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16/09/23

Não Era O Que Parecia





Pessoa que até a véspera nos tratava amigavelmente. Sorria, falava. Demonstrava interesse em manter conosco a boa relação, e depois surpreendeu virando a casaca: riscou o fósforo do desencontro para acender a dinamite do silêncio. O efeito, uma explosão de energia negativa. Antes, sua conversa receptiva sugeria uma conexão que, no futuro, continuasse tudo constante, daria em agradável amizade. 

Ser humano a quem nos abrimos, e a quem procuramos ajudar, aceitando com zelo o autoimposto dever do amigo. Imaginávamos, é claro, ser de confiança. E ao revelarmos elevada disposição afetiva, esperávamos tudo, até que risse de nós, os românticos do afeto; o que não esperávamos nunca é o gratuito desdém, o desprezo, a falta de consideração.

Diante de tamanho descaso, que podemos fazer? Como em tudo o que não podemos mudar, deve-se aceitar o ocorrido e refletir, buscando compreender o que de fato aconteceu. E, claro, aprender a evitar esse tipo de situação no futuro.

Eu sei, nós sabemos: há instabilidade no comportamento humano. As pessoas mudam: crenças, atitudes, ideias e sentimentos. Há em cada um de nós caprichos, defeitos, idiossincrasias, preconceitos, ansiedades e sentimentos não declaráveis. Algumas pessoas são mais volúveis, outras mais estáveis.

Vale entender que é possível uma relação muito agradável sem que exista de fato uma amizade. Isso porque, via de regra, as pessoas não expressam diretamente a desimportância que podem dar a alguém que consideram divertido, agradável, inteligente e gentil. Sem expressar verbalmente, tendem a demonstrar em atitudes negativas; descumprindo acordos e não honrando as próprias palavras. Também as pessoas não se revelam por completo. Podem mostrar uma coisa e pensar outra. Ao tratá-las de forma agradável e amigável, elas tendem a responder de igual forma, o que não implica, necessariamente, em amizade.

O amigo é aquele que já conhecemos o suficiente para nele confiar. O amigo é definido pelo grau de confiança, previsibilidade, cumplicidade e experiência que temos com ele, não pelo tamanho de nossa atração ou disposição afetiva. Não importa o quão elevados sejam nossos sentimentos por uma pessoa. Por mais querida que ela seja, nosso sentimento isolado não é suficiente para compor amizade. O que importa é o modo como ela nos trata: se nos valoriza ou não. Se nos valoriza e respeita, como a valorizamos e respeitamos, então a relação vale à pena. Se nos trata com desdém, o melhor é nos afastarmos.

Esse desapego afetivo pode ser doloroso, mas exercê-lo é se livrar de uma dor ainda maior: a que viria caso tivéssemos alimentado a relação, pois estaríamos nos iludindo, e quanto maior o apego, maior a frustração. Fato é que nem todos que apreciamos podem nos conceder a atenção e estima que precisamos. Eis o mundo como ele é. Portanto, quando percebemos que alguém de quem gostamos não nos valoriza, é mais inteligente desapegar e se afastar o quanto antes. Não é apenas questão de orgulho, mas de saúde mental e moral. A regra é simples: não existe amizade sem reciprocidade.

É nas atitudes que reconhecemos quem são as pessoas confiáveis, que devemos incluir como amigos, e quem são aquelas que, embora eventualmente agradáveis, não se importam de verdade conosco. O discurso mascara, mas as atitudes revelam. Aquele que nos diz "sou teu amigo", mas não age como tal; é sempre traiçoeiro e perigoso, porque fomenta em nós expectativas que jamais se poderão concretizar. Mais leal é um verdadeiro inimigo, que deixa claro a sua indiferença e não cria conosco uma relação dupla, mostrando uma face e agindo com outra. Vale mais esse inimigo franco que um amigo aparente.

Encontramos na vida pessoas cordiais, receptivas e agradáveis que parecem amigas, mas que, na realidade, são autocentradas, desinteressadas, desdenhosas e no fundo fazem de nós pouco caso. Quando não somos maliciosos e desconfiados, caímos na armadilha das aparências e nos deixamos levar, imaginando termos ganho uma boa relação. Chega cedo a primeira frustração e vemos que fomos enganados, que não eram por dentro o que pareciam por fora. Nesse momento, é hora de sorrir, lembrar que as aparências enganam, erguer a cabeça e continuar em busca de melhores relações.

A vida afetiva é um imenso garimpo: com paciência encontra-se o precioso, mas não vem sempre e não vem fácil; há sempre percalços no caminho. Como já dizia o bardo: "nem tudo o que reluz é ouro".

15/02/23

Rapazes, aprendam:



A grande diferença entre os rapazes da geração atual e das anteriores é que os jovens do passado, muito justos e parcimoniosos, aprendiam a desprezar as mulheres somente depois de conhecê-las e devorá-las; descobriam e apegavam-se ao que de melhor elas podem oferecer, queriam mais, ficavam dependentes, e assim o desprezo jamais os tomava por completo.

Já os moços da atualidade, cegados pela inadequação social, desprovidos do conhecimento das leis da canastrice e da patifaria, empunham a catastrófica bandeira de que o melhor é desprezá-las antes mesmo de lambuzá-las. Alguém deveria adverti-los que seu objetivo é nobre, mas seu sistema incorre em fatal equívoco; peca na disposição dos elementos. Amar primeiro; desprezar, depois.
Tu, jovem mancebo, filho destes tempos sojados, escutai com atenção as palavras do profeta: Primeiro, mamai nas tetas e nas bocetas; depois, quando estiveres falido e fodido, de tanto esbanjar as economias em orgias olimpianas com as mais belas e mais vendidas, maldiga o gênero; faça-o com retórica empolada, citações eruditas e o bom e merecido ressentimento. Mas faça na ordem correta. Depois, terás o direito ao desprezo. Antes, não.

31/08/22

Como Terminar Um Namoro




Dependendo do grau de proximidade, intimidade e dependência afetiva, não será uma coisa exatamente fácil de se fazer, mas é possível; e deve ser feito de forma madura e responsável.

Seguem as dicas:

#1- Pré término

Para início de conversa, busque refletir e listar os motivos pelos quais você prefere romper o relacionamento. Desses motivos, alguns provavelmente serão negativos, como os aspectos do comportamento do parceiro (ou da parceira) com os quais você não se sente mais à vontade para lidar. Por isso, selecione os aspectos mais positivos. É a eles que você deve recorrer na hora da conversa fatídica. Se a pessoa gosta de você, e você alega que o término terá consequências positivas para sua saúde mental, fica mais de aceitar.

#2 O que NÃO fazer

Claro que você pode romper simplesmente dizendo que não suporta mais determinadas características do outro ou que a qualidade da relação já não é mesma; no entanto, se fizer de tal modo, a tendência é aumentar o conflito e dificultar um término maduro, pois ninguém gosta de ser explicitamente rejeitado. Além disso, é importante tomar cuidado: sentimentos contrariados se transformam facilmente em ressentimento e ódio. Não queira ter alguém a) ressentido; b) obcecado em te dar o troco; e c) que te conhece relativamente bem como um inimigo, vai por mim, definitivamente não é boa ideia:

#3- Um término não é uma coisa, é um processo!

Vamos adicionar um elemento muito importante: o cálculo da dependência afetiva que seu parceiro/a tem em relação a você. A dinâmica é a seguinte:

Quando maior a dependência, mais difícil o término, pois a outra parte tende a rejeitar tal possibilidade.

Se for o caso de uma pessoa que é muito dependente de você, então vá com calma. Sair abruptamente da vida dela pode deixá-la desesperada, desorientada e traumatizada. Vai precisar ser gradativo. Minha dica é: assegure-se que a pessoa faça bons amigos e tenha acesso a uma rede social saudável, com pessoas que eventualmente possam substituir sua posição. Depois comece a fazer com que ela imagine o término, fazendo perguntas hipotéticas (é sempre mais fácil lidar com algo que já passou pela nossa cabeça do que com algo que não estamos esperando). Quando terminar o namoro, você, dependo da sua disposição e do quanto ainda gosta do outro, pode oferecer companhia ocasional como amigo, amigo com benefícios ou conselheiro ocasional. Ao demonstrar que você se importa, a pessoa tende a aceitar melhor suas decisões. Isso vai ajudar a fazê-la te ver de outra forma, perdendo a noção de que você é uma posse . Além disso, é mais fácil para permitir, no futuro, um total afastamento, já que é menos traumático se afastar de um amigo que de uma paixão.

#4- Pense no Futuro Próximo. Preveja suas reações.

Um outro fator importante é calcular as possibilidades futuras e o modo como você tende a reagir. Tem certeza que você quer terminar, não é mesmo? Você não é o tipo que, quatro meses depois, vai se arrepender e pedir para voltar, certo? Como vai reagir se descobrir que pouco tempo depois do término a pessoa já está se envolvendo com outro? Essas questões são importantes, porque elas vão te ajudar a decidir se você vai ser gradativo e virar amigo ou se vai romper de uma vez.

Exemplo: (a) A pessoa é muito dependente + (b) você não está tão seguro quanto ao termino + (c) acha que pode mudar de ideia no futuro = (MS- mudança de status) melhor mudar o status da relação do que terminar abruptamente.

Mudar o status pode significar virar amigos, amigos coloridos, iniciar uma relação aberta ou simplesmente "dar um tempo". Durante esse período a pessoa pode ir se desapegando, já que a tendência é diminuir o contato. E com essa experiência você pode ter certeza se vai querer mesmo terminar ou não.

#5- Veja os vídeos e conselhos do Gikovate.

 

 

Texto publicado originalmente no Quora

24/08/22

Como saber quando alguém é perigoso?




Bom, antes é preciso se perguntar: isso é possível?

A resposta é ambígua: sim e não. Veja bem:

Embora existam pessoas que deem claros sinais de que são uma ameaça, existem outras que nunca dão esses sinais. E algumas das pessoas mais perigosas serão extremamente carismáticas e aparentemente inofensivas (mais ou menos como eu).

Portanto, é preciso ter uma postura de desconfiança geral, uma suspeita de todos, a mentalidade de não se colocar em risco e a habilidade de reconhecer os sinais de periculosidade.

Para começar, quem é perigoso? Resposta: quase todo mundo. De fato, pouquíssimas pessoas são realmente não violentas. Entenda que as pessoas são basicamente bestas camufladas por um verniz de civilidade, bestas esperando um momento, um pretexto, para descarregar toda a repressão de animalidade que a civilização lhes obriga a manter.

"Ain, nossa… Mas esse John Ramalho é exagerado…"

Sou? Vejamos:

Pois é. Você está cercado de bárbaros sorridentes, sensuais e hipócritas. Doces bárbaros? Doces eu não sei, mas que são bárbaros e perigosos, ah, isso são.

No meio de tanta gente pacífica e "cordial", como se prevenir e prever o grau de periculosidade de alguém? Difícil, né? Por isso nestas terras a melhor postura é aquela do Fox Mulder de Arquivo X: Não confie em ninguém!

Assim como a melhor forma de combater um incêndio é evitando que ele ocorra, a melhor forma de se prevenir contra a periculosidade alheia é sendo desconfiado, paranóico e mantendo uma distância preventiva, sempre.


Dito isso, existem algumas dicas que podem ajudar a separar o joio do trigo, afinal ninguém é capaz de desconfiar de todo mundo 24 horas por dia.

Anote aí:

#1- Desenvolva critérios rigorosos para confiar em alguém.

Acho absolutamente engraçado como as pessoas possuem uma tendência bovina para confiar em gente que tem: a) sorriso no rosto/ carisma; b) discurso bonitinho e politicamente correto; c) autoridade e; d) grana.

Inclusive, cheguei a responder sobre como é fácil enganar as pessoas utilizando alguns desses elementos: Resposta de John Ramalho a É possível convencer alguém a acreditar em algo que você diz, por mais surreal que seja? Se sim, como?

Se você vai realmente confiar em alguém a ponto de sair sozinho com a pessoa, se expor, entregar informações importantes e ficar vulnerável, ao menos tenha a sensatez de fazer isso com alguém que você conhece MUITO bem. Alguém que você já tenha noção sobre o grau de periculosidade e lealdade.

E quando você sabe que conhece alguém muito bem? Resposta: quando você conhece os piores defeitos, podres e tendências negativas da pessoa.

Se você não sabe de nada errado que uma pessoa já fez, nunca ouviu falar dos grandes defeitos ou mesmo dos pequenos, NÃO CONFIE! Quanto mais perigosa, mais a pessoa vai esconder informações negativas sobre seu passado e seu caráter; chegando, às vezes, a usar nomes ou identidades falsas.

Desconfie de todos, mas se parecer bonzinho demais, desconfie ainda mais!

#2- Cuidado dobrado com falastrões:

[fique esperto com os mentirosos a lá Ben Linus]

Um outro jeito de te manipular para ganhar sua confiança é quando a pessoa fala muito a respeito de si mesma, sempre contando vantagem ou destacando uma certa característica positiva. Ao mesmo tempo que ela pode estar sendo sincera, ela pode estar criando uma teia de autoficção para te enganar, te distrair e te desviar de alguma informação pessoal que ela quer esconder.

#3- Aprenda a se defender e a matar se necessário: não seja nem uma ovelha e nem um lobo, mas um cão de guarda.

[Walter White, da série Breaking Bad. Aprenda a ser durão e parecer perigoso, e então ninguém vai querer se meter contigo. Mas, pelo amor de Deus, nada de traficar metanfetamina!]

Mesmo sendo totalmente vigilante, paranoico e criterioso, você vai estar sujeito a riscos. Infelizmente, a vida é imprevisível e o comportamento humano é mutável. Pessoas que antes eram confiáveis podem te trair. Pessoas pacíficas podem surtar e cometer barbaridades. Nada é como parece, todo cuidado é pouco e nunca é demais se prevenir. Por isso, não pareça uma vítima, não seja uma vítima, APRENDA A SE DEFENDER: usar armas de fogo, lutar com facas, saber artes marciais, imobilização, enfim; tudo o que você puder aprender. Nunca se sabe quando será útil:

O melhor curso de defesa pessoal que conheço, e recomendo, é o Kombato:


Abaixo, algumas páginas com material, informações, análises e conselhos importantes:

#4- Ore ou reze todos os dias.

Ao acordar e antes de sair de casa, reze. Acredite: ajuda muito. (Mas se puder ande de armadura ou carro blindado, ajuda mais ainda).

Texto publicado originalmente no Quora

20/03/22

11 Conselhos Para Jovens Nerds


[Dexter, o pequeno e arrogante gênio.]
                                          
Há poucas coisas realmente importantes na vida. Inteligência é uma delas. Alguém aí duvida que tudo que temos de bom e de valoroso na sociedade (e que todos os bens, físicos ou conceituais,dos quais desfrutamos) são frutos da inteligência e do esforço contínuo dos homens do passado?

Se alguém ainda tem dúvidas, basta olhar ao redor. Celulares, arranha-céus, carros, geladeiras, televisores, lâmpadas, trens… Todos esses bens não vieram do nada, não se construíram sozinhos. O processo de construção de apenas alguns deles, como um computador ou um carro, ou mesmo um simples lápis, é tão complexo e apresenta tantas dificuldades técnicas que causa profunda impressão observar tais artefatos serem construídos aos montes, apesar de toda a dificuldade envolvida na confecção.

A inteligência humana aplicada tem permitido identificar e resolver problemas não apenas em questões de engenharia, mas também na medicina, na psicologia, no direito, na política e em qualquer outra área que você possa imaginar. Além disso, a quantidade de conhecimento acumulado, utilizado e acessível nunca foi tão alta em toda a história humana (o amigo leitor certamente já ouviu falar que vivemos na “Era da Informação”) e nossa civilização é totalmente dependente desses conhecimentos, dessa estrutura informacional.

Sabendo disso, percebendo que a manutenção da nossa frágil civilização e de seus bens depende do conhecimento e da inteligência, era de se esperar que nossas crianças e jovens tivessem sua curiosidade natural (esse elemento formador da inteligência) mais do que estimulada. Era de se esperar que as mentes mais destacadas, os espíritos introspectivos, dados à leitura e à reflexão, ao cálculo, à descoberta e à solução de problemas difíceis, fossem encorajados e incentivados, tidos até como heróis mantenedores da vida, da civilização e do progresso, afinal, se não houver ninguém para guardar, descobrir e utilizar o conhecimento, que será de uma civilização baseada nele?

Infelizmente, porém, o brasileiro está longe, muito longe, de compreender isso. E consequentemente está longe de valorizar e de incentivar a inteligência e a curiosidade dos mais jovens. Por outro lado, os brasileiros são excelentes em incentivar a sexualização precoce e o retardamento infanto-juvenil.

02/02/22

Não Caia na Falácia da Igualdade

diversidade

Existe, no mercado de crenças contemporâneo, a ideia extremamente emburrecedora (muito vendida e muito comprada) de que somos todos iguais. Ela é tão alardeada, propagandeada e massificada que aposto que você, amigo leitor, já se deparou com alguma versão.

Se você é um dos inocentes que comprou essa ideia, estou aqui pra te avisar que fez péssimo negócio: você caiu numa vigarice intelectual. Sim, meu amigo, é triste dizer, mas você foi feito de otário. 

Calma, não fique bravo comigo: meu papel aqui é te alertar, e não posso fazer isso sem ser claro, sem ser realista e sem dizer as coisas tais como elas são. Por favor, caro leitor, não seja tão vaidoso a ponto de só aceitar a verdade quando ela vem recheada de eufemismos ou quando ela só favorece o que você acredita. 

Compreendo que isso pode ser difícil numa era em que o politicamente correto ameaça dominar a linguagem, mas garanto que ser autocrítico e realista lhe trará maturidade. Honrado e nobre é o ser humano que, ao identificar um tirano filho da puta, alerta seus companheiros declarando alto e em bom som: “Eis aqui um tirano filho da puta”. Por outro lado, vil e imperdoável deve ser aquele que mascara a linguagem para transformar assassinos em santos. 

Dito isso, podemos voltar ao tema central.

Já vou explicar o por que você foi enganado. Mas, para isso, lhe darei algumas pequenas tarefas. Nada que doa, eu prometo. Só preciso que você reflita um pouquinho.

Pense por alguns minutos na pessoa mais inteligente que você já conheceu. Pensou? Ok, muito bem. Agora pense na mais burra, na mais ignorante, na mais tola. Notou alguma diferença fundamental?

Pense agora, por alguns minutos, na Madre Tereza de Calcutá. Pense em Chico Xavier, em Jesus Cristo, em Mahatma Gandhi, em Martin Luther King ou simplesmente na pessoa mais sábia que você já conheceu. Agora pense em Hitler, em Charles Manson, em Calígula, no Maníaco do Parque ou simplesmente na pessoa mais cruel e depravada que você já conheceu. Percebeu alguma diferença?

Sem dúvidas, todas essas pessoas tinham algo em comum. Todas elas tinham uma estrutura biológica similar, a estrutura biológica dos humanos. Isso só significa, contudo, que elas tinham coisas em comum, não significa que eram iguais. Ao pensar nelas e compará-las, você provavelmente percebeu que elas não eram psicologicamente iguais. Em outras palavras, você percebeu que elas não pensavam e não agiam da mesma forma. 

Os seres humanos, quando comparados, possuem coisas em comum e também discrepâncias. É justamente por conta das discrepâncias, características individuais, exclusivas, que as pessoas não podem são exatamente iguais. O que torna cada ser humano único é o fato de que ninguém possui as mesmas particularidades. É aquela coisa de existir características em você que só existem em você. Aquela coisa da sua digital ser única: a isso chamamos individualidade 

Note que é crucial aqui entender o significado da palavra “igual”. Um ente “igual” a outro é um ente cuja constituição total é a mesma que a de outro ente. Agua é igual a H20. Cachorro é igual a Cão. Na boa e velha linguagem da lógica, o princípio da igualdade é formulado como A=A.

 Ocorre que seres humanos são constituídos por elementos comuns, como a estrutura fisiológica, mas também por elementos individuais, exclusivos, como a constituição psicológica de cada um. Ou seja: seres humanos não possuem exatamente a mesma constituição total. É por isso que eu sou eu, você é você e ele é ele. Se fossemos literalmente iguais, esses pronomes nem fariam sentido.Resumindo: temos coisas em comum, mas como temos características exclusivas, não somos iguais.

Acreditar que somos iguais é, portanto, negar a realidade. E a consequência dessa negação é muito perigosa, pois não estabelece a devida distinção. Tal negação coloca os maus no mesmo nível em que os bons, os virtuosos no mesmo nível em que os depravados, os honestos no mesmo nível em que os mentirosos. Tal negação equivale a não diferenciar um tigre de um gatinho.

 Equivale a dizer que Hitler e Jesus eram iguais. Pior: equivale a dizer que você é essencialmente igual ao que foi Hitler. Dizer que todo mundo é igual favorece os piores membros da espécie e praticamente anula a grandeza e o esforço dos melhores.

Por isso, não caia mais nessa, meu amigo.

 Aprenda a diferenciar as coisas — e os homens — segundo suas qualidades e atributos. Afinal, é para isso que serve sua inteligência.

12/01/22

Estoicismo e Política

 

Busco de Marco Aurélio, o Imperador Estóico

Se há um juízo que considero verdadeiro é a noção de que, neste mundo em que vivemos, TODAS as coisas boas - o amor, a amizade, a lei, a honra, a honestidade, a justiça, a moral, etc - são extremamente frágeis e demandam de nós um esforço colossal para serem mantidas sem perderem a essência.

A lei da tendência à entropia parece não se aplicar apenas a  sistemas físicos, mas também à realidade ontológica das relações e construções humanas: tudo que é bom é fácil de ser perdido, roubado, arruinado. O  mal, por sua vez, nos é dado naturalmente - não é a barbárie o estado natural do "sapiens-sapiens"?
 
É aí que reside, penso, a grande força do pensamento conservador. A ideia de pecado, de tendência natural ao erro, de desconfiança da capacidade humana, torna-se um complemento essencial ao liberalismo iluminista. Pode-se dizer que o conservador será sempre mais realista que o liberal, enquanto o liberal será sempre mais realista que o socialista.

Diante das loucuras e incongruências humanas o socialista irá se deprimir e propor 'um outro socialismo' e 'um outro homem', o liberal vacilará em sua crença no progresso e na ciência, já o conservador, estóico, se limitará a dizer o seu ponderado  "eu avisei".



***


Nota do editor: o comentário acima  foi escrito em 2015 e originalmente publicado no Faceboook.

24/12/21

Como Lidar Com Cristãos Irracionais e Dogmáticos - Um Guia Para Pessoas Pacíficas

Ateus, agnósticos, céticos, religiosos democráticos, místicos, estudantes de filosofia, livres pensadores… Enfim, quem quer que seja razoavelmente democrático, racional e já tenha tido a experiência de lidar com um cristão dogmático e fundamentalista sabe que não é a mesma coisa que lidar com uma pessoa em seu pleno juízo.

Quanto mais você alega que o religioso está louco, mais ele dá glórias à Deus; quanto mais se diz que algumas passagens da Bíblia são absurdas e até desumanas e criminosas, mas o crente afirma que a palavra de Deus é “mistério”. E assim o debatedor racional sai completamente frustrado e sem saber argumentar contra alguém que não aceita argumentos.
 

O fato é que é preciso toda uma malícia especial para lidar com os crentes fundamentalistas. Tendo eu tido a oportunidade de desenvolver tal malícia (sou agnóstico e convivo com pessoas desse tipo desde muito tempo), pensei ser interessante expor alguns métodos simples que aprendi ou desenvolvi, na esperança de que possam ser úteis a outros.

Se for possível ficar longe de cristãos dogmáticos, fique. Se não for, use as dicas.
 
1. Regra de ouro: mantenha o bico calado sobre religião.

O modo como você pensa sobre religião só diz respeito a você. Ninguém que seja dogmático irá respeitar ou sequer analisar seus pontos de vista. Se quer falar ou debater sobre esse assunto, seja sensato: procure alguém com mente aberta.

crente chatinho

 

Nunca caia no erro de conversar sobre religião com um cristão irracional e dogmático; porque, caso você demonstre interesse sobre o tema, o religioso provavelmente verá uma deixa para explanar o próprio ponto de vista — dogmático e não racional — a respeito, ou pior, poderá ainda tentar lhe converter.

Obs: essa dica deve ser aplicada nos “conhecidos” com quem se tem pouca intimidade, mas também funciona para pregadores chatos. Tudo que eles querem é alguém com quem falar, então não dê corda.
 

2 . Resista e Manipule

Considere que estamos no Brasil e que aqui há fortes credos católicos, protestantes e neopentecostais. Assim sendo, é muito provável que uma hora ou outra, em alguma situação, você acabe tendo de ouvir o discurso de um religioso dogmático.
 

crente chato do caralho

Em vista disso, caso você seja um sujeito polido e pacífico, treine seus ouvidos e sua mente para ficar impassível ante as maiores incongruências e bizarrices nonsense que o religioso dogmático irá proferir (recomendo fazer isso lendo a Bíblia com frequência,vendo vídeos do Olavo de Carvalho ou ouvindo testemunhos como este aqui).

 Se acabarem as desculpas para sair de perto da pessoa, saiba mudar de assunto sem que ela perceba (de preferência emendando algum tema que a ela goste e fazendo praticamente uma entrevista sobre ele).
 

Para os mais ousados, vale a pena treinar a hipocrisia social a ponto de poder esboçar um sorriso cordial ao mesmo tempo em que sente sua capacidade crítica ser ofendida e observa a lógica e a sanidade serem grotescamente violentadas, as duas ao mesmo tempo.

Invista na falsidade e manipulação, elas são indispensáveis nos relacionamentos sociais com pessoas imaturas (ou seja, quase todos os brasileiros, em especial os crentes). As pessoas preferem as mentiras reconfortantes mais absurdas do que qualquer verdadezinha que lhes fira o ego e a sensibilidade.
 
Portanto, utilize isso a seu favor: aprenda a fingir que não se importa em orar. Aprenda a orar como se acreditasse na oração. Aprenda a dizer “ore por mim” e a dizer “amém”.

Guarde sua honestidade para quem possui maturidade e inteligência para aceitá-la. Quando se trata do cristão dogmático, vale o dito bíblico de não jogar pérolas aos porcos.

Obs: essa dica deve ser aplicada em pessoas legais mas terrivelmente crentes, com as quais você não gostaria de discutir. Eu sempre a utilizo para parentes queridos e pessoas religiosas e dogmáticas que me tratam muito bem.
 

3. Se for para contrapor, faça-o com exigências intelectuais e sarcasmo brutal

 Ainda assim, nem sempre será possível fazer vista grossa, manter a boca fechada ou mudar o tema do assunto. Dependendo da postura, da burrice, do fanatismo e da intolerância do religioso com o qual você estiver lidando, ficar calado será praticamente impossível.

sarcasmo.gif

 
Nesse contexto, as pessoas polidas e de tendências pacíficas devem apenas mencionar que discordam, sendo tão enfáticas em sua posição quanto a pessoa religiosa for na sua. Talvez seja preciso dizer ao religioso que você não acredita no mesmo que ele, ou mesmo que acha que ele está errado. Evite, pois o dogmático irá crer que você precisa de salvação, de toda burrice que ele pode oferecer e de outras coisas mais (talvez ele até pense que você está com o demônio no corpo ou que está sendo usado pelo tinhoso).

 

cristianismo pagao

O melhor a fazer é mostrar que você entende mais de Bíblia do que ele: diga que ele não entendeu a bíblia, e que ela é um livro histórico e cultural. Conte a ele sobre a alegoria da caverna de Platão e diga que ele está aprisionado. Questione-o se ele sabe como a bíblia foi composta, fale sobre os conselhos ecumênicos, os textos apócrifos e as diversas interpretações divergentes do credo ortodoxo.

Fale sobre as centenas de fracionamentos do protestantismo. Se possível, mencione o livro Cristianismo Pagão, de Frank Viola. Evite as falácias usadas no documentário Zeitgeist, grande parte daquilo é mentira. Diga que a melhor interpretação teológica do apocalipse é a de que ele já aconteceu.
 

Monopolize o discurso. Mostre as incoerências e contradições Bíblicas. Afirme categoricamente que a evolução é um fato e exemplifique com termos técnicos da biologia evolucionista (se você, como eu, não entende muito de biologia evolucionista, comece pesquisando as referências deste texto aqui, ou apenas reproduza o que ele diz). Quando o religioso se opor, continue no mesmo ritmo frenético com bombardeio de informações contrastantes. Ele te achará perigoso e provavelmente se afastará.

 Obs: essa dica você vai saber em quem aplicar.
 

4. Mude de estratégia.

 Caso nada disso funcione, é melhor você começar a ser belicoso ou debochado e provocativo.





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Nota do editor: o texto acima foi escrito em 2017 e originalmente publicado no Medium