31/05/23

Algumas Dicas Para Melhorar Sua Escrita

Tenho pretensões literárias, culturais e intelectuais: alguns livros para terminar de escrever, ao menos uma editora para criar e muitos livros para traduzir.

De experiência, tive alguns contos e crônicas publicados em blogs e revistas literárias online, algum flerte com fanzines, alguns artigos opinativos espalhados pela internet, e performances literárias variadas em ambientes virtuais variados. Blogs, já os tive aos montes. No mínimo, uns treze. Mas eu chutaria uns quinze.

[Jack Kerouac tendo um orgasmo literário. Quem nunca?]

Passei em duas universidades públicas federais, sendo que uma delas é considerada uma das melhores do Brasil. Sem cursinho e sem sequer ter estudado muito. Tudo isso, em parte considerável, pelo peso das redações - e em outra parte pela cultura humanística que adquiri como autodidata. No vestibular de uma dessas instituições - uma das melhores e "mais difíceis" universidades do país- minha nota de redação foi 9.9.9.8. Ridículo, não é mesmo? Nem ostentar um dez eu consigo!

Já fiz mulheres inteligentes se apaixonarem por mim, com textos. Já fiz moças lindas se encantarem por mim, com textos. Já troquei e-mails com amigos, de forma recorrente, promovendo debates, durante alguns anos. Já fui convidado para escrever em site de amigo e até em revista de intelectual acadêmico. Ah, e já interagi e conquistei a atenção - as vezes até o respeito - de colunista famoso da Folha e de gênio de elevado QI com registro no Guiness.

Por meio dos meus textos, consegui a admiração de uma quantidade significativa de gente extremamente inteligente e brilhante. Gente com uma inteligência que provavelmente eu nunca vou ter. É tentador citar os nomes das pessoas que já me elogiaram (por que algumas delas são de enorme relevância para o cenário intelectual e cultural brasileiro) mas mesmo assim não o farei. E por que? Bom, porque sei que, embora tenha melhorado muito desde que começei a escrever, embora tenha vivido algumas coisas das quais me orgulhe, tenho a plena, visceral e tortuosa consciência de que estou longe, MUITO LONGE, de ser um bom escritor.

Escrever, eu escrevo, só não escrevo bem!

Todos os elogios que recebi servem muito bem para me motivar a continuar escrevendo e mostrar que estou no caminho certo, mas nenhum deles vai melhorar minhas habilidades literárias: e é isso o que me interessa.

Sendo assim, mesmo sem ser um bom escritor, acho que, dada essa leve bagagem, posso te deixar algumas dicas que me ajudaram muito.

Vamos lá:

Por hora, vou deixar as dicas apenas para quem quer dar uma melhorada no texto. Outra hora repasso algumas dicas para quem quer ser escritor, viver de texto e de livro (algo que eu ainda não consegui, mas que devo conseguir num futuro relativamente próximo).

Notem que determinadas dicas serão mais úteis para determinadas pessoas. Mas, de início, eu recomendaria que se investisse em cada uma delas. Selecione as que achar mais apropriadas e anote-as.

#1 Você não precisa ser um expert em Gramática

                      [Antonio Houass. Esse cara sabia tudo, só não sabia escrever]

Dica contra intuitiva? Talvez! Mas extremamente verdadeira. E é especialmente verdadeira no meu caso. Alguém entendido em português e gramática sente calafrios na alma ao ler meus textos, já que estão atulhados de erros.

Se isso é verdade por um lado, por outro é verdade que o conteúdo, a didática, a clareza e o bom (ou mal) humor chama a atenção. Então, existe esse aspecto, não formal e qualitativo, do texto; que se relaciona mais às ideias, ao ritmo de condução e encadeamento das mesmas do que à correção.

Claro: sem um domínio mínimo, elementar, de pontuação, sintaxe, regência, ortografia, colocação pronominal, tempos, modos verbais e demais ferramentas, você não faz muita coisa. E meu ponto é justamente este: domine ao menos o básico, o resto você melhora com o tempo, a prática, o estudo e com a ajuda dos mestres.

Não espere dominar a língua primeiro para depois escrever. Essa é a maior besteira que alguém pode te falar, pelo simples motivo de que você só domina alguma coisa quando a pratica exaustivamente. Se você não praticar os usos, aplicações e características do idioma em seus textos, como é que vai se tornar um bom escritor? Seria como tentar ser bom jogador lendo livros sobre a natureza do futebol e não praticando o esporte.

Acredite em mim: o futuro de todo formalista é virar um gramático ou crítico literário que não é lido por nenhuma pessoal normal, ou então um lexicógrafo ranhoso e pedante. Nesse sentido, cabem aqui as palavras de Millôr Fernandes sobre Antônio Houaiss (que, embora fosse um dos maiores eruditos da língua, era considerado mal escritor):

"Houaiss conhece todas as palavras da língua, ele só não sabe juntá-las"

Não vá me entender errado: não estou dizendo para abandonar os manuais, estou dizendo para não ficar apenas neles. É preciso estudar E praticar.

#2 Faça experimentações psiquico-literárias.

[O grande segredo que os escritores não te contam: escrever é fazer lavagem cerebral no leitor]

Essa dica é um complemento da anterior. Você deseja que seus textos sejam lidos e produzam algum efeito na sociedade ou ao menos em seu leitor, certo? Pois, para isso, você precisa conhecer não só o seus textos, mas os leitores disponíveis. Muitas vezes, para alcançar um público maior, você precisará simplificar vocabulário, modulando e adequando a linguagem e o conteúdo ao nível do ouvinte. Logo em seguida, conforme desperta a curiosidade dele, pode ir elevando-o para patamares e elocubrações mais sofisticadas.

Mas antes você precisa de leitores. Então não tenha medo de agradar, de provocar, de chocar. Atraia leitores. Escreva sobre o que o brasileiro gosta: putaria, sexo, futebol, novela, política, piada, fofoca. Mas escreva sob sua ótica, dê o seu ponto de vista, seja honesto, seja falsificado, seja polêmico. Eu odeio futebol e falo mal dele vez ou outra. Mas falo de futebol citando Nelson Rodrigues e Lima Barreto, ou seja: se a pessoa não conhece nada de literatura, mas gosta de futebol, eu já expando o universo dela, e expando para dentro do meu mundo, que é o mundo literário.

Escrever, em grande parte, é seduzir pessoas para o seu mundo mental, emocional, intelectual e filosófico. Também é invadir sutilmente a mente dos outros e plantar lá as suas ideias, ou deixar a sementinha delas. É entrar lá e corrigir perspectivas, ampliar horizontes, desfazer nós cegos que maus professores e educadores ajudaram a dar.

Em suma, o escritor é muito mais poderoso do que comumente se pensa. Mas antes ele precisa ser lido! Então aprenda a chamar a atenção e angariar leitores.

Faça textos para amigas, para professores, para seus pais, para blogs, para o facebook, para o Wattpad, para o Medium. Vá em eventos, organizações, escreva cartas para escritores ou blogueiros, enfim. Vá criando redes com leitores e escritores. Estudando como reagem aos seus textos, se adequando ao público de um nicho para depois roubar e conduzir esse público ao seu nicho.

#3 Não se deixe abater pela crítica especializada

[Olha, se não é um crítico da Folha/FLIP! Aposto que sei o que ele está pensando: "Hum…como vou citar o Philip Roth no meu artigo de amanhã sobre essa exposição cubo-dadaísta?"]

"O que é um crítico de arte? É um artista frustrado!"

Esse é um bordão malicioso, mas contém alguma verdade. Em geral, como todos os intelectuais, os críticos tendem a se agremiar em Torres de Marfim para ficar exaltando seus autores favoritos:

"Olha esse novo romance do Philip Roth, meu deus, como ele é bom!"

Ass: crítico literário qualquer da Folha de SP.

Raramente eles param para olhar o que se passa lá em baixo, entre o povo.

Eu conheço um bocado de gente que é leitor voraz, inclusive de literatura, e nunca conheci na vida alguém que lia Philiph Roth. Mas que lia Paulo Coelho e Augusto Cury eu conheci um monte.

Na verdade, Paulo Coelho e Cury só ficaram tão grandes justamente por que a crítica especializada não dava atenção nenhuma para eles. Você já conheceu gente normal que dá ouvido a críticos literários? Não existe. Gente normal gosta de resenha de blogueiro, lista da Amazon, Buzzfeed e literatura modinha.

Enfim, não queira escrever para agradar intelectual, nem para agradar professor. Escreva para comunicar algo que você acredita relevante, que tenha a ver com seus valores ou que produza no leitor os comportamentos e pensamentos que você julga apropriados e saudáveis, ou que apenas conte a história que você quer contar.

#4 Mostre seus textos como dançarinas de funk mostram a bunda.

[O que é bonito é para se mostrar, o que é feio também!]

Mostre seus textos, sem pudor, para amigos mais cultos, mais intelectualizados e com maior bagagem literária. Eles lhe darão os feedbacks mais produtivos. Se conseguir angariar o elogio do leitor comum e deles, vais estar no caminho certo.

#5 Aprenda com os melhores/ Seja humilde

[Seja um eterno aprendiz dos gênios. No seu caso, dos literários]

Faça um monte de amigos mais fodas que você, cerque-se de gente melhor que você em tudo, e seja minimamente humilde para aprender com todos. Gente inteligente e culta adora falar e ensinar o que aprendeu. Ainda mais num país em que as pessoas fogem de livro e de reflexão como o diabo foge da cruz

#6 Seja Eficiente

[A famosa poesia-porcaria]

Poesia? PARA A PUTA QUE PARIU COM A POESIA!

Grande parte do que se chama poesia hoje são textículos vagabundos sentimentalóides que fazem joguinhos de palavras. E quer uma novidade? Isso não impressiona ninguém! Qualquer mocinha de 13 anos que tenha sentimento romântico e um Minidicionário Aurélio faz isso.

Poesia de verdade é um treco difícil para cacete. Tem métrica, exige um domínio desgraçado da sintaxe e das figuras de linguagem. Esse treco que o pessoal faz é, no máximo, peido poético: a expressão de um sentimento genuíno que a preguiça intelectual impediu que se transformasse em algo realmente impressionante.

Comece pela prosa. Aprenda a ser claro, a distinguir bem o significado da palavra. Tenha bagagem semântica, filosófica, lógica, gramática. Quando você souber usar o básico dessas ferramentas, aí sim pode começar a brincar com as palavras e tentar torcer o idioma expressivamente.

Mas antes disso, sem recursos, seria como tentar construir uma casa só com tijolos. Não dá: precisa de argamassa, cimento, telhas, sapatas, vergalhões, janelas, portas, etc.

#7 Jamais seja comedido

       [Pavonei-se sempre que for conveniente. Se você tem algo a oferecer: exiba!]

Eis aqui um grande segredo que aprendi com o Ray Cruz, um amigo poeta underground que infelizmente não se encontra mais entre nós. Que é:

"Transforme-se em um personagem, antes que a sociedade faça isso com você"

As pessoas gostam de personagens. E entendem as coisas melhor por meio de caricaturas. Então saiba abusar disso, dos clichês. Você acha que o Bolsonaro seria eleito se não endossasse o mito do Comunismo Onipresente? Não, não seria. Olavo de Carvalho, Rodrigo Constantino e vários outros autores ficaram anos moldando o imaginário popular com a ideia de que todos os setores culturais no Brasil estavam dominados por Comunistas.

Se você for sensato, comedido, justo, ninguém vai te ler. Seja radical, bata em todo mundo, fale mal de gente famosa, você quer ser lido, ou não? (Até hoje o meu texto mais comentado é o que eu dou pancada carinhosa no Olavo.)

Claro, é possível fazer contraposições e ataques com classe, estilo, ironia e sofisticação. Com o tempo, você pode aprender a fazer críticas pesadas, mas extremamente pertinentes, com um humor absolutamente genial. Quer um exemplo? Deixarei quatro:


Por hora, é isso. Leiam meus textos, me sigam, acompanhem minhas dicas, me façam boas perguntas, corrijam meus erros nos comentários, me escrevam cartas de amor, de ódio, me xinguem nos comentários, me mandem propostas indecentes inbox, me deem um emprego.

Me façam rico e bem sucedido, e então eu escrevo um livro com tudo o que sei ("TODOS OS SEGREDOS DA VIDA, DA ARTE, DA FILOSOFIA, DO SEXO E DA RELIGIÃO - VOLUME ÚNICO- especial para antigos amigos, leitores e colaboradores do Quora) só para vocês.

Abraços,

especialmente nas leitoras

:)

24/05/23

Notinha #11: Andressa Urah e o futuro do Brasil

Li a notícia de que um menino europeu de doze anos derrotou um Grande Mestre de Xadrez e não contou a ninguém de sua classe, simplesmente porque não queria se gabar.

Aparentemente, existe gente assim no mundo. Enquanto isso, aqui no Brasil, Andressa Urah, conhecida enxadrista de pintos, dá entrevistas detalhando suas atividades zoofílicas na infância. Inaugurando, assim, uma nova e surpreendente parafilia: a PedoZoofilia.

De graça, e no Youtube.

Penso no enxadrista mirim europeu, penso na vanguardista Andressa Urah. Lembro de Stephan Zweig. Lembro de sua frase, quase certeira: "Brasil, país do futuro."

Faltou dizer que era um futuro distópico.

17/05/23

Notinha #10: As Vantagens da Ignorância

O que me livrou do suicídio não foi Deus, o Amor, a Família ou a Esperança, mas sim a Burrice. Minha perfeita, gloriosa e abundante burrice.

Aconteceu que, pesquisando, obtive o raro e polêmico "Manual Completo do Suicídio". Livro escrito por um japonês que catalogou e descreveu os vários métodos, comparando eficiência, nível de dor e impacto social.

O problema é que estava tudo em língua japonesa. Nenhuma versão traduzida, nem em inglês. Meu último ânimo vinha da ideia de deixar esta vida, mas a embaraçosa situação irritou-me tanto que até esse ânimo eu perdi. Até nisso eu fracassei.

E hoje estou aqui, vivinho da silva. Prova incontestável de que a ignorância é uma benção.

10/05/23

Ela Dança Enquanto Come





E se ela não gostasse? Meus amigos gastronômicos achavam maravilhoso, eu adorava, não conhecia quem reclamasse, mas... e se ela não gostasse? Ela cozinhava, parecia entendida. Talvez fosse chata com comida. Será? Tarde demais, porque já estávamos sentados esperando o yakisoba do china.

Eu apreensivo, ela revelando que lhe era habitual dançar levemente enquanto comia. Justificava se dizendo esquisita. Mas eu a pensava divertida, animada, espontânea. Fiquei de olho quando ela foi comer. Rejeitou a carne e pediu um mar de shoyu. Logo nas primeiras garfadas a expressão de satisfação despontou, e ela, tão bonita, meneava a cabeça em dança sutil enquanto comia. Eu assistia, dava risada e me deliciava com aquela presença. Porém, em meu íntimo, ainda duvidava. Estaria mesmo ali, com ela? Não seria delírio, sonho, ilusão?

Dois meses antes, numa festa infantil, eu a vi pela primeira vez. Ela estava lá, muito peculiar, distinta, dona duma beleza mediterrânea e tropical; os traços finos, a cor morena, vestindo preto, um ar de mistério e de mulher interessante que lhe é tão próprio. Ela e o filhinho, muito novo, ambos num canto da festa, esparramados ao chão, brincavam, concentrados um no outro. Imensa devoção ao filho. Moça linda e encantadora, pensei, de aura magnética... Quem será? Donde vem? O que sente? O que pensa? Que dores, que amores, que temores? Que veria neste perdido? Daria-me amizade, carinho, afeto ou desdém?

Eu acompanhava a amiga Marina Lemos e conversava com agradáveis pessoas, mas a figura daquela mãe misteriosa me fazia a cabeça e me atiçava o olhar. Meu sentimento era estranho, vago, indefinido. Um repentino e aparentemente injustificável encantamento, vontade de conexão que me fazia querer mais dela: a voz, o sorriso, a personalidade, o jeito.

Impossível conhecê-la. O motivo: ela mãe, eu vagabundo. Ela integrada ao mundo, eu deslocado dele. Ela viva, muito viva, eu meio morto, meio suicida. Apesar do encanto, fui racional, optei pela renúncia. Um notívago na vida de uma mulher tão solar? Difícil. Se - mesmo sem malícia - eu lhe dissesse que ela se fazia radiante ao brincar com o filho, e que emanava um magnetismo muito próprio, passaria ridículo. Que pensariam? Sujeito mau caráter, cortejando mãe que cuida do filho, tarado implacável, canalha, imoral, pervertido, pornógrafo disfarçado de escritor. Não, eu não deveria aborda-la, não era prudente.

Ignorar a atração. Seguir a vida. Assim, sem saber quem ela era, tendo só a lembrança de um encantamento talvez injustificado. Capricho de minha imaginação literária, que via coisa onde nada havia. E tudo o que eu teria dela: um vislumbre.

Para renunciar sem lamento, uma técnica sofisticada. Primeiro, convenci-me de que foi a beleza o que me atraiu, depois imaginei nela uma personalidade banal. Evangélica, caretíssima, sem ideias próprias, experiências traumáticas ou um grande sofrimento na alma. Seria essa a minha verdade. Uma pena existirem no mundo pessoas de aura tão encantadora e conteúdo tão precário. Mais uma das grandes contradições da vida, pensei. E fiz-me liberto daquela atração. Deu muito certo, ao menos por um tempo.

Não mais a vi e já imaginava-me livre de seus encantos.  Assim foi até ontem - dia maldito no qual aquela moça me enredou de vez...

Ontem: o segundo e fortuito encontro. Outro lugar, outro contexto. Com ela lá, tive de novo o sentimento, a curiosidade, o interesse. Havia algo novo, uma informação que dizia: "Erraste feio, João Ramalho, porque ela não é medíocre coisa nenhuma, deve ser muito interessante, isso sim". A conduta diferente, inusitada. Naquele show de Rock, ela de aura solar, todos de preto e ela de regata amarela. No meio do caos, ela lia, sozinha, independente, certa de si, livre. Livro volumoso, capa dura, ela sentada em semi-lótus, arvore atrás, as pessoas passando, este autor  inebriado pelo álcool, o cover de Led Zeppeling tocando Immigrant Song, o entardecer, tudo ocasião propícia, tudo convidativo. Deveria falar com ela, era óbvio, era um chamado.

E então, passadas  algumas horas, nós estávamos ali, entrosados, atentos, falando sem parar e curiosos um com o outro. Ela mãe e trabalhadora, eu solitário e vagabundo. Ela solar, eu lunático. Nossa divertida interação incluiu peregrinar na noite pela cidade (ideia dela), apreciar o melhor yakisoba da região (ideia minha) e desfrutar uma rica conversa que esmiuçaria detalhes complicados de nossas biografias.

Já tarde, pouco antes das dez, depois de muita prosa, andanças, sorrisos e revelações, nos despedimos.

Longe de casa e do show, nas ruas escuras e quase desertas de uma região talvez perigosa, eu regressava ouvindo música no headphone, e pensava no inusitado daquela conexão.

Difícil compreender a nossa insuspeita harmonia. Antes, tentara fugir dela, renunciá-la. Mas agora me via girando em seu vórtex de charme, carisma e seu imenso fogo de vida. Uma sensação que aquilo devia acontecer, que não podia ter evitado. E ela... a personalidade tão parecida com algumas mulheres do meu passado... Relação déjà-vu? Fatalidade? Eterno retorno? Destino? Não sei, não sei...

Ainda penso no seu jeito divertido, na história de vida tão interessante, com episódios muito tristes, dramas e mistérios. Se a verei novamente eu não sei, nem me atrevo a especular.  Satisfeito com o encontro, alegro-me ao pensar naquela moça tão incomum. O brilho no olhar, o sorriso, o bom humor...

Lembro, sempre lembro e sorrio: se a refeição é boa, ela dança enquanto come.

03/05/23

Boba proesia


Escrevo melhor quando estou só
Ouço a angústia gritar
Diz ela com clareza
Importante expressar

Não faço prosa nem poesia
Pois não entendo dessas coisas
Faço aqui coisa nova
Uma invencionice minha
Mistura esquisita que chamo de "proesia"
Coisa novíssima que não é prosa e nem poesia

Faço aqui bobagem pequena
Brincadeira de subletrado com sua pena
Gozação de moço solitário
Que tem na palavra um amigo gregário

Queria agora uma lasciva imunda
Para gastar minha criatividade
Fazendo rimas malucas
Mentiria sem piedade
Diria que a amo
Que aos meus olhos é a mais pura

Ganharia dela talvez um sorriso
Talvez uma negativa ou um gracejo
Mas quereria mesmo é despi-la
Pondo minha boca em seu umbigo