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14/12/22

Mata, Entorpece, Faz Gozar e dá Lucro: Corona Faz Tudo Isso e Muito Mais.


Sempre que, entoando aquela caricata voz paternalista e conselheira, uma autoridade pública lhe disser para não entrar em pânico, fique atento, pois é precisamente isso o que você deve fazer. Infelizmente não ensinam essas coisas na escola, mas, no mundo real, os jornais, governos e autoridades só te dizem para não entrar em pânico quando eles sabem que há motivos de sobra para entrar em pânico. Portanto, toda vez que você ver uma autoridade tentando minimizar um problema dizendo que não há motivos para o caos generalizado, pode ter certeza: ela mente e, muito provavelmente, irá haver caos generalizado.

Misantropo velhaco que sou, conhecedor nato da farsa humana, ao ver o noticiário, algumas semanas atrás, contemplei alguma dessas apresentadoras magrinhas e insossas dizer alguma coisa sobre como o Ministério de alguma dessas áreas importantes que jamais deveriam ser administradas por políticos (Saúde, acho) estava se preparando para o combate ao tal vírus com nome de cerveja cult. Logo em seguida, a mocinha indicou uma série de procedimentos lógicos e básicos de higienização para combater o vírus.

Vejam só! Pleno 2020 - mais de cem anos depois de São Freud! - e eu ainda tenho que aturar essa gente "respeitável" apelando para a racionalidade humana. Ainda mais gente do jornalismo, cuja base de atuação é a propaganda e a criação de consenso, que funcionam com... apelos e mais apelos ao inconsciente.


Se o Corona mata, a Corona salva. Se não salva, ao menos traz aquele bom entorpecimento alcoólico. O qual, no fim das contas, não deixa de ser uma forma de salvação.


Naquele infernal dia, como em geral são os dias no Rio de Janeiro, olhei cauteloso para minha inconsequente progenitora (inconsequente porque me pariu) e lhe fiz o único pronunciamento que um cético social poderia:

_ É sério que alguém ainda espera racionalidade e higiene social do povão?

Nosso povão certamente tem muitas qualidades, mas higiene social certamente não é uma delas. Se nas camadas mais gerais domina uma certa "cultura do corpo" ( em nosso país, por algum motivo, todo popular quer ser Schwarzenegger e toda popular quer ser Kardashian), essas mesmas camadas carecem de cultura cívica - e higiênica - do espaço. Qualquer pessoa com alguma vivência urbana diversa sabe que a lógica espacial do nosso homem urbano médio é a mesma lógica organizacional dos bloquinhos de carnaval e das micaretas. Ou seja: há muita ordem, gente bonita, disciplina e uma organização quase prussiana. Só que tudo ao contrário.

E para melhorar temos o toque. O brasileiro, especialmente o carioca, é um sentimental. Tem sempre aquela coisa (nojenta) do aperto de mão, do beijinho no rosto (arghh!!) e do abraço. Coisas que só são úteis para órfãos carentes, turistas carentes e, claro, terroristas bacteriológicos.

Eu, cá no meu cantinho, observando a loucura dos outros e do mundo, indago: por que, meu Deus, por que as pessoas não podem se comunicar apenas por acenos de mão e cabeça? E por que o vírus só é mais perigoso para os mais idosos? Quer dizer que os detestáveis millenials vão continuar vivos e atuantes? Quer dizer que aqueles que conhecem a história, aqueles que possuem alguma sabedoria, alguma maturidade, alguma malícia, alguns valores tradicionais, algum racismo essencial, algum preconceito notável, algum machismo salvífico, esses, que são os meus, irão morrer? E isso tinha que acontecer logo durante uma das minhas crises de ateísmo!?

Mas tenham calma, meus amigos. Não façam como eu, não se desesperem, não comprem manuais de combate a zumbis e nem estoquem comida em casa. Ainda - ainda!-não há motivo para pânico. Afinal, nessa onda de vírus já criaram até um novo fetiche pornô, sobre o qual nos poderíamos dizer que é um tanto quanto... virótico.

Enquanto você está aí temendo o vírus, tem gente gozando e lucrando com ele. Aparentemente, não há desgraça que não possa ser, de algum modo, cooptada para gerar lucro para algum empresário oportunista.

A estratégia quase sempre é a mesma: apelar aos instintos, nunca a razão.


                                                                      ***


Nota do editor: como outros textos abrigados neste blog, a crônica acima foi originalmente publicada  no site Quora (mais especificamente: em Março de 2020).