22/06/22

Notinha #6: Contra Gigantes

Ocorre, vez ou outra, de encontrar pessoas que parecem voar níveis acima dos meus em desenvolvimento moral, espiritual, artístico, cultural e intelectual. Falam sobre assuntos difíceis e complicados, de modo que nunca as compreendo na totalidade. Por vezes, sinto que emanam uma sapiência - poderia dizer uma superioridade - que não apenas surpreende, mas paralisa. Diante delas, envergonho-me de meu tamanho e tudo quanto sei ou fiz parece raso e sem valor.

Que fazer diante de quem em tudo se mostra superior? Que fazer com o brilho alheio que ofusca e cega?  Uma tragédia que haja no mundo qualquer criatura melhor e maior que eu! A mera ideia de olhar ao alto, de precisar erguer-me para alcançar outro ser, ofende-me demasiado. Que desigual e cruel batalha é a luta contra gigantes!

Não podendo jamais me elevar, seja por insuficiência de força moral ou de inteligência, só posso desprezar os que se elevam. A verdade é que primeiro senti a inveja, depois, o ranço; agora, rumino vingança. Vingar-me-ei do sentimento de mediocridade, de inferioridade, de nada, ao qual me condenaram. Zombarei dos ideais elevados, caluniarei seus nomes, desmentirei suas conquistas. Com a pena que empunho, tramarei para que sigam na história como fraudes e paspalhos.

Um mundo no qual eu não possa reinar é um mundo que não merece existir. Que caiam os gigantes, para que este pequenino seja rei.

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