimento e da inteligência, que implica numa realidade assombrosa: em geral, quanto mais um cientista ou pesquisador descobre um aspecto essencial e verdadeiro da realidade, mais difícil é transmitir essa descoberta, com profundidade, na linguagem comum. Quase tudo que é essencial de se saber exige uma terminologia adequada, daí que os antigos falavam de “linguagem sagrada” e nós, modernos, falamos de linguagem técnico-científica e "operacionalização".

No vídeo abaixo, Richard Feynman, um dos maiores físicos e intelectuais do século passado, dá uma ótima explicação sobre esse problema linguístico/epistemológico.


A linguagem comum raramente presta para transmitir verdades profundas. E esse é um dos motivos do porquê escritores trabalharam a linguagem, em termos estéticos e estruturais, para tentar transmitir verdades ou princípios essenciais. (Esse também é o motivo pelo qual os antigos educavam seus filhos com mitos, símbolos, ritos e alegorias.)

Então, temos um fenômeno muito interessante, que acontece com um monte de gênios: o sujeito passa a vida inteira buscando descobrir a verdade sobre um tema, e quando descobre; percebe que ou não será compreendido, ou só será compreendido por muito pouca gente. Nesse momento, muitas vezes, ele acaba se isolando, como foi o caso do Grigory Perelman, do Ludwig Wittgenstein e de tantos outros.

Em geral, é por causa disso que gente como o Olavo acaba ganhando tanto destaque. Dizem, por exemplo, que o Guru da Virgínia é o maior filósofo do Brasil, enquanto ignoram a existência de Newton da Costa ou o trabalho de gente como Vicente Ferreira da Silva e José Guilherme Merquior. Embora todos eles tenham sido filósofos de fato, na mais elevada expressão do termo, com contribuições significativas ao corpo do conhecimento humano e da história da filosofia, inclusive com reconhecimento internacional de seus pares, o trabalho deles é muito exigente, praticamente inacessível ao homem comum; que não é dado a grandes reflexões. Na verdade, o nível deles é tão elevado que mesmo a maioria dos professores universitários os desconhece.

Em suma: a razão acaba ficando com quem sabe convencer e persuadir, não com quem está certo ou com quem realmente entende o assunto. Por isso, num mundo dominado pela propaganda e pela superficialidade, o poder pertence aos charlatães, mentirosos e manipuladores.

Aprenda a mentir e manipular e o mundo será seu. Ou, ao menos, aprenda a se defender de mentirosos e manipuladores.

26/08/23

Breve guia de dicas e referências para começar a desenvolver habilidades na escrita



Tenho um amigo jovem que anseia melhorar suas habilidades na arte de escrever.  Por isso resolvi publicar aqui alguns conselhos, sugestões e indicações. Explico que as dicas abaixo são úteis para qualquer pessoa que esteja começando a escrever, mas são ainda mais úteis para aquelas que estão começando "na lanterna"; isto é: aqueles que ainda não possuem o núcleo básico de habilidades - clareza, coesão, gramaticidade e senso estético- que um escritor deve ter.

Recomendo que, antes de prosseguir com o texto abaixo, o leitor leia este texto, este e este também, pois explicitam noções importantes e complementares que não exploro aqui (como o nível gramatical, a eloquência e expressividade de ideias, organização do pensamento e a função da leitura literária). O raciocínio manifestado nas considerações abaixo pressupõe que o leitor já saiba o que foi dito nos textos anteriores em que tratei sobre assuntos correlatos. Por isso a sugestão é que eles sejam lidos antes deste.

Pode ir lá ler os textos.

Pois bem. Leu os textos? Não, né? Vai deixar para depois (eu sabia!). Você é mesmo um preguiçoso. Mas, tudo bem, porque eu também sou. Se você não reclamar de mim, juro que não reclamo de você. Sendo assim, talvez você considere o texto abaixo demasiado incompleto (o que só  mudará quando ler os anteriores). De qualquer modo, você é quem sabe.

Como progredir na escrita dos gêneros literários?

A minha primeira sugestão é começar escrevendo registros memorialísticos em primeira pessoa, o que em linguagem leiga é conhecido como "escrever um diário". Em verdade, a frequência da coisa não precisa ser diária, pode ser semanal ou mensal. Contudo, é preciso ter em mente o seguinte: quanto mais frequente, maior o treino, e quanto maior o treino, melhor. Eu sugiro que o meu amigo comece escrevendo semanalmente. Separe um tempo no sábado, pela manhã ou noite, para escrever um texto que inclua, de forma resumida, os principais eventos da semana, reflexões pessoais, crises, tensões, reclamações, angústias, impressões sobre as pessoas, ideias, lugares, comentários sobre mulheres, etc.

Quanto ao estilo: comece com uma forma de escrita simples, compacta, direta e elegante; assim como o estilo de Albert Camus em O Estrangeiro. Perceba que esse livro de Camus não é mais que um diário: o diário de Meursault, o protagonista. Eu até admito que a obra não me agradou como romance, mas reconheço que sua prosa é simples e clara, o que lhe torna um bom modelo de registro memorialístico para iniciantes.

Uma vez dominado o básico da escrita memorialística, faz-se necessário dar um passo à frente. Agora o aspirante a escritor deverá treinar crônicas (onde ele pode aplicar elementos do gênero anteriormente aprendido). E então, finalmente, depois de algum treino, quando já se houver transmutado num hábil cronista, poderá partir para outros gêneros.

Tal ordem de estudo,  e de prática,  é didática e progressiva: caminha do mais fácil para o mais difícil. Para um sujeito sem prática  na escrita é muito mais difícil escrever um artigo, resenha ou um conto do que uma crônica. E é mais fácil escrever um texto memorialístico simples do que uma crônica. Além disso, cada gênero anterior da sequência prepara seu praticante para o gênero seguinte. Quero dizer: é mais fácil escrever uma crônica quando você já sabe escrever um registro memorialístico e é mais fácil escrever um conto, artigo ou resenha quando você já sabe escrever uma crônica.

Entendendo a Crônica

A crônica é um texto de tamanho curto¹,  maior que o poema e menor que o ensaio. Pode ter o tamanho de um artigo de jornal, mas geralmente é um pouco menor. Durante muito tempo, a crônica foi um dos gêneros literários mais lidos no Brasil, e ainda hoje ela é muito popular.

Uma crônica manifesta sempre a visão e reflexão do autor sobre alguma coisa. Dispondo de uma linguagem pessoal e artística (portanto, literária) ele compartilha com os leitores uma vivência sua e as reflexões que ela lhe inspirou. Também pode contar uma história sobre um amigo, comentar os fatos políticos ou culturais da semana, compartilhar memórias, criticar uma obra literária ou um filme. O mais importante, como traço característico da crônica, é que seja um texto leve, fácil, sem muita pretensão, algo como se fosse uma conversa escrita com o leitor. O objetivo do cronista é entreter o leitor com suas reflexões, ou seja: fazê-lo pensar, rir, lembrar,  apreciar a estética da linguagem, e, enfim, se emocionar.

De Machado de Assis à Luís Fernando Veríssimo, quase todos os nossos grandes literatos escreveram crônicas, e pelo menos dois deles - Rubem Braga e Ivan Lessa - foram majoritariamente escritores de crônicas.  Naturalmente, pela leveza e pelo caráter lúdico, a crônica é o gênero textual que tem maior e melhor recepção por parte do leitor comum. Isso a torna um excelente gênero para ser praticado por escritores iniciantes.

A Crônica na coluna de Jornal ou Revista

Alguns escritores recebem um espaço fixo - em jornais e revistas - para escreverem periodicamente sobre o que quiserem, ou, as vezes, a respeito de um determinado tema. No início esse espaço era limitado a uma coluna de texto nos jornais, e por isso recebeu nome de "coluna". Com o tempo o espaço aumentou, mas o nome permaneceu. Numa revista moderna esse espaço pode chegar a uma página inteira com duas, três ou mais colunas de texto ( esse era o caso, por exemplo, da coluna da atriz Fernanda Torres na revista VEJA).

A coluna  é o palanque do escritor. É também a vitrine onde ele expõe suas crônicas. A rigor, nem todo texto de uma coluna é uma crônica, mas é grande a intimidade entre uma coisa e a outra. Assim, o termo "colunista" e "cronista" estão quase sempre associados; afinal, antes da internet, os cronistas só escreviam em alguma coluna de jornal ou revista, e as melhores crônicas eram posteriormente publicadas em livros.

Os Escritores e as suas Crônicas

É importante conhecer os grandes cronistas, e, pelo menos no início, imitar suas virtudes e técnicas literárias. Por isso aqui vão algumas referências essenciais.

Indico especialmente três autores. O primeiro ainda vivo, o segundo muito contemporâneo (falecido ano passado) e o terceiro apenas contemporâneo (falecido nos anos noventa). Todos eles são divertidos, engraçados, polêmicos e apresentam vozes literárias mais próximas ao português do leitor moderno, o que os torna autores mais acessíveis aos iniciantes. São eles:

Diogo Mainardi.

Odiado por muitos devido à suas opiniões políticas reacionárias, Mainardi tornou-se famoso pelo estilo - satírico e mordaz - de suas crônicas publicadas na revista VEJA. Era o tempo do primeiro governo Lula e enquanto grande parte dos intelectuais estavam animados por terem um presidente de esquerda no poder, Diogo Mainardi via em Lula pouco mais do que um bebum semianalfabeto, e descia o sarrafo nele, em seus ministros, secretários e intelectuais. Muitas das crônicas dele dessa época são verdadeiras pérolas; causando grande impressão, raiva e alguns sorrisos. Uma boa coletânea, com crônicas selecionadas pelo próprio autor, você encontra no livro "À Tapas e Pontapés" (leia online pelo Scribd, baixando o aplicativo, ou compre pela Estante Virtual ou pelo aplicativo da Shopee). Ainda hoje circulam na internet alguns trechos de crônicas dessa época. 

Arnaldo Jabor

Figurão da cultura nacional, Jabor participou do Cinema Novo, ajudando a fazer história num período de grande efervescência da cultura brasileira. Como colunista, antes de se focar no mundo político, entreteve e ilustrou milhares de leitores durante décadas. Chegou a ser publicado semanalmente em 23 jornais. Com razão, pois esbanjava crônicas culturais engraçadas, inteligentes e enriquecidas com referências à dramaturgia, cinema, pintura, música, quadrinhos, literatura e história. Há em sua prosa o olhar desiludido de um ex-militante comunista, mas também a confissão cínica de quem viveu nossa história; e, para não enlouquecer, fez tragicomédia com nossos personagens e enredos quotidianos. Certo ou errado, sempre culto e opinativo, era uma mente instigante. O livro dele que eu indico é o "Sanduíches de Realidade e outros escritos" (sem e-book disponível, mas o livro está à venda na Estante Virtual e também  na Shopee, e com frete grátis se comprado pelo aplicativo).

Paulo Francis

É provável que nem Diogo Mainardi e nem Arnaldo Jabor fossem possíveis  como cronistas se antes deles não tivesse existido Paulo Francis. Isso porque Francis foi um dos maiores e mais influentes jornalistas brasileiros. Sua coluna na Folha de São Paulo, nos anos oitenta, era a mais lida do país. Francis vinha de uma família de classe alta - os Heilborn, de origem germânica - e, por meio da biblioteca da família, teve uma sólida formação literária e intelectual através dos clássicos europeus. Em cultura, era um elitista. Apesar disso, detestava o português empolado e, segundo ele, escrevia em "Português de gente"; quer dizer: um português mais próximo da linguagem falada de sua época. Era um homem muito sincero, que não escondia o que pensava. Naturalmente, incomodou muita gente de esquerda e de direita. Indico para leitura as crônicas contidas em seu livro "Diário da Corte" (baixe o e-book aqui)

Curioso é que os três autores indicados acima são de direita² e possuem um traço muito característico do intelectual brasileiro: são viciados em política.

Referências Digitais

O Portal da Crônica Brasileira, mantido pelo Instituto Moreira Salles, faz um bom trabalho resgatando e disponibilizando crônicas de autores consagrados.

O site Conto brasileiro, apesar do nome, inclui também várias crônicas de grandes escritores.

O site Digestivo Cultural é  um dos melhores e mais longevos sites brasileiros sobre Cultura e Literatura. Vários escritores possuem colunas nele, e alguns cronistas famosos já passaram por lá - como Millôr Fernandes, Paulo Polzonoff, Yuri Vieira e Alexandre Soares Silva (os textos continuam lá, acessíveis).

Grandes jornais

É possível acessar as colunas dos cronistas dos maiores jornais do país (Folha, Globo, Estadão, etc. ) usando um burlador de paywall³. Recomendo este aqui. Para burlar o bloqueio é só copiar o link do texto bloqueado e colá-lo no site que desbloqueia. No site do link você pode escolher se quer ler o artigo em pdf ou em página web usual (http).

Por fim, para que se tenha uma noção vívida do poder expressivo da crônica, eu sugiro a leitura das seguintes:





- Caça-níqueis (nesse caso, se trata de ouvir, já que é uma crônica de Nelson Rodrigues lida magistralmente pelo mestre em teatro Rodrigo Mallet).


 
                                                              ***

Notas:


1- O que significa que ela raramente passa de 18 parágrafos, sendo que a crônica média fica entre 8 e 14 parágrafos.

2- Como eu não me considero uma pessoa "de direita", o fato de eu ler e gostar desses autores talvez requeira uma explicação. O que posso dizer? Apenas a verdade. E a verdade é que o único motivo pelo qual leio e indico esses autores é porque eles são, de fato, bons cronistas. Isto é: escrevem bem e conseguem ser honestos em relação às suas opiniões, mesmo quando elas parecem meros preconceitos (ou mesmo quando são). Eles escrevem com humor as vezes maligno, autoironia e uma sinceridade - uma verdade pessoal - que é muito difícil encontrar nas opiniões dos esquerdistas modernos. O esquerdista moderno é hipersensível a tudo que soe preconceituoso. Ele morre de medo do julgamento de seus colegas militantes, e estes, por sua vez, estão sempre a buscar preconceitos nos outros. O resultado é que o cronista de esquerda, muitas vezes, acaba modulando as próprias opiniões para que sejam politicamente corretas ao invés de autênticas.

O cronista de classe média, quando é de direita, se permite dizer ou sugerir ideias impopulares. Ele pode dizer ou sugerir que desdenha dos pobres, ou que os bairros pobres são feios, sujos, desorganizados e fedidos (muitos, de fato, são), e é aí onde está o interessante: ele dirá tudo isso se assim pensar, ou talvez porque queira provocar, e o fará se expressando de forma engraçada e irônica. Já o cronista de classe média, quando é ligado à esquerda moderna, jamais pode dizer uma coisa dessas, mesmo que esse pensamento lhe venha à cabeça todas as vezes em que sobe numa favela para participar de ações sociais. O esquerdista impõe a si mesmo a regra de não se permitir pensar algo assim, porque lhe ensinaram que é "errado, incorreto e preconceituoso" atribuir características negativas aos pobres. Assim, se tais características existem, o esquerdista não pode mencioná-las.

O resultado é uma vantagem literária para os cronistas da direita, que ganham maior liberdade de ideias, uma liberdade expressiva maior, mais autenticidade e menos neuroticismo. O efeito natural é que sejam mais polêmicos também. É claro que isso não é uma Lei, no sentido de que é sempre assim; trata-se apenas de uma tendência. Vale notar que essa neurose anti preconceito dos esquerdistas modernos não se aplica a esquerdistas das antigas, como Lima Barreto ou Luís Fernando Veríssimo.

Seja como for, e seja qual ideologia for, a posição política de um autor é a menor coisa com a qual o leitor deveria se preocupar. O que importa é conhecer o estilo, reconhecer o talento, apreciar e aprender com o autor. A Literatura deve estar acima de nossas preferências políticas. 

3 - Paywall, para quem não sabe, é o bloqueio que jornais e revistas fazem em alguns dos seus artigos. Teoricamente serve pra forçar os leitores a pagar uma assinatura, e, de fato, a maioria paga. Porém, alguns anarquistas, terroristas, cybercriminosos e pobretões como este autor procuram métodos escusos de leitura como usar sites que desbloqueiam paywalls ou extensões que desabilitam o JavaScript da página do jornal.


                                                                 ***

Caso você tenha gostado e aprendido com o texto acima, sugiro que leia esta importante recomendação.

23/08/23

13 Intelectuais Importantes Para Compreender a Direita Brasileira




Luís Inácio Lula da Silva é, novamente, o presidente da República Federativa do Brasil. Com ele no cargo, a centro-esquerda keynesiana, nacional desenvolvimentista, neoidentitária e "politicamente correta" volta ao poder.

Para os que se interessam por filosofia política, história, cultura e erudição; sejam de esquerda ou de direita; vale, para sair do cercadinho do jornalismo atual, marcado por palavras de ordem e ideias feitas, conhecer ao menos as principais obras e ideias dos grandes críticos da esquerda brasileira.

Vale conhecer suas teorias espiritualistas, morais, economicistas, históricas, sua visão social, política, suas vidas, suas filiações, seu estilo de pensamento, sua argumentação e suas mudanças de pensamento. Importa porque quem bebe na fonte tem informação qualificada. Quem tem informação qualificada pensa melhor. Quem pensa melhor, entende mais.

Conhecimento básico e honesto dos autores abaixo ensinará as diferenças e conflitos entre liberalismo, conservadorismo e fascismo; entre reacionários e conservadores, entre tradicionalistas e liberais, entre antisionistas e sionistas, entre liberais clássicos e liberais progressistas, entre capitalistas e fascistas, entre integralistas e nazistas, etc.

Aqui no Brasil infelizmente o comum é que "professores doutores", "historiadores", "sociólogos" e "intelectuais" que dão aulas em universidades não saibam essas coisas.

O meu leitor, caso queira, pode saber delas e de muito mais. Ser ignorante é uma escolha possível, e tem sido a preferencial do brasileiro, mas os meus amigos e leitores são pessoas inteligentes, que valorizam o próprio cérebro e o conhecimento que ele pode adquirir. Gente curiosa e que procura pensar com independência crítica.

Dito isso, eu recomendo que, havendo interesse, leiam e analisem as ideias, o pensamento social, cultural, econômico e político de:

1 - Machado de Assis

Deixe a careta de lado. Calma, eu explico: não sendo propriamente um autor de teoria política, Machado de Assis era monarquista, eurófilo e culturalmente elitista. A visão da psicologia do brasileiro e da cultura brasileira que ele expressa em seus livros é negativa, pessimista. O sentimento de que nosso comportamento é vicioso, precário e hipócrita, cheio de bajulação a autoridades, de conformismo, de mediocridade... Tudo isso vai compor um ceticismo social que é muito caro a crítica conservadora.

2- Gustavo Barroso (Historiador, Integralista)

O Barroso, historiador muito erudito, escreve aquelas "verdades proibidas" sobre o império bancário e o poder sionista. É autor pra ler "escondido", mas que não se pode deixar de ler.
3- Plínio Salgado (Integralista)

Líder de um dos movimentos políticos mais interessantes e nacionalistas que já existiram no Brasil. Misturou ideias do fascismo, do trabalhismo, do socialismo cristão e do integralismo português, rejeitando o materialismo capitalista, o racismo europeu e o comunismo soviético. Buscava a ideia de integrar os aspectos humanos fragmentados nas teorias políticas ( o homem não é apenas sua raça, o homem não é apenas um servo do Estado, o homem não é apenas um indivíduo, ele é tudo isso, num todo orgânico, cheio de tensões e condicionantes. É, portanto, necessário uma "teoria integral do homem", que não o reduza a um condicionante particular arbitrário).Trata-se de uma síntese muito original e interessante, e que hoje, pela indigência mental da intelectualidade dominante, é lida como "fascismo/nazismo". Quando na verdade era justamente uma crítica construtiva a essas e outras correntes.

É, obviamente, outro autor pra ler "escondido".
4- Nelson Rodrigues (Conservador, "reacionário")

Como pode um pervertido como o Nelson - "anjo pornográfico", como o chamou Rui Castro - ser um conservador? Ele não foi o único. Hilda Hilst, Marcelo Mirisola, Leon Bloy e Ewelyn Waugh, que escreveram coisas horríveis e pérfidas, eram todos católicos. Por hora, não revelarei. Mas os motivos são pra lá de interessantes.

5- Carlos Lacerda (Liberal-conservador, udenista)

Dizem que é um dos maiores canalhas da história do Brasil. Eu não sei. Mas sei que era um homem muito eloquente. Ex comunista e maior inimigo de Getúlio Vargas, foi um dos responsáveis pela crise que levou ao suicídio do pai dos pobres.

Além de eloquente, era corajoso. Em plena crise de 64, antes que os militares de direita tomassem o poder, enquanto tudo era rumor de que haveria um golpe de militares da esquerda, ocupou o Palácio da Guanabara e desafiou o General esquerdista cotado para dar o golpe:

"General Aragão, general Aragão, não se aproxime, porque eu te mato com o meu revólver!".

E mais: homem de cultura, traduziu "The Roots Of Coincidence", do Arthur Koestler. Livro muito interessante e que é um dos livros preferidos do Alan Moore.

6- Paulo Francis (Conservador, crítico cultural)

A melhor prosa do jornalismo brasileiro. Referência fundamental. Bom representante da elite carioca: na juventude foi da contracultura, do teatro e um dos fundadores do jornal O Pasquim (com Ziraldo, Millôr e outros). Perseguido pela Ditadura, mudou-se para os Estados Unidos. Vivendo lá, conheceu a liberdade individual do liberalismo e encantou-se. Deu uma guinada e assumiu-se conservador. Foi um escândalo. Tretou com gente da esquerda e da direita. Tirava o sono do Caetano Velozo. Sempre muito espirituoso, informativo e divertido.

7- Olavo de Carvalho (Neocon, sionista, crítico cultural)

Chorem os mais sensíveis, mas o Olavo é importante. Basta olhar pro Bolsonarismo e pra multidão de macaqueadores dele pra saber o tamanho de sua influência.

Recomendo a trilogia noventista - A Nova era e a Revolução Cultural, O Imbecil Coletivo e O Jardim das Aflições, porque tem um vasto panorama de crítica a movimentos culturais relevantes no mundo e no Brasil, e que continuam ecoando, aparecendo ou ditando os debates por aqui. Entre os três, o mais importante é O Imbecil Coletivo, porque demonstra os chavões presentes na retórica esquerdista acadêmica e a indigência intelectual de alguns de seus representantes.

Certamente um autor pra ler "escondido". O que evitará importunação da esquerda e da direita. Ler criticamente o Olavo te garantirá o ódio dos esquerdistas, por tê-lo lido, e o ódio dos direitistas, por tê-lo criticado. Vá sem medo: é um autor bem engraçado, com uma veia satírica talentosa, aliada a um espírito de porco primoroso e uma língua muito mais do que viperina. Leon Bloy tupiniquim.

8- Diogo Mainardi (Liberal, crítico cultural)

O Diogo, espécie de filho bastardo do Paulo Francis, não é profundo e nem é rigoroso. Mas diz verdades. Escreve com a sinceridade que só os debochados conseguem. A mentalidade da classe média alta, com seus preconceitos, preferências e ideias feitas, cristaliza-se nele de forma quase caricata: é ateu, liberal, anglófilo/eurófilo. Além disso, ele escreve bem, seu estilo é muito divertido.

9- José Guilherme Merquior (Liberal, crítico cultural)

Génio das humanas, é, ao menos em alguns de seus livros, o autor mais difícil desta lista. Cada parágrafo seu é um caldeirão de referências culturais, históricas, literárias e teóricas. Os intelectuais de esquerda reclamaram que ele citava livros demais, e por isso seria "pedante". Era, pelo contrário, um leitor assombroso, a ponto de impressionar Claude Levi Strauss e Ernest Gellner. O ensaio crítico que ele fez sobre Foucault é pra ler e reler.

10- Eduardo Giannetti (Liberal)

Clara, rigorosa e analítica, a prosa do Giannetti me lembra um pouco a do Bertrand Russel. Não é por acaso: Giannetti morou na Inglaterra, estudou e foi professor em Oxford. É um liberal ponderado cujo racionalismo iluminista é assombrado pelo ceticismo. Tensão muito interessante e curiosa. Giannetti diz não acreditar que as pessoas levem as ideias a sério. Tem, inclusive, um livro a respeito (O Mercado das Crenças), mas nem por isso deixa de escrever livros. Sinal de que talvez ele acredite nas ideias.

11- João Pereira Coutinho (Liberal - conservador)

Português radicado no Brasil, o JPC é outro que faz o estilo intelectual europeu. Só que muito pior, porque ele é europeu mesmo. Analítico e ponderado, é um dos principais nomes da direita liberal não histérica.

12- Oswaldo Meira Penna (Liberal- conservador, analista de psicologia social)

Diplomata erudito com formação junguiana e ampla experiência internacional . O livro dele sobre a psicologia social do brasileiro - Em Berço Esplêndido - é indispensável, e obra pouco conhecida na vida intelectual universitária.

13- Enéas Carneiro

Poucos homens públicos no Brasil foram tão honestos, inteligentes e apaixonados pelo Brasil como o professor Enéas Carneiro. Ex militar, herdeiro do positivismo, o homem era um gênio. Médico cardiologista com trabalhos de referência, era também professor de matemática, física e química. Homem que ascendeu pelo estudo, Enéias era disciplinado, firme e atribuía valor e responsabilidade aos cargos ocupados por autoridades. Interessado mais do que tudo na soberania brasileira, criou um partido para "reedificar a ordem nacional". Naturalmente, pelo discurso moralista, tom autoritário, estilo caricato e inteligência elevada, foi rejeitado pela mídia liberal e também pela esquerda.

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É claro que o natural complemento dessas leituras são os tradicionais nomes de esquerda: Jorge Amado, Florestan Fernandes, Glauber Rocha, Luis Schwartz, etc. Eu recomendo ler os críticos da esquerda quando ela está no poder e ler os críticos da direita quando ela está no poder, porque é na ação concreta do poder que os aspectos mais negativos saltam aos olhos.

É, sim, um esforço intelectual. Não é desumano, mas também não é desprezível. Aprende-se mais com essas leituras do que se aprende nos cursos de História, Jornalismo e Sociologia atuais. Aumenta em muito a capacidade de compreender a complexidade da vida intelectual nas ciências sociais. Ajuda a entender a importância do polemismo e do ensaísmo, da crítica cultural.

Se o leitor fizer o mesmo processo com autores de esquerda, terá um rico arsenal de referências e fundamentos para analisar as opiniões veiculadas em nossa mídia e criticá-las com propriedade.