Já dizia Raul Seixas: O Diabo é o pai do Rock! |
É assunto velho e batido, mas nunca sai de moda. Sendo assim, vale algumas considerações.
Antes de tudo, vale esclarecer que algumas músicas se utilizam de referências satânicas mas não transmitem mensagens malignas. Exemplos de obras desse tipo são: “Mr. Crowley”, do Ozzy Osbourne (que faz referência ao mago britânico Aleister Crowley), “O Diabo é o Pai do Rock”, do Raul Seixas; e “Como o Diabo Gosta”, do bardo Belchior.
Tais músicas são “satânicas” apenas no mesmo sentido em que se poderia considerar a própria Bíblia Sagrada satânica, isto é: no fato de citarem e articularem narrativas em torno do demônio ou de figuras relacionadas a ele. Mas basta analisar as letras e o contexto de origem para compreender que não passam mensagens negativas.
Ainda nesses casos, seria razoável sugerir que vigora nessas letras um “satanismo” simbólico, romântico, que remonta ao mito de Prometeu, o titã que se rebela contra os deuses e ensina a arte de fazer fogo aos homens. Ou seja: trata-se da expressão poética e romantizada da rebeldia contra a autoridade. Sentimento que se torna perfeitamente compreensível quando consideramos a proposta de artistas oriundos da Contracultura.
[Black Sabbath- uma das bandas criadoras do gênero “heavy metal”, conhecida por explorar temas sombrios e sobrenaturais. O próprio nome da banda já revela muito, pois corresponde à “missa negra” das bruxas]
Saindo um pouco do romantismo, há também as canções mais sugestivas, aquelas que manifestam caráter obscuro, incorporando elementos do terror, do horror, do sobrenatural hostil e explorando aspectos mais sinistros do comportamento humano. As letras das canções desse tipo costumam incluir histórias e frases sangrentas, funestas, apocalípticas e de mau agouro. Dois bons exemplos são: “Number of the Beast”, do Iron Maiden e “Sympathy For the Devil”, dos Rolling Stones. A última contém trechos como:
Por gentileza me permita que eu me apresenteSou um homem de fortuna e requinteEstou por aí já faz alguns anosRoubei as almas e a fé de muitos homensE eu estava por perto quando Jesus CristoTeve seu momento de duvida e dorFiz a maldita questão de garantir que PilatosLavasse suas mãos e selasse seu destino….Prazer em lhe conhecerEspero que adivinhem o meu nome, oh yeahMas o que lhes intrigamÉ a natureza do meu jogo…Assim como todo policial é um criminosoE todos os pecadores SantosComo cara é coroaBasta me chamar de Lúcifer…Pois estou precisando de alguma restriçãoEntão se me conhecerTenha alguma delicadezaTenha a simpatia, e algum requinteUse toda sua educação bem aprendidaOu deitarei sua alma para apodrecer
Uma composição que certamente arrepiaria um crentão assembleiano.
Não podemos esquecer também daquelas canções cujo suposto conteúdo satânico não é óbvio, mas está camuflado ou diluído em várias referências simbólicas, engendrando diversas lendas urbanas. A mais clássica desse tipo é “Starways To Heaven” do Led Zeppelin. As especulações e análises de fãs sobre o significado esotérico dessa bela canção vão desde possíveis referências à lenda do Flautista de Hamelin, passando por obras do já citado Aleister Crowley (de quem o guitarrista Jimmy Page foi ardoroso fã) e fechando com, claro, possíveis mensagens satânicas que, dizem alguns, podem ser ouvidas quando o disco é tocado ao contrário.
[O fundador Anton Lavey, ao centro, e os outros membros da Igreja de Satan. Luxúria, vícios, egoísmo radical e sexualidade desvairada, eis os valores do satanismo moderno que eles defendem.]
Outra música que talvez fale de algo satânico é a música Hotel California, da banda Eagles. Acontece que o Hotel California, ao qual a banda se refere na letra, era nada mais nada menos que a sede da Igreja de Satan..
Intrigante, não? E tudo fica ainda mais suspeito quando se analisa a letra da música, pois ela fala, entre outras coisas, de uma missa sinistra num ambiente com mulheres, festins orgiásticos e itens de luxo. Realmente a conjuntura bem próxima do que viviam os membros da congregação.
E, finalmente, devo incluir minha categoria preferida: aquelas que são pesadas, sinistras e funestas, mas que não falam necessariamente sobre o Diabo. Dentre essas, a mais “satânica” que ouvi nos últimos tempos foi a canção ‘Bob’, do rapper ‘K a m a i t a c h i’. Pode ser descrita como uma baladinha sinistra que retrata as angústias de uma criança assombrada por um poltergeist. O ideal é ouvir à noite e a luz de velas. É uma linda canção. Muito recomendável.
Ouçam e apreciem:
Papai, tenho que te apresentar o BobEle vem cuidar de mim enquanto tu dormeDiz que eu tenho outras mamães, que tu esconde até da morteE teu nariz fica branquinho usando algo que não podeNão pode, nãoNão pode, nãoNão pode, não….Meu amigo Bob dizQue é um menininho corrompidoE toda vez que se acende a luz do quartoFica espantado, por isso todo esse caco de vidroBob diz que é filho de um anjinho que foi caídoE toda vez que se acende a luz do quartoFica espantadoPor isso ele inverte o crucifixo
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