Pequei contra o Espírito Santo. Pecado fatal, de morte. Venho, portanto, reconhecer a vitória triunfal da besta. Vitória, uma vez mais, contra este sorumbático escrevinhador. Este farrapos de homem, quase demônio quase anjo, que aspira fazer o bem, mas só encontra volição para o pérfido, o torpe, o hediondo.
Homem? Homem não. Homem: São Jorge, que venceu o Dragão. São jorge: masculino, guerreiro, forte, símbolo de fé e vitorioso. Eu, quando muito, sou menino. Sofro a inocência frustrada de um garoto tímido, deslocado, que jamais ousou sair do mundo das idéias. Exceto para o que avilta o espírito; as causas do horror e da decadência, da pestilência e da profanação.
Mas se há defesa, e se havendo defesa eu me possa defender, diria, proclamaria até, única e derradeira verdade: eu fujo do mal. Ele, porém, me alcança e derruba. Nas lutas morais combato inimigo maior e mais forte, que esmaga-me sem a menor piedade. Apesar de tudo, apesar das inumeráveis derrotas e humilhações, apesar de ter o nome na lista dos malditos, apesar dos tantos recomeços, jamais -jamais! - deixei de desafiar o inimigo. A cabeça segue ensanguentada, mas não curvada.
Pois digo e repito: não me curvo ante a besta. Teatral e cínico, faço-me cordial. Evoco-a, encaro-lhe os olhos sem fundo, feitos de negrume abjeto, cumprimento; dou-lhe os parabéns. Vencestes hoje, criatura vil. Amanhã, porém, será outra luta. Guarda teus planos e ardis. Amanhã, no ringue dos pequenos dramas do universo, mais uma vez, duelaremos.
E neste dia, que eu tenha a força e a fé de São Jorge, que este farrapos de homem, quase demônio quase anjo, que aspira fazer o bem, mas só encontra volição para o pérfido, o torpe, o hediondo... Que este sorumbático escrevinhador, um dia, ao menos, vença o Dragão.
Até lá, saibam todos: o pecado há de dominar-me as ações, escravizar-me os sentimentos.
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