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23/11/22

A Aventura Espiritual de Alexander Supertramp

Christopher Mcclandless, mais conhecido como Alexander Supertramp

Quem nunca pensou em se afastar da sociedade, da loucura e da violência dos homens, e ir morar na roça ou no mato?

O caráter patológico e a falta de sentido dominante na vida moderna são tão intensos e onipresentes que, em consequência, não há quem não viva depressivo, angustiado e ansioso. Aliás, a depressão foi considerada pela OMS como o Mal do Século.

A vida na cidade - e no mundo "civilizado"- só é possível com sérios prejuízos a saúde mental, produzindo variadas neuroses, psicoses e tic-tics nervosos. Exatamente como naquela famosíssima e tragicômica canção dos anos 80.

Pensou que era só uma canção bobinha? Nem tanto: era praticamente uma análise clínica da vida moderna! Bem humorada, mas certeira.



Estou preso no trânsito com pouca gasolina
O calor tá de rachar e lá fora é só buzina
Perdi o meu emprego, que já era mixaria
E ontem fui assaltado em plena luz do dia!

Isso me dá tic tic nervoso
Tic tic nervoso, tic tic nervoso
Isso me dá tic tic nervoso
Tic tic nervoso, tic tic nervoso

[…] Encontro uma garota,

um tremendo avião

pergunto o seu nome

ela me diz que é João!

Isso me dá tic tic nervoso

Tic tic nervoso, tic tic nervoso

Isso me dá tic tic nervoso

Tic tic nervoso, tic tic nervoso[..]

O mundo moderno, com suas cidades, prédios de arquitetura horrorosa, buzinas, carros, fábricas e tons de cinza variados e onipresentes; não é apenas feio, poluidor, fedorento e barulhento: é enlouquecedor também.

Em vista disso, algumas pessoas se sentem extremamente motivadas a mandar tudo para a p%$@ que o p&#$l e ir viver sossegadas em algum cantinho isolado perto da natureza, do canto dos pássaros, do ar puro.

As histórias sobre pessoas que, por esses motivos e outros, se afastaram da sociedade são muitas. Contudo, existe uma em especial que me marcou muito, visto que exerceu sobre mim uma grande influência.

É claro que irei falar aqui do Christopher Mccandless, ou, para os íntimos: Alexander "Supertramp" ("Supervagabundo").


[ Mccandless, na faculdade]

A vida que Christopher levava, para muita gente, seria considerada uma vida perfeita. Filho da alta classe média norte-americana, jovem, bonito, formado por uma das melhores universidades norte americanas, culto e inteligente.

Mas tinha um defeito: uma sensibilidade moral e crítica aguçada, que lhe fazia rejeitar profundamente as hipocrisias e artificialidades da civilização. Considerava que o afastamento humano da natureza havia sido um erro. A vida humana, pensava, era mais saudável quando o homem estava melhor integrado ao mundo natural.

Não podendo mudar o mundo, mas podendo mudar a si mesmo, Christopher se meteu no que chamou de sua "Revolução Espiritual". Doou todo o dinheiro de sua conta bancária - 24 mil dólares- para a caridade e saiu a viajar em busca de aventura e de um contato profundo com a natureza.

[Mccandless, na natureza]

Um breve resumo de sua aventura pode ser encontrado no artigo da Wiki:

Devido a um problema com o seu velho Datsun amarelo, Chris foi impelido a abandoná-lo junto ao lago Meade, no Vale Detrital, mas isso não o impediu de continuar. Encarou a situação como um sinal do destino e, abandonando junto ao carro grande parte dos seus pertences e queimando todo o dinheiro que trazia consigo – cerca de cento e vinte e três dólares –, Chris McCandless partiu a pé em direção ao Oeste, adotando um novo estilo de vida, no qual era livre e assumia o nome de Alexander Supertramp, seguindo os ideais de Henry David Thoreau, Leon Tolstói e Jack London, em busca de experiências novas e enriquecedoras.

Foi à boleia que chegou a Fairbanks, no Alasca, fazendo amigos e conhecendo lugares magníficos pelo caminho. Entre as suas aventuras destacam-se uma descida do rio Colorado em canoa. Walt e Billie McCandless, pais de Chris, ainda tentaram encontrá-lo, mas em vão. Apenas a sua irmã Carine recebia uma carta de vez em quando, e mesmo ela não sabia a sua localização. Os anos foram passando, e Chris continuava sozinho, algures na América, passando por Carthage, Bullhead City, Las Vegas, Orick, Salton City, entre outros, até chegar finalmente ao destino pretendido: o Stampede Trail. Conheceu Jan e Bob Burres, Wayne Westerberg, Ronald Franz (nome fictício), que se tornaram seus amigos inseparáveis a quem se ia correspondendo por cartas; permaneceu em alguns sítios durante meses, mas partia de seguida para outras aventuras.

Por onde passou, Chris alterou as vidas das pessoas que o conheceram. A sua personalidade forte, muito inteligente e simpática deu uma nova vitalidade a Jan, Franz e Westerberg. Raramente falava de Annandale e de casa, e eram muitas as vezes em que era reservado e ponderado. Mas o rapaz de vinte e quatro anos, que todos conheceram como Alex, cumpriu o seu destino e partiu de Fairbanks em direção ao Monte McKinley, dois anos depois de ter iniciado a sua viagem.

Gallien deu carona a Chris até o Parque Nacional Denali, através do Stampede Trail, um caminho que levava ao interior do Alasca. Também ele simpatizou com o rapaz, que gentilmente lhe contou os planos de permanecer alguns meses na floresta. A única comida que levava era um saco com cinco quilos de arroz, e o seu equipamento era inadequado para quem planejava fazer o que ele se propunha. Ainda assim, o rapaz parecia determinado, e nada o podia dissuadir. Partiu assim para o desconhecido, ignorando a hora e o dia, numa quinta-feira de abril, sem deixar rastro.

Através de um diário que manteve na contracapa de vários livros, com cento e treze entradas, podemos compreender o que realmente aconteceu a Chris McCandless na sua viagem ao interior do Alasca. O seu diário contém registos cobrindo um total de 113 dias diferentes. Esses registos cobrem do eufórico até ao horrível, de acordo com a mudança de sorte de McCandless.

Alimentou-se do que trazia e de algumas bagas que colheu na natureza, tal como de alguns animais que caçou, com sucesso; leu vários livros, rabiscando-os com pensamentos próprios sobre a vida; passeou por diversos bosques, mas o local onde permaneceu mais tempo foi logo abaixo da Cordilheira do Alasca, onde ainda hoje se encontra um ônibus abandonado. O veículo, de número 142 do sistema municipal de trânsito de Fairbanks, foi a residência do Chris nos meses em que se encontrou na floresta. Em seu interior ele escreveu algumas frases, como:

“ Sem jamais ter de voltar a ser envenenado pela civilização, foge e caminha sozinho pela terra para se perder na floresta. ”

Infelizmente, a história termina de forma mais ou menos trágica: o jovem romântido, espiritual e idealista acaba como todos os idealistas: morre em consequência de seus ideais.

A história foi contada no livro:

E no emocionante filme homônimo (com trilha sonora espetacular):



Algumas fotos:


Essa última ficou tão famosa, provavelmente devido ao filme, que dezenas de pessoas a reproduziram (o ônibus ainda está lá):



"Society man, society!"


                                                                        ***

Assim como outros textos publicados neste blog, a primeira versão do texto acima foi originalmente publicada como resposta no site Quora.

18/03/22

A Erva Que Não Era do Capeta - Um Breve Relato de Experiência Psiconauta

  

[Paulo Francis fumando um… cigarro…]

Certa vez, acho que no Manhathan Connection, perguntaram ao Paulo Francis quais drogas ele já havia usado, ao que ele respondeu:

"Todas. A melhor é speed ball. E maconha não faz mal algum".


Pois bem. Diferente do Francis, eu usei poucas drogas.

E só as usei quando já havia saído de casa, tinha já meu emprego, minha independência e, finalmente, era "o dono do meu nariz": livre para cometer a burrada que me desse na telha.

Mas devo confessar que, de início, drogas não me atraiam. Como fui criado numa cultura puritana, não via o entorpecimento com bons olhos. Lembro de, já adulto, um amigo ter me oferecido maconha várias vezes e eu sempre ter recusado, cheio de orgulho do que considerava minha pureza de caráter. E eu teria permanecido em tal postura não fosse um motivo de ordem puramente intelectual:


Um amigo me apresentou as teorias de Terence Mckenna sobre a influência dos psicotrópicos e enteógenos no desenvolimento da cultura humana e na origem das experiências religiosas. Em 'O Alimento dos Deuses', Mckenna, que era um etnobotânico e pensador bastante heterodoxo, especula sobre a tese de que o uso gradativo e irregular de determinados tipos de cogumelos alucinógenos podem ter levado o ser humano a desenvolver a linguagem e um nivel maior de autoconsciência, provocando nosso salto evolutivo.