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02/11/22

Brasília Esotérica

O que um turista deveria saber sobre Brasília?

Morei no Distrito Federal por quase cinco anos. E se alguém me fizesse tal pergunta, minha resposta instantânea seria aquela que, dentre todas as informações disponíveis, considero a mais curiosa, inusitada e divertida de se saber:

"Brasília é a capital mística do Brasil".

Supreso? Pois vamos aos fatos:

Para começar, o caráter místico da cidade antecede em muito sua construção. Reza a lenda que São João Bosco, já no século XIX, teria sonhado com a capital:

“Entre os graus 15 e 20 havia uma enseada bastante longa e bastante larga, que partia de um ponto onde se formava um lago. Disse então uma voz repetidamente: -Quando se vierem a escavar as minas escondidas no meio destes montes, aparecerá aqui a terra prometida, de onde jorrará leite e mel. Será uma riqueza inconcebível.”

Em agosto de 1883, Dom Bosco, como é mais conhecido, sonhou que fazia uma viagem à América do Sul – continente que jamais visitou. No sonho, ele passou por várias terras entre a Colômbia e o sul da Argentina, vislumbrando povos e riquezas. Ao chegar à região entre os paralelos 15° e 20°, viu um local especial, onde, nas palavras de um anjo que o acompanhava em sua visão, apareceria “a terra prometida” e que seria “uma riqueza inconcebível”.

Setenta e sete anos depois do sonho, era inaugurada no Planalto Central brasileiro a cidade de Brasília, exatamente dentro do intervalo de coordenadas geográficas mencionado na visão de Dom Bosco e emoldurada pelo Lago Paranoá.

A vinculação com o sonho do santo existiu desde o começo da construção da capital, tanto que a primeira obra de alvenaria a ser erguida foi a Ermida Dom Bosco, uma pequena capela em forma piramidal, projetada por Oscar Niemeyer e localizada às margens do Lago Paranoá. Foi construída em 1957 como uma homenagem ao santo – mais tarde feito padroeiro de Brasília ao lado de Nossa Senhora Aparecida – e como um pedido para que ele abençoasse a nova cidade. Além disso, a congregação fundada por São João Bosco, a dos Salesianos, desde 1956 se fez presente nos acampamentos dos trabalhadores – foi a primeira ordem religiosa a chegar ao Distrito Federal. 

Intrigante, não?

Existe também a especulação de que Brasília teria sido moldada como uma versão moderna da cidade egípica de Akhetaton, pois há semelhanças entre as duas. Dizem que Juscelino Kubitschek era maçom (não é informação confirmada), e como maçons gostam de embutir simbolismo críptico em suas obras, as semelhanças não seriam mero acaso. E claro, há quem alegue até que JK foi a reencarnação do imperador egípcio Akhenaton...

[Brasília e Akhetaton lado a lado]

[JK e Akhenaton. Reencarnação ou coincidência?]


Além dessas circunstâncias misteriosas, ou talvez por causa delas, Brasília está repleta de organizações espiritualistas, místicas e iniciáticas. Abaixo uma breve lista de algumas delas, com fotos e anúncios.

  • Maçonaria (Sim, os templários modernos dominam Brasília também).

  • Unipaz - ( Também conhecida como Universidade Holística de Brasília. Já estive lá. O lugar é lindo, e as moçoilas que o frequentam também...)

  • GETAP UNB - (Grupo de Estudos de Terapias Alternativas, com atuação na Universidade de Brasília e na Unipaz. O rapaz com o microfone, criador do grupo, é o psicólogo contracultural Erik Von Berh, meu amigo e uma das mentes mais instigantes que tive a oportunidade de conhecer.)

  • Eubiose (Não sei nem direito o que é. Mas aprovo.)


Há também os usuais: Espíritas, umbandistas, pessoal do Santo Daime e o pessoal do candomblé. E claro, os mais piradinhos, esquisitinhos:

  • Inri Cristo - (Ele mora no Gama, cidade-satélite. Morei lá algum tempo e já fui praticamente vizinho do todo poderoso.)


Então, caro amigo turista, se for a Brasília: vá preparado. É um lugar assombrado por políticos, espíritos, doidos, paranóicos, lunáticos, charlatães, bruxos e milagreiros de todos os tipos. Até o filho de Deus anda por lá.

Venha, mas não esqueça seu chapéu paranóico-protetor!

E não se esqueça, para atingir o Bom Senso e descobrir a Origem da Humanidade, leia o livro: UNIVERSO EM DESENCANTO!




***


Noda do editor: como outros textos publicados neste blog, o texto acima foi originalmente  publicado como resposta no site Quora.

05/10/22

O Mundo É Muito Interessante...

Gosto de conhecimento, tanto ao ponto de sentir prazer em obtê-lo. Essa é uma característica tão expressiva em minha personalidade que já me acusaram de "viciado em conhecimento". Descobrir algo novo, fascinante, incrível e inusitado me deixa animado, meditativo, embasbacado; me faz pensar que o mundo é mesmo um lugar muito interessante, cheio de coisas doidas, inacreditáveis. Coisas que podem tornar  nossa experiência de vida muito mais dinâmica e interessante. E quando eu digo "mundo", refiro-me a tudo mesmo: pessoas, animais, objetos, ideias, relações...


                            [ O que fazer quando uma ponte resolve dançar?]

Suspeito que todo mundo tem, ao menos algumas vezes - talvez depois de assistir um documentário do Netgeo - certo deslumbramento com as coisas estranhas e maravilhosas do mundo. Mas, infelizmente, acontece que com o tempo as pessoas se esquecem e param de pensar nas coisas incríveis e misteriosas. Limitam-se ao cotidiano mais imediato, à vidinha suburbana e suas necessidades mequetrefes.

A experiência de estar no mundo e observá-lo é muito mais intensa e impressionante  quando somos mais jovens, e parece diminuir  de intensidade enquanto crescemos. Raramente um homem adulto olha para um cachorro do modo como ele olhou pela primeira vez, ou do modo como as crianças os olham. Raramente um adulto sente o mesmo que uma criança quando vai ao zoológico. Mas por quê? O que torna os adultos menos impressionáveis com as coisas do mundo?

[A mula certamente era lenda, mas frango sem cabeça existiu. E pelo que consta, sobreviveu por mais de um ano.]

Uma forma de explicar esse fenômeno - a apatia dos adultos - é por meio de uma teoria econômica chamada de Lei da Utilidade Marginal. Ela diz, mais ou menos, que quanto mais usamos um bem (ou quanto maior a quantidade dele), mais decresce o valor de utilidade subjetiva desse bem.  Não entendeu? Calma. O melhor jeito de entender é pensar no consumo da água. Se estivermos com muita sede, o primeiro copo de água que tomarmos terá, para nós, um alto valor de saciação. (Quanto mais sede, mais nos alegrará um copo de água). Contudo, nossa satisfação será menor no segundo e provavelmente sumirá no terceiro copo. Se continuarmos, embora já com pouquíssima sede, indo pro quarto e para o quinto copos, não ficaremos tão intensamente  satisfeitos quanto ficamos com o primeiro copo, pois já estaremos saturados. No jargão econômico isso significa que o "valor  de utilidade" subjetiva  do bem - no caso, a água - diminuiu com o consumo.

[E a teoria científica de que alguns dos nossos antepassados eram..macacos aquáticos?! ]

Resumindo, a ideia é que o valor que damos a um bem está, de algum modo, relacionado com a nossa exposição e consumo desse bem. Quando não temos um objeto, ou o temos em pouca quantidade, mais valoroso ele é. Quanto mais o temos, menos valoroso ele nos parece. Isso explica o chamado Paradoxo da Água e do Diamante, que é o fato da água ser objetivamente mais útil que um diamante, mas ser estranhamente muito mais barata que o mesmo. A explicação é que  o diamante é mais caro porque é mais raro, o que aumenta o seu valor subjetivo.


[Vão dizer que é loucura, mas... há indícios de que os fenícios vieram ao Brasil. Será?]

Se pensarmos no mundo como uma fonte de bens do quais dispomos, e daí aplicarmos a lei da utilidade marginal, ficará claro que nossa experiência com o mundo perde valor quando nos limitamos a consumir os mesmos bens, ou quando temos apenas o mesmo circuito de experiências. Um adulto, por exemplo, já teve muito mais experiências de interação com um cachorro que uma criança. Ficamos deslumbrados com as coisas quando elas são raras, quando são novidades,quando fogem do que já conhecemos.


                     [Sabia que em nosso planeta existem lagos cor de rosa?]

Sabendo disso, é preciso lembrar que o nosso planeta é enorme e está repleto de coisas  e experiências que desconhecemos, de bens ( mentais ou físicos) que não temos e que podemos obter ou conhecer, direta ou indiretamente. O fato da nossa inteligência ser limitada faz com que o conhecimento seja sempre escasso. Não importa o quanto você saiba, sempre haverão perguntas, sempre haverão mistérios. Não é preciso reduzir o mundo a nossa experiência mais imediata, ao que já conhecemos. Esse comportamento denota mediocridade, rigidez cognitiva e é terrivelmente limitador. A pior das prisões é a prisão mental, especialmente quando é reducionista.

             [O mestre kame existiu. E isso é algo realmente impressionante.]


Do que foi dito até  agora é possível concluir que a curiosidade é uma aliada imprescindível  dos que querem enriquecer suas mentes e ter uma visão mais ampla do mundo. A pessoa curiosa, com espírito inquieto e investigativo, sempre está descobrindo algo fantástico, curioso e muita vezes incrivelmente útil. Quem é curioso e imaginativo nãose limita a pensar apenas no mundo imediatamente acessível, porque sabe que existe um universo de possibilidades inexploradas das quais ela pode conhecer e dispor.
          
[Se você achou o lago rosa curioso é porque ainda não ouviu falar do tigre azul.]

Portanto se você já estava acostumado com o mundo, espero ter ajudado a mudar isso. Há muito pra se conhecer, para deslumbrar e maravilhar-se. A vida é, como dizem por aí, uma caixinha de surpresas. O mundo também. Mas para descobrir suas surpresas é preciso procurar. E a internet está aí pra isso.

Há milhares de coisas incríveis por aí. Algumas delas muito mais surpreendentes que as que eu mencionei aqui. Se for corajoso, poste uma nos comentários para que eu possa me maravilhar com ela também. E trate de lembrar que nosso mundo é mesmo um lugar muito interessante.



 [Ah, eu não poderia terminar sem dizer que existe uma agua viva que é imortal.]

06/07/22

Ignorância (ou: Poema Paranoico)



Ignorância é força
Liberdade é escravidão
2012 esta chegando e os Anunak retornando
A realidade é manipulada
Então cuidado com o flúor na água

Judeus sionistas governam o mundo!
O Golem ira ressuscitar!
O que foi "Croatoan"?
Alguém pode explicar?

Fraude nas vacinas ?
Forjaram os atentados?
E quanto a viajem à lua?
E quanto aos Et's avistados?

Saint Germain era o demônio!
Jesus esta voltando!
O que realmente significa
O Stonehenge americano?

A Nova Ordem esta a caminho?
Sera que George Wells iria se alegrar?
O mundo entrará em colapso
Quando o petróleo acabar?

Será que do futuro Hiram sabia
Quando fundou a maçonaria?
Ou Weishaupt ousou precisar
Ate onde sua organização iria chegar?

Comunismo é uma mentira!
Capitalismo a solução!
Não acreditem nos ideais
Do Exercito Simbionês de Libertação!

Kennedy alertou
Mas foi assassinado!
Bush julgou Saddam
Mas Bush era o culpado!

Controle a população!
Subverta a educação!
Use subliminares!
Venda alienação!

Onde os fracos não tem vez?
Ou simples realidade?
Jesus Cristo não existiu?
Ou a fraude é o Zeitgeist?

Construímos o mundo em nossas mentes?
Ou somos subjugados pela realidade?
E quanto a viajem no tempo?
O que diz a relatividade?

Onde estão as respostas?
Onde esta a solução?
Por que nunca nos ensinam
Que verdade é ilusão?
Sem resposta, sem salvação
Apenas o caos, a confusão

27/04/22

Jack Contra o Ódio de Jack


 Samurai Jack. Episódio oito.

A cabeça de Jack é posta a prêmio por Aku. Diversos mercenários, das mais variadas formas e tipos, confrontam Jack tentando derrotá-lo. Nenhum consegue, mas, como são muitos, despertam a fúria do samurai.

Aku percebe então que o estilo de Jack é insuperável. Astuto, mestre do mal, aproveita o ódio do guerreiro para criar um clone demônio, que é o ódio de Jack encarnado. Os dois se encontram e lutam. O Samurai Jack guerreiro da virtude e o Samurai Jack guerreiro do ódio.

Ferem-se. Empatam. Jack aumenta seu ódio contra o rival, o que só o fortalece. Até que, em algum momento, nosso Samurai honrado e sábio percebe que não poderá vencer o demônio com ódio.

Então ele medita. Dissipa seu ódio e vence. Com sabedoria e espiritualidade.

Como o leitor pode ver, há mais sabedoria em Samurai Jack do que imaginaria nossa vã intelectualidade.


***


O texto acima foi originalmente publicado no Zuckbook

06/04/22

Lista dos Melhores e Mais Inteligentes Podcasts Nacionais

 

É claro que não ouvi todos os podcasts disponíveis, mas os que fortemente recomendaria, dos que ouvi, são:

1 - Scicast (eu nunca ri tanto aprendendo ciência)

2 - Psicocast (análogo ao scicast, mas focado em psicologia)

3 - Mundofreakconfidencial (sobre temas sobrenaturais e estranhos)

4 - EscribaCafé (esse é realmente muito bom. É basicamente sobre histórias interessantes.)

5 - Salvo Melhor Juízo (o Direito abordado de forma agradável)

6 - Papo Lendário (sobre mitologia)

7 - Atrás do Front (podcast do Padma Dorje, um dos comentaristas mais inteligentes e cultos da net)

8 - CaféBrasil (é inteligente)

9 - Número Imaginário (Matemática. É meio monótono, mas o conteúdo vale)

10 - Sobrecast (sobrevivencialismo, catástrofes, o que fazer numa crise. Muito útil se você é do tipo paranoico, militar ou preventivo)


***

Edição (do dia 03/08/2019)

Por sugestão da Cristine Martin, que me lembrou alguns que havia esquecido e outros que sempre ouço falar:

11. Mamilos (sobre temas polêmicos e atuais)

12. RapaduraCast (cinema)

13. Cinemático (cinema)

14. Caixa de Histórias (literatura)

15. Gente que escreve (literatura)

 

***


Lista originalmente publicada como resposta no Quora

30/03/22

A Sinistra Magia de Jack, O Estripador


Os assassinatos de Jack, "O Estripador", eram, na verdade, "rituais de sangue". É o que diz uma sinistra teoria conspiratória que, há mais de um século, circula nos meios esotéricos e literários.

O infame ocultista britânico Aleister Crowley, que foi contemporâneo de Jack, teve fascínio pelo caso. Grande conhecedor de Magia e da temática sacrificial, o bruxo escreveu em seu diário que a sequência de assassinatos de Jack formava um pentagrama. Segundo lhe parecia, os assassinatos eram parte de uma operação mágica.
Alguns assassinatos ocorreram próximo à sinagogas, coisa que, dizem alguns, era intencional. Na época, vários figurões da polícia londrina eram altos membros da maçonaria, e é de conhecimento público que as autoridades agiram de modo suspeito. Muitos sugerem que houve acobertamento, e os mais paranoicos chegam a dizer que Jack era um maçom cabalista. Os maçons negam.
Há várias obras de ficção interessantes que exploram essa teoria. Uma delas é a HQ "Do Inferno", de Alan Moore. Outra é o filme, de 1979, "Murder By Decree", que sugere o envolvimento da maçonaria. Neste último, há uma cena deveras curiosa e intrigante, onde ninguem menos que Sherlock Holmes, através de gestos secretos, finge-se de maçom para confrontar o chefe de polícia.


25/03/22

Elektra Assassina: a novela gráfica experimental de Frank Miller

Elektra encontra  A Besta

 
"A BESTA É PODER, A BESTA É MAGIA, A BESTA LIBERTARÁ VOCÊ, ELEKTRA!

O trecho acima, sinistro e agourento, está contido na excelente minissérie "Elektra Assassina", trabalho experimental de Frank Miller em parceria com Bill Sienkiewicz. Nessa obra, (que transborda metapolítica, paranoia e ficção científica) Elektra, logo depois de fugir de um hospício, descobre que o presidente dos Estados Unidos está sob influência da Besta; um antigo demônio cultuado pelo grupo terrorista Tentáculo. A missão da ninja: assassinar o presidente da nação mais poderosa do mundo.
Na série, Elektra precisará enfrentar agentes transhumanos e psicopatas da SHIELD, ninjas traiçoeiros do Tentáculo, a própria Besta e, claro, seus medos e bloqueios mentais, o que não será fácil.
O caráter mais ou menos surreal da arte de Sienkiewicz mostrou-se perfeito para a trama. Não se enganem, apesar de parecer "mera viagem", é um gibi denso e cheio de referências políticas e esotéricas, tem um caráter de "cult" e muita gente - inclusive eu- considera-o superior ao clássico "Cavaleiro das Trevas".
Obviamente, sendo uma obra de Frank Miller, é um gibi violentíssimo. Acho até que nenhum outro gibi de Miller consegue conciliar violência e estética de forma tão perfeita.

23/03/22

Um Breve Resumo de Como Chegamos até Aqui


Cabe notar que não chegaríamos tão longe sozinhos. Antes de tudo, devemos compreender que fomos vitimados por influências terríveis.

Dessas influências terríveis, foram agentes: o liberal,  que atua contra a liberdade do vizinho em ser socialista; o socialista,  que sonha em mudar o mundo mas atenta contra a ordem moral que inspirou o socialismo; o conservador, que rejeita a latinidade, da qual é herdeiro histórico, despreza a alta cultura do país onde vive, deixa seus museus queimarem e fetichiza o modo de vida americano; o cristão, que não lê a Bíblia e ainda não descobriu que o cristianismo ensina uma vida simples de abnegação, caridade e retiro; o  educador, que abomina hierarquia, correção e superioridade intelectual; o jornalista, que nem tenta ser imparcial porque na verdade é um militante travestido; o policial miliciano, que é mais criminoso que bandido, e de quem o pobre frequentemente é vítima colateral; o político, que roubou ontem, roubou hoje, roubará amanhã e roubará sempre, e que continuará a se eleger pregando contra a corrupção; o empresário, que detesta concorrência e prefere os favores escusos de políticos que receberam seu dinheiro em campanhas eleitorais; o amante, apaixonado e volúvel, que trai e mata sua mulher; a amante, pródiga e volúvel, que é fatalmente seduzida pelo amante apaixonado que a matará; o funcionário público, que não sabe informar corretamente e prefere conversar com os colegas a nos atender; o artista, limitado, que nada vê na arte senão uma arma de guerra cultural e subversão; o pastor, o guru ou o líder espirital, que é na verdade grande empresário e marqueteiro; o escritor desiludido, que se  ressente com as panelinhas e hipocrisias da classe intelectual na qual outrora almejava ingressar; o raro homem honesto que, diante de toda essa estranha fauna, entende rapidamente que sua conduta está fora de moda e, fatalmente, se deprime.

Eis a surrealista marcha da vida social no país onde todos os pecados são pressentidos na véspera e esquecidos logo após a consumação. O país cuja vida nacional nas últimas décadas parece um pastiche de Chaves ou de Chapolim: história viciada e repetitiva onde conhecemos todos os personagens, todas as falas, todas as tiradas, mas, por algum motivo inexplicavel, continuamos assistindo e amando. Mais que meramente assistir, fazemos espetáculo: sorrimos, sambamos, bebemos e brindamos, e então, tarde da noite, entorpecidos, no auge de nosso hedonismo tropical imediatista, desregrados na vida e no gozo, nos vemos ante uma orgia sardônica e absurda: com anões, putas, travestis, padres pedófilos e crianças amputadas. O que aconteceu? Quem são essas pessoas? Onde estamos? Como chegamos a isto?  Queremos correr, escapar da cena, estamos arrependidos, envergonhados, queremos mudar, ficar sóbrios, sentimos culpa, confessamos, tentamos sair, mas não conseguimos: mãos e braços nos puxam, bocas deformadas por tratamentos com botox nos beijam, silicones exagerados de prostitutas televisivas nos atacam, corrompendo nossa face amedrontada. De um lado, a escandalosa gargalhada da Inês Brasil, do outro, o sorriso diabólico do Kid Bengala. E finalmente, depois de abusos que o pudor me impede de narrar, sentimos o mal imponderável: ELE: o elemento grosso, rijo, cilíndrico, pulsante, a violar sem qualquer piedade o nosso orifício sensível. Vindo sabe-se lá de quem e aviltando o que nos restava em dignidade.

E foi assim que, mais uma vez, no curso da vida nacional, por termos nos deixado levar, fomos magoados, naquele lugar.  Que ainda dói.

Agora só nos resta mancar. E agradecer, ou reclamar, a todos cuja influência foi decisiva. 

...

O texto acima foi originalmente publicado no Facebook. Abaixo, as reações:



21/03/22

Afinal de contas, o que é a Matrix?


Quer mesmo saber?

Então deixe-me te mostrar até onde vai a toca do coelho, pequeno neoPreparado? Vamos lá:

Sobre o Filme:

Basicamente, a “matrix”, segundo o contexto da trilogia cinematográfica dos irmãos wachowski, é o termo usado para descrever uma realidade virtual produzida por formas de inteligência artificial (A.I )que se rebelaram contra os seres humanos no passado, numa guerra onde as máquinas venceram.

Desde então, as máquinas vem utilizando os seres humanos como fonte de energia. Ao mesmo tempo, para que os humanos não tomem consciência disso, as máquinas criaram um meio de controlar a mente humana, criando um mundo virtual, ilusório, uma prisão mental a matrix—, mas que a maioria dos humanos aceitam como real.

20/03/22

11 Conselhos Para Jovens Nerds


[Dexter, o pequeno e arrogante gênio.]
                                          
Há poucas coisas realmente importantes na vida. Inteligência é uma delas. Alguém aí duvida que tudo que temos de bom e de valoroso na sociedade (e que todos os bens, físicos ou conceituais,dos quais desfrutamos) são frutos da inteligência e do esforço contínuo dos homens do passado?

Se alguém ainda tem dúvidas, basta olhar ao redor. Celulares, arranha-céus, carros, geladeiras, televisores, lâmpadas, trens… Todos esses bens não vieram do nada, não se construíram sozinhos. O processo de construção de apenas alguns deles, como um computador ou um carro, ou mesmo um simples lápis, é tão complexo e apresenta tantas dificuldades técnicas que causa profunda impressão observar tais artefatos serem construídos aos montes, apesar de toda a dificuldade envolvida na confecção.

A inteligência humana aplicada tem permitido identificar e resolver problemas não apenas em questões de engenharia, mas também na medicina, na psicologia, no direito, na política e em qualquer outra área que você possa imaginar. Além disso, a quantidade de conhecimento acumulado, utilizado e acessível nunca foi tão alta em toda a história humana (o amigo leitor certamente já ouviu falar que vivemos na “Era da Informação”) e nossa civilização é totalmente dependente desses conhecimentos, dessa estrutura informacional.

Sabendo disso, percebendo que a manutenção da nossa frágil civilização e de seus bens depende do conhecimento e da inteligência, era de se esperar que nossas crianças e jovens tivessem sua curiosidade natural (esse elemento formador da inteligência) mais do que estimulada. Era de se esperar que as mentes mais destacadas, os espíritos introspectivos, dados à leitura e à reflexão, ao cálculo, à descoberta e à solução de problemas difíceis, fossem encorajados e incentivados, tidos até como heróis mantenedores da vida, da civilização e do progresso, afinal, se não houver ninguém para guardar, descobrir e utilizar o conhecimento, que será de uma civilização baseada nele?

Infelizmente, porém, o brasileiro está longe, muito longe, de compreender isso. E consequentemente está longe de valorizar e de incentivar a inteligência e a curiosidade dos mais jovens. Por outro lado, os brasileiros são excelentes em incentivar a sexualização precoce e o retardamento infanto-juvenil.

16/03/22

Mais Estranho Que A Ficção: E mais fácil do que deveria...




Há mais de dez anos, em algum canal de TV - acho que foi na extinta Play TV, passou uma interessante resenha sobre este filme. O enredo parecia inusitado e criativo, promissor, o suficiente para eu querer assistir. Mas o tempo passou e esqueci o nome do filme. Persistiu, porém, a vontade de assisti-lo. Foi só em 2021, no Segundo Ano da Peste, que eu descobri o nome, baixei o torrent e finalmente assisti Stranger Than Fiction.

E então, o filme é bom ou ruim?

Bem... eu não diria que é um filme ruim, mas parece-me que está fadado a ser mais interessante para amantes de Literatura que para o público geral. E sou obrigado a escrever isso pois existe um grande problema no desenvolvimento da obra: as relações acontecem com mais facilidade do que deveriam. Quero dizer: as reações e comportamentos dos coadjuvantes não são verossímeis. 

Vejamos: (1) a secretária, uma negra norte americana, é demasiado complacente com a escritora em crise, quando o esperado seria que brigassem e não se suportassem - afinal a escritora inglesa é terrivelmente arrogante e autocentrada, ao ponto de irritar o expectador. Pessoas vividas sabem que os negros norte-americanos não levam desaforo pra casa, logo; uma mulher negra americana sendo destratada por uma inglesa metida soa ridículo e inverossímil; (2) o professor de literatura decide passar o tempo tentando descobrir de quem é a voz narrativa que o protagonista escuta, mas faz isso sem ter nenhum bom motivo, simplesmente aceita a história fantástica de um desconhecido que possivelmente é esquizofrênico; e (3) a confeiteira esquerdista trata afetuosamente o protagonista, sujeito que ela detestava, e vai além, apaixonando-se pelo mesmo, que aliás é morno, monótono, burocrata, sem beleza e que em nada tem a ver com ela.

A piada é que, com isso tudo, o expectador fica com a sensação de que são os coadjuvantes que fazem parte de um roteiro invisível e abusivo, no qual são privados de autonomia e necessariamente devem ajudar o protagonista. É claro que os coadjuvantes precisam se comportar como se comportam para que a trama vá para frente - esse não é o problema. O problema é que suas motivações ou não existem ou são mal explicadas e não convencem.

Os que gostam de Literatura e de obras relacionadas, especialmente se possuírem interesse em gnosticismo hollywoodiano, poderão dar um desconto e focar na boa atuação de Will Ferrel e Emma Thompson.

Assim, Stranger Than Fiction, na opinião crítica deste blogueiro metido a cinéfilo, está longe de ser um grande filme e é apenas divertido e ligeiramente engraçado. Numa comparação qualitativa, eu diria que fica uma estrela abaixo de The Professor (2018), filme que tem ritmo semelhante e intensidade igualmente amena, mas com a vantagem de possuir personagens com justificações convincentes.

Para não parecer chato demais, vale dizer que a atuação de Emma Thompson como escritora está magistral, convincente e charmosa.

Dei ao filme duas estrelas e meio no Filmow, onde originalmente publiquei este comentário. Considero que três estrelas sejas bom, portanto, duas estrelas e meio seria algo como quase-bom.

15/03/22

O Sacrifício do Cervo Sagrado: Um Filme Estranho, Bom e Sinistro


Há filmes estranhos e engraçados, que incomodam pelo absurdo, como O Grande Lebowsky (1998) e Quero Ser John Malkovitch (1999), e há filmes que provocam incômodo pelo realismo sombrio com o qual abordam seus temas, como O Operário (2004) e A Caça (2012).

O último bom filme que assisti recentemente - O Sacrificio do Cervo Sagrado (2017), do diretor grego Yorgos Lanthimos- é do tipo que provoca incômodo do início ao fim, mas não pertence a nenhuma das duas categorias mencionadas acima.
Pode ser descrito como um "horror doméstico sobrenatural", porque a trama inclui elementos de horror e de sobrenatural, mas isso é dizer pouco, porque tal descrição não inclui a peculiar estranheza do filme. E sim, é um filme diferentão, daqueles que você lembrará por toda a vida, sempre acompanhado de certo mal-estar.
Traz um tipo de horror psicológico que lembra o do filme A Bruxa (2015). A trama aborda a impotência da racionalidade humana - e da Ciência - diante de doenças aparentemente causadas por forças inexplicáveis e terríveis, mas o filme também trata de temas como culpa, família, vingança e responsabilidade. Há muitas camadas de interpretação e muitos artigos na net explorando a riqueza de obra tão estranha e magistral.
Achei o filme muito bom, mas certamente não para o grande público, por ter muito de monotonia e pelo ritmo calmo como a história progride. De qualquer forma, é obrigatório para quem gosta de saber o que há de bom no cinema alternativo mundial.
Trailer e link para download abaixo (se bem que tem o filme completo no Youtube, mas em versão dublada, portanto inferior).

O trailer:



Download do filme + legenda, sem propaganda e direto da nuvem :https://terabox.com/s/1NgCIolF6ElmzLYvZLtBIbg 
Senha:pyn4

10/03/22

Do Biquini à Piriquita: a ascensão do Kitsch nas metamorfoses da canção “Tédio”

 


Era 1985 quando a banda de rock Biquini Cavadão lançou a canção “Tédio”. Em cima de uma levada pop rock, a letra reproduzia o conteúdo de uma suposta ligação na qual uma das partes confessava sofrer do desagradável sentimento. 


Não era brilhante, mas era divertida e fazia sentido, já que tédio é algo que todo mundo sente ocasionalmente. A canção fez mais sucesso do que a banda esperava, tocou exaustivamente nas rádios e há relatos de que foi muito reproduzida em departamentos públicos.

Para os críticos musicais da época, o rock brasileiro oitentista, cheio de influências Punk e New Wave, era musicalmente inferior ao que fora produzido nos anos 70 e 60, como Jovem Guarda e Mutantes. De tal modo que as músicas do Biquini Cavadão eram consideradas como expressão de uma vertente cultural simplória e menos interessante em termos artísticos. Era música medíocre. Mesmo assim, ou talvez por isso, a melodia de “Tédio” grudou na cabeça do público.

Vinte e quatro anos depois, uma irrelevante banda de brega pop paraense chamada Banda Katrina, numa explosão de humor de duplo sentido, ressuscitou a melodia de “Tédio”, dessa vez expressando-a junto a uma letra criativa ao estilo Raimundos, na qual destacava-se o título: “Quem Vai Querer A Minha Piriquita”. Contava a história de moça fogosa, ou brincalhona, interessada em dar a piriquita. Música extremamente ruim, porém engraçada, foi sucesso instantâneo. A velha melodia voltou a grudar na cabeça do povo. 



Dois anos depois do estrago da Banda Katrina, o funkeiro Mr. Catra, que no início da carreira tocava numa banda de rock, entrou na onda e resolveu dispor da melodia de “Tédio”. Uma versão funk, por que não? Pôs na música batidas mais acentuadas, maior destaque na melodia e, claro, uma letra para lá de sacana. Chamou a canção de “Adultério”.



O perfil artístico de Catra é o de um oportunista que submeteu o pouco talento que tinha ao escracho, ao cinismo e ao deboche. Suas músicas mais relevantes são brincadeiras sacanas ou paródias. Produziu Kitsch e surfou no Trash Culture do funk proibidão. Nessa área a performance e a ousadia — ousadia aqui nada mais é do que a coragem de exibir sua mediocridade musical em público — são muito mais importantes que o talento. Catra era desinibido, excêntrico, bem humorado e carismático. Foi o suficiente para que os brasileiros ouvissem suas músicas e lhe devotassem atenção. A música “Adultério” foi um imenso sucesso. Tanto que até hoje muitos jovems quando escutam “Tédio” acreditam que é uma cópia da canção de Catra. É a criatura devorando o criador. A melodia, mais uma vez, grudou na cabeça do povo.

Finalmente, como o Brasil não é para amadores, neste ano de 2022 as coisas chegaram a um nível ainda mais estranho. Uma espertinha chamada Juliana Bonde, vocalista do Bonde do Forró, resolveu repaginar a versão da Banda Katrina, alterando um pouco a letra, mantendo o terrível teclado eletrônico e elevando a sonoridade forró. Eis a versão mais lixo de todas, o que no Brasil significa a fórmula mágica do sucesso. Mas como Juliana Bonde além de bela é astuta, deu o golpe fatal: tratou de ridicularizar na letra uns nomes famosos da cultura nacional. Atirou para todos os lados: religiosos, políticos e músicos. Disse que daria sua piriquita para o padre Fábio de Melo, mas não para Luan SantanaLula e Bolsonaro.

Antes dela, o último a dar o golpe das citações foi Serginho Malandro; em sua espirituosa paródia de Drake.



Desnecessário dizer, mas a versão de Juliana ( que o dileto leitor pode conferir no video abaixo) está fazendo tremendo sucesso. A melodia está grudando na cabeça do público.



O que não é bom sinal, e provavelmente indica que em breve vem coisa pior por aí.  E assim, uma vez mais, constatamos o Kitsch como expressão máxima da preferência nacional, neste caso — que está longe de ser um evento isolado, e por isso serve para ilustrar a tendência mais geral que assola a música comercial brasileira — temos uma canção boboca que é a cópia da cópia, sempre prometendo uma futura versão ainda pior; numa sucessão sempre previsível, numa dinâmica perpetuamente monótona.

É ou não é de entediar qualquer um?

27/02/22

Passado, Presente e Futuro deste Blog

 


Quando comecei este blog eu queria duas coisas. A primeira era fugir do Facebook; fugir da dinâmica dos debates perpétuos, pois desanimava-me a ideia de ter que justificar uma opinião logo depois de publicizá-la. Tenho pouca fé no debate racional e nenhuma vontade de convencer as pessoas -  ainda mais quando sei que estou certo e melhor informado.

O segundo objetivo era criar uma área de produção literária  pública e livre, mas descompromissada, ou apenas compromissada com minha dispersão cultural. Uma área para escrever sobre o que eu quisesse, com o texto que eu quisesse, do tamanho que eu quisesse, mas inicialmente orientada para crônicas e textos em formatos mais fáceis, do tipo que caberia bem num blog, coluna de jornal ou newsletter pessoal. Isso porque eu já havia constatado minha inclinação para a crônica e, coerente, desejava um meio adequado para fomentar minha produção.

Depois eu julguei que seria boa ideia aglutinar aqui meus textos espalhados em blogzinhos, redes sociais e cantos diversos da internet, fazendo desta página não apenas um blog pessoal, mas também um repositório dos textos interessantes que escrevi e publiquei online desde 2012, ano em que pela primeira vez um texto meu foi publicado em um blog (projeto feito com amigos literatos mas que acabou incipiente). Publicando os textos aqui eu posso editá-los e catalogá-los, assim ganho maior clareza sobre as temáticas e os estilos que marcaram minha produção literária até agora. O ritmo de publicação tem sido o de um texto por semana, a frequência mais fácil para manter uma rotina literária básica. 

Escrever é fundamental para minha saúde e organização mental. Não que eu seja muito são escrevendo, mas, sem escrever, eu provavelmente enlouqueceria. Há, portanto, uma orientação terapêutica neste meu vício, e o lado bom é que posso recorrer a ela sempre que um leitor mais culto e refinado praguejar contra a má qualidade de minha prosa. Acusado de mau escritor, escuso-me dizendo que não escrevo por talento, mas por necessidade. Conto sempre com a complacência do leitor.

Mas escrevo e, escrevendo, sinto também alguma ambição. O problema é que conforme a literatura perde prestígio e lugar na cultura, sendo a cada dia mais substituída pela vídeomania, meu pouco interesse em produzir alguma forma mais elaborada de literatura vai pelo ralo, e as ideias que tenho para contos  e ensaios já sofrem com o mofo resultante da pouca exposição ao sol. 

Além disso, minha vida está uma bagunça. Escrever exige recursos: concentração, livros para consultar e ambiente adequado. O meu perene desemprego me impede de comprar os livros e de dedicar-me a estudá-los. As contas e as mesquinharias burocráticas do quotidiano acabam se impondo, então, até que eu resolva essas questões mais práticas da vida, atuarei na crônica e em formatos mais leves, o que, aliás, já venho fazendo. É pouco, mas é melhor que nada, e ao menos me impedirá de enlouquecer.

22/02/22

Foi-se o Comentarista



Imagino que os amigos de mesma geração tiveram experiência semelhante. No meu caso, aconteceu assim: sentado no sofá da sala, acompanhando meus pais enquanto assistiam ao Jornal Nacional (evento rigidamente tradicional para famílias brasileiras dos anos noventa), eu ficava deslumbrado e perturbado quando, em algum momento do noticiário, surgia um senhor grisalho e muito eloquente; que falava dos principais eventos com comentários irônicos, certeiros, perversamente bem-humorados e espirituosos.

Pré-adolescente, eu não entendia muito, mas catava, numa frase ou em outra, um deboche, uma sátira, um pastiche. Notava que ali havia humor e achava estranho, pois contrastava com a sisudez do jornal. E não era o humor que eu conhecia. Era algo novo, mais refinado.
Esse curioso comentarista tinha nome: Arnaldo Jabor.
Mais tarde, soube que ele era um figurão da cultura nacional. Participou do Cinema Novo, ajudando a fazer história num período de grande efervescência da cultura brasileira. Como colunista, antes de se focar no mundo político, entreteve e ilustrou milhares de leitores durante décadas. Publicado semanalmente em 23 jornais, esbanjava crônicas culturais engraçadas, inteligentes e enriquecidas com referências à dramaturgia, cinema, pintura, música, quadrinhos, literatura e história. Há em sua prosa o olhar desiludido de um ex-militante comunista, mas também a confissão cínica de quem viveu nossa história; e, para não enlouquecer, fez tragicomédia com nossos personagens e enredos quotidianos.
Certo ou errado, sempre culto e opinativo, era uma mente instigante.