28/12/22

Relações duradouras têm pouco a ver com amor



É raro que um casal fique junto, durante um longo período de tempo (leia-se mais de trinta anos), por amor. Pode acontecer? Pode. Mas é raro. O amor faz querer casar, ficar junto e até mesmo separar-se de alguém, mas não dá o que é necessário para conviver, domesticamente, a longo prazo.

Isso acontece porque o amor é um bem sujeito à lei da utilidade marginal. Noutras palavras: a quantidade de prazer, satisfação e desejo de proximidade que ele gera decaí com o uso.

O que realmente faz um casal ficar unido por muito tempo - até mesmo quando a paixão e o amor já se esvaíram - é uma série de outros elementos, dentre os quais se incluem: dependência afetiva, necessidade, hábito, medo de mudança brusca e medo da perda de vantagens já obtidas (o ser humano é mais reativo diante da possibilidade de perder um privilégio do que da possibilidade de ganhar outro).

Daí que não se deve confundir as coisas. Se você tem mais de trinta anos de casado, já está de saco cheio da sua esposa (e ela de você). Mesmo que vocês ainda se amem, esse amor é bem menos poderoso, em termos de coesão, do que era no início. No entanto, devido aos outros motivos citados, é grande a tendência de que vocês continuem juntos, mesmo que, lá no fundo, ruminem outras possibilidades. 

Se soubesse disso quando adolescente, eu teria entendido porque meus pais viviam falando em se separar, ou viviam reclamando um do outro, mas nunca se separavam.

                                                                   
                                                                  ***

   Texto originalmente publicado em perfil antigo no Facebook (em 2016 ou 2017).

21/12/22

10 Brasileiras Notáveis Para Conhecer e se Orgulhar

Pensei em listar ao menos 10 grandes mulheres que, por motivos variados, me parecem de grande importância científica, cultural, intelectual ou histórica - ou tudo isso- para o nosso país. E mesmo que algumas não estejam mais entre nós, diria que seu legado continua atual.

Sempre advogando que precisamos de menos bundas e mais cérebros, considero que o brilhantismo, os talentos e as conquistas das mulheres abaixo jamais deveriam ser esquecidos, mas alardeados aos quatro ventos para mostrar a inteligência das nossas mulheres e assim, quem sabe, gerar um verdadeiro Efeito Scully a nível nacional.

Como qualquer lista, não é definitiva e inclui alguma dose de subjetividade, já que selecionei aquelas que, ao longo da minha vida intelectual, mais me impressionaram e impressionam.

Preparados? Então vamos lá:

  • #1-Maria Cristina Abdala Ribeiro

Quando se vai falar dos grandes nomes da Física e da Matemática produzidas no Brasil, todo mundo pensa em Cesar Lattes, Newton da Costa, Marcelo Gleiser e Jacob Palis. E sem dúvidas cada um deles, com seus trabalhos de alto nível, chamaram a atenção do mundo científico e acadêmico.

O que pouca gente sabe, contudo, é que andando junto dessa turma - e tirando onda entre ela - estava, também produzindo ciência de altíssimo nível, uma das mentes femininas mais inteligentes, discretas e penetrantes que o Brasil já produziu: Maria Cristina Abdla Ribeiro.

Fluente em seis idiomas, tendo recebido bolsa para fazer doutorado em física na Alemanha, é doutora em física pela USP, tem um pós-doc pelo Instituto Niels Bohr, foi convidada para trabalhar no LHC, o maior colisor de partículas subatômicas do mundo (sim, exatamente aquela máquina que aparentemente cria buracos negros ), que funciona no CERN, na Suíça. Ela tem ainda outro pós-doc, e mais outro e…Acho melhor parar por aqui mesmo, afinal suas realizações acadêmicas de qualidade constituem um currículo bastante extenso e impressionante. Não iria dar para citar nem a metade aqui.

Sendo uma profissional tão gabaritada no campo da física das partículas, supersimetria e teoria das cordas, com passagem por instituições tão respeitadas internacionalmente, justamente numa época em que a Física é tão popular, acho estranhíssimo - e até criminoso- que a Maria Cristina passe como anônima para a maior parte do povo brasileiro.

Como é que se fala tanto do Lattes e dos outros e tão pouco dela, hein?

Nessas horas, não consigo evitar a questão: onde estão as feministas para exaltar o trabalho e fazer a boa publicidade de uma das mulheres mais inteligentes e qualificadas do país, justamente numa das áreas mais machistas, difíceis e historicamente dominada por homens?

Como é possível que, numa breve pesquisa no Google, se encontre "feministas" defendendo apaixonadamente o direito de balançar as tetas em nome da liberdade ou de ficar seminuas para "combater o patriarcado" (não me perguntem a lógica disso), ou mesmo exaltando figuras ridículas e vulgares como Anitta e Valesca Popozuda, enquanto aparentemente ignoram a existência de uma mulher fenomenal que, com sua inteligência e trabalho, é a prova viva de que as mulheres em nada perdem para os homens quando se dedicam a algo com seriedade e afinco, mesmo algo extremamente difícil e exigente em termos cognitivos, mesmo numa área aparentemente masculina.

Alguém aí pode conceber um feminismo que troque a exaltação da inteligência feminina pela exaltação da sexualidade feminina? Peraí: mas isso não seria justamente o tal do machismo? Bom, deixo essa questão para vocês…

Perdoem-me pela digressão, mas confesso que essa negligência cultural aos nossos gênios me deprime, amigos. Vocês sabem: temo que a existência e a grandiosidade dessa mulher brilhante seja embaçada pelo mar de futilidade e tolice que parece ter contaminado nossa cultura. Na certa, nossas jornalistas e intelectuais "feministas" vão esperar ela morrer para descobrir o quão grande ela foi.

Mas espero que isso não seja necessário.

Seja como for, a Maria Cristina segue como exemplo e inspiração para qualquer pessoa, mas especialmente para aquelas mulheres que são apaixonadas por ciência e conhecimento.

E então, caro leitor, já tinha ouvido falar sobre ela? Ou a desconhecia e ficou curioso?

Para quem quiser saber mais sobre a Maria Cristina, que em termos intelectuais é nosso "Einstein de Saias", recomendo seu trabalho de divulgação científica, que é relativamente acessível para leigos (embora sempre tenha aqui e ali aquelas frases e conceitos meio incompreensíveis - coisa típica dos físicos).

Você pode entrar em contanto com a mente dessa mulher genial pelas seguintes obras e produções:

Por último, preciso dizer que enquanto escrevo estas palavras (28/06/2019) ela continua extremamente ativa em seu campo. E só para fazer inveja, vou revelar que tenho contato com ela. Aliás, posso dizer, com todas as palavras, que longe de ser "apenas" uma mulher genial, ela também é divertidíssima e incrível como pessoa, uma mulher extremamente inspiradora.

  • #2-Nise da Silveira

Filha de um professor de matemática e de uma pianista, minha segunda escolhida foi Nise da Silveira, a médica psiquiatra brasileira que foi discípula de Carl Jung, um dos maiores psiquiatras e psicólogos do século passado.

Acima uma fotografia com mestre e discípula, tirada no II Congresso Internacional de Psiquiatria, em Zurique, em de 1957.

Sendo uma das introdutoras da Psicologia Analítica no Brasil, Nise da Silveira também combateu durante toda a vida as atrocidades cometidas nas instituições de saúde mental , como eletrochoques, torturas e lobotomias.

Por ter sido uma das primeiras mulheres a se formar em Medicina no Brasil (foi a única mulher numa turma de 157 homens!); por sua vida militante, tanto no sentido político (tinha ligações com os comunistas de sua época e chegou inclusive a ser presa) quanto no sentido da saúde mental; por ter tido uma vida compromissada com seus ideais (preferiu não ter filhos para se dedicar inteiramente à psiquiatria); e, finalmente, por sua contribuição intelectual, não posso deixar de considerá-la uma das mulheres mais impressionantes e inteligentes que o Brasil já produziu.

  • #3-Lilia Moritz Scwarcz

Historiadora, antropóloga e fundadora da Companhia das Letras, Lilia é, no campo das ciências sociais, uma das nossas intelectuais mais sérias e competentes.

Sua vasta erudição lhe permite um olhar abrangente e profundo sobre os problemas culturais e históricos que maculam a teia social na qual operamos nossas relações.

Qualquer livro dela é um bom livro.

  • #4-Hilda Hilst

Há muitos motivos pelos quais prefiro Hilda Hilst à Clarice Lispector. E há muitos motivos pelos quais sua obra literária é mais revolucionária e importante.

Hilda se mostrou genial, mas depois de algum tempo, decepcionada com o mercado literário, cuspiu na cara de editores e críticos compondo uma obra tão satânica e provocativa que seria capaz de fazer corar até o Marquês de Sade.

Leiam Hilda Hilst! E vejam, nesta saudosa entrevista, que mulher inteligente, provocante e afiada ela era:



  • #5-Sônia Guimarães

Doutora em física e professora do ITA, uma das instituições mais prestigiadas e cognitivamente elitizadas do país, Sônia Guimarães é mais uma que, em termos de representatividade, fez mais pelas mulheres negras do que qualquer feminista de DCE que eu conheço.

O caso dela é outro que, creio eu, deveria ser muito mais divulgado e noticiado. Pela questão da representatividade, sua importância para a Ciência , para a Academia e para a nossa Cultura, em minha opinião, chega a ser maior que a o do finado Milton Santos.

  • #6-Suzana Herculano

Confesso que sou tão apaixonado por essa mulher que minhas mãos chegam a tremer enquanto escrevo sobre ela!

Perdoem-me, amigos! Tentei escrever sobre ela, juro que tentei. Mas não consegui. E não consigo: meu teclado vai estragar se eu continuar babando em cima dele.

Uma das nossas maiores neurocientistas, Suzana Herculano é simplesmente uma deusa. Assistam:



  • #7-Dilma Rousseff

Confesso que não foi fácil pôr aqui esta senhora. Nutro tanta simpatia por ela quanto Ferdinand Lassalle nutria por Karl Marx, ou seja: zero.

Mas é claro que isso não me impede de reconhecer seu importante papel em nossa História e Cultura, já que, bem ou mal, Dilma representa um tipo específico de intelectualidade feminina; tipo que, em minha opinião, é mil vezes superior as atuais mocinhas afetadas de classe média que acreditam que com posts no Facebook, Twitter, palavras de ordem e eventos parafílicos vão combater o capitalismo opressor e todo o mal no mundo.

A verdade é que você pode discordar de todas as ideias defendidas pela ex-"presidenta", mas precisa reconhecer que, se estivesse numa guerra, iria querer do seu lado uma companheira forte e determinada como ela. Afinal de contas, quantas mulheres se permitiriam passar por tantos sacrifícios e privações para defender seus ideais?

Sobre ela, há quem diga que o que lhe falta em carisma lhe sobra em competência técnica. Faz sentido. De outra forma ela não chegaria onde chegou.

Dilma é uma verdadeira intelectual militante, uma revolucionária de coração e espírito. Sua história e seus feitos são importantes e inspiradores para qualquer mulher de espírito político e guerreiro. E também para qualquer brasileiro que tenha o mínimo interesse pelo próprio país.

  • #8-Petra Costa

A intelectualidade nem sempre se manifesta por livros, cálculos avançados e discursos meramente literários. Quem estudou Cinema e Artes Gráficas sabe muito bem disso. Na verdade, muitas vezes a arte imagética acaba sendo a melhor forma de transmitir uma ideia ou uma dada visão de mundo.

Há em nosso país uma grande tradição de intelectuais documentaristas, que passa por Jorge Furtado, Walter Salles, José Padilha e desemboca no pernambucano dissidente Josias Teófilo.

Seria também essa uma área dominada por homens? Não mais! Com seu belíssimo, intimista e profundo documentário "Helena", Petra Costa se afirmou como uma das intelectuais e artistas mais relevantes do nosso tempo.

"Democracia em Vertigem", seu mais recente documentário, uma peça política repleta de nostalgia utópica e bastante criticável, tem dado o que falar.

Contudo, mais uma vez eu digo: discorde ou concorde com suas ideias e visões de mundo, não dá para negar a importância cultural e intelectual da moça.

  • #9-Luz Del Fuego

Alguém hoje em dia ainda se choca com nudez feminina? Nós estamos tão habituados à sensualidade e ao erotismo, e até mesmo à pornografia - recursos promovidos e exaltados pelo cinema e publicidade - que chegar a ser pueril a crença de que posar pelada hoje em dia seja "um ato crítico de emancipação feminina". É mais um ato de emancipação financeira, isso sim.

Contudo, se tal crença é anacrônica para o nosso tempo, era totalmente válida e realmente revolucionária para os anos sessenta do século passado. E justamente nesse período foi realizada com muita graça, estilo, irreverência e inteligência pela naturista, strip teaser, intelectual e atriz Luz Del Fuego.

Sobre feministas eu lhes digo: Socialista Morena? Credo, passo. Lola Abramovich? Deus nos livre! Luz Del Fuego? Aí sim!

  • #10-Cora Ronái

Filha de ninguém menos que Paulo Ronái (um dos maiores homens de letras que nosso país já teve), amante de ninguém menos que Millôr Fernandes, Cora Ronái teve e ainda tem importância ímpar para o jornalismo brasileiro, especialmente em sua expressão virtual e tecnológica.

Foi a primeira jornalista brasileira a iniciar e manter um blog e foi editora de vários cadernos de tecnologia de jornais influentes. Pelo eterno bom humor, simpatia, inteligência, pela prosa natural, sem pedantismos, Cora Ronái se destaca como uma das nossas maiores profissionais do jornalismo, merecendo assim seu lugar nessa lista.


                                                                      ***


Nota do editor: como outros textos abrigados neste blog, a lista acima foi originalmente publicada (em Junho de 2019) no site Quora.

14/12/22

Mata, Entorpece, Faz Gozar e dá Lucro: Corona Faz Tudo Isso e Muito Mais.


Sempre que, entoando aquela caricata voz paternalista e conselheira, uma autoridade pública lhe disser para não entrar em pânico, fique atento, pois é precisamente isso o que você deve fazer. Infelizmente não ensinam essas coisas na escola, mas, no mundo real, os jornais, governos e autoridades só te dizem para não entrar em pânico quando eles sabem que há motivos de sobra para entrar em pânico. Portanto, toda vez que você ver uma autoridade tentando minimizar um problema dizendo que não há motivos para o caos generalizado, pode ter certeza: ela mente e, muito provavelmente, irá haver caos generalizado.

Misantropo velhaco que sou, conhecedor nato da farsa humana, ao ver o noticiário, algumas semanas atrás, contemplei alguma dessas apresentadoras magrinhas e insossas dizer alguma coisa sobre como o Ministério de alguma dessas áreas importantes que jamais deveriam ser administradas por políticos (Saúde, acho) estava se preparando para o combate ao tal vírus com nome de cerveja cult. Logo em seguida, a mocinha indicou uma série de procedimentos lógicos e básicos de higienização para combater o vírus.

Vejam só! Pleno 2020 - mais de cem anos depois de São Freud! - e eu ainda tenho que aturar essa gente "respeitável" apelando para a racionalidade humana. Ainda mais gente do jornalismo, cuja base de atuação é a propaganda e a criação de consenso, que funcionam com... apelos e mais apelos ao inconsciente.


Se o Corona mata, a Corona salva. Se não salva, ao menos traz aquele bom entorpecimento alcoólico. O qual, no fim das contas, não deixa de ser uma forma de salvação.


Naquele infernal dia, como em geral são os dias no Rio de Janeiro, olhei cauteloso para minha inconsequente progenitora (inconsequente porque me pariu) e lhe fiz o único pronunciamento que um cético social poderia:

_ É sério que alguém ainda espera racionalidade e higiene social do povão?

Nosso povão certamente tem muitas qualidades, mas higiene social certamente não é uma delas. Se nas camadas mais gerais domina uma certa "cultura do corpo" ( em nosso país, por algum motivo, todo popular quer ser Schwarzenegger e toda popular quer ser Kardashian), essas mesmas camadas carecem de cultura cívica - e higiênica - do espaço. Qualquer pessoa com alguma vivência urbana diversa sabe que a lógica espacial do nosso homem urbano médio é a mesma lógica organizacional dos bloquinhos de carnaval e das micaretas. Ou seja: há muita ordem, gente bonita, disciplina e uma organização quase prussiana. Só que tudo ao contrário.

E para melhorar temos o toque. O brasileiro, especialmente o carioca, é um sentimental. Tem sempre aquela coisa (nojenta) do aperto de mão, do beijinho no rosto (arghh!!) e do abraço. Coisas que só são úteis para órfãos carentes, turistas carentes e, claro, terroristas bacteriológicos.

Eu, cá no meu cantinho, observando a loucura dos outros e do mundo, indago: por que, meu Deus, por que as pessoas não podem se comunicar apenas por acenos de mão e cabeça? E por que o vírus só é mais perigoso para os mais idosos? Quer dizer que os detestáveis millenials vão continuar vivos e atuantes? Quer dizer que aqueles que conhecem a história, aqueles que possuem alguma sabedoria, alguma maturidade, alguma malícia, alguns valores tradicionais, algum racismo essencial, algum preconceito notável, algum machismo salvífico, esses, que são os meus, irão morrer? E isso tinha que acontecer logo durante uma das minhas crises de ateísmo!?

Mas tenham calma, meus amigos. Não façam como eu, não se desesperem, não comprem manuais de combate a zumbis e nem estoquem comida em casa. Ainda - ainda!-não há motivo para pânico. Afinal, nessa onda de vírus já criaram até um novo fetiche pornô, sobre o qual nos poderíamos dizer que é um tanto quanto... virótico.

Enquanto você está aí temendo o vírus, tem gente gozando e lucrando com ele. Aparentemente, não há desgraça que não possa ser, de algum modo, cooptada para gerar lucro para algum empresário oportunista.

A estratégia quase sempre é a mesma: apelar aos instintos, nunca a razão.


                                                                      ***


Nota do editor: como outros textos abrigados neste blog, a crônica acima foi originalmente publicada  no site Quora (mais especificamente: em Março de 2020).

07/12/22

Quais são os efeitos negativos da leitura de livros?



Todo mundo sabe que a prática da leitura pode ser muito positiva e enriquecedora, mas e quanto a seus aspectos negativos? Existem? Quais são? Vejamos os possíveis efeitos negativos da leitura e como lidar com eles.

1. Quebra de expectativa. As pessoas dos livros raramente são como as pessoas da vida real. E as mulheres dos livros então, nem se fala. Isso, claro, pode mudar se você lê obras de brasileiros como Rubem Fonseca ou se ler autores trágico-realistas. Mas, no geral, há uma grande distância entre a mediocridade das pessoas que conhecemos na vida cotidiana e daqueles personagens notáveis dos livros. Depois de ler muito, invariavelmente, você vai achar a maioria das pessoas chatas e desinteressantes.

2. Produção de Pensamento Acrítico. Se o livro é de um autor muito assertivo, pouco autocrítico e cheio de verdades, você pode acabar ficando muito convencido de coisas questionáveis e para as quais o conhecimento humano atual não é capaz de fornecer uma resposta definitiva. Sabe aqueles religiosos que SÓ LEEM livros sobre religião e só sabem falar o que a Bíblia diz sobre a Bíblia, num loop autoreferencial diabólico? Pois é. Não queira ser um deles. E o mesmo acontece pra ateus militantes como Dawkins e Sam Harris, que tentam usar a Ciência para provar o que ela não é capaz de provar.

3. Desorientação. Alguns livros podem te deixar com mais dúvidas do que respostas, especialmente os livros de Filosofia. E isso pode realmente te deixar desorientado por um tempo (especialmente se você se focar apenas em autores com sistemas destrutivos, como Nietzsche, Foucault e o bizarro Zizek). Um exemplo notável é que a maioria das pessoas que tem algum interesse básico em Filosofia são facilmente atraídas pela falácia do Relativismo .

4. Ser enganado. Intelectuais mentem que é uma beleza. E sempre usam joguinhos linguísticos, retóricos e erísticos para convencer o leitor. Você ficaria terrivelmente chocado se fizesse uma checagem de fontes de cada livro que lê. O Noam Chomsky, por exemplo, considerado um dos maiores intelectuais do século XX, foi pego várias vezes (250 - pra ser preciso ) com a boca na botija.

E então, como enfrentar esses problemas? Bom, algumas dicas podem ajudar;

Para evitar 1) Leia livros sobre a realidade e não apenas ficção.

Para evitar 2) Leia livros sobre pontos de vista DIFERENTES sobre o mesmo assunto e veja debates de intelectuais e filósofos, não de youtubers. Isso vai te ajudar a a entender como o outro lado pensa. Mesmo que você discorde de uma ou outra premissa da pessoa, é mais fácil respeitá-la quando você entende o pensamento dela. Eu, por exemplo, leio tanto sobre Religião quanto sobre Ciência, e amo as duas áreas.

Para evitar 3) Leia livros de orientação pessoal e emocional, mesmo que pareçam auto-ajuda. Leia biografias de pessoas admiráveis e vai ver como elas lidavam com as coisas para ter sucesso. Quando a abstração torna um problema muito difícil, a prática costuma ensinar como esse problema pode ser resolvido. E quando na prática um problema parece ser simples, a abstração pode mostrar como ele é complexo.

Para evitar 4) Nunca acredite 100% no que você lê, ESPECIALMENTE SE HOUVER POLÍTICA ENVOLVIDA. Entenda - lembre-se sempre disso- que um autor SEMPRE fala mentiras e verdades. Ninguém sabe tudo. Por isso, vai ser preciso peneirar e separar o joio do trigo. E sempre que gostar demais e se sentir “crente” em um autor, trate de ler a críticas à obra e ao pensamento dele.

Pronto, seguir essas dicas vai te ajudar a ser um leitor mais maduro. Você tem sorte, eu tive que aprender na marra. Queria que alguém tivesse me dito antes.

Foto: Chomsky mentindo para uma plateia de universitários inocentes.



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Nota do editor: assim como outros textos publicados neste blog, a primeira versão do texto acima foi originalmente publicada como resposta no site Quora.