29/11/21

Blogueiro: O Cronista da Cultura Esquecida


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Acrescentei a este blog o recurso de exibir os assuntos em tags por frequência. Feito isso, descobri que até agora (depois de 6 postagens) o tema sobre o qual eu mais falei foram blogs. Um blog falando sobre blogs e sobre pessoas que escrevem blogs - que recursivo, não? 

Felizmente criei este site para publicar nele o que eu quiser, e como é um blog sem leitores, ou de leitor único, tem a rechonchuda felicidade de ser um blog acima de críticas. Em verdade, confesso ao meu público inexistente: gosto do que estou fazendo aqui. É simples, é econômico e me impele a escrever. 

Há, para escritores iniciantes, várias vantagens em ter um blog, a principal delas talvez seja a efetivação de uma rotina, de uma regularidade no ofício. Outra coisa muito legal e interessante é que não importa o quão descompromissado possa ser um blog, se ele fala a respeito de algo (um produto cultural, uma notícia, um evento) que as mídias maiores não falam, então ele se torna uma fonte alternativa, uma mídia alternativa. Desse ponto de vista os blogs nada mais são que os fanzines da era digital.

Apenas para exemplificar, citarei dois exemplos de blogs descompromissados e em estilo antigo, amador, que me trouxeram informações sobre assuntos culturais não tratados em mídias maiores. 

O primeiro deles foi o divertido e meio monótono meuqiabaixodezero.blogspot.com, que é divertido por ser um daqueles blogs "nerds" que compilam informações sobre desenhos, séries e músicas dos anos 80, 90 e início dos 2000, e que é meio monótono porque em todas as postagens a autora começa com a mesma frase: "pois é, minha gente..."

Foi nele que encontrei informações sobre um desenho antigo chamado "Creepy Crawlers", que aqui no Brasil foi batizado como "Os Monstruosos". E foi fuxicando esse blog  que encontrei a indicação de uma banda divertida e pouco conhecida, chamada Jumbo Elektro.

Já recentemente, depois de ouvir esta divertida paródia (que é ainda mais divertida para quem já morou ou visitou Sepetiba):



Como eu dizia: depois de ouvir a paródia, indicada pelo meu queridíssimo irmão, eu quis saber quem eram os autores. Lá fui eu pesquisar no Google, e, para minha surpresa, cai num bloguezinho descompromissado de um amante de rock contando sobre sua experiência de ouvir um álbum da tal "Didi Subiu No Cristo", a obscura banda autora do Sepetiba Dreams.

Nos dois casos, os blogs, notavelmente despretensiosos, documentaram fenômenos culturais que não chamaram a atenção da mídia maior, mas que nem por isso deixam de ser interessantes ou relevantes para certos públicos. 

E assim o blogueiro cultural, esse personagem menor das Letras e do Web-Jornalismo, se afirma como um cronista da cultura esquecida. Nós lembramos daquilo que os outros esquecem. 

Eu gosto, e quem acha que cultura e informação nunca é demais, agradece.


26/11/21

Parabéns ao Diabo


Pequei contra o Espírito Santo.  Pecado fatal, de morte. Venho, portanto, reconhecer a  vitória triunfal da besta. Vitória, uma vez mais, contra este  sorumbático escrevinhador. Este farrapos de homem,  quase  demônio  quase anjo, que aspira fazer o bem, mas só encontra volição para o pérfido,  o torpe,  o hediondo.

Homem? Homem não. Homem: São Jorge, que venceu o Dragão.  São jorge: masculino, guerreiro, forte, símbolo de fé e vitorioso. Eu, quando muito, sou menino. Sofro a inocência frustrada de um garoto tímido, deslocado, que jamais ousou sair do mundo das idéias. Exceto para o que avilta o espírito; as causas do horror e da decadência, da pestilência e da profanação.

Mas se há defesa, e se havendo defesa eu me possa defender, diria, proclamaria até, única e derradeira verdade: eu fujo do mal. Ele, porém, me alcança e derruba. Nas lutas morais combato inimigo maior e mais forte, que esmaga-me sem a menor piedade. Apesar de tudo, apesar das inumeráveis derrotas e humilhações, apesar de ter o nome na lista dos malditos, apesar dos tantos recomeços, jamais -jamais! - deixei de desafiar o inimigo. A cabeça segue ensanguentada, mas não curvada.

Pois digo e repito: não me curvo ante a besta. Teatral e cínico, faço-me cordial. Evoco-a, encaro-lhe os olhos sem fundo, feitos de negrume abjeto, cumprimento; dou-lhe os parabéns. Vencestes hoje, criatura vil. Amanhã, porém, será outra luta. Guarda teus planos e ardis. Amanhã, no ringue dos pequenos dramas do universo, mais uma vez, duelaremos.

E neste dia, que eu tenha a força e a fé de São Jorge, que  este farrapos de homem,  quase  demônio  quase anjo, que aspira fazer o bem, mas só encontra volição para o pérfido,  o torpe,  o hediondo... Que este sorumbático escrevinhador,  um dia, ao menos, vença o Dragão.

Até lá, saibam todos: o pecado há de dominar-me as ações, escravizar-me os sentimentos.

24/11/21

Covardia e Citação

Nayane L: bela, culta e descolada. Figura sempre presente em meu passado. 
 
Reconheço que, afetivamente, sou um covarde. Medroso, negligente e magistralmente covarde. Frequentemente penso que deveria dizer certas coisas a certas pessoas. Explicar, esclarecer, fazer com que me entendam, pedir desculpas pelos tantos vacilos, mostrar que apesar de ser um imbecil, eu gostaria de não ser tão imbecil. No entanto, raramente sou capaz de abrir a boca e, olhando nos olhos, dizer o que é necessário no momento em que é preciso dizê-lo. Minha opção é outra: sair de fininho e esperar que a pessoa me esqueça. É a covardia afetiva em ação. Como sei ser solitário e estou mais acostumado que a maioria, a solidão não me apavora - embora a ideia de solidão eterna certamente cause alguns arrepios. 

E assim este estranho blogueiro prefere a solidão a ver-se em situação de fraqueza emocional. Sente o maior pavor de que descubram seu lado sensível e consciente, já que no fundo não passa de um romântico sentimentalóide.

Essa característica medíocre, que é apenas uma das várias características medíocres que constituem a minha personalidade medíocre, faz com que eu abandone ou perca várias relações interessantes e inspiradoras. Especialmente com as mulheres. Especialmente com as mulheres que importam: as cultas, literatas, espirituosas, vivazes...

Foi o que aconteceu em minha amizade com a Nayane L. Estudamos juntos na Universidade, fomos amigos e trocamos e-mails durante dois anos. Um moça deveras interessante, uma amiga literata e  virginiana. Mais uma das boas amizades que perdi. 

Hoje senti vontade de escrever a ela. Ao invés disso, preferi visitar-lhe o blog, num exercício de nostalgia covarde. A última vez que visitei não estava disponível. Mesmo assim, quis visitar. Nayane é uma escritora, tenho certeza disso. Escritores precisam manifestar-se. Os blogs, sendo populares ou obscuros, cumprem essa demanda. 

Grata surpresa foi descobrir que o blog de minha (antiga) amiga está novamente disponível. Conferi alguns textos e fui procurar o trecho que mais me comove. Ei-lo:

"Até que ponto podemos nos sentir sozinhos? Outro dia, recebi um e-mail onde um amigo diz que quase todos meus textos soam como um grito desesperado de socorro. Talvez sejam. Talvez eu sempre cantarole músicas tristes, enquanto caminho pela vida com a pose de mulher bem-resolvida, pedindo um socorro baixinho. Acho que você nunca notou essa minha anatomia extremamente frágil e melancólica. Eu constantemente peço socorro, – aqui respondo ao meu bom amigo – um socorro não se de quê, não sei de quem, não sei de onde. Eu tenho um desassossego na alma que me engole inteira, sem pestanejar."

O amigo era eu.

19/11/21

Pequeno Incremento (em homenagem aos blogs antigos)


A página do antigo jornal O Indivíduo, editado por Pedro Sette Câmara

Andei vasculhando alguns blogs antigos (os bons blogs antigos, amadores, blogspot, .org ou wordpress, sem muito SEO...) e concluí que devo incrementar algo em minhas postagens por aqui. Devo adicionar imagens. Uma imagem para cada texto, à moda dos blogs antigos.

Por causa do charme, simplicidade e funcionalidade, o formato imagem + texto se impôs como estilo blogueirístico par excellence. Nos blogs de resenhas, especialmente neles, a organização gráfica mais comum era a foto do livro, ou do autor, seguida da resenha.

Acho elegante e econômico. Além disso, é conveniente, pois o efeito é quebrar a monotonia gráfica que o texto impresso sugere. Será essa a organização que adotarei por aqui. Em dia de maior disposição, editarei os textos já publicados aqui no blog, adicionando a eles alguma imagem apropriada (ou, talvez, inapropriada). 

Curiosidade: mal tomei a decisão mencionada e sinto que a estética retrô de blog antigo e de poucos leitores já me anima a escrever mais. Mas pode ser sentimento ilusório. Veremos.


15/11/21

Xixizinho Literário Para Não Dizer que Abandonei o Blog


"Não olhem, senão eu não consigo"

Havia esquecido da possibilidade de escrever neste blog. Justifico explicando que tenho dificuldade de gerenciar postagens nos vários blogs e plataformas em que publico. Não que eu tenha publicado muito ultimamente. Para dizer a verdade, nem em meus diários tenho escrito muito...

"Escrever é como fazer xixi. Dá vontade, você vai lá e faz, aí passa. Depois de algum tempo dá vontade de novo". Foi o que disse Paulo Lins, o premiado autor de "Cidade de Deus". Na minha experiência de escrevinhador - um escritor menor, menor, menor - a coisa é bem desse jeitinho, cheia de flutuações. É claro que podem pensar que isso tem a ver com o humor de certos escritores, frequentemente acusados, com razão, de serem excessivamente volúveis.

Nesse time - o dos escritores sem ânimo - há os que escrevem espaçadamente, os que vão escrevendo cada vez menos e os que repentinamente desistem da Literatura. O caso repentino mais célebre e comentado é o de Raduan Nassar (autor que, aliás, eu devo reler em algum momento). Um que jamais levou o próprio texto a sério - talvez com razão - foi Ivan Lessa. Quando publicou, só o fez por insistêcia de seus amigos, especialmente Diogo Mainardi. Radical foi Herberto Salles, que teria queimado o próprio romance. Por sorte, uma versão enviada a um amigo sobreviveu e foi publicada.

Caso menos conhecido, mas também emblemático, é o do meu amigo Wanderson Duke Ramalho, ex-jornalista cultural que escrevia para o CineZenCultural e para o OutrasRotinas. A resolução de Wanderson surpreendeu-me. Pensando melhor, não sei se foi bem uma resolução ou se foi algo inesperado que acabou acontecendo. Wanderson é militar - conheci-o numa escola da Marinha - e sei que os meios militares não são exatamente os tipos mais cultos e letrados. Embora seja muito bem casado com a culta Hosana, acho que o meu amigo não recebia muitos estímulos para escrever. Não, ao menos, de seu meio mais imediato. Aparentemente, contrariando a própria premissa que dá nome a seu blog, Wanderson caiu na rotina iletrada da vida do trabalhador brasileiro.

Ele não foi o único. Darlan Grossi, nosso amigo em comum, artista e blogueiro que chegou a ter texto incluído em coletânea da FluPensa, também não escreve mais. Darlan também é militar e também é casado. Alguém notou o padrão? O meu palpite é de ambos foram absorvidos pelas rotinas da vida burocrática e assim a vida contemplativa, literária e descompromissada foi perdendo lugar. Hoje em dia são homens sérios, de família e respeitáveis, não os vagabundos ébrios e românticos dos nossos tempos de escola militar. Mas já não escrevem. Como poderia um homem sério escrever literatices?

Eu, por outro lado, ainda escrevo. E até, vejam só!, sofro apoio e pressão da família para escrever. Querem porque querem que eu escreva um livro. Estão certos. Escritor sem livro não é escritor. Há anos sonho com a possibilidade de dar o golpe e magicamente mudar minha alcunha de "blogueiro" para "escritor". Ual, fico excitado e eriçado só de pensar nas mocinhas me chamando de escritor. Sim, vaidade, eu sei. Mas é pura verdade e é a vaidade de todos os semiletrados, especialmente os mais pretenciosos como eu.

Tenho que escrever. É o que decidi fazer, afinal. É o que gosto e o que consigo. Pretendo adquirir alguma outra habilidade, especialmente uma que me dê dinheiro e me agrade. Assim conseguirei sobreviver, comprar meus livros e escrever o que der na telha.

E é assim, com estas reflexões mixurucas, que volto a fazer-me presente neste blogzinho sem leitores. Felizmente este blog foi pensado para ser livre e me deixar à vontade, o que permite textos de natureza mais crônica e pessoal. 

É apenas um xixizinho, digamos assim. Por hora, esse é o caminho mais prático. Melhor isso do que nada.