30/11/22

Uma Introdução à História do Rock e seus Principais Subgêneros

Aquilo que nós hoje chamamos de "Rock" nasceu como "Rock N' Roll" em meados dos anos cinquenta, tendo como representantes clássicos Elvis PresleyChuck Berry e Little Richards. Era uma música descompromissada, rebelde, feita para dançar e falar sobre amor.

Para a época, o rock era chocante por vários motivos: o rebolado, o barulho, a tensão sexual evidente nas letras, as referências a bebedeira e vida noturna, etc. Diziam que o Elvis "dançava como um negro" e inicialmente os programas de TV não mostravam os movimentos sinuosos e sugestivos que, ao dançar, ele fazia com a pélvis. De fato, Elvis realmente dançava como um negro, afinal muito do rock vinha da música negra. E isso era algo totalmente inaceitável para o Establishment cultural dos anos cinquenta.




Elvis. Belo, branco e sensual. Era tudo que o Rock precisava para decolar.


Johnny B. Good - Chuck Berry. Se você gosta de cinema, já deve ter ouvido essa música em De Volta Para o Futuro, nesta cena épica: 




Como você pode ver, o rock já nasceu com vocação para o escândalo e para a fanfarrice. Tendência que só iria se acentuar com o desenvolvimento dos vários subgêneros que surgiram.

É interessante notar que o Rock N' Roll é um gênero do pós-guerra. E que embora tenha lá sua inspiração no Blues, não carregava nadinha do dramalhão dos afroamericanos sofridos que despejavam sua tristeza melodiosa em sinistros acordes de violão "endiabrado".


O clássico Blues do negro triste e místico.


Crossroads- Robert Johnson


Nada de tristeza como no Blues. O Rock era festeiro e dançante.

E esse foi o início.

Até que vieram os anos 60.

Os anos sessenta, meu chapa. A década do Woodstock, da Guerra do Vietnã, da Guerra Fria, dos Movimentos Civis, das Milícias Revolucionárias, do Assassinato de Kennedy, do Maio de 68, da Ditadura Militar no Brasil e da Viajem à Lua. O mundo estava em completa ebulição e nada mais seria como antes. E é claro que o rock iria mudar também.

Aos poucos os músicos foram adicionando, retirando e reorganizando os elementos formativos do estilo. O rock britânico dos Beatles já era muito diferente do rock do Elvis. E o próprio Elvis não gostava dos Beatles.

Se na década de 50 o Rock foi um fenômeno basicamente norte-americano, na década de 60 o rock explodiria como um fenômeno fonográfico (e cultural) mundial. E aí, em paralelo com o movimento hippie e toda a contracultura, surge a mitologia do "Sexo, Drogas e Rock N' Roll".


"Um pequeno passo para o homem, um grande salto para a humanidade". Foram as palavras de Neil Armstrong ao pisar na Lua.


Agora o rock vai ficando mais sofisticado, filosófico e cada vez mais experimental. O chamado Rock "clássico" é dessa época. Além dos Beatles e dos Rolling Stones, despontando na cultura havia: Jimmy HendrixJanis Joplin, The DoorsFrank Zappa and The Mothers Of InventionCreedence Clearwater RevivalThe WhoThe AnimalsThe Velvet Underground, etc.

No Brasil nós tínhamos, sobretudo, Mutantes e Raul Seixas (Raul era muito fã de Elvis e os Mutantes eram muito fãs dos Beatles e do Rock Psicodélico).

Foi nos anos sessenta que o rock começou a se ramificar muito e todo mundo começou a flertar com ele. Mas acho que o grande estilo da década foi o Rock Psicodélico mesmo. Com suas guitarras distorcidas, vozes alucinadas e muito, muito ácido (*LSD*) na cabeça.


Alguns clássicos dos anos 60:


Twist and Shouts - Beatles


The End- The Doors


For What it's Worth - Buffalo Springfield


House of the rising sun - The Animals


All Along the Watchtower - Jimmy Hendrix (um dos pioneiros do Rock Psicodélico).

Na década seguinte, os anos 70, a loucura continua. Surgiram (ou se consolidaram) o Metal (Heavy Metal) e o Rock Progressivo.

O Heavy Metal foi o primeiro gênero do Rock que apostou de forma sistemática numa atmosfera musical mais sombria e declaradamente pagã. O principal nome do Metal é o Black Sabbath. Outra banda importante (embora nem todos concordem que ela é de Heavy Metal) foi o Led Zeppelin.



Black Sabbath- Black Sabbath. Essa música é genialmente assustadora.


Stairways to Heaven - Led Zeppelin. Acredite ou não, devido a várias referências esotéricas sutis, essa bela canção é considerada uma das músicas mais satânicas do Rock. Como diz a própria canção: "nem tudo o que reluz é ouro".


No Rock Progressivo, subgênero caracterizado por composições extremamente elaboradas, os grandes nomes foram o Pink Floyd, o Gênesis e o Yes. Os caras faziam músicas de 6, 10, 15 e até 20 minutos. Eram de uma dedicação e virtuosismo impressionante. Eu não sei dizer exatamente se o Queen chegou a ser considerado rock progressivo. Se não foi, chegou muito perto.

Nos 70 despontou também o grande David Bowie. Como definir seu estilo? Space Rock, talvez? Possível, ao menos no Ziggy. Acredite, cara, Ziggy Stardust and The Spiders From Mars é um dos melhores álbuns de rock dos anos 70. É realmente obrigatório. (Apesar de toda a estranheza da temática e do próprio Bowie).


Five Years - David Bowie
Shine on You Crazy Diamond - Pink Floy


                                                         Five Years - David Bowie


Shine on You Crazy Diamond - Pink Floyd


Bohemian Raphsody- Queen

Quem diria que aquele rockzinho do Elvis, alguns anos depois, iria se transmutar nisso aí, heim?


Também é nos anos setenta que surge o Punk Rock, cujas bandas mais famosas da época foram Ramones e The Sex Pistols. O Punk geralmente é descrito como uma reação debochada ao Rock Progressivo. Os músicos do Punk Rock pensavam: "E daí que eu não sei fazer uma composição com quinze ou vinte acordes? Será que eu preciso saber mesmo isso para ser um bom músico? Vou fazer uma musiquinha de três ou quatro acordes e vou cantar mesmo assim!". E foi o que eles fizeram. Só que acrescentaram algo: atitude. Ou melhor: muita atitude rebelde, debochada e mais ou menos antissocial.

O lema dos punks? "Do It Yourself" ("Faça você mesmo") e também tinham, claro, o bom e velho "Fuck The System" ("Foda-se o Sistema").



My Way- The Sex Pistols. Sid Vicious promovendo o caos e avacalhando a música de Frank Sinatra. (Para anarquistas arruaceiros como eu, Sid é um herói)
Pet Sematery- Ramones


My Way- The Sex Pistols. Sid Vicious promovendo o caos e avacalhando a música de Frank Sinatra. (Para anarquistas arruaceiros como eu, Sid é um herói)


Pet Sematery- Ramones



Hard Rock também surgiu nos anos setenta e os historiadores do rock apontam o AC\DC e o KISS como os maiores nomes desse subgênero. Normalmente as pessoas confundem Hard Rock com Heavy Metal, mas há uma dica que quase sempre funciona: se é muito barulhento e só fala de amor, vida noturna e putaria, então é Hard Rock (esse seria o caso de bandas como Skid Row e Guns N' Roses). Se é muito barulhento mas só fala de demônio, fantasmas, ocultismo, blasfêmias e coisas sombrias, então é Heavy Metal (como Iron MaidenJudas Priest e congêneres).




Rock and Roll All Nite - Kiss. Um clássico do hard rock.
Back in Black - AC\DC


Rock and Roll All Nite - Kiss. Um clássico do hard rock.


Back in Black - AC\DC



Nos anos oitenta a cena do Rock é praticamente dominada pelo Punk e pelo Hard Rock. O Hard vira uma loucura e surge o pessoal do chamado "Rock Farofa", bandas de qualidade duvidosa e estilo excêntrico e repetitivo, como Motley CrueEurope e Bon Jovi. Todos eles meio que surfavam na sonoridade pegajosa do KISS, mas sem a autenticidade do KISS.

Agora você pode até me julgar um rockeiro degenerado e de mal gosto, o que eu realmente sou, mas devo confessar que eu adoro rock farofa. Especialmente Bon Jovi. Que posso fazer? Eu nasci para o mal.




Europe - The Final Countdown


Living on a prayer - Bon Jovi.


Veja bem, nós ainda estamos nos anos 80 e a essa altura os rockeiros já tinham flertado com tudo: samba, bossa, funk, jazz, música erudita, reggae, soul, etc. Então eu estou apenas tentando resumir as correntes principais, o bê-a-bá para o recém chegado, ok?

Por conta dessas misturebas todas, todo mês aparecia uma banda de rock nova expressando uma sonoridade muito maluca que ninguém sabia como chamar. Todo mês, cara. Loucura total. Até que um dia algum jornalista espertinho teve a brilhante ideia de chamar todos esses estilos diferentões de… "Rock Alternativo".

E desde então, sob essa alcunha, nada original, se encontram bandas que nada tem a ver umas com as outras, como Red Hot Chilli PepersSmashing PumpkinsNick Cave and The bad seedsThe PixiesTalking Heads, quase todas as bandas de "pós-punk" e qualquer coisa que não se enquadrasse nas categorias usuais.




É tão inovador que você não sabe como chamar? Relaxa, meu compradre: é Rock Alternativo!



Where is my mind- Pixies.



Psycho-Killer- Talking Heads


Aliás, importante saber: o Rock é o gênero musical com mais divisões, subdivisões, microdivisões, discordâncias sobre as divisões e, para facilitar, cantores que não aceitam rótulos. Eu já vi amigo brigando sobre a diferença entre "Black Metal" e "Death Metal", chega a ser hilário.



Black Metal ou Death Metal? Para mim tanto faz. Só sei que se tem mulher diaba envolvida, eu tô dentro.


No Brasil, nos anos 80, desponta o que hoje nós chamamos de B-Rock ou Rock BR, que nada mais é do que o Rock Nacional popular, que tocava nas rádios. Se for ouvir escute as bandas clássicas: Barão VermelhoLegião UrbanaParalamasTitãsRPMIraCapital InicialEngenheiros do Hawaí, Biquíni Cavadão e afins.




Uma boa playlist de rock br:




Chegando ao fim dos 80 e início dos 90 temos a explosão do Grunge.

NirvanaPearl Jam e Stone Temple of Pilots. O grunge é uma espécie de punk sofisticado, menos intenso e muito mais cínico. Há atitude no grunge , mas não é uma atitude de mudança ou de faça você mesmo. É mais aquela coisa do vagabundo desiludido com o mundo. Grunge não toma banho, anda com roupa rasgada, tá se lixando para sucesso material. (Dizem as más línguas que o Kurt Cobain fedia um bocado).

O Grunge tem aquela coisa de "Ah, tudo é uma merda, a humanidade é uma merda, a mídia é uma merda, a politica é uma merda, a indústria musical é uma merda; então vamos encher a cara e tirar sarro desses idiotas". Mano, vou te falar uma coisa: eu adoro grunge! Rs.




Clássicos do Grunge:


Come As You Are - Nirvana


Alive- Pearl Jam


Ainda nos anos noventa desponta o BritPop, rock popular britânico, como Oasis e Blur, e ainda tem o que nós poderíamos chamar de "Rock Eletrônico", que englobaria o Trip Rock do Gorillaz, do Massive Attack e, talvez, a sonoridade do Radiohead e das bandas de New Metal, que iriam misturar música eletrônica, rock e hip-hop (Linkin Park, Rage Against The Machine e Limp Biskit).





Don't Look Back In Anger - Oasis


Clint Eastwood- Gorillaz


Faint - Linkin Park


Dos anos 90, cá no Brasil, nós tivemos o interessante MangueBeat, encabeçado pelo Chico Science e Nação Zumbi e pelo Mundo Livre S/A. Tivemos os Mamonas Assassinas, que eram um rock de humor anárquico e também Raimundos, que conseguiam ser ainda mais anárquicos que os Mamonas.

Mamonas e Raimundos são bem divertidos, especialmente se você é adolescente ou jovem ou adora uma piada de duplo sentido e uma letra sacaninha. (Evidentemente é o meu caso).





Selim - Raimundos (com a clássica frase: "Eu queria ser a calcinha daquela menina, para ficar bem perto da vagina e as vezes até me molhar")


Vira- Mamonas


Também nos 90, cá no Brasil, tivemos duas bandas muito influentes de rock: O Rappa e Planet Hemp. Duas bandas obrigatórias para rockeiros cariocas.




A culpa é de quem - Planet Hemp. Todo maconheiro adora essa música.


Tribunal de Rua - O Rappa. Essa música é a cara do Rio.


Dos anos 2000 para cá quase tudo que surgiu de interessante no Rock foi chamado de "Indie Rock". "Indie" sendo uma corruptela de "Independent". Aconteceu que com a popularização dos computadores e a ascensão da globalização, a acessibilidade dos recursos de composição e edição aumentou drasticamente. Algumas bandas dessa leva são Artistic Monkeys, Kaiser Chiefs e Franz Ferdinand.





I predict a Riot - Kaiser Chiefs


Take Me Out - Franz Ferdnand


Nas primeiras décadas deste século houve também o Pop Punk (Green DayBlink 182Avril Lavigne…), o Emo (My Chemical RomancePanic Até The DiscFall Out Boy… ).

E depois veio aquela coisa estrambótica chamada Happy Rock (Restart e congêneres) . Mas aí a coisa é triste e sobre esse tipo de subgênero me dá ânsia de vômito, então acho melhor terminar por aqui.

O que veio depois eu não acompanhei muito. Mas tem coisa boa sendo feita atualmente. Eu recomendaria fortemente MGMTTime Impala, qualquer coisa do John Frusciante e, claro, Beirut.





Nantes - Beirute


Minha a dica seria procurar as melhores músicas de cada uma das bandas que eu mencionei, em ordem cronológica, e ouvir ao menos cinco músicas de cada banda, para conhecer. Gostou muito de uma banda? Vá ouvir o melhor álbum dela. Gostou demais desse álbum? Escute os outros. Não perca tempo demais numa banda, pois há muita coisa para se conhecer. Conheça tudo o que puder, depois selecione apenas os seus favoritos.

Mas cuidado! Rock vicia! Digo por experiência própria!

Aprecie sem moderação!



                                                                                   ***


Nota do editor: assim como outros textos publicados neste blog, a primeira versão do texto acima foi originalmente publicada como resposta no site Quora.


23/11/22

A Aventura Espiritual de Alexander Supertramp

Christopher Mcclandless, mais conhecido como Alexander Supertramp

Quem nunca pensou em se afastar da sociedade, da loucura e da violência dos homens, e ir morar na roça ou no mato?

O caráter patológico e a falta de sentido dominante na vida moderna são tão intensos e onipresentes que, em consequência, não há quem não viva depressivo, angustiado e ansioso. Aliás, a depressão foi considerada pela OMS como o Mal do Século.

A vida na cidade - e no mundo "civilizado"- só é possível com sérios prejuízos a saúde mental, produzindo variadas neuroses, psicoses e tic-tics nervosos. Exatamente como naquela famosíssima e tragicômica canção dos anos 80.

Pensou que era só uma canção bobinha? Nem tanto: era praticamente uma análise clínica da vida moderna! Bem humorada, mas certeira.



Estou preso no trânsito com pouca gasolina
O calor tá de rachar e lá fora é só buzina
Perdi o meu emprego, que já era mixaria
E ontem fui assaltado em plena luz do dia!

Isso me dá tic tic nervoso
Tic tic nervoso, tic tic nervoso
Isso me dá tic tic nervoso
Tic tic nervoso, tic tic nervoso

[…] Encontro uma garota,

um tremendo avião

pergunto o seu nome

ela me diz que é João!

Isso me dá tic tic nervoso

Tic tic nervoso, tic tic nervoso

Isso me dá tic tic nervoso

Tic tic nervoso, tic tic nervoso[..]

O mundo moderno, com suas cidades, prédios de arquitetura horrorosa, buzinas, carros, fábricas e tons de cinza variados e onipresentes; não é apenas feio, poluidor, fedorento e barulhento: é enlouquecedor também.

Em vista disso, algumas pessoas se sentem extremamente motivadas a mandar tudo para a p%$@ que o p&#$l e ir viver sossegadas em algum cantinho isolado perto da natureza, do canto dos pássaros, do ar puro.

As histórias sobre pessoas que, por esses motivos e outros, se afastaram da sociedade são muitas. Contudo, existe uma em especial que me marcou muito, visto que exerceu sobre mim uma grande influência.

É claro que irei falar aqui do Christopher Mccandless, ou, para os íntimos: Alexander "Supertramp" ("Supervagabundo").


[ Mccandless, na faculdade]

A vida que Christopher levava, para muita gente, seria considerada uma vida perfeita. Filho da alta classe média norte-americana, jovem, bonito, formado por uma das melhores universidades norte americanas, culto e inteligente.

Mas tinha um defeito: uma sensibilidade moral e crítica aguçada, que lhe fazia rejeitar profundamente as hipocrisias e artificialidades da civilização. Considerava que o afastamento humano da natureza havia sido um erro. A vida humana, pensava, era mais saudável quando o homem estava melhor integrado ao mundo natural.

Não podendo mudar o mundo, mas podendo mudar a si mesmo, Christopher se meteu no que chamou de sua "Revolução Espiritual". Doou todo o dinheiro de sua conta bancária - 24 mil dólares- para a caridade e saiu a viajar em busca de aventura e de um contato profundo com a natureza.

[Mccandless, na natureza]

Um breve resumo de sua aventura pode ser encontrado no artigo da Wiki:

Devido a um problema com o seu velho Datsun amarelo, Chris foi impelido a abandoná-lo junto ao lago Meade, no Vale Detrital, mas isso não o impediu de continuar. Encarou a situação como um sinal do destino e, abandonando junto ao carro grande parte dos seus pertences e queimando todo o dinheiro que trazia consigo – cerca de cento e vinte e três dólares –, Chris McCandless partiu a pé em direção ao Oeste, adotando um novo estilo de vida, no qual era livre e assumia o nome de Alexander Supertramp, seguindo os ideais de Henry David Thoreau, Leon Tolstói e Jack London, em busca de experiências novas e enriquecedoras.

Foi à boleia que chegou a Fairbanks, no Alasca, fazendo amigos e conhecendo lugares magníficos pelo caminho. Entre as suas aventuras destacam-se uma descida do rio Colorado em canoa. Walt e Billie McCandless, pais de Chris, ainda tentaram encontrá-lo, mas em vão. Apenas a sua irmã Carine recebia uma carta de vez em quando, e mesmo ela não sabia a sua localização. Os anos foram passando, e Chris continuava sozinho, algures na América, passando por Carthage, Bullhead City, Las Vegas, Orick, Salton City, entre outros, até chegar finalmente ao destino pretendido: o Stampede Trail. Conheceu Jan e Bob Burres, Wayne Westerberg, Ronald Franz (nome fictício), que se tornaram seus amigos inseparáveis a quem se ia correspondendo por cartas; permaneceu em alguns sítios durante meses, mas partia de seguida para outras aventuras.

Por onde passou, Chris alterou as vidas das pessoas que o conheceram. A sua personalidade forte, muito inteligente e simpática deu uma nova vitalidade a Jan, Franz e Westerberg. Raramente falava de Annandale e de casa, e eram muitas as vezes em que era reservado e ponderado. Mas o rapaz de vinte e quatro anos, que todos conheceram como Alex, cumpriu o seu destino e partiu de Fairbanks em direção ao Monte McKinley, dois anos depois de ter iniciado a sua viagem.

Gallien deu carona a Chris até o Parque Nacional Denali, através do Stampede Trail, um caminho que levava ao interior do Alasca. Também ele simpatizou com o rapaz, que gentilmente lhe contou os planos de permanecer alguns meses na floresta. A única comida que levava era um saco com cinco quilos de arroz, e o seu equipamento era inadequado para quem planejava fazer o que ele se propunha. Ainda assim, o rapaz parecia determinado, e nada o podia dissuadir. Partiu assim para o desconhecido, ignorando a hora e o dia, numa quinta-feira de abril, sem deixar rastro.

Através de um diário que manteve na contracapa de vários livros, com cento e treze entradas, podemos compreender o que realmente aconteceu a Chris McCandless na sua viagem ao interior do Alasca. O seu diário contém registos cobrindo um total de 113 dias diferentes. Esses registos cobrem do eufórico até ao horrível, de acordo com a mudança de sorte de McCandless.

Alimentou-se do que trazia e de algumas bagas que colheu na natureza, tal como de alguns animais que caçou, com sucesso; leu vários livros, rabiscando-os com pensamentos próprios sobre a vida; passeou por diversos bosques, mas o local onde permaneceu mais tempo foi logo abaixo da Cordilheira do Alasca, onde ainda hoje se encontra um ônibus abandonado. O veículo, de número 142 do sistema municipal de trânsito de Fairbanks, foi a residência do Chris nos meses em que se encontrou na floresta. Em seu interior ele escreveu algumas frases, como:

“ Sem jamais ter de voltar a ser envenenado pela civilização, foge e caminha sozinho pela terra para se perder na floresta. ”

Infelizmente, a história termina de forma mais ou menos trágica: o jovem romântido, espiritual e idealista acaba como todos os idealistas: morre em consequência de seus ideais.

A história foi contada no livro:

E no emocionante filme homônimo (com trilha sonora espetacular):



Algumas fotos:


Essa última ficou tão famosa, provavelmente devido ao filme, que dezenas de pessoas a reproduziram (o ônibus ainda está lá):



"Society man, society!"


                                                                        ***

Assim como outros textos publicados neste blog, a primeira versão do texto acima foi originalmente publicada como resposta no site Quora.

16/11/22

Rick Beato: o produtor que te ensina a compreender a estrutura musical das grandes canções do rock


Esse cara manja dos paranauês

Falta música neste blog. Para corrigir essa falha, a postagem de hoje inaugura a minha série de dicas e digressões sobre temas musicais - bandas, gêneros, canções, cantores, clássicos, alternativos, álbuns, produtores, bastidores, tretas, listas e o que mais houver de interessante no mundo da música. O critério é falar sobre música de qualidade, especialmente de gêneros e bandas que eu gosto, ou ao menos dos relevantes históricamente e musicalmente. Mas claro que, como John Ramalho é John Ramalho, pode aparecer por aqui algumas referências musicais kitsch, trash, humorísticas e bizarríssimas para provar que nem só de Chopin vive o homem. Espere por Rogério Skylab e coisas ainda mais doentias. Mas tenha calma: tudo em seu devido tempo.

Por hora, a minha dica número um é o canal de Youtube do músico e produtor norte-americano Rick Beato. Artista e produtor experiente, Rick faz exatamente o que eu sempre quis ver algum professor de música fazer: decompõe a música original mostrando a pegada de cada instrumento, fala sobre a mixagem, os efeitos sonoros, a progressão de acordes e o que torna a música em questão especial ou interessante. E faz tudo isso com uma naturalidade que é absolutamente inspiradora. É definitivamente um mestre em sua área. Seu canal é excelente para quem está começando a estudar música ou simplesmente gosta de saber um pouco mais. (Sugiro fortemente conferir a lista dele de melhores guitarristas, cita uma grande variedade de clássicos dos anos 30 e 40, do blues e até do jazz, sobre os quais eu jamais tinha ouvido falar.)

Abaixo, em sua série de vídeos chamada "What Makes This Song Great", no episódio 75, Rick explica a estrutura, a sonoridade e as sacadas de Under The Bridge, canção famosa da banda Red Hot Chilli Peppers:

\


A dica está dada. Confira o canal do Rick, veja suas playlists, procure um vídeo de uma banda que te interesse e aprenda sobre música enquanto se diverte ouvindo música (e ainda pratica o seu inglês).

09/11/22

Download: Um Sonho de Liberdade (1994)



Filme baseado em conto de Stephen King, "Um Sonho de Liberdade" - "The Shawnshank Redemption" no original - é daqueles filmes obrigatórios.

Embora ficcional, a obra é convincente ao mostrar as fragilidades da burocracia econômica e estatal. Já na prisão, dispondo de conhecimento privilegiado do sistema financeiro e fiscal, o protagonista decide auxiliar na feitura das declarações de imposto de renda dos guardas e na lavagem de dinheiro praticada pelo diretor. Com isso, naturalmente, recebe alguma condescendência das autoridades.

Em certo momento do filme, Dufresne, o protagonista que foi condenado injustamente, reflete: "Lá fora eu era um santo. Entrei na prisão e me tornei um vigarista". Ao que "Red", seu comparsa, interpretado por Morgan Freeman, responde com uma bela gargalhada.

Outro aspecto interessante do filme é sobre certos usos "acidentais" do conhecimento. A trama, no que tem de alegórica, sugere que o saber adquirido pela curiosidade descompromissada pode se revelar importante quando menos esperamos, como no caso de Dufresne com a Geologia. Isto é: não apenas o conhecimento técnico revelou-se útil, mas também o conhecimento amador, diletante.

Não sendo um homem particularmente poderoso ou magnânimo, e ainda em situação desfavorável, Dufresne realiza feitos inusitados e impressionantes, tudo isso porque possui inteligência, conhecimento e astúcia.

Esse é um dos filmes preferidos de muita gente; e é, sem dúvidas, um ótimo filme para assistir - especialmente em família.

Abaixo, o link para download do filme + legenda (o download é via arquivo torrent. Para baixar é preciso ter cadastro no Terabox):

02/11/22

Brasília Esotérica

O que um turista deveria saber sobre Brasília?

Morei no Distrito Federal por quase cinco anos. E se alguém me fizesse tal pergunta, minha resposta instantânea seria aquela que, dentre todas as informações disponíveis, considero a mais curiosa, inusitada e divertida de se saber:

"Brasília é a capital mística do Brasil".

Supreso? Pois vamos aos fatos:

Para começar, o caráter místico da cidade antecede em muito sua construção. Reza a lenda que São João Bosco, já no século XIX, teria sonhado com a capital:

“Entre os graus 15 e 20 havia uma enseada bastante longa e bastante larga, que partia de um ponto onde se formava um lago. Disse então uma voz repetidamente: -Quando se vierem a escavar as minas escondidas no meio destes montes, aparecerá aqui a terra prometida, de onde jorrará leite e mel. Será uma riqueza inconcebível.”

Em agosto de 1883, Dom Bosco, como é mais conhecido, sonhou que fazia uma viagem à América do Sul – continente que jamais visitou. No sonho, ele passou por várias terras entre a Colômbia e o sul da Argentina, vislumbrando povos e riquezas. Ao chegar à região entre os paralelos 15° e 20°, viu um local especial, onde, nas palavras de um anjo que o acompanhava em sua visão, apareceria “a terra prometida” e que seria “uma riqueza inconcebível”.

Setenta e sete anos depois do sonho, era inaugurada no Planalto Central brasileiro a cidade de Brasília, exatamente dentro do intervalo de coordenadas geográficas mencionado na visão de Dom Bosco e emoldurada pelo Lago Paranoá.

A vinculação com o sonho do santo existiu desde o começo da construção da capital, tanto que a primeira obra de alvenaria a ser erguida foi a Ermida Dom Bosco, uma pequena capela em forma piramidal, projetada por Oscar Niemeyer e localizada às margens do Lago Paranoá. Foi construída em 1957 como uma homenagem ao santo – mais tarde feito padroeiro de Brasília ao lado de Nossa Senhora Aparecida – e como um pedido para que ele abençoasse a nova cidade. Além disso, a congregação fundada por São João Bosco, a dos Salesianos, desde 1956 se fez presente nos acampamentos dos trabalhadores – foi a primeira ordem religiosa a chegar ao Distrito Federal. 

Intrigante, não?

Existe também a especulação de que Brasília teria sido moldada como uma versão moderna da cidade egípica de Akhetaton, pois há semelhanças entre as duas. Dizem que Juscelino Kubitschek era maçom (não é informação confirmada), e como maçons gostam de embutir simbolismo críptico em suas obras, as semelhanças não seriam mero acaso. E claro, há quem alegue até que JK foi a reencarnação do imperador egípcio Akhenaton...

[Brasília e Akhetaton lado a lado]

[JK e Akhenaton. Reencarnação ou coincidência?]


Além dessas circunstâncias misteriosas, ou talvez por causa delas, Brasília está repleta de organizações espiritualistas, místicas e iniciáticas. Abaixo uma breve lista de algumas delas, com fotos e anúncios.

  • Maçonaria (Sim, os templários modernos dominam Brasília também).

  • Unipaz - ( Também conhecida como Universidade Holística de Brasília. Já estive lá. O lugar é lindo, e as moçoilas que o frequentam também...)

  • GETAP UNB - (Grupo de Estudos de Terapias Alternativas, com atuação na Universidade de Brasília e na Unipaz. O rapaz com o microfone, criador do grupo, é o psicólogo contracultural Erik Von Berh, meu amigo e uma das mentes mais instigantes que tive a oportunidade de conhecer.)

  • Eubiose (Não sei nem direito o que é. Mas aprovo.)


Há também os usuais: Espíritas, umbandistas, pessoal do Santo Daime e o pessoal do candomblé. E claro, os mais piradinhos, esquisitinhos:

  • Inri Cristo - (Ele mora no Gama, cidade-satélite. Morei lá algum tempo e já fui praticamente vizinho do todo poderoso.)


Então, caro amigo turista, se for a Brasília: vá preparado. É um lugar assombrado por políticos, espíritos, doidos, paranóicos, lunáticos, charlatães, bruxos e milagreiros de todos os tipos. Até o filho de Deus anda por lá.

Venha, mas não esqueça seu chapéu paranóico-protetor!

E não se esqueça, para atingir o Bom Senso e descobrir a Origem da Humanidade, leia o livro: UNIVERSO EM DESENCANTO!




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Noda do editor: como outros textos publicados neste blog, o texto acima foi originalmente  publicado como resposta no site Quora.

26/10/22

A Importância da Literatura

 

[Raul Seixas, meio mulambo, lendo Orwell. De onde você acha que saiu a inteligência irreverente do Raul? E aquelas letras profundas e geniais? O cara lia de tudo.]

                          [Metamorfose, hein? Que sujeito mais kafkaniano!]

Vejamos o que o próprio Raul diz sobre a Literatura :

O Pasquim – Você poderia explicar sua formação literária, como você chegou a esse texto?
Raul Seixas Isso aí é uma coisa interessante. Antes de eu vir pro Rio eu pensava em ser escritor. Eu sempre escrevi. Antes de cantar, eu pensei em escrever. Eu tenho alguma coisa escrita guardada no baú que eu penso em publicar algum dia. Eu sou muito dado a filosofias, eu estudei muito filosofia, principalmente a metafísica, ontologia, essa coisa toda. Sempre gostei muito, me interessei. Minha infância foi formada por, vamos dizer, um pessimismo incrível, de Augusto dos Anjos, de Kafka, Schopenhauer. Depois eu fui canalizando e divergindo, captando as outras coisas, abrindo mais e aceitando as outras coisas. Estudei literatura. Comecei a ver a coisa sem verdades absolutas. Sempre aberto, abrindo portas para as verdades individuais. Assim, sabe? E escrevia muita poesia. Vim pra cá pra publicar.


Assim como o Raul Seixas, em muitos aspectos a literatura foi crucial para minha formação, a tal ponto que não consigo me imaginar, como ser humano, sem ela.

O caráter formativo, expansivo, educativo, os mistérios insolúveis, a riqueza psicológica, geográfica, as sutilezas e ambiguidades humanas, quase tudo o que aprendi de relevante sobre a vida, sobre o mundo, sobre Deus, sobre eu mesmo e sobre os homens, vi exemplificado nas narrativas literárias.

De todos os meus professores, os grandes autores da literatura foram os melhores, os mais honestos e os que menos negligenciaram minha inteligência e minha curiosidade. Diria até que não conseguiria ter atingido o nível de maturidade e estabilidade psicológica ao qual cheguei não fosse a literatura.

Poderia dizer que a Filosofia me ensinou a ter profundidade crítica, a História me ensinou a ser justo com os tempos e a Psicologia me esclareceu sobre as contradições humanas. Mas foi a Literatura que fundiu tudo isso em casos e contextos mais amplos, cheios de vitalidade, pessoalidade e transcendência, tão ricos de significados, interpretações, lições e possibilidades quanto a própria vida.

Mas dizer isso não é explicar. E para que se entenda como tudo isso ocorreu, especialmente aos não iniciados em literatura, convem explicar.

Eis, a seguir, um esforço explicativo. Uma tentativa de tornar inteligível a utilidade prática da literatura. Vou falar apenas sobre um aspecto, para o texto não ficar grande demais. Depois (me cobrem) desenvolvo sobre os outros aspectos.


Modelos Superiores

Todos os estudiosos do desenvolvimento humano estão de acordo que os jovens precisam de bons modelos. Na vida doméstica, na escola, na vida cultural e na vida religiosa. Tão pior será a sociedade quanto mais degenerados forem os modelos nos quais ela se inspira.

Pense agora nos modelos que inspiram os brasileiros do nosso tempo. Pois é! Trágico, não? Numa cultura que produziu gênios universais como Machado de Assis e Padre Landell, as pessoas só conseguem se emocionar com… Neymar. (Um sujeito cuja grande contribuição para o espírito humano foi: nada, absolutamente nada).

Assim, cresci numa cultura destroçada, carente de modelos superiores. Tinha ao meu redor, como símbolos de sucesso, funkeiros, pagodeiros, atores pornô, jogadores de futebol analfabetos e todo tipo de monstruosidade moral e estética disponível.

Como se orientar nesse caos?

Meus primeiros modelos, fora da realidade imediata, vieram da Bíblia. Mas eram modelos que não me atraiam, modelos muito arcaicos, nada tinham a ver com meu mundo. Alguns me pareciam modelos retardados, tolos. Matar o filho a mando de Deus? Não, obrigado. Abraão me parecia um idiota, e eu temia que meu pai realmente acreditasse naquilo, afinal eu era seu filho - situação perigosa!


[Machado de Assis. Quantas pessoas você conhece com uma visão tão profunda, realista e ao mesmo tempo divertida e engraçada dos defeitos e incongruências humanas?]

Vocês já leram Machado? Nunca? Meu Deus, que crime! Dá só uma olhadinha em quão divertido, revolucionário e genial ele era (em Memórias Póstumas..):

CAPITULO LV - O VELHO DIÁLOGO DE ADÃO E EVA

O velho diálogo de Adão e Eva

Brás Cubas
. . . . . ?
Virgília
. . . . .
Brás Cubas
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Virgília
. . . . . . !
Brás Cubas
. . . . . . . .
Virgília
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. . . . . . . . . . . . . .? . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Brás Cubas
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Virgília
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Brás Cubas
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. . . ! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . !
Virgília
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ?
Brás Cubas
. . . . . . . . . . . . . . !
Virgília
. . . . . . . . . . . . . . !

[Agora olha nos meus olhos e diz: é ou não o melhor e mais divertido capítulo de toda a Literatura Universal?]


Logo depois, encontrei variedades de modelos em outros clássicos da literatura, Gulliver e suas ácidas observações me marcaram para sempre, depois Poe, com seu caráter sombrio e excessivamente analítico. Oscar Wilde me deixou meio degenerado, confesso. Todos me trouxeram uma amplitude de espírito, de visão, de entendimento de aspectos diversos da sociedade, mas, fundamentalmente, me trouxeram modos de conduta e referências que exigiam de mim grande esforço para serem compreendidas e mimetizadas. Eu precisava de constante superação para que, de fato, pudesse ser como meus modelos literários, fossem os personagens, fossem os autores. Eu queria utilizar a linguagem que utilizavam, resolver os problemas que resolviam, ter amigos como os deles, fazer tudo com tanto charme, inteligência e perspicácia. Deixar diários e mistérios interessantes para a posteridade, ter lendas a meu respeito.

No mundo real, quem eu tinha para me inspirar? Dois ou três modelos!

Meu melhor modelo acessível no mundo real só fui conhecer aos 13 anos. Era um tio, muito erudito, bem informado sobre todos os assuntos, demonstrava uma grandeza moral, uma razoabilidade, um senso estético e uma apreciação da realidade que jamais encontrei nos círculos neopentecostais (macumbaria pseudocristã) nos quais fui criado. O tio era judeu. Diferente de todo mundo que havia conhecido até aquela idade, ele foi a primeira pessoa sobre quem pensei:

"Esse sujeito é como os personagens e os autores de livros, ele entende como o mundo funciona".

As respostas que as pessoas me davam, na maioria das vezes, não respondiam absolutamente nada, não me explicavam o mundo com clareza e distinção, só me deixavam mais confuso e produziam mais perguntas - que eu fazia, deixando as pessoas irritadas. Mas ele não, ele era realmente diferente. Contava toda a origem de um conceito, as refutações, as diversas possibilidades interpretativas, os eventos históricos que haviam sido influenciados pelas ideias, os erros da comunidade humana ao longo dos tempos... Tinha um vocabulário rico, sabia dizer quem fez o que na História. Em suma: não estava perdido no tempo e no espaço, sabia se situar na grande dimensão da aventura humana, sabia falar das conquistas e das contradições humanas, muito diferente das pessoas que só viviam por viver ou para sobreviver.

Em suma: ele nem parecia brasileiro. As pessoas que eu conhecia tinham só corpo, emoções e instintos. Mas ele tinha mente, tinha inteligência, profundidade psicológica, cultura universal, tinha alma. Meu tio, para usar aqui uma metáfora do Alexandre Soares Silva, "era um membro do clube".

Enquanto a maioria dos parentes o achava estranho pois não era igual a todo mundo, eu pude vê-lo grande, pois pensava e falava com a clareza dos grandes homens do passado, os quais conheci via Literatura. Tenho certeza que se não tivesse a formação literária prévia, só teria reconhecido a superioridade intelectual do meu tio tarde demais, e a teria ignorado como todo mundo fazia.


[Oscar Wilde. Quantas pessoas com um apuro estético tão fino e sofisticado você conhece? Quantos dândis estão em seu circulo de conhecidos?]


Experiência parecida me aconteceu muitas vezes ao longo da vida. Encontrei algumas pessoas sobre as quais eu podia facilmente compreender o comportamento, a lógica afetiva, o imaginário, porque já havia conhecido seus tipos psicológicos na literatura. Logo, já podia antever seus gostos, suas formas de pensar, etc. É basicamente como se eu tivesse à minha disposição um mapa de modos de pensar e de se comportar, com os quais eu podia calcular as consequências lógicas e práticas de determinadas condutas no mundo real (e comparar com as dos livros).

Tudo isso foi particularmente importante porque, com esse mapa, eu pude estabelecer critérios sobre quem me interessava no mundo e quem eu preferia manter distância. E por isso - só por isso - hoje posso me gabar de ter amigos incríveis, que me proporcionam vivências magistrais. Para dar apenas um exemplo, eu poderia citar minha amizade com uma senhora que é provavelmente uma das mulheres mais inteligentes do país.


[Nietzsche peladão com seus amigos. Quantos amigos realmente espirituosos, poéticos e irreverentes você tem?]


Uma boa analogia sobre esse aspecto tipológico da literatura pode ser feita com o jogo de xadrez. Perceba: um enxadrista é tanto melhor quanto mais preparado está para o estilo do seu rival. Quanto mais conhece o comportamento e as tendências do outro, maior é a capacidade do enxadrista de prever os movimentos, de se antecipar. A boa literatura, os clássicos literários, de Dante à Machado, te dão justamente "um mapa" dos estilos dos jogadores. É um mapa de arquétipos e também de situações possíveis. Daí o caráter universal da Literatura, daí sua relevância ao longo de toda a História humana.

O que você leu ontém, você vive amanhã.

Ter utilizado esse mapa me ajudou, por exemplo, a não ter experienciado tanto do racismo que dizem existir em nossa cultura. Afinal, já que eu conseguia entender como as pessoas pensavam, pude me precaver, agindo da melhor forma possível.

E esse é só um dos benefícios da Literatura, ainda há vários outros.


             [ A inspiração da juventude de hoje. Sem mais comentários.]


***


Noda do editor: o texto acima foi originalmente publicado como resposta no site Quora.

19/10/22

As pessoas estão ocupadas demais para a Filosofia?

 

Não. A maioria das pessoas trata as questões filosóficas de forma leviana porque vivem num nível meramente biológico: não aprenderam nem sequer a pensar. Muitos passam a vida inteira sem ascender ao nível intelectual (abstrato). E mesmo os que atingem esse segundo nível, muitas vezes não chegam ao nível espiritual. A Filosofia, mãe de todas as ciências, encontra-se entre o segundo e o terceiro nível.

Assim como ninguém nasce sabendo tocar piano, ninguém nasce sabendo pensar de forma profunda. É preciso ser educado para isso. Se não houver ninguém para educar, será preciso se autoeducar por meio dos livros.

A educação filosófica leva tempo, demanda muito esforço mental, provoca frustração, decepção, angústia, insegurança e, muitas vezes, desestabiliza a personalidade. Raramente o estudo da Filosofia leva alguém a ser alegre e a viver melhor. Pelo contrário, boa parte, se já não era, chega mesmo a ficar depressivo ou antissocial.

O homem comum, em geral, tem asco e desconfiança do intelectual, do literato, do livresco. Ele confia mais nas palavras do pastor do que nas do acadêmico.

Sem contar que o objetivo maior na vida, para muita gente, consiste basicamente em "se divertir". A ignorância da maioria das pessoas é totalmente voluntária. As forças sociais opressoras só precisam de um pequeno esforço para incentivar as massas a continuar assim. A política do pão e circo é basicamente a mesma coisa desde a Roma dos gladiadores.

                                                                      ***

Tive, quando era jovem e nada sabia dessas verdades, uma conversa com um notável exemplar da mentalidade abjeta que move grande parte de nossa juventude:

[…Nesse antro, um sujeito me questionou certa vez o porquê lia tanto. Pensei que era impossível explicar sobre educação àquela criatura. Então, respondi apenas que gostava e que aprendia como o mundo funcionava. Dizendo também que, caso ele se interessasse por algum assunto, ler a respeito poderia informá-lo e esclarecê-lo.

Ele, brilhante, filosoficamente me respondeu:

Ah, fala sério, ler não vai fazer minha pica crescer!

Depois disso, eu compreendi que existem pessoas que realmente não tem interesse algum de enriquecer a própria mente.

Foi só então que percebi que há membros da massa, meus caros, que adoram ser massa…].

Como eu disse antes, vivem num nível meramente biológico. O ser humano é um animal racional? Alguns são, mas certamente não a maioria.

[Tirinha tosquíssima na forma, porém hiper realista no conteúdo, do genial Bruno Maron do Dinâmica de Bruto ]

                                                                     ***

É tolice pensar que todo mundo deveria aprender Filosofia ou que todo mundo deveria se importar com Filosofia. Sempre há quem vá preferir não pensar.

Filosofia não é para qualquer um. Nada há de mais aristocrático e elitista que o conhecimento e a sabedoria.

                                                                     ***


Nota do editor: a resposta acima foi originalmente publicada no Quora.

12/10/22

Qual a razão por trás do desinteresse dos alunos?

 

Bom, vamos lá. Comecemos com um exercício mental:

Imagine que você é uma pessoa curiosa, cheia de energia, fascinada por coisas novas, com uma dose elevada de humor e vontade enorme de se divertir. Em suma: se imagine como uma criança.

Imagine agora que seus pais lhe digam que você poderá ir no maior parque de diversões multitemático do mundo e desfrutar dos melhores brinquedos, quantas vezes quiser. Mas que você precisa seguir as regras de uma autoridade: o senhor Alfredo, seu mestre-guia acompanhante.

Imagine, ao viajar para o parque com o mestre-guia, que você descobre que os dois vão precisar lidar com três problemas pricipais:

  1. Só é possível visitar os brinquedos a pé, sendo que eles ficam muito longe uns dos outros.
  2. Vocês tem apenas 5 horas para aproveitar o parque
  3. E acompanhando vocês há mais umas vinte crianças, todas elas barulhentas, cheias de energia, curiosidade, bom humor e doidas para ir a lugares do parque pelos quais você não tem o menor interesse.

Agora imagine que o senhor Alfredo já visitou o parque tantas e tantas vezes, com tantas crianças ("diabinhos barulhentos" é como ele os chama mentalmente), ao longo de tantos anos, tendo que dar sempre as mesmas respostas sobre os brinquedos, que ele não aguenta mais esse lugar- e nem as crianças. Quando começou, é verdade que ele era jovem e adorava. Mas depois de dez anos fazendo isso, sendo mal remunerado e sem os incentivos adequados, tudo que ele quer é acabar logo esta maldita tarefa e poder ir para casa assistir La Casa de Papel no Netflix.

Para você, a visita é um prazer em potencial, por tudo que ela oferece a sua imaginação e vontade de descoberta e divertimento, mas para o senhor Alfredo é uma obrigação angustiante e um tanto quanto irritante.

Agora, pior, considere que o senhor Alfredo tem um problema de saúde nas pernas, que incham e doem calorosamente quando ele anda por muito tempo.

Agora imagine que o esquema de visita acompanhada consiste em levar você e as outras crianças para uma sala mal arejada, com cores horríveis, acústica pior ainda e mostrar fotos e vídeos desbotados e antigos de como era o parque há 10 anos atrás, assim como dos brinquedos mais próximos (nenhum deles muito interessantes para você) que vocês podem visitar.

Das 5 horas disponíveis, 3 o senhor Alfredo passa com você e seus amigos barulhentos na sala mal arejada, a quarta ele gasta para aplicar uma prova sobre o que ele ensinou na sala mal arejada e a última hora ele gasta permitindo que vocês andem um pouco, jundo dele, e experimentem um brinquedo pelo qual você não tem o menor interesse.

Conseguiu imaginar?

Pois então, depois de repetir essa experiência cem vezes, como você iria se sentir em relação a ideia de visitar o parque com o mestre-guia? Se sentiria animado ou completamente traumatizado e desinteressado, já que sempre foi uma experiência tediosa, limitadora e frustrante?

Bom, essa historinha, a meu ver, é perfeita para explicar o nosso sistema de ensino e os porquês do fracasso retumbante que ele reverbera com êxito em quase todos os seus aspectos. O parque de diversões multitemático representa o conhecimento e as milhares de possibilidades incríveis que ele enseja.

Note que, por natureza, crianças são enérgicas e ficam elétricas diante de um mundo inteiro de possibilidades, coisas novas, animais, cheiros, formas, máquinas, pessoas, brincadeiras, coisas para fazer e para investigar. O mundo lhes oferece uma riqueza fabulosa onde elas mesmas podem decidir o que lhes interessa investigar.

Basta pôr uma criança num Museu, numa Biblioteca ou dar a ela um jogo, ou desafio, que você verá como ela vai, naturalmente, sendo guiada por sua curiosidade e interesse em descobrir coisas e resolver problemas. Nessas situações, vai acontecer da criança ficar tão fascinada com algo que vai imediatamente te perguntar o que é, o que significa e como funciona, aí é justamente quando a curiosidade levou à necessidade de compreensão.

Esse tipo de experiência: o prazer da dúvida, do contato com o misterioso, da descoberta, é o que move a curiosidade natural e resulta na necessidade de compreender, apreender e resolver problemas, ou seja: é a base do amor ao conhecimento. É o que move cientistas, intelectuais, investigadores, filósofos e inventores. É o que move meu autodidatismo e minha paixão em aprender coisas interessantes e resolver problemas que são importantes para mim.

E, bom, a escola mata isso. Estraçalha, na verdade.

Na escola tudo já vem pronto: o que estudar, o como estudar, o onde estudar, o quando estudar e o com quem estudar. Não existe espaço para inovação, arte e criatividade. As matérias são divididas artificialmente, como se no mundo real não houvesse conexão entre Matemática e Português ou Matemática e História, ou seja: como os brinquedos do parque, estão distantes umas das outras.

Assim, mesmo que uma criança possa ser curiosa, a má abordagem de um professor ou de um livro sobre o assunto pode parecer a ela bem menos interessante do que, por exemplo, uma visita ao zoológico ou uma interação com outro grupo de crianças, tão divertidas, curiosas e animadas quanto ela.

Tudo o que a escola requer da criança é a obediência bovina e respostas condicionadas, ou seja: conformação. Quando na verdade a função de um bom mestre deveria ser guiar a curiosidade da criança para apresentar a ela novos universos, nunca sufocar o interesse, as habilidades e gostos pessoais para lhe oferecer a mesma fórmula oferecida a todas as outras.

Como o mestre-guia da metáfora, a maioria dos professores são descontentes, doentes (alguns com sérios transtornos psicológicos), frustrados e tem um domínio quetionável sobre sua matérias, um método sofrível e uma exposição mais questionável ainda.

Ora, agora pense bem: Que tipo de criança ou adolecente vai achar emocionante e inspirador ficar trancado entre quatro paredes, copiando textos e olhando para videos e imagens antigas enquanto escuta a voz monótona de um professor frustrado? Ainda mais quando lá fora tanto as pessoas quanto as coisas parece mais vivas, mais autênticas, mais desafiadoras, mais apaixonantes e mais interessantes!

Em suma: a escola, e seu esquema padrão de ensino, é chata, desinteressante, morta, cafona e limitadora. Enquanto o mundo e os desafios não. É por isso que as crianças preferem os esportes, os jogos e qualquer expansão de contato com o mundo por meio de viajens a lugares desconhecidos.

Jamais esqueça que foi justamente nesse sistema de ensino, que é o mesmo até hoje, que Einsten ouviu de um professor que "nunca chegaria a ser alguém".

Não precisa dizer mais, precisa?

                                          

                                                                *** 

Nota do editor: a resposta acima foi originalmente publicada no Quora em 2019. Até a presente data teve mais de 7 mil visualizações, 257 votos positivos, 23 comentários e 14 compartilhamentos. Entre os comentaristas da resposta uns concordaram e outros discordaram. Um deles, no entanto, trouxe relato que, pela força da verdade que carrega, urge compartilhar:

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05/10/22

O Mundo É Muito Interessante...

Gosto de conhecimento, tanto ao ponto de sentir prazer em obtê-lo. Essa é uma característica tão expressiva em minha personalidade que já me acusaram de "viciado em conhecimento". Descobrir algo novo, fascinante, incrível e inusitado me deixa animado, meditativo, embasbacado; me faz pensar que o mundo é mesmo um lugar muito interessante, cheio de coisas doidas, inacreditáveis. Coisas que podem tornar  nossa experiência de vida muito mais dinâmica e interessante. E quando eu digo "mundo", refiro-me a tudo mesmo: pessoas, animais, objetos, ideias, relações...


                            [ O que fazer quando uma ponte resolve dançar?]

Suspeito que todo mundo tem, ao menos algumas vezes - talvez depois de assistir um documentário do Netgeo - certo deslumbramento com as coisas estranhas e maravilhosas do mundo. Mas, infelizmente, acontece que com o tempo as pessoas se esquecem e param de pensar nas coisas incríveis e misteriosas. Limitam-se ao cotidiano mais imediato, à vidinha suburbana e suas necessidades mequetrefes.

A experiência de estar no mundo e observá-lo é muito mais intensa e impressionante  quando somos mais jovens, e parece diminuir  de intensidade enquanto crescemos. Raramente um homem adulto olha para um cachorro do modo como ele olhou pela primeira vez, ou do modo como as crianças os olham. Raramente um adulto sente o mesmo que uma criança quando vai ao zoológico. Mas por quê? O que torna os adultos menos impressionáveis com as coisas do mundo?

[A mula certamente era lenda, mas frango sem cabeça existiu. E pelo que consta, sobreviveu por mais de um ano.]

Uma forma de explicar esse fenômeno - a apatia dos adultos - é por meio de uma teoria econômica chamada de Lei da Utilidade Marginal. Ela diz, mais ou menos, que quanto mais usamos um bem (ou quanto maior a quantidade dele), mais decresce o valor de utilidade subjetiva desse bem.  Não entendeu? Calma. O melhor jeito de entender é pensar no consumo da água. Se estivermos com muita sede, o primeiro copo de água que tomarmos terá, para nós, um alto valor de saciação. (Quanto mais sede, mais nos alegrará um copo de água). Contudo, nossa satisfação será menor no segundo e provavelmente sumirá no terceiro copo. Se continuarmos, embora já com pouquíssima sede, indo pro quarto e para o quinto copos, não ficaremos tão intensamente  satisfeitos quanto ficamos com o primeiro copo, pois já estaremos saturados. No jargão econômico isso significa que o "valor  de utilidade" subjetiva  do bem - no caso, a água - diminuiu com o consumo.

[E a teoria científica de que alguns dos nossos antepassados eram..macacos aquáticos?! ]

Resumindo, a ideia é que o valor que damos a um bem está, de algum modo, relacionado com a nossa exposição e consumo desse bem. Quando não temos um objeto, ou o temos em pouca quantidade, mais valoroso ele é. Quanto mais o temos, menos valoroso ele nos parece. Isso explica o chamado Paradoxo da Água e do Diamante, que é o fato da água ser objetivamente mais útil que um diamante, mas ser estranhamente muito mais barata que o mesmo. A explicação é que  o diamante é mais caro porque é mais raro, o que aumenta o seu valor subjetivo.


[Vão dizer que é loucura, mas... há indícios de que os fenícios vieram ao Brasil. Será?]

Se pensarmos no mundo como uma fonte de bens do quais dispomos, e daí aplicarmos a lei da utilidade marginal, ficará claro que nossa experiência com o mundo perde valor quando nos limitamos a consumir os mesmos bens, ou quando temos apenas o mesmo circuito de experiências. Um adulto, por exemplo, já teve muito mais experiências de interação com um cachorro que uma criança. Ficamos deslumbrados com as coisas quando elas são raras, quando são novidades,quando fogem do que já conhecemos.


                     [Sabia que em nosso planeta existem lagos cor de rosa?]

Sabendo disso, é preciso lembrar que o nosso planeta é enorme e está repleto de coisas  e experiências que desconhecemos, de bens ( mentais ou físicos) que não temos e que podemos obter ou conhecer, direta ou indiretamente. O fato da nossa inteligência ser limitada faz com que o conhecimento seja sempre escasso. Não importa o quanto você saiba, sempre haverão perguntas, sempre haverão mistérios. Não é preciso reduzir o mundo a nossa experiência mais imediata, ao que já conhecemos. Esse comportamento denota mediocridade, rigidez cognitiva e é terrivelmente limitador. A pior das prisões é a prisão mental, especialmente quando é reducionista.

             [O mestre kame existiu. E isso é algo realmente impressionante.]


Do que foi dito até  agora é possível concluir que a curiosidade é uma aliada imprescindível  dos que querem enriquecer suas mentes e ter uma visão mais ampla do mundo. A pessoa curiosa, com espírito inquieto e investigativo, sempre está descobrindo algo fantástico, curioso e muita vezes incrivelmente útil. Quem é curioso e imaginativo nãose limita a pensar apenas no mundo imediatamente acessível, porque sabe que existe um universo de possibilidades inexploradas das quais ela pode conhecer e dispor.
          
[Se você achou o lago rosa curioso é porque ainda não ouviu falar do tigre azul.]

Portanto se você já estava acostumado com o mundo, espero ter ajudado a mudar isso. Há muito pra se conhecer, para deslumbrar e maravilhar-se. A vida é, como dizem por aí, uma caixinha de surpresas. O mundo também. Mas para descobrir suas surpresas é preciso procurar. E a internet está aí pra isso.

Há milhares de coisas incríveis por aí. Algumas delas muito mais surpreendentes que as que eu mencionei aqui. Se for corajoso, poste uma nos comentários para que eu possa me maravilhar com ela também. E trate de lembrar que nosso mundo é mesmo um lugar muito interessante.



 [Ah, eu não poderia terminar sem dizer que existe uma agua viva que é imortal.]