24/08/24

Teclado Novo, Mente Antiga


 O escritor Cory Doctorow, que eu não conheço e nunca li, em seu belo ambiente de trabalho.

Depois de um bom tempo de abstinência, fiquei com saudades de escrever usando o teclado do notebook - essa coisa deliciosa que faço agora (num teclado novo vagabundíssimo e maravilhoso). 

Escrever no teclado físico é bem diferente de escrever no teclado virtual do celular. Usualmente, pela praticidade, recorro ao celular para escrever notas curtas, registrar ideias, referências, dicas, auto conselhos e pensamentos diversos. Porém, é com o teclado físico que eu me sinto mais confortável e mais disposto. No celular eu só escrevo pela necessidade, ou quando tomado da "febre da nota", o sentimento de urgência originado de alguma ideia que parece proveitosa e que, caso não anotada naquele momento, pode ser perdida para sempre.

Já quando uso o teclado físico, num sábado pela noite, geralmente ouvindo música, eu sinto que posso escrever mesmo sem nenhuma ideia prévia na cabeça; escrever pelo exercício de escrever. É como se a presença do teclado e da tela em branco no notebook formassem o ambiente visual adequado para engrenar minha escrita. 

Suspeito que isso aconteça por que a imagem  mental que tenho do escritor contemporâneo inclui o elemento teclado físico (seja ele de máquina de datilografar ou de computador doméstico). Por algum motivo - talvez por não existirem "celulares espertos" quando eu era adolescente - não tenho na cabeça a imagem de um escritor que usasse apenas o celular para escrever. Bom, não tinha, até me surgir agora essa ideia terrível. Mas foi só pensar nela e já reagi com careta, considerando-a esteticamente horrorosa. 

Um dia, num futuro distópico não tão distante, as revistas e sites de literatura mostrarão a foto de algum escritor hipster (tatuado, minimalista, barbudinho, nômade digital) sentado num barzinho gourmet paulistano e digitando um micro-romance a ser publicado em micro-capítulos nas redes sociais. Quando este dia chegar, eu, ao defender os notebooks, as bibliotecas físicas e os grandes romances, serei considerado ainda mais reacionário e demodé... 

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