26/07/23

Intelectualidade e Solidão

 

[Os processos de cognição e significação acontecem no cérebro e no espírito do estudante. Se a pessoa é burra, não gosta de pensar e é incapaz de fazer esforço mental, não há professor que ajude, nem método de ensino que resolva.]


Aprendizagem é um processo que acontece, em grande parte, na sua mente. Não adianta o melhor professor do mundo, com a melhor didática, com a melhor aula. Se você não fizer esforço pessoal, cerebral e espiritual para compreender o tema em questão, então não irá compreendê-lo.

E aí vem a causa da solidão: é a minoria que está disposta a fazer o esforço necessário para aprender tudo que é relevante e importante na vida intelectual.

Se o que se quer é ser como qualquer um, fazer as coisas no nível de qualquer um, pensar como qualquer um, então o caminho é, realmente, se misturar com qualquer um, ouvir qualquer um, fazer o que todo mundo faz e, em consequência, obter os mesmos resultados e ser como o homem médio, com aquele QI médio nada lisonjeiro, típico de uma sociedade cuja cultura contém uma dose extremamente elevada de anti-intelectualismo e de praticidade imediatista.

Por outro lado, se o que se quer é obter resultados superiores, compreensão superior, ser diferente da turba, será necessário agir de modo diferente da turba. É preciso saber que a vida intelectual, nos seus aspectos mais exigentes, mais elevados, não é uma escolha, mas um sacerdócio. É vocacional, não é para qualquer um. Ela exige mais do que o homem comum está disposto a sacrificar.

Quanto maior e mais profunda for a compreensão de um homem sobre um assunto, mais dificuldade as pessoas terão para compreender o que ele está dizendo, e por conta dessa dificuldade, menos interesse elas terão. Não estão dispostas a fazer os mesmos sacrifícios para adquirir as mesmas habilidades cognitivas, a mesma profundidade e a mesma sensibilidade intelectual. Isso acontece em qualquer área do conhecimento, é um padrão que tem a ver com a estrutura hierárquica do conhecimento, que reflete a estrutura hierárquica da Natureza.

19/07/23

Quem pode ser considerado intelectual?

                       

[George Orwell, jornalista e literato, foi um dos intelectuais mais influentes do século passado. Com seus livros, mobilizou a opinião pública na direção de questões importantes como a liberdade de pensamento e os meios que Estados totalitários empregam para controlar as mentes da população]


Para bem entender o conceito de intelectual é preciso regressar ao contexto de origem do termo.

No século XIX*, na França, houve um episódio famoso, conhecido como Caso Dreyfus. Um capitão do exército napoleônico, chamado Dreyfus, foi acusado de traição. Houve um julgamento. O problema é que o tal Dreyfus era judeu; e a França (como quase todos os países da Europa) possuía um longo e próspero histórico de antissemitismo.

No meio letrado e cultural francês o julgamento do capitão Dreyfus despertou a atenção de todos. Ele era de fato culpado ou era apenas mais um caso de antissemitismo? 

Cada grande autor e pensador escolheu seu lado e argumentou em defesa ou em ataque ao réu. Se não me engano, Victor Hugo e Émile Zola foram alguns dos que comentaram sobre o caso.

Então alguém (não me lembro quem) cunhou esse termo - "Intelectual" - para descrever essa atividade, esse fenômeno, quando um indivíduo oriundo do mundo letrado busca, com seus conhecimentos, influenciar a opinião pública, moldando as sensibilidades e orientando as escolhas, os gostos, os olhares.

Intelectuais seriam, assim, aquelas pessoas que usam de seus conhecimentos, de sua bagagem cultural, filosófica e retórica para influenciar o curso dos acontecimentos, dos povos, das crenças vigentes, para passar uma mensagem, defender uma causa, expressar uma verdade esquecida, uma visão de mundo. Eles seriam uma espécie de "consciência crítica, moral e cultural" da humanidade, ou da sociedade moderna. Tornariam públicos os debates que nós travamos internamente, em nossas consciências. Sua função seria mais ou menos a de externalizar e dar luz a questões importantes, de educar o público ou uma classe em particular.

Coisa que eles fazem por meio de jornais, revistas, ativismos, livros e atuações em centros culturais e políticos. O que os define é mais a atividade intelectual, cultural e letrada, não a formação. Não existe graduação, pós, doutorado ou titulação para isso. Existe uma vocação, uma vida de estudos humanísticos, culturais ou científicos, e a atividade na área.

Há intelectuais de todas as origens, pobretões, autodidatas, aristocratas, artistas, burgueses, cientistas, reis, literatos, engenheiros, bandidos, políticos, jornalistas, etc.

Machado de Assis era um pobretão mulato autodidata e era intelectual. Dom Pedro II era o Imperador do Brasil e era intelectual. Aliás, o pendor para esse tipo de atividade foi o que os aproximou e os tornou amigos.

Para um intelectual, pouco importa a classe ou a origem; se há uma mente pensante, fértil, dada a reflexão, se há uma inteligência em ação, buscando descortinar os significados das coisas, o intelectual vê ali um irmão, um semelhante, um de mesma classe.

Por outro lado, há classes inteiras de diplomados que, embora se considerem muito inteligentes e sofisticados, são a antítese do intelectual. Um exemplo são alguns professores universitários, cujas obras ninguém lê; são pessoas que não participam da vida cultural do povo, que não se achegam a ele.

Nesse sentido, Paulo Coelho e Augusto Cury são muito mais intelectuais que parte considerável dos professores universitários. Primeiro porque eles detectaram um problema cultural autêntico: a angústia espiritual do nosso povo (coisa que nenhum intelectual de esquerda conseguiu notar até hoje, pois acham que o problema é sempre financeiro, material). Segundo, porque eles, bem ou mal, levaram ideias e influência literária até as pessoas. Você, como eu, pode até acreditar que essas ideias são pobres, toscas e duvidosas, mas aí já é outra conversa.

Hoje em dia, há intelectuais populares, como Cortela, Karnal, Cloves de Barros e Pondé. Eles sim são ao mesmo tempo professores universitários e intelectuais, capazes de influenciar as pessoas com suas ideias (que em geral acho tosquíssimas e pobres).

Olavo de Carvalho foi, sem dúvidas, o maior intelectual do Brasil em seus anos de atividade. Independente da qualidade ou da validade de sua obra, ele mobilizou, por meio de seus livros, artigos, aulas e palestras, classes inteiras, inclusive classes políticas e militares, em torno do seu discurso. E fez isso ao mesmo tempo em que lutava contra quase toda a classe intelectual/ letrada do país. Um feito no mínimo impressionante para "um véio gagá".

Se um "véio gagá e ex-astrólogo" conseguiu obter tanta influência apesar de ser odiado e rejeitado por toda a classe intelectual jornalística e acadêmica, isso diz muito sobre como essas classes estão distantes da cultura brasileira e dos problemas brasileiros.

Um intelectual outsider e artista que eu gosto bastante é o Eduardo Marinho. Ele escreve no blog Observar e Absorver. O contato dele com o povo brasileiro e sua história de vida é muito interessante. Há um texto dele, em especial, "se eu pudesse falar com a esquerda" que é muito verdadeiro.

Aqui uma explanação do Eduardo:

                                       

Por fim, há uma acepção tosca, menos qualificada, que se refere a qualquer pessoa com tendência comportamental que envolva leitura, debate, escrita, atividade cultural e esforço mental. Dizem lá em casa, por exemplo, que eu sou "o intelectual da família".

Eu sou qualquer coisa, menos intelectual. Aliás, para ser sincero, na maior parte do tempo eu odeio intelectuais. Como já mencionei aqui antes, a maioria são pedantes, mesquinhos, medíocres e mentirosos. Especialmente os acadêmicos. (De fato, na minha experiência pessoal, a maioria dos intelectuais autodidatas que conheci tinham maior amplitude, mente mais aberta, mais contato com o povo, etc.)

                                                                               ***

*Agradeço a gentil correção do Leonardo Suzuki, já que eu havia, originalmente, indicado o século XVIII. Um erro que poderia facilmente ter sido evitado se a minha preguiça e vaidade intelectual não me impedisse de consultar o Google.

                                                                               ***

Nota do Editor: a primeira versão deste texto foi originalmente publicada como resposta no site Quora.

12/07/23

Preciso conhecê-la

 



Contaram-me de uma donzela das Letras que tem por qualidade roubar livros na Bienal.

Eu, ladrão desavergonhado de livros, imediatamente apaixonei-me. Não sei ainda a verdadeira identidade da moça, que minha fonte preferiu preservar, só sei que a amo e a quero.
Já roubastes em bibliotecas públicas, meu bem? Já roubastes de autoridades? Já deixastes bilhetinhos em lugar dos volumes? Ela e eu, quando nos conhecermos, teremos muito o que conversar, e muitas técnicas de furto a desenvolver. Creio até que juntos roubaremos melhor que ciganos e judeus. Seremos como Lampião e Maria Bonita, Bonnie e Clyde, Sid e Nancy, Tyler Durden e Marla Singer, etc, etc.
Torço, portanto, para que eu a conheça.
Aquele entre vós, amigo ou inimigo, que porventura souber o paradeiro da moça, ou de outra parecida, que tenha a gentileza, a decência, o brio moral - e mais do que ele - o compromisso de me avisar.

05/07/23

O que aprendi jogando xadrez

 

[O desafio de xadrez mortal, em Harry Potter e a Pedra Filosofal*. A vez em que o Ron Weasley salvou todo mundo, mostrando que era mais esperto e nobre do que todos suspeitavam.]


Contarei a vocês sobre como o xadrez me fez aprender ao menos duas lições essenciais, que me forneceram maturidade para a vida inteira:

  1. Meus limites intelectuais
  2. A existência de gênios (e que eu não sou um deles)
  • Sobre Limites e Tipos Cognitivos

Como todo mundo do nosso tempo, eu fui educado para pensar que "todo mundo é igual" e que "todo mundo" possui os mesmos potenciais, inteligências e habilidades. Em outras palavras; fui infantilizado por A.O.E.C's (Agentes Oficiais do Emburrecimento Coletivo, vulgo "professores") para ignorar Verdades Fundamentais da Biologia, como a variação das habilidades entre os indivíduos e a desigualdade na distribuição dos dons, níveis e tipos de inteligência.

Isso me fez acreditar, de forma absolutamente inocente e tola, que eu poderia virar um Einstein ou um Kasparov, pois era apenas uma questão de treino e esforço.

Foi jogando xadrez que eu aprendi que os A.O.E.C'S haviam me enganado.

O que aconteceu? Já conto. Mas antes, como fazem os sábios, já aviso: Senta que lá vem história!

  • A Formação Enxadrística

Aprendi xadrez, junto ao meu irmão, aos doze anos. Aos dezesseis, cansados de jogar apenas entre nós, eu e o mano decidimos procurar outros enxadristas locais. Então descobrimos, no Orkut, que havia uma comunidade de xadrez na cidade. Rapidamente entramos em contato com os sujeitos e, previsivelmente, nos tornamos amigos e rivais.

Logo montamos um grupo. E todo final de semana, religiosamente, estavámos na praça, disputando nossos torneios, treinando novas aberturas, novas estratégias e trazendo novos desafiantes ao grupo. Tendo também muitas conversas inelectualmente estimulantes, misturadas com todo tipo de zoeira, trollagem juvenil e conversas sobre mulheres.

Em casa, jogava contra meu irmão (que quase sempre ganhava). Nossas disputas pessoais (quando não eram resolvidas no tapa) eram resolvidas racionalmente com base no resultado das partidas. Também jogava com desafiantes e amigos na escola. Então, para mim, era uma atividade muito presente.

A consequência natural foi me interessar por campeonatos. Naquela altura, eu sabia que poderia sair do nível amador e me tornar um jogador razoável, e começava a cobiçar a possibilidade de me tornar um G.M (Grande Mestre) - um enxadrista respeitado em nível internacional (sim, eu era ambicioso!).


[Bobby Fisher, lenda do xadrez mundial, ao ser questionado se ele achava que era o melhor jogador do mundo, respondeu placidamente:"sim, eu sinceramente acho que sou o melhor jogador de xadrez vivo dos nossos tempos". Duas semanas depois da entrevita ele conquistou o título de campeão mundial.]

Você acha que todo mundo pode ser tão bom no xadrez quanto ele? Que é só treinar? Então porque outros jogadores treinaram tanto quanto, mas não conseguiram os mesmos resultados?


  • Meu Primeiro Campeonato

No campeonato da minha cidade, achei que ficaria em primeiro lugar, então convidei o Ezequias, um amigo que era um pouco melhor, e que morava no município vizinho, para participar do torneio também. Os outros participantes, por melhor que fossem, eu sabia que poderia ganhar. O Ezequias estava "uns dois degraus" acima de mim. Embora já tivesse ganho dele, sabia que seria um desafio.

A final do torneio não deu outra: eu contra ele.

Numa jogada genial, eu tomei a dama. "Pronto, agora eu ganho!" foi o que pensei. E daí em diante, como me é típico, comecei a relaxar. Mas meu rival era entendido de tática e estratégia; e, muito orgulhoso, não iria desistir fácil. Ezequias pensou um bocado e conseguiu, numa jogada ainda mais brilhante, me dar um xeque-mate totalmente inesperado e imprevisível.

Fiquei em segundo lugar. Mas sabendo que poderia ter ganho, que tive uma vantagem e vacilei. Engoli a seco, mas o que eu poderia fazer? Ezequias era um bom jogador. Se eu quisesse ter ganho, deveria ter sido mais cuidadoso, mesmo com a vantagem. Foi um bom jogo, desafiador, instigante e justo. E ficar com o segundo lugar nem era tão mal assim.


[Henrique Mecking, o "mequinho", maior enxadrista brasileiro de todos os tempos. Esteve entre os top 10 do mundo. Depois de uma partida contra ele, que acabou em empate, Bobby Fisher - A LENDA - disse: "Eu achei que iria perder!"]

Você acha que é "todo mundo" que consegue dar um susto enxadrístico no Bobby Fisher?


  • Meu Segundo Campeonato

Meu município era pequeno e não tinha tradição alguma em atividades mentais. Então eu e minha gangue enxadrista migramos para o campeonato da cidade vizinha. Esse torneio já era um pouco mais significativo, e os resultados nele nos fariam ver o quão habilidosos nós realmente éramos, já que vários enxadristas de toda a região iriam participar.

No dia do campeonato, descobrimos que o vice campeão de xadrez do Rio de Janeiro estaria por lá. Incrível! Finalmente eu poderia ver um sujeito de nível elevado jogando.

Agora, preciso dizer a vocês que nesse torneio eu empatei com um jogador extremamente experiente, um senhor que era o professor de uma escolinha de xadrez da cidade. Foi empate por tempo. Segundo o professor, eu fiz apenas uma jogada errada. É claro que ele iria me ganhar e que tudo que eu estava fazendo era postergar o xeque-mate. Porém, considerando que se tratava de um amador, "de rua", contra um jogador experiente, um mestre local, posso dizer que postergar o jogo o suficiente para chegar a um empate por tempo foi um resultado bem interessante. Até hoje esse empate é o resultado do qual mais me orgulho, e guardo com carinho a notação da partida (depois tiro uma foto e posto aqui).

Já o Ezequias, que era o melhor de nós, foi jogar contra o "o vice-Rio". Entendam bem, caros leitores: o Ezequias, em nível amador, era um bom jogador. Tinha várias aberturas, saídas e movimentos, incusive de meios e finais, decorados e exercitados. Mesmo assim ele foi absolutamente massacrado pelo vice-Rio.

Eu nunca tinha visto ninguém normal prever tantos movimentos. E olha que já tinha jogado com ótimos jogadores, que tinham boa resposta para cada jogada minha. Era óbvio que aquele cara era fora do comum. Enquanto meu amigo Ezequias estava explodindo o cérebro e se matando de raciocinar, aquele cara, aquele maldito gênio, estava simplesmente brincando. As jogadas que nós considerávamos brilhantes eram nada menos do que cócegas para ele. Cócegas, amigos! Cócegas em pés de um gigante!

Eu havia acabado de empatar com um jogador já idoso e, embora altamente experiente, normal. Mas aquele cara, o vice-Rio, só a experiência e treino não explicava a habilidade dele; havia algo mais, algum tipo de habilidade inata, específica, para a coisa. O treino dele só reforçava e ampliava essa habilidade. E era uma habilidade que nem eu, nem meus amigos, nem o mestre local e nem nenhum dos outros jogadores ali tinha, simplesmente não era uma habilidade de raciocínio comum.

Então, talvez pela primeira vez na vida, eu pensei:

"Posso até estudar muito e ficar muito bom, mas nunca vou ser como esse cara. Nunca vou ter a facilidade, a velocidade de raciocínio e a memória absurda que ele tem. O filho da puta é um gênio!".

Exatamente o mesmo sentimento que o Vegeta teve nesse dia:

                                    


[Hindenburg Melão Júnior, superdotado brasileiro, enxadrista com recorde no Guiness por ter vencido a maior simultânea do mundo de xadrez às cegas. Ou seja: jogou contra vários enxadristas profissionais SEM OLHAR PARA O TABULEIRO. E ganhou.]

E você, o que me diz? É todo mundo que consegue isso? É só treinar? Ou é preciso algum tipo de habilidade computacional e mnemônica inata, além do treino?


  • As Lições

Depois, ao longo da vida, conheci pessoalmente alguns gênios, alguns superdotados, alguns "aspies" e algumas pessoas com alto QI. E tive sempre a mesma percepção, de que estava diante de um talento natural.

Aquele dia no campeonato foi apenas a primeira vez; e como tal, foi marcante e inesquecível. Desfez o emburrecimento que os AOEC'S haviam induzido em mim.

Nunca mais confiei em professores. Se alguém é incapaz de reconhecer um aspecto óbvio - elementar- da realidade, e o falsifica, então esse alguém não é cognitivamente confiável para mais nada, o que o torna totalmente inepto para o ensino. Até hoje, 90% dos professores que conheci eram desse tipo- o que me fez detestar a escola.

Mas não é bem culpa deles: é um fenômeno da modernidade/pós-modernidade negar a realidade em função de necessidades psicológicas e sociais. Assunto sobre o qual irei falar em outra resposta.

Se eu tivesse comprado essa balela de que "todo mundo é igual, com a mesma inteligência", eu estaria até hoje tentando, sem sucesso, ser um enxadrista tão bom quanto o Bob Fisher ou o Magnus Carlsen. Estaria infeliz e deprimido, sem saber aceitar minhas limitações e provavelmente nunca teria descoberto minhas habilidades naturais, que são outras.


[Samuel Reshevsky, com apenas oito anos, em 1920, derrotando mestres de xadrez na França.]

Você acha que toda criança é - ou pode ser - igual a esse guri?


Por outro lado, com o tempo, descobri que era muito mais habilidoso em escrever do que em jogar xadrez. E de fato, várias pessoas já me disseram que "tenho o dom". Não sei se é dom, mas realmente sinto que nasci para escrever, que é uma vocação, que tenho algum jeito para a coisa. E embora eu ainda tenha que melhorar MUITO para ser um bom escritor, posso dizer que escrever "é o meu negócio", como dizem os gringos.

Então, três coisas posso dizer para vocês: jamais confie 100% em seus professores, especialmente se algo na sua experiência pessoal - ou intuição- contradiz diretamente o que eles alegam. Segundo: saiba reconhecer quando alguém é superior a você em algo, e terceiro: busque sempre saber no que você é bom. Se fizer essas três coisas, você vai conseguir:

  • a) ir além dos seus professores- e saber quando eles estão te enganando, omitindo fontes e fatos ou apenas propagando inverdades porque é como aprenderam;
  • b) aprender com as pessoas que são muito melhores que você numa dada área ou atividade e;
  • c) impressionar e ensinar algo as pessoas (mesmo àquelas que podem ser muito superiores em outras áreas).

Hoje, por exemplo, eu sei que se não treinar muito pesado e muito consistentemente durante anos, não terei a mínima chance de vencer um enxadrista mediano.

Mas não me ressinto disso, porque sei que com meus textos, posso chamar a atenção para a história do xadrez, para os seus benefícios, para as biografias dos grandes mestres e para a beleza e grandiosidade do jogo que ao mesmo tempo é arte e guerra. E com isso posso despertar o amor e o interesse das pessoas pela Arte de Caíssa.

Esse é um prazer que eu teria perdido se tivesse ouvido o populismo de meus professores e de outros demagogos.

                                                                              

                                                                        ***

Nota do editor: Assim como outros textos deste blog, a obra acima foi originalmente publicada como resposta no site Quora