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14/02/24

Academia Individual do Esforço Intelectual e Literário




Na sua condição de criatura pensante, o filósofo  questiona até mesmo a natureza de seu ofício. Que é a filosofia e o que é o filosofar? Por que fazer tantas perguntas, desfilar tantas ideias e passar a vida investigando problemas talvez insolucionáveis? Refletindo a respeito ele percebe que, como tudo em filosofia, não existe apenas uma resposta possível.


A mesmíssima conclusão acomete os escritores que se indagam na tentativa de compreender suas motivações. E eu, escrevendo aqui no blog, não escapo desse comum destino do filósofo e do escritor. Assim, ponho-me a questionar o porquê escrevo.


Penso que é preciso, tanto para mim quanto para o meu leitor, que  as ideias na cabeça e as coisas no mundo fiquem claras. Busco organização e clareza. Não terá sido esse, desde sempre, o meu objetivo ao escrever? Quis sempre organizar meus pensamentos, sentimentos, experiências e entendimentos. Tudo nomear, classificar, empacotar, analisar e guardar para consulta e revisão futura. Demandava conhecer, ponderar, e a partir disso, orientar-me.


Isso dito, devo, agora, voltar-me ao passado. Devo, num esforço de auto-compreensão, recordar meus primeiros sentimentos na feitura dos primeiros textos dotados de ambição. Esse exercício há de me revelar detalhes. Daí a pergunta: qual era, aos treze anos, ao escrever o primeiro registro na primeira agenda, a minha ambição?


Sei bem a resposta. Eu queria memória. O que havia de específico naquele tempo, na minha vivência individual, no meu mundinho de adolescente letrado, eu queria fixar. Tencionava uma fotografia dos meus estados interiores, eu queria descrever, dar a conhecer, trazer luz ao que ao mundo era oculto. Era a ânsia do testemunho, a necessidade de contar minha história, com os atos e angústias dos quais era eu a única testemunha. 


Mas... Por quê? Donde é que me vinha essa ambição do testemunho? Qual era sua origem externa? Lembro de algumas influências.  Um homem interessante que escrevia reflexões em seu diário, e que vi num filme épico - O Último Samurai. Alguns livros infanto-juvenis da coleção Vaga-Lume, por terem histórias protagonizadas por adolescentes, como O Mistério do Cinco Estrelas e A Serra dos Dois Meninos. Os quadrinhos do Homem Aranha, onde eram mostrados os pensamentos, a voz interior do personagem. E o evento decisivo; que foi ler, na casa de um bom amigo, um trecho de seu diário (na verdade uma agenda), mostrado por ele com a casualidade de quem mostra um novo relógio ou uma fita de video-game. Esse amigo chamava-se Tiago e foi também ele quem me  apresentou a estética e o Rock do Guns N' Roses, além de outras referências culturais que, em meu meio neopentecostal, eu não tinha acesso. 


Foi pela soma dessas primeiras influências que pesou sobre mim uma intuição histórica: a necessidade de registrar e recordar. Registrar para recordar. Reflexões e memórias anotadas, lidas e relidas, eis a matéria prima da consciência. Eis o motivo pelo qual sei hoje sobre mim o que não vejo os outros saberem sobre si mesmos.  Com o tempo, Tiago abandonou seu diário. Eu continuei o meu. Continuo ainda hoje, e, até morrer, ou ser impedido, continuarei.


Feita essa retrospectiva, eu já consigo distinguir, com mais clareza, algumas causas do meu escrever. É certo que havia em mim tanto a sensibilidade quanto a vocação do memorialista. Sendo esse o gênero no qual, até hoje, a maior parte da minha literatura foi escrita. Gênero eminentemente doméstico, privado, familiar, e que só se torna célebre quando é também célebre o seu autor. 


No curso da vida o meu conhecimento literário foi crescendo e eu passei a apreciar, e as vezes cortejar, outros gêneros. O artigo, a crônica, o prefácio, o manual, o manifesto, o ensaio, o conto, a novela, o romance, a confissão, a análise crítica, o obituário, a poesia, a resenha crítica, o texto filosófico, a carta, o e-mail literário, o texto humorístico, a sátira, a polêmica, a retórica, a elaboração fina e sarcástica em redes sociais, o diálogo, as respostas em sites de perguntas, os relatos de internet, os bilhetes suicidas, a trollagem; as confissões, piadas, reflexões e relatos emocionados dos comentários dos vídeos de músicas antigas no Youtube; os roteiros de cinema e quadrinhos, as notas soltas; e, finalmente, o texto de blog, que é o mais contemporâneo, o mais completo, o que comporta todos os outros, mas o que em status é talvez o menor gênero, o menos prestigiado, sendo a um só tempo o mais acessível e o mais inacessível de todos.


Direi que esses gêneros, por mais diversos que pareçam entre si,  pertencem todos  a um mesmo grupo, um macrogênero que chamo de "o vasto conjunto das ideias interessantes que podem ser  transmitidas textualmente com beleza e charme". E como escrevinhador eu entendo que, por aqui, é nesse macrogênero que devo atuar.


O que quero aqui, no blog, é clarear as ideias, desenvolver e registrar os meus raciocínios sobre os meus temas de interesse. Não, não é verdade, eu quero mais. Preciso pôr aqui o meu pensamento primário, e depois, relendo-o, revisá-lo e apará-lo. Devo plantar aqui reflexões como quem planta arbustos e depois, carinhoso, faz a poda. É isso. Quero aqui não só os primeiros pensamentos, mas as revisões e reanálises. Quero, em suma, fazer da minha selva mental um belo jardim frutífero, único e singular, extirpando sempre as ervas daninhas. Quero dizer o que só eu posso dizer, numa minha linguagem própria e precisa; bela, porque simples.


É com essa pretensão que escrevo neste blog, e não com outra. Se algum bem eu posso fazer aqui, este bem é, primeiramente, em prol do meu pensamento e do meu progresso enquanto escritor. Lutar pelo encontro da própria voz, lutar pela descoberta dos próprios valores e conhecimentos fundamentais, e lutar pela  melhor expressão das próprias ideias. São essas as três grandes batalhas do escritor.


Devo pensar neste blog como o espaço público, embora discreto, de uma minha Academia Individual do Esforço Intelectual e Literário. Entidade essa que é a soma dos meus esforços, públicos e privados, nesse âmbito. Nela treino e fortaleço meus músculos da mente, do raciocínio e do estilo para avançar nas batalhas que o mundo literário e intelectual me impõe.

10/02/24

O Blogueiro Extemporâneo




Acho fascinante dispor do blogger numa era em que essa opção já não é tão popular entre os internautas. Com essa atitude eu ingresso na galeria dos blogueiros extemporâneos - os que usaram antes de ser moda e os que ainda usam depois da moda. Antevendo a pergunta: por que você ainda escreve no blogger? Deixo registrada, aqui, a minha resposta.

Faço-o porque traz consequências curiosas e interessantes. Começo explicando que, em relação aos leitores, a relativa invisibilidade do blogger no Google me blinda dos olhares indiscretos de uma multidão de internautas analfabetos culturais; muitos deles proselitistas ideológicos (à esquerda e à direita), com parca ou nenhuma formação filosófica, pouco acostumados à discordância esportiva, pesquisa, leitura, crítica racional e argumentação inteligente. A discrição protege-me também da geração floco de neve, para a qual toda conduta avessa ao sentimentalismo tóxico progressista é um venenoso fruto da árvore de algum ismo. Esses, formados quase integralmente por mocinhos e mocinhas histéricas, teriam verdadeiros ataques epilépticos ao constatarem minhas opiniões sociais e políticas. Excluída - ou minimizada - a possibilidade de visitação desses tipos, minha preocupação quanto a possíveis reações debilóides ao meu conteúdo já decai um bocado. As piores coisas para o escritor são a auto-censura e a crítica leviana.  

Ou seja: gosto da liberdade que o blogger me traz, da paz que tenho aqui. Paz: bem precioso que eu jamais teria em antros de caos e perdição, verdadeiras selvas de gritaria, como Facebook, Twitter ou Instagram. Ainda sobre os leitores: descobri que prefiro atrair gente da minha convivência ou quase – parentes, leitores antigos, amigos e amigos de amigos. Ao menos esses, quando não são cultos, demonstram interesse na elevação cultural. Buscam compreender antes de julgar.  Atrair essa gente foi um dos propósitos originais deste Notas de Um Blogueiro Em Crise (NdBC).  

Há pouco mais de três anos, em conversas, eu às vezes revelava que escrevia. Surpresas, as pessoas me perguntavam sobre o quê e onde. Para responder essas duas perguntinhas simples eu me enrolava todo. Havia escrito sobre vários temas, em gêneros distintos, e minha produção estava fragmentada em dezenas de postagens no Quora, Facebook, Medium e em blogs minúsculos no Wordpress e no Blogger. Eu não sabia nem quais eram os temas ou os gêneros que praticava com maior frequência. Por isso tomei vergonha na cara e decidi pegar todo texto que eu achasse relevante, ou divertido, e pôr num lugar só, um blogzinho, simples, minimalista, com tudo bem organizado por tags. Assim nasceu o NdBC.

E agora, quem diria, estou no quarto ano de blog. Ostentando um bocado de textos devidamente alocados e catalogados (130 textos, incluindo este). Há ainda alguns por incluir, creio que algo entre dez e quinze, porém só o farei depois de severa edição. Na transferência dos meus textos para cá eu fiz três curiosas descobertas: (1) como nos incomodam alguns dos nossos textos do passado!;(2) como cometemos plágio involuntário!; e (3) como mudam as nossas ideias! Muitos dos textos postados em outras redes, que eu achei que viriam para cá, acabaram se mostrando datados, levianos ou de inteligibilidade restrita ao ambiente original. Com isso surgiu a vontade de escrever textos inéditos para o blog, o que fiz em algumas ocasiões, geralmente na forma de crônicas, notinhas e até poemas. Tive, é verdade, vontade de escrever artigos mais elaborados, mas não consegui porque optei em focar na edição e organização dos meus diários, material que a cada ano se avoluma.

Não decidi ainda qual será a tônica do NdBC neste ano.  Sei que não tenho ânimo para falar de política e filosofia política aqui, porque é o assunto mais deprimente e é um dos mais exigentes (eu não conseguiria escrever sem ilustrar o discurso com referências, o que tornaria a produção mais demorada). Sem contar que política é o tema que mais atrai problema. Melhor evitar, como sabiamente tenho feito. 

Dos meus temas de estudo e interesse, brasilidade e violência são dois que talvez mereçam comentários. Indicações e comentários tematizando a vida intelectual e literária devem aparecer, assim como notinhas sobre livros, eventuais poesias e crônicas. Pensei em pôr aqui a correspondência que tive com amigos intelectualizados na juventude, o que houver de interessante para publicar, como exemplo a ser seguido aos meus leitores mais jovens. É uma possibilidade..

Listas de música, as famosas playlists, e dicas de música, devo publicar aqui também? Dicas de blogs, comentários sobre internet, tecnologia e blogosfera devem aparecer. E talvez eu entreviste alguns intelectuais, blogueiros, escritores e artistas, amigos ou não. Pensei em voltar a desenhar, e poderia publicar aqui os desenhos. Pensei também em traduzir alguns artigos interessantes em inglês. Eu poderia falar sobre quadrinhos,  cultura pop e sobre programas antigos de TV. Ou poderia falar de magia, tarôt, astrologia, parapsicologia, hipnose e outras heterodoxias, embora o melhor seja nunca falar sobre essas coisas à luz do dia e sóbrio, afinal, podem desconfiar – ou descobrir – que eu sou doido.

Bem, sem respostas precisas agora, vejamos o que o tempo e o capricho do autor trará ao blog. Que reine a liberdade. 

02/05/22

Aniversário: Um Ano Do Notas de Um Blogueiro Em Crise


Na última quinta feira, dia 27 de Abril de 2022 do calendário gregoriano - quatro dias atrás, portanto -  este meu pequeno e isolado blog atingiu a marca de um ano de atividade; o que significa um ano compartilhando textos com regularidade (em regra, semanalmente). Sei que nada demais fiz por aqui, mas isso não me impede de ficar alegre com tão singela conquista - que mostra algum esforço meu na busca de disciplina e constância literária.

Por conveniência, desde o início, andei lendo alguns  blogs e reflexões sobre blogs. Terei aprendido alguma coisa? Vejamos: com certeza aprendi, horrorizado, o quão decaída está a posição da blogosfera amadora nos resultados de busca do Google. A abundância de sites e blogs comerciais movidos a SEO e tráfego pago - que pipocaram a partir de 2015 com a explosão do mercado de marketing digital - fez despencar a relevância do blogspot no Google. Assim tem sido com os atuais algoritmos do maior buscador da web. Felizmente, no Duckduckgo, um buscador alternativo famoso, os blogs blogspot ainda aparecem.

A maioria das pessoas ainda usa o Google para pesquisa, então o potencial desses blogs  de atrair novos leitores despencou muito - falo aqui dos blogs feitos no plano gratuito, sem SEO sofisticado e sem tráfego pago. A queda desmotivou aqueles que por paixão mantinham seu blogzinho amador e através do Google recebiam estimulantes dúzias de novos visitantes ao mês. Coisa que levou muitos blogueiros a divulgar seus blogs em grupos e páginas no Facebook (quando valia a pena) e perfis no Instagram, procurando resgatar as antigas e saudosas médias de visualizações dos tempos áureos.

Como a situação só foi piorando, continuaram ativos em planos gratuitos no blogspot apenas os que não ligavam para visualizações ou aqueles cujos blogs já eram grandes e já recebiam muitas visualizações - fosse por causa de posts muito relevantes, parcerias com outros blogs, oferta de serviço útil (download), público fiel e engajado ou uma mistura de todos esses elementos. 

Apesar de alguns bons e velhos blogs ainda continuam ativos, o certo é que foi-se o tempo em que o blogger (em sua versão gratuita) tinha relevância pública. Quando comecei este projeto, eu até fazia alguma ideia disso, no entanto, a coisa foi ficando muito mais clara ao longo do tempo. Hoje em dia, para o iniciante que quer ter um blog público na internet, o melhor é experimentar alternativas como Wordpress, Medium, Quora, Amino, algum site colaborativo como a Obvious, ou até, quem sabe, uma página do Facebook.

Descobri também que os bons fóruns de discussão, muito comuns na web2.0, não andam bem das pernas. Além do já finado Fórum Anti Nova Ordem Mundial, que era um dos lugares mais estranhamente divertidos e malucos da internet em português, fechou também o Fórum Realidade, que era um dos fóruns interessantes; tão interessante que o Manuel Dória (um dos sujeitos mais inteligentes que eu conheci na internet) e o Hugo Motta (que é o meu amigo mais erudito) conheceram-se por lá. O A.R.R.A.F, que é o que restou do F.A.R.R.A, é agora um morto-vivo, mas, pelo caminhar, em algum tempo tornará-se um morto-morto. Curiosamente, mantém-se frequentado o Fórum do Búfalo, mas pra esse eu já não tenho paciência: é muito chororô e ressentimento de homem chifrado.

Legal mesmo foi ver que  vários blogs de plano gratuito no blogger- alguns de downloads de scans, outros de álbuns de música e outros literários - continuam muito ativos, sendo que alguns blogueiros e blogueiras vêm mantendo atividade em seus blogs por um período de dez anos, alguns mais! Isso é incrível e muito inspirador: dá até vontade de escrever um pouco sobre esses blogs e esses blogueiros. Farei isso algum dia. Hoje vou ficando por aqui, pois é tarde e já sinto sono.

Vai-se um ano de blog, começa outro.  

O projeto não se altera: continuarei trazendo pra cá meus melhores textos publicados em locais diversos da web e continuarei focando em produzir crônicas. Mesmo assim, alguma novidade pode surgir, talvez uma resenha ou entrevista, talvez mais downloads. Será? Vai depender da minha organização. 

Sigamos e vejamos no que vai dar...

14/03/22

Pirataria Digital: Tô Dentro!

 


Brasileiro pobre, nascido nos anárquicos anos 90 e formado internauta na gloriosa web 2.0, a pirataria e o compartilhamento virtual estão entranhados no modo como encaro a internet. Para mim, sem compartilhamento a internet não é internet, até porque ela nasceu para isso...

Carrego a nostalgia pelo tempo áureo dos blogs, onde era possível compartilhar de quase tudo - e impunemente. Hoje em dia não é mais assim, de dez anos pra cá o compartilhamento, embora ainda não seja crime, em muitos casos revelou-se problemático... De qualquer modo, problemático ou não, é a tradição a qual me filio; e sendo como sou, pirata inveterado, jamais poderia tocar um blog pessoal sem essa atividade. 

Por isso decidi compartilhar aqui quadrinhos, filmes e o que mais der na telha. Com sorte, não terei problemas. Felizmente, costumo ser um homem de sorte. Pois vejamos...

27/02/22

Passado, Presente e Futuro deste Blog

 


Quando comecei este blog eu queria duas coisas. A primeira era fugir do Facebook; fugir da dinâmica dos debates perpétuos, pois desanimava-me a ideia de ter que justificar uma opinião logo depois de publicizá-la. Tenho pouca fé no debate racional e nenhuma vontade de convencer as pessoas -  ainda mais quando sei que estou certo e melhor informado.

O segundo objetivo era criar uma área de produção literária  pública e livre, mas descompromissada, ou apenas compromissada com minha dispersão cultural. Uma área para escrever sobre o que eu quisesse, com o texto que eu quisesse, do tamanho que eu quisesse, mas inicialmente orientada para crônicas e textos em formatos mais fáceis, do tipo que caberia bem num blog, coluna de jornal ou newsletter pessoal. Isso porque eu já havia constatado minha inclinação para a crônica e, coerente, desejava um meio adequado para fomentar minha produção.

Depois eu julguei que seria boa ideia aglutinar aqui meus textos espalhados em blogzinhos, redes sociais e cantos diversos da internet, fazendo desta página não apenas um blog pessoal, mas também um repositório dos textos interessantes que escrevi e publiquei online desde 2012, ano em que pela primeira vez um texto meu foi publicado em um blog (projeto feito com amigos literatos mas que acabou incipiente). Publicando os textos aqui eu posso editá-los e catalogá-los, assim ganho maior clareza sobre as temáticas e os estilos que marcaram minha produção literária até agora. O ritmo de publicação tem sido o de um texto por semana, a frequência mais fácil para manter uma rotina literária básica. 

Escrever é fundamental para minha saúde e organização mental. Não que eu seja muito são escrevendo, mas, sem escrever, eu provavelmente enlouqueceria. Há, portanto, uma orientação terapêutica neste meu vício, e o lado bom é que posso recorrer a ela sempre que um leitor mais culto e refinado praguejar contra a má qualidade de minha prosa. Acusado de mau escritor, escuso-me dizendo que não escrevo por talento, mas por necessidade. Conto sempre com a complacência do leitor.

Mas escrevo e, escrevendo, sinto também alguma ambição. O problema é que conforme a literatura perde prestígio e lugar na cultura, sendo a cada dia mais substituída pela vídeomania, meu pouco interesse em produzir alguma forma mais elaborada de literatura vai pelo ralo, e as ideias que tenho para contos  e ensaios já sofrem com o mofo resultante da pouca exposição ao sol. 

Além disso, minha vida está uma bagunça. Escrever exige recursos: concentração, livros para consultar e ambiente adequado. O meu perene desemprego me impede de comprar os livros e de dedicar-me a estudá-los. As contas e as mesquinharias burocráticas do quotidiano acabam se impondo, então, até que eu resolva essas questões mais práticas da vida, atuarei na crônica e em formatos mais leves, o que, aliás, já venho fazendo. É pouco, mas é melhor que nada, e ao menos me impedirá de enlouquecer.

07/02/22

O Texto, a Divulgação e a Polêmica da Piriquita



Embora desprovido de grandes pretensões literárias e consciente de minhas limitações nessa arte, creio que - mesmo sendo blogueiro e cronista de menor categoria -, mereço ser lido pelos leitores de crônicas e blogs; especialmente pelos leitores de crônicas e blogs de menor categoria, e mais especialmente ainda pela parcela que sofre de masoquismo literário e desprezo pelos gramáticos. Em minha autoindulgência chego até a considerar que posso, em alguma ocasião, ter escrito algum texto interessante ou provocativo, digno de um público maior.

No entanto, uma dificuldade persiste. Onde publicizar um texto quando você é apenas um blogueiro desconhecido e escritor amador? Como conseguir leitores que tenham interesse no que você tem a dizer? São questões que frequentemente me afligem.

Eis uma verdade universal que todo escritor digital deve saber: para quem quer leitores, não basta escrever; divulgar é tão importante quanto. É nesse aspecto - o da publicidade - onde muitos blogueiros falham, inclusive o autor destas linhas. Encontrar o público de certos textos pode dar trabalho, é preciso uma disposição que nem sempre me anima. Sou cronista preguiçoso, reconheço.

Além disso, há vantagem na obscuridade: ela nos protege da crítica indevida. A desvantagem é que protege-nos também da crítica pertinente. Ter o texto exposto e criticado pode servir - e geralmente serve - para amadurecer o entendimento do escritor sobre o próprio texto e as reações que ele suscitou. Outra parte interessante da exposição textual na internet é a oportunidade de interagir com os leitores. Digo: interagir com os bons leitores, aqueles que compreendem o texto e têm alguma contribuição cultural ou argumentativa a fornecer. Quanto aos maus leitores: o jeito é ignorá-los.

Trarei a seguir um bom exemplo prático de como a divulgação pode trazer resultados interessantes. Mas antes devo confessar, meus caros, que apesar ter iniciado este blog com o objetivo de abandonar o Facebook, eu continuo escrevendo, ocasionalmente, na rede social do Zuckerberg. E foi surfando por lá que, outro dia, em reação à postagem de uma amiga que compartilhou a "Piriquita" - refiro-me a inusitada e recente música de Juliana Bonde - escrevi um comentário longo (para os padrões do Facebook) a respeito da manifestação do Kitsch em tão peculiar canção. No comentário eu explicava o processo de decadência que sofreu a canção "Tédio", da banda Biquini Cavadão, até virar a estrambótica e terrivelmente bem humorada versão do Bonde do Forró.

Sujeito de tendências misantrópicas, tenho poucos amigos no Facebook - cerca de 168. Desses, há um pequeno grupo, que varia entre 10 e 15 pessoas, com quem interajo de modo recorrente. Formam o seleto grupo de insensatos que lêem as bobagens que escrevo por lá. Como são leitores qualificados e que sempre acrescentam, não tenho do que reclamar. No entanto, desta vez, como fiz comentário de um evento atual, coisa que evito, fiquei curioso para saber como outros leitores reagiriam ao texto, já que o assunto está muito falado no Twitter e em outras redes sociais.

De início, achei que era boa ideia publicá-lo em meu perfil no Medium, já que faz tempo que não publico por lá. Faria bem um texto novo, pra variar. Foi o que eu fiz. Porém, logo em seguida, lembrei-me que o ritmo de interação no Medium é mais lento, e que lá não é a melhor plataforma para explorar as polêmicas da semana. Então percebi que para que o texto fosse lido por mais leitores, eu deveria divulgar o link do texto do Medium em grupos do Facebook. Felizmente, por sorte, faço parte de alguns grupos de música cujos membros são muito engajados em debates e polêmicas. Divulguei o texto num desses grupos e o resultado foi melhor do que eu esperava. Os recortes das métricas confirmam:

Recorte 1) O alcance e as reações do seleto público do meu perfil principal no Facebook.



Recorte 2) O alcance e as reações à divulgação do texto no grupo "Psicodelia Brasileira"



Recorte 3) Em um dia e meio, as estatísticas de visualização do texto no Medium subiram de 0 para 213.


Recorte 4) Comparando com os textos não divulgados, e que estão no Medium há muito mais tempo, a diferença nas estatísticas é abissal.


Tal experiência prática, além de confirmar a importância da divulgação, me fez pensar um bocado. Então, veja você, escritor iniciante, cronista, ou blogueiro, o como é possível e fácil ampliar o público de seus textos. Depois de escrever, basta a estratégia correta para divulgar. E depois é encarar as reações, boas e ruins.

No meu caso, entre as várias reações ao texto, este comentário, presente num debate cheio de farpas entre este autor e um leitor inteligente, foi difícil de ler, pois demasiado verdadeiro. Doeu-me o coração sensível.


Já este outro, eu adorei, por ser mais verdadeiro que o anterior e ser expresso por uma bela mulher, o que é ainda melhor.


29/11/21

Blogueiro: O Cronista da Cultura Esquecida


Assistiu, leu, ouviu? Registre, blogueiro, registre!

Acrescentei a este blog o recurso de exibir os assuntos em tags por frequência. Feito isso, descobri que até agora (depois de 6 postagens) o tema sobre o qual eu mais falei foram blogs. Um blog falando sobre blogs e sobre pessoas que escrevem blogs - que recursivo, não? 

Felizmente criei este site para publicar nele o que eu quiser, e como é um blog sem leitores, ou de leitor único, tem a rechonchuda felicidade de ser um blog acima de críticas. Em verdade, confesso ao meu público inexistente: gosto do que estou fazendo aqui. É simples, é econômico e me impele a escrever. 

Há, para escritores iniciantes, várias vantagens em ter um blog, a principal delas talvez seja a efetivação de uma rotina, de uma regularidade no ofício. Outra coisa muito legal e interessante é que não importa o quão descompromissado possa ser um blog, se ele fala a respeito de algo (um produto cultural, uma notícia, um evento) que as mídias maiores não falam, então ele se torna uma fonte alternativa, uma mídia alternativa. Desse ponto de vista os blogs nada mais são que os fanzines da era digital.

Apenas para exemplificar, citarei dois exemplos de blogs descompromissados e em estilo antigo, amador, que me trouxeram informações sobre assuntos culturais não tratados em mídias maiores. 

O primeiro deles foi o divertido e meio monótono meuqiabaixodezero.blogspot.com, que é divertido por ser um daqueles blogs "nerds" que compilam informações sobre desenhos, séries e músicas dos anos 80, 90 e início dos 2000, e que é meio monótono porque em todas as postagens a autora começa com a mesma frase: "pois é, minha gente..."

Foi nele que encontrei informações sobre um desenho antigo chamado "Creepy Crawlers", que aqui no Brasil foi batizado como "Os Monstruosos". E foi fuxicando esse blog  que encontrei a indicação de uma banda divertida e pouco conhecida, chamada Jumbo Elektro.

Já recentemente, depois de ouvir esta divertida paródia (que é ainda mais divertida para quem já morou ou visitou Sepetiba):



Como eu dizia: depois de ouvir a paródia, indicada pelo meu queridíssimo irmão, eu quis saber quem eram os autores. Lá fui eu pesquisar no Google, e, para minha surpresa, cai num bloguezinho descompromissado de um amante de rock contando sobre sua experiência de ouvir um álbum da tal "Didi Subiu No Cristo", a obscura banda autora do Sepetiba Dreams.

Nos dois casos, os blogs, notavelmente despretensiosos, documentaram fenômenos culturais que não chamaram a atenção da mídia maior, mas que nem por isso deixam de ser interessantes ou relevantes para certos públicos. 

E assim o blogueiro cultural, esse personagem menor das Letras e do Web-Jornalismo, se afirma como um cronista da cultura esquecida. Nós lembramos daquilo que os outros esquecem. 

Eu gosto, e quem acha que cultura e informação nunca é demais, agradece.


19/11/21

Pequeno Incremento (em homenagem aos blogs antigos)


A página do antigo jornal O Indivíduo, editado por Pedro Sette Câmara

Andei vasculhando alguns blogs antigos (os bons blogs antigos, amadores, blogspot, .org ou wordpress, sem muito SEO...) e concluí que devo incrementar algo em minhas postagens por aqui. Devo adicionar imagens. Uma imagem para cada texto, à moda dos blogs antigos.

Por causa do charme, simplicidade e funcionalidade, o formato imagem + texto se impôs como estilo blogueirístico par excellence. Nos blogs de resenhas, especialmente neles, a organização gráfica mais comum era a foto do livro, ou do autor, seguida da resenha.

Acho elegante e econômico. Além disso, é conveniente, pois o efeito é quebrar a monotonia gráfica que o texto impresso sugere. Será essa a organização que adotarei por aqui. Em dia de maior disposição, editarei os textos já publicados aqui no blog, adicionando a eles alguma imagem apropriada (ou, talvez, inapropriada). 

Curiosidade: mal tomei a decisão mencionada e sinto que a estética retrô de blog antigo e de poucos leitores já me anima a escrever mais. Mas pode ser sentimento ilusório. Veremos.


15/11/21

Xixizinho Literário Para Não Dizer que Abandonei o Blog


"Não olhem, senão eu não consigo"

Havia esquecido da possibilidade de escrever neste blog. Justifico explicando que tenho dificuldade de gerenciar postagens nos vários blogs e plataformas em que publico. Não que eu tenha publicado muito ultimamente. Para dizer a verdade, nem em meus diários tenho escrito muito...

"Escrever é como fazer xixi. Dá vontade, você vai lá e faz, aí passa. Depois de algum tempo dá vontade de novo". Foi o que disse Paulo Lins, o premiado autor de "Cidade de Deus". Na minha experiência de escrevinhador - um escritor menor, menor, menor - a coisa é bem desse jeitinho, cheia de flutuações. É claro que podem pensar que isso tem a ver com o humor de certos escritores, frequentemente acusados, com razão, de serem excessivamente volúveis.

Nesse time - o dos escritores sem ânimo - há os que escrevem espaçadamente, os que vão escrevendo cada vez menos e os que repentinamente desistem da Literatura. O caso repentino mais célebre e comentado é o de Raduan Nassar (autor que, aliás, eu devo reler em algum momento). Um que jamais levou o próprio texto a sério - talvez com razão - foi Ivan Lessa. Quando publicou, só o fez por insistêcia de seus amigos, especialmente Diogo Mainardi. Radical foi Herberto Salles, que teria queimado o próprio romance. Por sorte, uma versão enviada a um amigo sobreviveu e foi publicada.

Caso menos conhecido, mas também emblemático, é o do meu amigo Wanderson Duke Ramalho, ex-jornalista cultural que escrevia para o CineZenCultural e para o OutrasRotinas. A resolução de Wanderson surpreendeu-me. Pensando melhor, não sei se foi bem uma resolução ou se foi algo inesperado que acabou acontecendo. Wanderson é militar - conheci-o numa escola da Marinha - e sei que os meios militares não são exatamente os tipos mais cultos e letrados. Embora seja muito bem casado com a culta Hosana, acho que o meu amigo não recebia muitos estímulos para escrever. Não, ao menos, de seu meio mais imediato. Aparentemente, contrariando a própria premissa que dá nome a seu blog, Wanderson caiu na rotina iletrada da vida do trabalhador brasileiro.

Ele não foi o único. Darlan Grossi, nosso amigo em comum, artista e blogueiro que chegou a ter texto incluído em coletânea da FluPensa, também não escreve mais. Darlan também é militar e também é casado. Alguém notou o padrão? O meu palpite é de ambos foram absorvidos pelas rotinas da vida burocrática e assim a vida contemplativa, literária e descompromissada foi perdendo lugar. Hoje em dia são homens sérios, de família e respeitáveis, não os vagabundos ébrios e românticos dos nossos tempos de escola militar. Mas já não escrevem. Como poderia um homem sério escrever literatices?

Eu, por outro lado, ainda escrevo. E até, vejam só!, sofro apoio e pressão da família para escrever. Querem porque querem que eu escreva um livro. Estão certos. Escritor sem livro não é escritor. Há anos sonho com a possibilidade de dar o golpe e magicamente mudar minha alcunha de "blogueiro" para "escritor". Ual, fico excitado e eriçado só de pensar nas mocinhas me chamando de escritor. Sim, vaidade, eu sei. Mas é pura verdade e é a vaidade de todos os semiletrados, especialmente os mais pretenciosos como eu.

Tenho que escrever. É o que decidi fazer, afinal. É o que gosto e o que consigo. Pretendo adquirir alguma outra habilidade, especialmente uma que me dê dinheiro e me agrade. Assim conseguirei sobreviver, comprar meus livros e escrever o que der na telha.

E é assim, com estas reflexões mixurucas, que volto a fazer-me presente neste blogzinho sem leitores. Felizmente este blog foi pensado para ser livre e me deixar à vontade, o que permite textos de natureza mais crônica e pessoal. 

É apenas um xixizinho, digamos assim. Por hora, esse é o caminho mais prático. Melhor isso do que nada.

29/04/21

Sobre o Autor



Além de livreiro falido, John Ramalho  já foi desenhista falido, fanzineiro falido e cartunista falido. Atualmente, sem deixar de ser falido, atua como escrevinhador filisteu, conspirólogo paranoico, croniqueiro subletrado, pirata digital, apologeta de subliteratura, herege convicto, místico de boteco e experiente blogueiro amador (quase nessa ordem). De tudo o que importa sabe pouquíssimo, e do que muito estudou sabe menos ainda. Em resumo: nada mais que um gênio negativo, com QI abaixo de zero - mas cheio de referências culturais mais ou menos interessantes.