Embora desprovido de grandes pretensões literárias e consciente de minhas limitações nessa arte, creio que - mesmo sendo blogueiro e cronista de menor categoria -, mereço ser lido pelos leitores de crônicas e blogs; especialmente pelos leitores de crônicas e blogs de menor categoria, e mais especialmente ainda pela parcela que sofre de masoquismo literário e desprezo pelos gramáticos. Em minha autoindulgência chego até a considerar que posso, em alguma ocasião, ter escrito algum texto interessante ou provocativo, digno de um público maior.
Menu de páginas deste blog:
07/02/22
O Texto, a Divulgação e a Polêmica da Piriquita
02/02/22
Não Caia na Falácia da Igualdade
![diversidade](https://escritoremcrise.files.wordpress.com/2018/07/diversidade.jpg)
Existe, no mercado de crenças contemporâneo, a ideia extremamente emburrecedora (muito vendida e muito comprada) de que somos todos iguais. Ela é tão alardeada, propagandeada e massificada que aposto que você, amigo leitor, já se deparou com alguma versão.
Se você é um dos inocentes que comprou essa ideia, estou aqui pra te avisar que fez péssimo negócio: você caiu numa vigarice intelectual. Sim, meu amigo, é triste dizer, mas você foi feito de otário.
Calma, não fique bravo comigo: meu papel aqui é te alertar, e não posso fazer isso sem ser claro, sem ser realista e sem dizer as coisas tais como elas são. Por favor, caro leitor, não seja tão vaidoso a ponto de só aceitar a verdade quando ela vem recheada de eufemismos ou quando ela só favorece o que você já acredita.
Compreendo que isso pode ser difícil numa era em que o politicamente correto ameaça dominar a linguagem, mas garanto que ser autocrítico e realista lhe trará maturidade. Honrado e nobre é o ser humano que, ao identificar um tirano filho da puta, alerta seus companheiros declarando alto e em bom som: “Eis aqui um tirano filho da puta”. Por outro lado, vil e imperdoável deve ser aquele que mascara a linguagem para transformar assassinos em santos.
Dito isso, podemos voltar ao tema central.
Já vou explicar o por que você foi enganado. Mas, para isso, lhe darei algumas pequenas tarefas. Nada que doa, eu prometo. Só preciso que você reflita um pouquinho.
Pense por alguns minutos na pessoa mais inteligente que você já conheceu. Pensou? Ok, muito bem. Agora pense na mais burra, na mais ignorante, na mais tola. Notou alguma diferença fundamental?
Pense agora, por alguns minutos, na Madre Tereza de Calcutá. Pense em Chico Xavier, em Jesus Cristo, em Mahatma Gandhi, em Martin Luther King ou simplesmente na pessoa mais sábia que você já conheceu. Agora pense em Hitler, em Charles Manson, em Calígula, no Maníaco do Parque ou simplesmente na pessoa mais cruel e depravada que você já conheceu. Percebeu alguma diferença?
Sem dúvidas, todas essas pessoas tinham algo em comum. Todas elas tinham uma estrutura biológica similar, a estrutura biológica dos humanos. Isso só significa, contudo, que elas tinham coisas em comum, não significa que eram iguais. Ao pensar nelas e compará-las, você provavelmente percebeu que elas não eram psicologicamente iguais. Em outras palavras, você percebeu que elas não pensavam e não agiam da mesma forma.
Os seres humanos, quando comparados, possuem coisas em comum e também discrepâncias. É justamente por conta das discrepâncias, características individuais, exclusivas, que as pessoas não podem são exatamente iguais. O que torna cada ser humano único é o fato de que ninguém possui as mesmas particularidades. É aquela coisa de existir características em você que só existem em você. Aquela coisa da sua digital ser única: a isso chamamos individualidade
Note que é crucial aqui entender o significado da palavra “igual”. Um ente “igual” a outro é um ente cuja constituição total é a mesma que a de outro ente. Agua é igual a H20. Cachorro é igual a Cão. Na boa e velha linguagem da lógica, o princípio da igualdade é formulado como A=A.
Acreditar que somos iguais é, portanto, negar a realidade. E a consequência dessa negação é muito perigosa, pois não estabelece a devida distinção. Tal negação coloca os maus no mesmo nível em que os bons, os virtuosos no mesmo nível em que os depravados, os honestos no mesmo nível em que os mentirosos. Tal negação equivale a não diferenciar um tigre de um gatinho.
Por isso, não caia mais nessa, meu amigo.
25/01/22
A Morte do Guru
19/01/22
Teoria da Solidão Positiva
![]() |
Ludwing Wittgenstein, que deliberadamente se isolou para realizar um dos trabalhos filosóficos mais impactantes do século XX. |
Os relacionamentos interpessoais, especificamente aqueles que não se baseiam exclusivamente no pragmatismo das necessidades cotidianas, só valem à pena quando o desenvolvimento individual — intelectual, moral, emocional — dos membros atinge maiores alturas do que ocorreria com os indivíduos isoladamente.
O que há de interessante aqui é a informação (talvez nova para alguns) de que, em alguns contextos, ficar sozinho produz uma evolução maior do que participar de grupos.
Em síntese; algumas pessoas precisam ficar sozinhas pois, no meio em que vivem, essa é a maneira mais eficiente de evoluírem.
***
Nota do editor: o texto acima foi escrito em 2017 e originalmente publicado no Medium.
02/01/22
Lucas Fez Contato: Breve Nota Sobre o Meu Amigo Mais Descolado
29/12/21
Educação e Crescimento do Pênis
![]() |
O lendário Daniel Fraga |
Durante dois anos, senti-me como Immanuel Kant se sentiria se fosse obrigado a viver entre galinhas, que são, como diz meu irmão, os bichos mais burros que existem. A burrice, no meio onde fiquei, era tanta, mais tanta, que cheguei a me sentir primeiro um sujeito esperto; depois, inteligente; e, por fim, um gênio de capacidade incontestável.
![]() |
O pobre de mente |
Nesse lugar, superabundavam os pobres de mente. Pessoas que são incapazes de compreender a função de um livro, ou o prazer do aprendizado, ou de qualquer coisa que exija algum grau de abstração pós-primário.
Nesse antro, um sujeito me questionou certa vez o porquê eu lia tanto. Pensei que era impossível explicar sobre educação àquela criatura. Então, respondi apenas que gostava e que aprendia como o mundo funcionava. Dizendo também que, caso ele se interessasse por algum assunto, ler a respeito poderia informá-lo e esclarecê-lo.Ele, brilhante, filosoficamente me respondeu:
“Ah, fala sério, ler não vai fazer minha pica crescer!”
29/11/21
Blogueiro: O Cronista da Cultura Esquecida
Assistiu, leu, ouviu? Registre, blogueiro, registre! |
Acrescentei a este blog o recurso de exibir os assuntos em tags por frequência. Feito isso, descobri que até agora (depois de 6 postagens) o tema sobre o qual eu mais falei foram blogs. Um blog falando sobre blogs e sobre pessoas que escrevem blogs - que recursivo, não?
Felizmente criei este site para publicar nele o que eu quiser, e como é um blog sem leitores, ou de leitor único, tem a rechonchuda felicidade de ser um blog acima de críticas. Em verdade, confesso ao meu público inexistente: gosto do que estou fazendo aqui. É simples, é econômico e me impele a escrever.
Há, para escritores iniciantes, várias vantagens em ter um blog, a principal delas talvez seja a efetivação de uma rotina, de uma regularidade no ofício. Outra coisa muito legal e interessante é que não importa o quão descompromissado possa ser um blog, se ele fala a respeito de algo (um produto cultural, uma notícia, um evento) que as mídias maiores não falam, então ele se torna uma fonte alternativa, uma mídia alternativa. Desse ponto de vista os blogs nada mais são que os fanzines da era digital.
Apenas para exemplificar, citarei dois exemplos de blogs descompromissados e em estilo antigo, amador, que me trouxeram informações sobre assuntos culturais não tratados em mídias maiores.
O primeiro deles foi o divertido e meio monótono meuqiabaixodezero.blogspot.com, que é divertido por ser um daqueles blogs "nerds" que compilam informações sobre desenhos, séries e músicas dos anos 80, 90 e início dos 2000, e que é meio monótono porque em todas as postagens a autora começa com a mesma frase: "pois é, minha gente..."
Foi nele que encontrei informações sobre um desenho antigo chamado "Creepy Crawlers", que aqui no Brasil foi batizado como "Os Monstruosos". E foi fuxicando esse blog que encontrei a indicação de uma banda divertida e pouco conhecida, chamada Jumbo Elektro.
Já recentemente, depois de ouvir esta divertida paródia (que é ainda mais divertida para quem já morou ou visitou Sepetiba):
Como eu dizia: depois de ouvir a paródia, indicada pelo meu queridíssimo irmão, eu quis saber quem eram os autores. Lá fui eu pesquisar no Google, e, para minha surpresa, cai num bloguezinho descompromissado de um amante de rock contando sobre sua experiência de ouvir um álbum da tal "Didi Subiu No Cristo", a obscura banda autora do Sepetiba Dreams.
Nos dois casos, os blogs, notavelmente despretensiosos, documentaram fenômenos culturais que não chamaram a atenção da mídia maior, mas que nem por isso deixam de ser interessantes ou relevantes para certos públicos.
E assim o blogueiro cultural, esse personagem menor das Letras e do Web-Jornalismo, se afirma como um cronista da cultura esquecida. Nós lembramos daquilo que os outros esquecem.
Eu gosto, e quem acha que cultura e informação nunca é demais, agradece.
30/04/21
Em Defesa do Charlatão — ou: porque Olavo de Carvalho é um mal necessário
Em artigo originalmente publicado na (ótima) revista Café Colombo, Joel Pinheiro da Fonseca — mestre em Filosofia, baluarte do EPL e integrante do Partido Novo— ataca com unhas, dentes e argumentos um antigo conhecido e colaborador. O atacado é ninguém menos que Olavo de Carvalho, o famoso Guru da Virgínia.
Em principio, estou completamente de acordo com a crítica que Joel traça ao ego acachapante, ao aspecto sectário e à afetação de sabedoria mística tão evidentes em Olavo. Como o mestre em filosofia argumenta, para aqueles que estão familiarizados com o modus operandi do Guru, com seu passado sufi-perenialista, com suas frequentes incongruências, com seus erros cabeludos, paranoias, acusações infundadas e absurdos teóricos, nada é mais notório que o fato de se tratar de um sofista bem preparado, empenhando em vencer e influenciar incautos à qualquer custo.
A questão que quero enfatizar, porém, é que embora Olavo possa atrair gente inteligente e racional para perto de si, acredito que ele, como qualquer guru, só é capaz de hipnotizar aquelas pessoas que já querem ser hipnotizadas.
Explico. Acho que Olavo se aproveita do sentimento de devoção religioso e da disposição de crença de centenas de jovens e fiéis católicos, notavelmente ignorantes em filosofia, mas ao mesmo tempo ansiosos para fundamentar suas expectativas religiosas e condenar a plenos pulmões tudo o que destoe de seus dogmas. Assim, Olavo põe no ar a velha ideia medieval de que a “filosofia é serva da teologia” e os fiéis sentem que aderindo ao credo católico-olavético estarão a contemplar a mais sofisticada e profunda das ciências. Aqui, vê-se que Olavo é, acima de tudo, um místico disfarçado de filósofo.
Já o Olavo político, que só é ouvido e levado a sério pelos sectarios fiéis conquistados através da erística místico-filosófica, aparece como uma bizarra síntese de Gurdgieff, Alborghetti, Joseph Mccarthy e Alex Jones. Uma cria autêntica do espírito brasileiro de compor misturas impossíveis.
Para pessoas razoáveis, é difícil levar Olavo de Carvalho a sério depois de ler o que Orlando Fedeli escreveu sobre sua “Gnose Tradicionalista”. Ou depois de saber que ele, Olavo, rejeita a Teoria da Relatividade, defendendo a terra como centro do universo. Ou, ainda, que covardemente desistiu de um debate — que já havia sido marcado — com o vlogger e Biólogo Pirulla. E fica mais difícil quando compararmos seu comportamento de vinte anos atrás ao comportamento que tem hoje. Vê-se que o homem anda cada vez mais paranoico e enfurecido, vendo em todo lugar “agentes não pagos” do KGB.
Por isso, penso, Olavo só é levado a sério por gente desinformada ou fiéis que seriam capazes de levar a sério qualquer irracionalismo, qualquer guru, uma vez que a cosmovisão religiosa é pautada por uma necessidade de crença no absoluto e não pela necessidade de investigação sobre a natureza última da realidade, como é requisito da busca filosófica.
Entretanto, para nós outros — não olavettes em geral — , Olavo aparece como uma figura ímpar que merece ser lida e analisada, que merece ser discutida por quem pode evidenciar com racionalidade e seriedade suas paranoias e equívocos, justamente para desmascará-los. Falo aqui de conhecedores da obra de Olavo que hoje se opõe a ele, como Francisco Razzo, Jorge Velasco, Caio Rossi e o próprio Joel.
Apesar disso, é importante lembrar que não é em tudo que o guru se equivoca. Ouso dizer que há coisas boas na obra olavética. Sem dúvidas, a melhor delas é a diversidade de referências bibliográficas e intelectuais (“a bibliografia arcana” como chamou um amigo). Eu mesmo, por exemplo, conheci o excelente Antônio Paim lendo artigos do Olavo. E sei que muita gente só atentou para autores como Vilém Flusser, J.G. Merquior, Meira Penna, Alan Sokal, Otto Maria Carpeaux, Roger Scruton, Mario Ferreira dos Santos e Vicente Ferreira da Silva depois de ler artigos dele ou de seguidores. Neste caso, ao menos devemos reconhecer que Olavo é eficiente em indicar autores notáveis. Ao menos como propagandista de intelectuais de peso ele presta.
Em segundo plano, como temas relevantes na obra de Olavo, pode-se citar as explanações sobre importância da Filosofia e Educação Clássica; validade de sistemas de ensino como Trivium e Quadrivium; discussões metodológicas sobre o filosofar; discussões sobre a argumentação, a erística e a lógica simbólica; assim como sobre a questão da importância da biografia de determinado filósofo no que se refere ao entendimento de sua filosofia. Tudo isso aparece na obra do guru, as vezes em forma de duelo com intelectuais divergentes. A rigor, tais conteúdos me parecem questões pertinentes e que devem ser discutidas.
Quando o assunto é Olavo, há que se falar também da questão do desenvolvimento intelectual dos indivíduos, coisa que se dá através do fundamental encontro com o erro. Eu mesmo já fui olavette e — quão difícil é confessar! — já andei a ruminar contra o Foro de São Paulo.
Sei que Joel e tantos outros já passaram por essa fase também. E suspeito que se voltarmos um pouco mais no tempo, veremos que provavelmente já fomos também mais inocentes às ideias de esquerda e às armadilhas da vida intelectual como um todo. Agora, um pouco mais preparados, podemos constatar que evoluímos e fomos desenvolvendo, aprimorando, nossa capacidade de juízo. Ora, tal progresso seria completamente impossível se não tivéssemos errado, não é mesmo? Afinal, que é o progresso senão a superação dos erros? Olavo é, creio, um dos erros mais importantes pelos quais devemos passar.
Costumo dizer ao meu irmão que há três passos para se iniciar na vida filosófica e intelectual: O primeiro é refutar o relativismo; o segundo é refutar o marxismo; e o terceiro é refutar o olavismo. Certamente que é uma piada, mas não deixa de ser séria. Creio mesmo que é preciso dialetizar, absorver o que há de bom e depois derrotar a erística olavética. Insisto que para o real investigador do mundo não há outra alternativa: é preciso investigar toda filosofia — ou filodoxia — que reivindique o status de verdade última.
Puxando sardinha para o meu lado, faço notar que outro tema importante na obra de Olavo é o estímulo ao autodidatismo, aspecto educacional e cognitivo praticamente ignorado no sistema de ensino oficial. Jamais conheci um intelectual de língua portuguesa que desse tanta ênfase à curiosidade intelectual autônoma e espontânea e ao mesmo tempo fosse tão acessível quanto Olavo, e digo isso como um interessado em autodidatismo.
Não que não haja grandes defensores da pedagogia libertária entre os intelectuais brasileiros. Ainda reluzem os nomes de Jaime Cubero e Maurício Tragtenberg entre os expoentes do assunto. Mas, verdade seja dita, nenhum deles possui a mesma acessibilidade que a obra de Olavo.
Vejamos, por exemplo, o meu triste caso. Sou um sujeito pobre, e livro no Brasil é um troço bastante caro. Bibliotecas públicas, para quem mora no interior, são sempre distantes e extremamente precárias. Se desejo me educar, me informar, e então passo a ter contato com a obra de um sujeito preocupado justamente em não se prender a ideia de que educação é algo externo, feita num lugar específico e validada por carimbos oficiais; sendo ainda um sujeito culto e com variadas referências bibliográficas, é óbvio que ele terá papel importante em incentivar minha vida intelectual.
Precisamente o mesmo incentivo que me levou a instruir-me sobre posições outras e chegar até intelectuais como Joel Pinheiro ou mesmo o heterodoxo e interessantíssimo Uriel Irigaray. Nesse aspecto, Olavo está muito a frente dos intelectuais da academia que falam para pessoas que desejam carimbos e ignoram por completo as que estão ávidas por conhecimento. Afinal, porque as pessoas fora da universidade não poderiam buscar se educar e obter um bom nível cultural e humanístico? A falta quase total de consideração aos autodidatas deste país mostra que tal questão nem sequer passa pela cabeça de nossos pedagogos.
De qualquer forma, assuma ou não o Joel, a verdade é que Olavo tem lá suas qualidades, algumas das quais procurei mencionar neste texto. Além disso, Olavo também tem mérito: é o pai espiritual da Nova Direita, sendo uma figura proeminente no novo vigor que recebeu o ambiente intelectual brasileiro, principalmente na internet, particularmente nos últimos dez anos.
Sem dúvidas, é preciso falar sobre ele. Diria ainda que é preciso lê-lo e enfrentá-lo, e até mesmo expô-lo como fez o Marco Antônio Villa, como o próprio Joel está a fazer agora.
Enfim, digo com todas as letras: até que apareça um intelectual popular, realmente culto e bem mais simpático, o Guru da Virgínia será um mal necessário. E os que, como Joel, Uriel e Razzo, conseguirem passar por ele, certamente sairão fortalecidos e poderão contribuir intelectualmente, confrontado as incongruências do guru e abrindo os olhos das pessoas.