30/06/22

O Que Jovens Com Ambição Política Deveriam Saber

 

Frank Underwood (House of Cards)
Certa vez, ouvi uma amiga declarar-se apolítica. Aparentemente, ela não compreendia a sutil dimensão política que nos cerca. Ou, talvez, pior: compreendia, mas preferia ignorar. Na época, achei sintoma de terrível alienação. Posteriormente, conheci pessoas que, diferente de minha amiga, alegavam que “tudo” é política, outra forma terrível de alienação.

No primeiro caso, o problema é óbvio: quem não se interessa por política está fadado a ser regido por quem se interessa. No segundo caso, o preciosismo semântico faz-me pensar que “tudo” abrange coisa demais. Vejam bem: eu até admito que possa haver alguma dimensão política em coisas como o aroma das flatulências, a quantidade de vezes que uma criatura humana lava as mãos durante o dia, ou, até mesmo, o caminhar das lagostas; afinal, verdade é que alguma autoridade idiota pode, arbitrariamente, legislar sobre tais fenômenos. Mas deveria ser óbvio que nenhum desses tópicos, por si só, constitui matéria de relevância política (ao menos enquanto não ensejam conflitos capazes de prejudicar significativamente a estrutura social).


Aquilo que nós chamamos de “política”, em sua essência, tem a ver com gerenciamento das relações de poder entre grupos e classes em um ou em vários espaços. Gerenciamento das relações de poder significa, na prática, minimizar os conflitos mais perigosos. Quando isso é possível por meio de acordos e concessões, temos alguma paz. Quando não é, temos caos, guerras, cabeças rolando e instabilidade social.
No mundo moderno, o gerenciamento das relações de poder é feito pelos três poderes- Executivo, Judiciário e Legislativo –, mas possui sua autoridade calcada em um deles: o Executivo. Em última instância, a autoridade legal deriva da força. De nada serviriam os julgamentos e as leis se não houvessem forças policiais, fiscalizadoras e punitivas, para fazer cumprir as decisões dos legisladores e magistrados. Forças armadas desempenham a função de salvaguardar a autoridade dessas estruturas — coercitivamente, é claro.
Você disse melhores condições de vida e de salários para o trabalhador? Ah, sim. Pode deixar, os ursinhos carinhosos irão lhe proporcionar belos sonhos

                                                      * * *
Amparada pela força bruta que possui, tal estrutura irá legislar, ou seja: prescrever comportamentos, ações, regras e protocolos para organizar as interações entre as instituições e os diversos agentes sociais. É nessa esfera (legislativa) de atuação política que surge espaço para alguma barganha; que pode haver alguma democracia; que pesam os grupos de pressão; e, sobretudo, a atuação da mídia e de agentes financeiros. Enfim, é nela que se dá a guerra de influência.

Essa guerra, porém, será dominada justamente por aqueles que já possuem maior poder e maior recursos para exercer pressão e influência. Nessa esfera, o poder mais atuante é o econômico. São os grandes banqueiros, os grandes empresários, industriais e financistas que constituem, em todas as nações, a força invisível e discreta — “the hidden hand” na terminologia maçônico/liberal — por trás dos acontecimentos político-econômicos. Com seu dinheiro, seus lobbys, suas fundações, agrados e investimentos, eles compram a lealdade (ou ao menos o silêncio) das agências de notícias, dos congressistas, dos publicitários, dos cientistas, dos intelectuais e de quase todos os agentes culturais com poder de influência social. Por isso mesmo constituem a mais alta e mais intocável categoria social, uma verdadeira casta.
Armínio Fraga, ex Ministro da Fazenda e o megaespeculador George Soros. Antes de virar o responsável pela economia brasileira, Fraga trabalhou para Soros. Como ministro da fazenda, continuou trabalhando para Soros.

                                                             * * *
É essa a casta que os sociólogos e cientistas políticos normalmente chamam de “elite” ou, mais apropriadamente, “elite oculta”, já que você vê o político, mas não vê o megaempresário ou banqueiro por trás dele. O principio de atuação dessa casta foi sintetizado na célebre e confessional frase do Lorde Mayer Amschel Rothschild:

“Permita-me emitir e controlar o dinheiro de uma nação, e eu não me importo com quem cria suas leis!”

Pronto: tens acima um retrato tosco e incompleto, mas razoável e realista, de como se organiza a maquinaria social moderna e do que exatamente significa o caráter político de nossa sociedade. O que fica evidenciado acima é que, seja em seu fundamento, seja em seu desenvolvimento, o que permite e faz a política não é propriamente o aroma das flatulências ou o caminhar das lagostas (embora, como já foi dito, tais tópicos certamente possam ser politizados), o que caracteriza a política é o que poderíamos chamar de “Dinâmica do Poder” — um sistema que inclui a posse do poder, o uso do poder e a manutenção do poder. Política não é sobre dever, sobre ética, sobre nossas opiniões, sobre funcionalismo público ou sobre democracia: política é sobre O Poder.
“Pode existir liberdade de discurso, mas não posso garantir liberdade depois do discurso.”

                                                            * * *
O que é O Poder? Basicamente, é a capacidade de tomar as decisões importantes e de realizar ações importantes mesmo contra a vontade dos outros. O poder bélico garante e legitima a estrutura política, o poder econômico a desenvolve, financia e corrompe; e o poder de persuasão e mobilização (exercido por agentes sociais difusos: mídia, sindicatos, igrejas, partidos, lobbies e movimentos) dinamiza, regula, completa ou fragiliza os outros dois.

Qualquer jovem com ambição política deveria ter essa estrutura muito clara em sua mente. O que o encaminhará à seguinte pergunta: Qual é a forma de poder da qual pretendo me apropriar para intervir e influenciar na sociedade?

O ideal, diria eu, é se apropriar de todas. Quanto mais poderoso você for, mais recursos terá para efetivar no mundo as mudanças que julga necessárias. Mas, se de início isso não for possível, a ordem de conquista de poder deverá ser a seguinte:

1) Primeiro deve-se obter poder pessoal. Poder sobre si mesmo. Disciplina, controle emocional e frieza lógico-analítica. Uma pessoa que se deixa levar pelas emoções, que fala quando deve dissimular, que agride quando deve se conter, ou que é incapaz de mentir deliberadamente, jamais irá muito longe no jogo de poder. A menos que seja utilizada como joguete e espantalho por outros agentes.

As palavras chave aqui são “Disciplina”, “Dissimulação” e “Silêncio”. As fontes mais básicas de poder pessoal.

2) O passo seguinte é o poder de influência. Se você ainda não tem força e nem dinheiro, é bom que tenha influência sobre quem tem. Hitler, que era um pobretão, era mestre nessa forma de poder. Suas boas relações com o exército prussiano e com as milícias locais foram cruciais para sua ascensão ao poder. Também soube angariar as simpatias da classe aristocrática, o que lhe rendeu gordos financiamentos.

Os termos chave aqui são “Manipulação” e “Conexões Estratégicas”. Seja querido, respeitado e reconhecido por gente em posição superior à sua.

3) Obtenha dinheiro. Já dizia Nelson Rodrigues: “O dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro”. É triste? Talvez, mas é verdade. Com dinheiro você pode se tornar proprietário dos veículos de imprensa e modular a opinião pública a seu respeito. Além de constranger moralmente aqueles que ousarem te confrontar, meta neles processos e mais processos, suborne alguém para lhes caluniar, etc. As vantagens do dinheiro são infinitas e infinitamente extensíveis. Todo mundo é corruptível.

(Pessoalmente, acho que a melhor parte do dinheiro é comprar o amor das mulheres e a simpatia geral dos tolos- que são a esmagadora maioria.)

4) Tenha a sua disposição força bruta. Essa força pode ser obtida subvertendo-se elementos das forças armadas ou por meio de milícias, lacaios e contatos no submundo. Ter contatos com agentes moralmente flexíveis (como espiões ou informantes) dentro do sistema é essencial. Policiais e advogados corruptos são muito úteis para isso.

Certamente há muito mais coisas que se poderia ensinar. Mas imagino que o resumo acima dê conta de explicar minimamente, e com alguma honestidade, para um jovem, o mínimo do que é necessário saber para compreender a natureza do jogo.


                                                              * * *

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Nada de comentários anônimos. Gosto de saber quem disse o quê.