27/04/22

Jack Contra o Ódio de Jack


 Samurai Jack. Episódio oito.

A cabeça de Jack é posta a prêmio por Aku. Diversos mercenários, das mais variadas formas e tipos, confrontam Jack tentando derrotá-lo. Nenhum consegue, mas, como são muitos, despertam a fúria do samurai.

Aku percebe então que o estilo de Jack é insuperável. Astuto, mestre do mal, aproveita o ódio do guerreiro para criar um clone demônio, que é o ódio de Jack encarnado. Os dois se encontram e lutam. O Samurai Jack guerreiro da virtude e o Samurai Jack guerreiro do ódio.

Ferem-se. Empatam. Jack aumenta seu ódio contra o rival, o que só o fortalece. Até que, em algum momento, nosso Samurai honrado e sábio percebe que não poderá vencer o demônio com ódio.

Então ele medita. Dissipa seu ódio e vence. Com sabedoria e espiritualidade.

Como o leitor pode ver, há mais sabedoria em Samurai Jack do que imaginaria nossa vã intelectualidade.


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O texto acima foi originalmente publicado no Zuckbook

20/04/22

Esquizofrenia Afetiva e Impermanência


JHN NES
John Nesh e seu grande amigo imaginário. Cena do filme Uma Mente Brilhante.

 

Ao contrário do que normalmente se supõe, a perda do senso de realidade não é o que distingue os loucos dos sãos, mas justamente o que os aproxima.

Usualmente, o louco é caracterizado pela total ou quase total perda do senso de realidade. O homem comum, contudo, é caracterizado pela  perda sempre pontual e parcial desse senso; perda essa que - diferente do caso do louco - não chega a impossibilitar as atividades do dia à dia, mesmo produzindo grandes angústias e confusões no espírito.

Vejamos: o homem comum é levado, pelo hábito ou pela inércia, a crer na realidade dos laços afetivos que cria tal como é levado a crer na realidade do vento ou das árvores. Na infância, se bem educado, ele aprendeu que o destino das coisas naturais é a finitude. Ele sabe que os ventos mudam de direção, sabe que as árvores morrem. Contudo, por algum motivo, quando os laços afetivos parecem fortes e poderosos, ele quer, ele deseja, ele espera que durem para sempre. Pior: ele conta com isso. Diz frases tolas e, inadvertidamente, em discursos apaixonados, faz uso do "para sempre" ou "de até que a morte nos separe". Ele faz  planos. E sonha. De tal modo que a ilusão se agiganta, tornando-se alucinação. Ele alucina na intenção de fazer perene um estado de coisas que, assim como tudo o que existe, está fadado a destruição.

É quando o laço subitamente se rompe, por um jorro qualquer de realidade inesperada - não é preciso a morte para separar, a realidade já basta - que ele vê a ilusão esquizofrênica ir pelos ares. O que parecia real e perene já não é mais. A realidade concreta, cruel, imprevista, atual, golpeia, viola, zomba do que ele julgava a realidade efetiva. E pela primeira vez o homem comum se sente obrigado a indagar-se sobre a natureza das coisas, sobre a natureza da realidade, das relações, dos afetos. Ao refletir sobre o contraste entre a realidade esperada e a realidade vivida, chega, enfim, à metafísica. Levanta questões: "Que é, afinal, a realidade? Que devo esperar dela? Como posso ter me iludido tanto, julgado real o que era imaginário, julgado perene o que era momento?"

Se bem educado, ele se lembrará de Heráclito, lembrará a máxima da impermanência, lembrará que "tudo flui". Ou talvez - mais provável- vá lembrar da canção de Lulu Santos: "...nada do que foi será/ do jeito que já foi um dia/ Tudo muda/ Tudo sempre mudará...". Se for dado a narrativas orientais, lembrará do princípio do "Tao". E talvez, como Proust ou como todos os grandes memorialistas, ficará obcecado pelo tempo, pelas interações humanas, pela natureza ilusória das coisas. Dará algum sorriso de suas tolas pretensões de juventude, quererá ter aproveitado melhor determinados momentos, dito certas coisas a certas pessoas.

Mais tarde, com o passar dos anos, vacilará em suas memórias. Voltará a duvidar do que foi real, do que pareceu real. "Ela me amou?" "Foi minha amiga?" "Era tudo ilusão?", "O que não existe mais, existiu algum dia?". Mas já não dá mais para saber. É tarde demais para saber. Nunca foi possível saberNunca será. Ele então aprenderá que a realidade nunca é óbvia e que sempre há algo de esquizofrênico nos afetos: no início você acredita neles, julga poder provar que  existem. Mais tarde, contudo, sabe perfeitamente bem que são ilusões, tudo coisa da sua cabeça.

Nas palavras dos Titãs "...Eu aprendi/ A vida é um jogo/ Cada um por si/ E Deus contra todos...."

Quando se trata das relações humanas, a única certeza que se pode ter é a da impermanência. Todo o resto é ilusão e esquizofrenia afetiva.

13/04/22

O Melhor Filme de Viagem no Tempo




Dois jovens engenheiros geniais e obsessivos estão trabalhando num projeto de redução da gravidade. Acidentalmente, descobrem uma forma de voltar no tempo.

Um deles, ambicioso, decide usar essa descoberta para regressar no tempo, com informação privilegiada, e manipular o mercado de ações. O outro não acha que é boa ideia, mas acaba concordando. Ambos precisarão lidar com as imprevistas consequências.

Que filme é esse?

Trata-se de "Primer". Uma obra que, entre cinéfilos, é considerada um das melhores e mais acuradas produções cinematográficas sobre viajem no tempo. O diretor, Shane Carruth, é um físico (e engenheiro) que caprichou na coerência teórica e técnica da coisa toda.

Não é exatamente um filme fácil de se entender, mas qualquer problema de entendimento pode ser resolvido pelos vídeos explicativos que os fãs fizeram e compartilharam na internet.

Filme altamente recomendável para nerds.

Segue o trailer:




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Texto originalmente publicado como resposta no Quora

06/04/22

Lista dos Melhores e Mais Inteligentes Podcasts Nacionais

 

É claro que não ouvi todos os podcasts disponíveis, mas os que fortemente recomendaria, dos que ouvi, são:

1 - Scicast (eu nunca ri tanto aprendendo ciência)

2 - Psicocast (análogo ao scicast, mas focado em psicologia)

3 - Mundofreakconfidencial (sobre temas sobrenaturais e estranhos)

4 - EscribaCafé (esse é realmente muito bom. É basicamente sobre histórias interessantes.)

5 - Salvo Melhor Juízo (o Direito abordado de forma agradável)

6 - Papo Lendário (sobre mitologia)

7 - Atrás do Front (podcast do Padma Dorje, um dos comentaristas mais inteligentes e cultos da net)

8 - CaféBrasil (é inteligente)

9 - Número Imaginário (Matemática. É meio monótono, mas o conteúdo vale)

10 - Sobrecast (sobrevivencialismo, catástrofes, o que fazer numa crise. Muito útil se você é do tipo paranoico, militar ou preventivo)


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Edição (do dia 03/08/2019)

Por sugestão da Cristine Martin, que me lembrou alguns que havia esquecido e outros que sempre ouço falar:

11. Mamilos (sobre temas polêmicos e atuais)

12. RapaduraCast (cinema)

13. Cinemático (cinema)

14. Caixa de Histórias (literatura)

15. Gente que escreve (literatura)

 

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Lista originalmente publicada como resposta no Quora