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Quem nunca? |
Começo com uma indelicada - mas verdadeira - confissão. Gente com curiosidade e horizonte intelectual pouco desenvolvidos me entedia bastante. Coisa de provocar bocejo e tudo, asseguro.
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Quem nunca? |
Começo com uma indelicada - mas verdadeira - confissão. Gente com curiosidade e horizonte intelectual pouco desenvolvidos me entedia bastante. Coisa de provocar bocejo e tudo, asseguro.
O amor conjugal, quando verdadeiro, só pode culminar em angústia, dor e intenso sofrimento. A união baseada nessa forma de amor engendra no espírito humano uma profunda e irrecuperável dependência. É pesado, é agonizante, é comovente e é trágico o sofrimento do homem que perdeu sua amada, que perdeu sua outra metade, sua razão de viver. Ele chorará com a facilidade de uma criança, mas sofrerá como se o próprio ar lhe aviltasse, como se cada inspiração o envenenasse; e a vida para ele figurará como equívoco, lástima, desvario.
Desejaria aceitar o capricho divino, mas seu coração não pode, seu amor não permite. Quer a amada a seu lado. Queria antes, quer agora, quererá depois e sempre, sempre, sempre. Mas ele não passa de criatura humana, não tem o poder de ressuscitar os mortos, e a sua fé, mesmo quando grande, não lhe serve senão como consolo. A dor, a intensidade do sofrimento, o fará descobrir que não é verdade que a fé move montanhas, não é verdade que ressuscita os mortos... Descobrirá que não é mais forte a fé do que o fato, de tal modo que lhe consumirá o sofrimento, o sentimento de perda, o amargor. Para continuar a viver, precisará acostumar-se com o vazio, com a saudade e com o sofrimento.
Sabemos que o gênero humano, para o bem ou para o mal, é do tipo que se acostuma. Assim, o mais provável é que o homem que perdeu a amada, depois de intenso sofrimento e desilusão, um dia deixará de chorar; e se não deixar de sofrer, ao menos se acostumará a viver com o sofrimento.
Amar, viver, sofrer... A tudo o homem se acostuma.
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Mamãe e eu no hospital, alguns meses antes... |
Hoje, sexta feira, 02 de Setembro de 2022, dez dias antes do meu aniversário, mamãe morreu. Foi hoje, sei bem. Aconteceu às 16:35. No quarto do hospital, durante a partida, mamãe estava acompanhada por quatro dos membros mais próximos da família- Eraldo (papai), Juliane (minha irmã), Thiago (meu cunhado) e eu. Os outros dois - Eliseu e Lorena (meu irmão e minha cunhada) - estavam a caminho.
Chorávamos, nós quatro, e ao mesmo tempo a confortávamos expressando nosso amor. Papai a abraçava, Juju lhe segurava as mãos em um momento, eu em outro. Thiago lhe beijava a testa. "Estamos com você"; "Te amamos"; "Não tenha medo" era o que dizíamos. Embora tudo nela fosse fraqueza e decadência física, mamãe pareceu sentir algo. Mudou o semblante e também a posição. Antes deitada, inclinou-se a frente e tirou a máscara de oxigênio. Papai tentou repor, mas por três vezes ela o repeliu. Ele a questionou: "-mas, meu bem, não queres a máscara? É isso mesmo?" Ela fez que sim com a cabeça.
Sem máscara, abraçada pelo esposo, assistida pelos filhos e genro, mamãe, segurando as mãos de papai, revirou os olhos e depois aquietou-se. Assim, enquanto nós chorávamos, o seu elevado espírito deixou o seu debilitado corpo. Partiu sem dor, sem violência, sem medo. Naquele momento, tocava a versão instrumental, em sax, de "Alvo Mais Que a Neve". Choramos, nos abraçamos, choramos, oramos. O momento derradeiro finalmente chegara, e mamãe foi de peito aberto, preparada, sem medo.
Estava consumado. Agora mamãe não mais sofreria, agora; ficaria em paz. O corpo padece e fenece, mas eu acredito que a alma é imortal. Eu sei que vive a alma de minha mãe, Julia Ramalho Barbosa, que foi professora, esposa, filha exemplar, anjo doméstico, cuidadora, fiel devota, ativista social, artesã, excelente cozinheira e amiga leal.
Sei que ela partiu preparada. Sei que foram feitas as suas vontades. Despediu-se dos parentes amados, inclusive dos pais. Passou alguns dias em casa, recebendo pessoas, despedindo-se. Contou aos filhos os seus desejos. No fim, ela, que não se achava forte, foi muito mais forte do que todos nós imaginávamos.
Registro que mamãe foi um anjo que, muitas vezes, de muitas formas, salvou-me a vida. Viveu para e pela família, e - não poderia ser diferente - durante o momento de maior sofrimento de sua vida, sua família esteve literalmente a seu lado, dia após dia, impressionando médicos e enfermeiras pela união ativa e altiva (nós enlouquecíamos os burocratas do hospital que tentavam limitar as visitas).
Mamãe viveu uma vida repleta de honestidade, generosidade, responsabilidade, caridade, amor e fé. Odiava mentiras. Era inocente, de uma pureza infantil, muito meiga, tímida, não sabia receber elogios, e era sempre muito preocupada com os entes queridos. Mulher de outros tempos - eu nunca a vi dizer um palavrão. Era daquele tipo raro de gente que a feiura do mundo não conseguiu macular.
Quanto menos eu merecia, mais me amava. Quanto menos eu acreditava na vida, mais insistia que eu não deveria parar. Tudo o que tenho de qualidade moral, de amor às artes e ciências, tudo que tenho de fé, devo a ela e a meu pai.
Apesar da tristeza, e do luto, não me permito tragificar o que é fenômeno natural. Mamãe viveu, e viveu bem, como mulher honrada. Partiu, e partiu bem, sentindo a mulher amada que era, com família, com música, com coragem. Sua vida foi bela, e seu derradeiro momento também. Sou imensamente grato pelo que com ela vivi, sou grato de ter seu sangue, seus traços, seu temperamento caseiro e letrado, sua cor, seu conservadorismo. Foi uma grande mulher, uma grande mãe, uma esposa fiel e cuidadora, uma inconformada com a pobreza e a injustiça social (cursava Direito quando descobriu a doença...). Não deixou inimigos e não há neste mundo quem a maldiga. Por tudo isso, deixará imensas saudades e jamais será esquecida pelos que a amam.
Obrigado por tudo, mamãe.
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John Ramalho meditabundo |
Dependendo do grau de proximidade, intimidade e dependência afetiva, não será uma coisa exatamente fácil de se fazer, mas é possível; e deve ser feito de forma madura e responsável.
Seguem as dicas:
#1- Pré término
Para início de conversa, busque refletir e listar os motivos pelos quais você prefere romper o relacionamento. Desses motivos, alguns provavelmente serão negativos, como os aspectos do comportamento do parceiro (ou da parceira) com os quais você não se sente mais à vontade para lidar. Por isso, selecione os aspectos mais positivos. É a eles que você deve recorrer na hora da conversa fatídica. Se a pessoa gosta de você, e você alega que o término terá consequências positivas para sua saúde mental, fica mais de aceitar.
#2 O que NÃO fazer
Claro que você pode romper simplesmente dizendo que não suporta mais determinadas características do outro ou que a qualidade da relação já não é mesma; no entanto, se fizer de tal modo, a tendência é aumentar o conflito e dificultar um término maduro, pois ninguém gosta de ser explicitamente rejeitado. Além disso, é importante tomar cuidado: sentimentos contrariados se transformam facilmente em ressentimento e ódio. Não queira ter alguém a) ressentido; b) obcecado em te dar o troco; e c) que te conhece relativamente bem como um inimigo, vai por mim, definitivamente não é boa ideia:
#3- Um término não é uma coisa, é um processo!
Vamos adicionar um elemento muito importante: o cálculo da dependência afetiva que seu parceiro/a tem em relação a você. A dinâmica é a seguinte:
Quando maior a dependência, mais difícil o término, pois a outra parte tende a rejeitar tal possibilidade.
Se for o caso de uma pessoa que é muito dependente de você, então vá com calma. Sair abruptamente da vida dela pode deixá-la desesperada, desorientada e traumatizada. Vai precisar ser gradativo. Minha dica é: assegure-se que a pessoa faça bons amigos e tenha acesso a uma rede social saudável, com pessoas que eventualmente possam substituir sua posição. Depois comece a fazer com que ela imagine o término, fazendo perguntas hipotéticas (é sempre mais fácil lidar com algo que já passou pela nossa cabeça do que com algo que não estamos esperando). Quando terminar o namoro, você, dependo da sua disposição e do quanto ainda gosta do outro, pode oferecer companhia ocasional como amigo, amigo com benefícios ou conselheiro ocasional. Ao demonstrar que você se importa, a pessoa tende a aceitar melhor suas decisões. Isso vai ajudar a fazê-la te ver de outra forma, perdendo a noção de que você é uma posse . Além disso, é mais fácil para permitir, no futuro, um total afastamento, já que é menos traumático se afastar de um amigo que de uma paixão.
#4- Pense no Futuro Próximo. Preveja suas reações.
Um outro fator importante é calcular as possibilidades futuras e o modo como você tende a reagir. Tem certeza que você quer terminar, não é mesmo? Você não é o tipo que, quatro meses depois, vai se arrepender e pedir para voltar, certo? Como vai reagir se descobrir que pouco tempo depois do término a pessoa já está se envolvendo com outro? Essas questões são importantes, porque elas vão te ajudar a decidir se você vai ser gradativo e virar amigo ou se vai romper de uma vez.
Exemplo: (a) A pessoa é muito dependente + (b) você não está tão seguro quanto ao termino + (c) acha que pode mudar de ideia no futuro = (MS- mudança de status) melhor mudar o status da relação do que terminar abruptamente.
Mudar o status pode significar virar amigos, amigos coloridos, iniciar uma relação aberta ou simplesmente "dar um tempo". Durante esse período a pessoa pode ir se desapegando, já que a tendência é diminuir o contato. E com essa experiência você pode ter certeza se vai querer mesmo terminar ou não.
#5- Veja os vídeos e conselhos do Gikovate.
Texto publicado originalmente no Quora
Bom, antes é preciso se perguntar: isso é possível?
A resposta é ambígua: sim e não. Veja bem:
Embora existam pessoas que deem claros sinais de que são uma ameaça, existem outras que nunca dão esses sinais. E algumas das pessoas mais perigosas serão extremamente carismáticas e aparentemente inofensivas (mais ou menos como eu).
Portanto, é preciso ter uma postura de desconfiança geral, uma suspeita de todos, a mentalidade de não se colocar em risco e a habilidade de reconhecer os sinais de periculosidade.
Para começar, quem é perigoso? Resposta: quase todo mundo. De fato, pouquíssimas pessoas são realmente não violentas. Entenda que as pessoas são basicamente bestas camufladas por um verniz de civilidade, bestas esperando um momento, um pretexto, para descarregar toda a repressão de animalidade que a civilização lhes obriga a manter.
"Ain, nossa… Mas esse John Ramalho é exagerado…"
Sou? Vejamos:
Pois é. Você está cercado de bárbaros sorridentes, sensuais e hipócritas. Doces bárbaros? Doces eu não sei, mas que são bárbaros e perigosos, ah, isso são.
No meio de tanta gente pacífica e "cordial", como se prevenir e prever o grau de periculosidade de alguém? Difícil, né? Por isso nestas terras a melhor postura é aquela do Fox Mulder de Arquivo X: Não confie em ninguém!
Assim como a melhor forma de combater um incêndio é evitando que ele ocorra, a melhor forma de se prevenir contra a periculosidade alheia é sendo desconfiado, paranóico e mantendo uma distância preventiva, sempre.
Dito isso, existem algumas dicas que podem ajudar a separar o joio do trigo, afinal ninguém é capaz de desconfiar de todo mundo 24 horas por dia.
Anote aí:
#1- Desenvolva critérios rigorosos para confiar em alguém.
Acho absolutamente engraçado como as pessoas possuem uma tendência bovina para confiar em gente que tem: a) sorriso no rosto/ carisma; b) discurso bonitinho e politicamente correto; c) autoridade e; d) grana.
Inclusive, cheguei a responder sobre como é fácil enganar as pessoas utilizando alguns desses elementos: Resposta de John Ramalho a É possível convencer alguém a acreditar em algo que você diz, por mais surreal que seja? Se sim, como?
Se você vai realmente confiar em alguém a ponto de sair sozinho com a pessoa, se expor, entregar informações importantes e ficar vulnerável, ao menos tenha a sensatez de fazer isso com alguém que você conhece MUITO bem. Alguém que você já tenha noção sobre o grau de periculosidade e lealdade.
E quando você sabe que conhece alguém muito bem? Resposta: quando você conhece os piores defeitos, podres e tendências negativas da pessoa.
Se você não sabe de nada errado que uma pessoa já fez, nunca ouviu falar dos grandes defeitos ou mesmo dos pequenos, NÃO CONFIE! Quanto mais perigosa, mais a pessoa vai esconder informações negativas sobre seu passado e seu caráter; chegando, às vezes, a usar nomes ou identidades falsas.
Desconfie de todos, mas se parecer bonzinho demais, desconfie ainda mais!
#2- Cuidado dobrado com falastrões:
[fique esperto com os mentirosos a lá Ben Linus]
Um outro jeito de te manipular para ganhar sua confiança é quando a pessoa fala muito a respeito de si mesma, sempre contando vantagem ou destacando uma certa característica positiva. Ao mesmo tempo que ela pode estar sendo sincera, ela pode estar criando uma teia de autoficção para te enganar, te distrair e te desviar de alguma informação pessoal que ela quer esconder.
#3- Aprenda a se defender e a matar se necessário: não seja nem uma ovelha e nem um lobo, mas um cão de guarda.
[Walter White, da série Breaking Bad. Aprenda a ser durão e parecer perigoso, e então ninguém vai querer se meter contigo. Mas, pelo amor de Deus, nada de traficar metanfetamina!]
Mesmo sendo totalmente vigilante, paranoico e criterioso, você vai estar sujeito a riscos. Infelizmente, a vida é imprevisível e o comportamento humano é mutável. Pessoas que antes eram confiáveis podem te trair. Pessoas pacíficas podem surtar e cometer barbaridades. Nada é como parece, todo cuidado é pouco e nunca é demais se prevenir. Por isso, não pareça uma vítima, não seja uma vítima, APRENDA A SE DEFENDER: usar armas de fogo, lutar com facas, saber artes marciais, imobilização, enfim; tudo o que você puder aprender. Nunca se sabe quando será útil:
O melhor curso de defesa pessoal que conheço, e recomendo, é o Kombato:
Abaixo, algumas páginas com material, informações, análises e conselhos importantes:
#4- Ore ou reze todos os dias.
Ao acordar e antes de sair de casa, reze. Acredite: ajuda muito. (Mas se puder ande de armadura ou carro blindado, ajuda mais ainda).
Texto publicado originalmente no Quora
[Manuel Feliciano Pereira de Carvalho] [Lima Barreto]
Mulata livre, filha de escrava alforriada, a mãe de Lima Barreto - Amália Augusta - era originária da família Pereira de Carvalho. Segundo boatos, filha (bastarda) de algum dos varões da família.
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Um simples óculos evitaria o homicídio mais idiota da Literatura. |
Agonia ao reler O Estrangeiro. Que bem faria a Mersault um óculos de sol! (já existia em 1942...)E que mania horrível aquela de "tanto faz", uma indiferença cuja origem só pode ser a apatia ou um germinal niilismo. Sugere o segundo quando, várias vezes, inclusive diante da proposta de casamento, reage com "isto não significa nada", negando o valor das convenções.
Tipinho hedonista e sem ambições, Mersault é motivado sempre por ideias de jerico e pelo seu caráter morno, sem sangue e sem sal. Tipinho que dá nos nervos. Homem sem drama, sem dor, sem paixão. Tem o espectro emocional resumido em duas sentenças: "isto me aborrece" e "isto me agrada". Se lhe cortassem os bagos, era capaz de reagir com:"Tanto se me faz" ou "Aborrecia-me viver sem os bagos".
Mesmo o crime que comete não lhe é fruto da vontade, mas antes de equívoco. Evento descrito numa cena que, aliás, é mal escrita e deficiente em credibilidade: como é que se explica que Mersault, desnorteado e cego pelo calor excessivo, a nove metros de seu inimigo, acerte-lhe nada menos do que cinco tiros?! Falta coerência nesse arranjo: a cena não convence. Ora, àquela distância, nem a navalha do árabe oferecia ameaça e nem Mersault lhe poderia acertar os cinco tiros, visto a sua condição ser a de um fotossensível cego pela luz solar. O mais cabível na cena era que este atirasse aos céus e que o outro, assustado, fugisse.
Ante personalidade tão mequetrefe, entende-se bem o incômodo da sociedade julgadora: que mais se admira da falta de emoção do homem do que propriamente de seu crime.
É dito que essa obra de Albert Camus - considerada indevidamente um clássico - trata da filosofia do autor, que explora o conceito de Absurdo. É explicação leviana e equivocada, uma coisa nada tem a ver com a outra. O Mito de Sísifo é interessante e bem escrito. Em O Estrangeiro, exceto pela cena mal escrita de homicídio, nada há de absurdo no que acontece à Mersault.
Absurdo, absurdo mesmo, é que uma obra tal, tão tímida na forma e tão baixa no conteúdo, seja tão recomendada e tão lida por aí.
A minha vontade de leitor era a de aprender magia negra, ressuscitar Camus, pegar os meus volumes de Celine e Victor Hugo e dar-lhe incessantes bordoadas aos berros de: "Está vendo? É assim que se conta uma história, desgraçado!";"Tome! Sinta! Sinta, desgraçado! Sinta na pele a Literatura de gente!"
Concluo com o meu preconceito: quem nasce argelino, jamais chega a ser francês. Nasce pobre e faz pobre a literatura. Uma literatura, assim, sem o L maiúsculo.