23/08/23

13 Intelectuais Importantes Para Compreender a Direita Brasileira




Luís Inácio Lula da Silva é, novamente, o presidente da República Federativa do Brasil. Com ele no cargo, a centro-esquerda keynesiana, nacional desenvolvimentista, neoidentitária e "politicamente correta" volta ao poder.

Para os que se interessam por filosofia política, história, cultura e erudição; sejam de esquerda ou de direita; vale, para sair do cercadinho do jornalismo atual, marcado por palavras de ordem e ideias feitas, conhecer ao menos as principais obras e ideias dos grandes críticos da esquerda brasileira.

Vale conhecer suas teorias espiritualistas, morais, economicistas, históricas, sua visão social, política, suas vidas, suas filiações, seu estilo de pensamento, sua argumentação e suas mudanças de pensamento. Importa porque quem bebe na fonte tem informação qualificada. Quem tem informação qualificada pensa melhor. Quem pensa melhor, entende mais.

Conhecimento básico e honesto dos autores abaixo ensinará as diferenças e conflitos entre liberalismo, conservadorismo e fascismo; entre reacionários e conservadores, entre tradicionalistas e liberais, entre antisionistas e sionistas, entre liberais clássicos e liberais progressistas, entre capitalistas e fascistas, entre integralistas e nazistas, etc.

Aqui no Brasil infelizmente o comum é que "professores doutores", "historiadores", "sociólogos" e "intelectuais" que dão aulas em universidades não saibam essas coisas.

O meu leitor, caso queira, pode saber delas e de muito mais. Ser ignorante é uma escolha possível, e tem sido a preferencial do brasileiro, mas os meus amigos e leitores são pessoas inteligentes, que valorizam o próprio cérebro e o conhecimento que ele pode adquirir. Gente curiosa e que procura pensar com independência crítica.

Dito isso, eu recomendo que, havendo interesse, leiam e analisem as ideias, o pensamento social, cultural, econômico e político de:

1 - Machado de Assis

Deixe a careta de lado. Calma, eu explico: não sendo propriamente um autor de teoria política, Machado de Assis era monarquista, eurófilo e culturalmente elitista. A visão da psicologia do brasileiro e da cultura brasileira que ele expressa em seus livros é negativa, pessimista. O sentimento de que nosso comportamento é vicioso, precário e hipócrita, cheio de bajulação a autoridades, de conformismo, de mediocridade... Tudo isso vai compor um ceticismo social que é muito caro a crítica conservadora.

2- Gustavo Barroso (Historiador, Integralista)

O Barroso, historiador muito erudito, escreve aquelas "verdades proibidas" sobre o império bancário e o poder sionista. É autor pra ler "escondido", mas que não se pode deixar de ler.
3- Plínio Salgado (Integralista)

Líder de um dos movimentos políticos mais interessantes e nacionalistas que já existiram no Brasil. Misturou ideias do fascismo, do trabalhismo, do socialismo cristão e do integralismo português, rejeitando o materialismo capitalista, o racismo europeu e o comunismo soviético. Buscava a ideia de integrar os aspectos humanos fragmentados nas teorias políticas ( o homem não é apenas sua raça, o homem não é apenas um servo do Estado, o homem não é apenas um indivíduo, ele é tudo isso, num todo orgânico, cheio de tensões e condicionantes. É, portanto, necessário uma "teoria integral do homem", que não o reduza a um condicionante particular arbitrário).Trata-se de uma síntese muito original e interessante, e que hoje, pela indigência mental da intelectualidade dominante, é lida como "fascismo/nazismo". Quando na verdade era justamente uma crítica construtiva a essas e outras correntes.

É, obviamente, outro autor pra ler "escondido".
4- Nelson Rodrigues (Conservador, "reacionário")

Como pode um pervertido como o Nelson - "anjo pornográfico", como o chamou Rui Castro - ser um conservador? Ele não foi o único. Hilda Hilst, Marcelo Mirisola, Leon Bloy e Ewelyn Waugh, que escreveram coisas horríveis e pérfidas, eram todos católicos. Por hora, não revelarei. Mas os motivos são pra lá de interessantes.

5- Carlos Lacerda (Liberal-conservador, udenista)

Dizem que é um dos maiores canalhas da história do Brasil. Eu não sei. Mas sei que era um homem muito eloquente. Ex comunista e maior inimigo de Getúlio Vargas, foi um dos responsáveis pela crise que levou ao suicídio do pai dos pobres.

Além de eloquente, era corajoso. Em plena crise de 64, antes que os militares de direita tomassem o poder, enquanto tudo era rumor de que haveria um golpe de militares da esquerda, ocupou o Palácio da Guanabara e desafiou o General esquerdista cotado para dar o golpe:

"General Aragão, general Aragão, não se aproxime, porque eu te mato com o meu revólver!".

E mais: homem de cultura, traduziu "The Roots Of Coincidence", do Arthur Koestler. Livro muito interessante e que é um dos livros preferidos do Alan Moore.

6- Paulo Francis (Conservador, crítico cultural)

A melhor prosa do jornalismo brasileiro. Referência fundamental. Bom representante da elite carioca: na juventude foi da contracultura, do teatro e um dos fundadores do jornal O Pasquim (com Ziraldo, Millôr e outros). Perseguido pela Ditadura, mudou-se para os Estados Unidos. Vivendo lá, conheceu a liberdade individual do liberalismo e encantou-se. Deu uma guinada e assumiu-se conservador. Foi um escândalo. Tretou com gente da esquerda e da direita. Tirava o sono do Caetano Velozo. Sempre muito espirituoso, informativo e divertido.

7- Olavo de Carvalho (Neocon, sionista, crítico cultural)

Chorem os mais sensíveis, mas o Olavo é importante. Basta olhar pro Bolsonarismo e pra multidão de macaqueadores dele pra saber o tamanho de sua influência.

Recomendo a trilogia noventista - A Nova era e a Revolução Cultural, O Imbecil Coletivo e O Jardim das Aflições, porque tem um vasto panorama de crítica a movimentos culturais relevantes no mundo e no Brasil, e que continuam ecoando, aparecendo ou ditando os debates por aqui. Entre os três, o mais importante é O Imbecil Coletivo, porque demonstra os chavões presentes na retórica esquerdista acadêmica e a indigência intelectual de alguns de seus representantes.

Certamente um autor pra ler "escondido". O que evitará importunação da esquerda e da direita. Ler criticamente o Olavo te garantirá o ódio dos esquerdistas, por tê-lo lido, e o ódio dos direitistas, por tê-lo criticado. Vá sem medo: é um autor bem engraçado, com uma veia satírica talentosa, aliada a um espírito de porco primoroso e uma língua muito mais do que viperina. Leon Bloy tupiniquim.

8- Diogo Mainardi (Liberal, crítico cultural)

O Diogo, espécie de filho bastardo do Paulo Francis, não é profundo e nem é rigoroso. Mas diz verdades. Escreve com a sinceridade que só os debochados conseguem. A mentalidade da classe média alta, com seus preconceitos, preferências e ideias feitas, cristaliza-se nele de forma quase caricata: é ateu, liberal, anglófilo/eurófilo. Além disso, ele escreve bem, seu estilo é muito divertido.

9- José Guilherme Merquior (Liberal, crítico cultural)

Génio das humanas, é, ao menos em alguns de seus livros, o autor mais difícil desta lista. Cada parágrafo seu é um caldeirão de referências culturais, históricas, literárias e teóricas. Os intelectuais de esquerda reclamaram que ele citava livros demais, e por isso seria "pedante". Era, pelo contrário, um leitor assombroso, a ponto de impressionar Claude Levi Strauss e Ernest Gellner. O ensaio crítico que ele fez sobre Foucault é pra ler e reler.

10- Eduardo Giannetti (Liberal)

Clara, rigorosa e analítica, a prosa do Giannetti me lembra um pouco a do Bertrand Russel. Não é por acaso: Giannetti morou na Inglaterra, estudou e foi professor em Oxford. É um liberal ponderado cujo racionalismo iluminista é assombrado pelo ceticismo. Tensão muito interessante e curiosa. Giannetti diz não acreditar que as pessoas levem as ideias a sério. Tem, inclusive, um livro a respeito (O Mercado das Crenças), mas nem por isso deixa de escrever livros. Sinal de que talvez ele acredite nas ideias.

11- João Pereira Coutinho (Liberal - conservador)

Português radicado no Brasil, o JPC é outro que faz o estilo intelectual europeu. Só que muito pior, porque ele é europeu mesmo. Analítico e ponderado, é um dos principais nomes da direita liberal não histérica.

12- Oswaldo Meira Penna (Liberal- conservador, analista de psicologia social)

Diplomata erudito com formação junguiana e ampla experiência internacional . O livro dele sobre a psicologia social do brasileiro - Em Berço Esplêndido - é indispensável, e obra pouco conhecida na vida intelectual universitária.

13- Enéas Carneiro

Poucos homens públicos no Brasil foram tão honestos, inteligentes e apaixonados pelo Brasil como o professor Enéas Carneiro. Ex militar, herdeiro do positivismo, o homem era um gênio. Médico cardiologista com trabalhos de referência, era também professor de matemática, física e química. Homem que ascendeu pelo estudo, Enéias era disciplinado, firme e atribuía valor e responsabilidade aos cargos ocupados por autoridades. Interessado mais do que tudo na soberania brasileira, criou um partido para "reedificar a ordem nacional". Naturalmente, pelo discurso moralista, tom autoritário, estilo caricato e inteligência elevada, foi rejeitado pela mídia liberal e também pela esquerda.

***

É claro que o natural complemento dessas leituras são os tradicionais nomes de esquerda: Jorge Amado, Florestan Fernandes, Glauber Rocha, Luis Schwartz, etc. Eu recomendo ler os críticos da esquerda quando ela está no poder e ler os críticos da direita quando ela está no poder, porque é na ação concreta do poder que os aspectos mais negativos saltam aos olhos.

É, sim, um esforço intelectual. Não é desumano, mas também não é desprezível. Aprende-se mais com essas leituras do que se aprende nos cursos de História, Jornalismo e Sociologia atuais. Aumenta em muito a capacidade de compreender a complexidade da vida intelectual nas ciências sociais. Ajuda a entender a importância do polemismo e do ensaísmo, da crítica cultural.

Se o leitor fizer o mesmo processo com autores de esquerda, terá um rico arsenal de referências e fundamentos para analisar as opiniões veiculadas em nossa mídia e criticá-las com propriedade.

16/08/23

Hierofante contra Ceifeiro




Quando eu era criança a minha família morava numa casinha humilde, num terreno cedido por meu avô,  parte de um lote maior do qual ele era morador e dono.

Não era um sujeito legal o meu avô. Havia algo de maligno nele.

Meu pai, que nunca  fora muito respeitado pelo ancião,  aceitara o terreno antes de se casar. Pensou que seria boa oportunidade para se aproximar do pai, um velhote boêmio, inconsequente e bugre,  que o gerou mas nem sequer o registrou com seu sobrenome. Ainda assim, nutria pelo velho uma sincera piedade. Papai carecia de uma vigorosa relação familiar, pois crescera numa família problemática e desorientada, sem a companhia tão importante de uma figura paterna. Meu avô nunca tratou bem o meu pai, no entanto, seu gesto de doação sugere que, a despeito de sua brutalidade, havia nele fagulhas do desejo familiar que abundava no filho.

Jovem, trabalhador e cristão: assim era papai. Casou-se com minha mãe e foi morar ao lado de meu avô. Homem com profundo senso de dever, meu pai era disciplinado e sagaz. Embora fosse inculto, faltando-lhe educação formal, superava esse inconveniente com maestria de gênio. Por ter saído de casa ainda menino, enfrentou o mundo na base do "eu me viro", desenvolvendo um sistema de conhecimento empírico incrivelmente preciso. Com três ou quatro princípios do comportamento humano, abstraídos de suas experiências, conseguia realizar milagres. Era um sujeito que certamente Dale Carnagie gostaria de entrevistar.

Meu avô, por outro lado, era desses ébrios incuráveis que, com curiosidade grotesca, as vezes observamos cambalear pelos bares. Embora trabalhasse como estivador, a sua miséria moral impedia-o de inspirar dignidade. Entre seus piores vícios estava o de conceber o ato sexual como mero alívio para suas necessidades animalescas e frustrações pessoais, culminando no terrível hábito de distribuir filhos entre as perdidas da cidade como quem distribuísse doces em dia de São Cosme e Damião. Tenho, por esse motivo, dúzias de parentes que  não conheço. 

Contudo, é preciso dizer: papai não sentia vergonha dessa sua origem; e, menos ainda, orgulho. Ele acreditava que as virtudes advém de restrições morais auto-impostas e da devoção a um ente absoluto e superior. Não tendo qualquer desses dois, a desgraça seria  completamente natural. E se não se envergonhava de sua pobreza, não tinha  intenção alguma de permanecer nela. Para ele, a evolução social era  consequência do trabalho duro, honesto e do uso adequado da inteligência. Era esse caminho que estava a percorrer. Não conhecia as ideias modernas do determinismo de classes e, se lhe contassem, era pouco provável que acreditasse. Quanto aos que obtivessem riquezas por meios contrários e imorais, pensava que seriam punidos: se não pelo homem, certamente pelo Criador. O mesmo valia para os que se deixassem seduzir e guiar apenas pelas paixões e  baixos desejos.

Havia, entre ele e meu avô, uma tensão que crescia. Papai era nobre de carácter, embora não o fosse de origem social, enquanto meu avô era um pária, em quase todos os sentidos. Mas isso sou eu quem diz. Papai não pensava assim do meu avô. Ele não desistia das pessoas que amava, mesmo que  as vezes não compreendesse muito bem  porquê as amava.  Conforme o tempo passava  a relação entre os dois ia ficando progressivamente difícil. Cada nova felicidade, cada conquista suada do trabalhador pobre que era meu pai, ia sendo encarada pelo velho como uma espécie de ofensa profunda, como se o desenvolvimento do filho lhe despertasse  a consciência da desgraça em que se havia inserido. 

O clímax dessa tensão se deu quando meu avô adotou um cão. Era um vira-lata  pulguento e doente, mas o velho parecia gostar do animal. Sua satisfação talvez se originasse do estado em que o bicho se encontrava: tão decadente quanto ele próprio. E o meu pai, com três filhos pequenos e alérgicos, sentiu-se desconfortável. Preocupado com os filhos, resolveu que iria ele mesmo cuidar do cachorro. Em ocasião propícia, meteu-se a  limpar o vira-lata. O ancião, que não deixava de censurar toda e qualquer atitude do filho, ao observá-lo no ato, perguntou o que fazia com o animal. Com naturalidade, papai explicou da doença dos filhos e da necessidade de higienizar o cão, alegando que não se importava em limpá-lo.

Foi o suficiente para enlouquecer o velho, que colerizou, endiabrou-se. O mal espiritual e psíquico que há muito o alimentava subiu-lhe à cabeça. No instante seguinte, tomou-lhe o corpo. Por fim, apoderou-se da alma. Calado, andou até o lugar onde guardava suas ferramentas. Calado, voltou. O andar, sinistro, ritmado era pelo descompasso entre a perna boa e a perna coxa. Seu olhar, envelhecido, raivoso, demoníaco, permitia antever uma tragédia. Sua cor, negra, brilhosa, acusava a ascendência africana, revelando naquele entardecer uma herança mística de seus antepassados. À sua frente o pequeno e inocente animal - que, cansado dos maus tratos que tivera na vida, certamente desejava alguns carinhos e cuidados - olhava-o curioso, abanando o rabo, franzino, sem desconfiar de seu fim desonrado e iminente. Nas mãos do dono brilhava uma foice. 

Todo o ambiente da cena compunha uma atmosfera de energia e emoção tão sinistras que, caso percebidas por um observador espiritual, faria-o lembrar da deidade da morte: o Ceifeiro. Meu pai compreendeu de imediato. Possuía espiritualidade autêntica, tinha percepção do mal. Cauteloso, afastou-se. Com perplexidade e abatimento viu o pai, aquele pelo qual se esforçava em ser próximo e amigo, estraçalhar com crueldade bestial o próprio animal de estimação.

Não era um sujeito legal o meu avô. Havia algo de maligno nele.

O grito de pavor  do pobre vira-lata jamais deixaria de acompanhar as lembranças que meu pai carregaria consigo. "Seu avô era ruim, meu filho" disse-me em algumas ocasiões, exibindo o olhar melancólico de quem gostaria que tivesse sido diferente. Tal evento teve significado muito profundo em sua vida. Se já havia nele o desejo por uma família forte, com valores, bons laços fraternais e virtudes de caráter, essa disposição passou a ser intensificada quase obsessivamente.

Em pouco tempo minha família se mudaria. E meu pai, junto de minha mãe, criaria os filhos com todo o esmero, amor, virtude e honestidade que sua obrigação de nobreza moral lhe impunha. Pretendia-se um antípoda de seu pai. Se o velho fora um Ceifeiro, tanto da vida quanto dos laços familiares, ele seria um Hierofante; aquele que estabelece os laços, que equilibra, que protege a família e a orienta, que sacraliza a vida e sacrifica-se por tais laços caso necessário. 

E ele se sacrificou, mais de uma vez. Principalmente por mim, o filho desgarrado, a quem o espírito de morte e de autodestruição, o mesmo do meu avô, incrustou-se na alma frágil, amorfa, sugestionável, amedrontada com o mundo e o fracasso. Mas meu pai, Hierofante, sempre me indicava a raiz dos males morais e espirituais, e onde combatê-los, ensinando-me que  o bem e o mal existem, que podem ser percebidos, e que é preciso as vezes fugir, as vezes lutar, mas sempre resistir ao mal.

Eu, infelizmente, só vim a reconhecer isso tarde. Se é possível que algum atavismo maligno seja transferido de geração em geração, aliciando os descendentes mais inseguros, é uma pergunta que sempre me faço. E se essa pergunta é apenas uma forma que encontrei de buscar causas externas para meus próprios demônios, é também uma questão que me aflige. Seja qual for a pergunta ou a resposta correta, penso que não as encontrarei.

No fim das contas, são questões que não importam. Aquilo com que devo me preocupar, a minha empreitada vital, deve ser a constante luta para que, em meu âmbito psíquico e moral, o  legado do Hierofante triunfe sobre  o do Ceifeiro.
 

09/08/23

Por que me afastei das pessoas...

      

Nota do Editor: o texto abaixo foi originalmente publicado como resposta no site Quora.

***                            

                                       [O Eremita. Do Tarôt Rider-Waite]


Porque me afastei das pessoas?  

Tive tantos motivos que chega mesmo a ser difícil elencá-los. Caso tentasse, porém, ir até a gênese da coisa, buscando a primeira de todas as razões; provavelmente seria obrigado a concluir que afastei-me das gentes devido a percepção da estranhíssima e seguinte verdade:

Eu adquiria maior orientação interagindo com os livros do que interagindo com as pessoas.

Tal coisa percebi ainda na adolescência, período da vida onde a instabilidade era a regra. Se ganhava novos conhecimentos e relações, ganhava também novas angústias e frustrações. Diante do mundo religioso que me era estimulado pela família; diante do mundo cultural que avidamente consumia na forma de quadrinhos, rock, livros e cinema; diante da vida social e das paixões carnais, das quais nada entendia, e diante da vida técnico-científica que me era apresentada na escola; minha mente viu-se tomada por exuberante fauna de dúvidas e inseguranças capitais.

Sendo um filho de professora, nunca pude fugir ao didatismo. Por isso, sentia que antes de decidir qualquer coisa importante, precisaria compreender um mínimo do mundo. Esclarecer-me. Saber o que era importante e o que não era. O que era verdadeiro, o que era engano. Quando você é um jovem romântico e problemático, que está completamente perdido no mundo, orientação é o bem mais relevante que se pode conseguir.

Os livros, mesmo que também me trouxessem muitas dúvidas, ampliavam, mais do que as pessoas, meu contexto cultural e cognitivo, não apenas de forma quantitativa, mas também de forma qualitativa. Com eles eu não só aprendia mais, mas aprendia melhor. Os livros levavam as perguntas muito a sério, dedicavam páginas e páginas de análises para compreender e esclarecer problemas difíceis. Havia neles uma seriedade, um compromisso, um brio intelectual, uma racionalidade analítica, que, sentia, faltava em meu meio de origem. Isso para não mencionar também a beleza estética da linguagem empregada.

Entre os 13 e 16 anos, enquanto meus amigos mais integrados "comiam todas as menininhas da cidade", eu lia “O Último dos Moicanos” e também “As Viagens de Gulliver”. Livros que fizeram-me um estrago brutal. Deles vieram meus primeiros rudimentos de sensibilidade e consciência moral. Desvelaram a mim os absurdos, as incoerências, as injustiças e as loucuras dos homens. O primeiro de forma épica e trágica, o segundo de forma mordaz e satírica.


                                                        [Dança com Lobos.]


O bom cinema estragou-me também. Filmes que muito me influenciaram nessa faixa etária foram: “Sete Anos no Tibet”, “Dança com Lobos”, "O Conde de Monte Cristo" e “O Último Samurai”; todos envolviam homens perdidos, amargurados, em situação de distância e isolamento de seu mundo de origem. Filmes que retratavam a alienação do herói, primeiro passo para a evolução filosófica e espiritual, lugar-comum da estrutura narrativa. Fizeram-me equacionar solidão e distanciamento com aquisição de sabedoria.

Sentia falta de pessoas (adultos) extraordinários e inspiradores. Escasseavam na vida real, mas superabundavam nos livros e nos bons filmes. Na biblioteca da escola, disponíveis para me instruir, estavam: EinsteinMichiu KakuJonathan SwfitBill BryssonCurzio Malaparte e centenas de outros cavalheiros com a mais vasta erudição, sofisticação e experiência de vida. Todos indivíduos de espírito e distinção. Fora da biblioteca, não conhecia nenhum ser humano que trouxesse em si tanta magnitude. Via naquele local silencioso, que eu considerava um Templo da Sabedoria, o ambiente de uma comunidade de sábios, gênios e aventureiros. Era jovem, mas já intuía a existência de uma Cultura Universal, de uma Sabedoria Universal. Ali eu poderia ter acesso as palavras desses homens, saber o que pensaram, o que viveram, como viram o mundo, o que tinham a ensinar. E descobrir o porquê eram considerados tão importantes.


                [ Einstein. Não basta ser inteligente, é preciso ser também irreverente.]


Sendo eles de tamanha importância histórica e cultural, pensava que deveriam ter alguma orientação, deveriam saber como o mundo funcionava; saber de coisas importantes que os outros não sabiam. Afinal, não eram eles os chamados gênios? As chamadas “grandes mentes”? Certamente não haviam chegado onde chegaram por acaso. Certamente tinham algo a ensinar. Eu aprenderia com eles. Com suas vivências, ensinamentos, opiniões, conselhos; e, possível fosse, seria tão grande quanto.

Pois quanto mais interagia com as obras originadas por essas e outras mentes ilustres, mais ampliava a percepção da futilidade e decrepitude das mentes ao meu redor. Vendo que a futilidade era a regra, a sabedoria tornava-se um bem raro; e, portanto, altamente valoroso. Percebi a futilidade das gentes, decepcionei-me com a futilidade das gentes: afastei-me da futilidade das gentes. Busquei a sabedoria. Dos sábios.


                               [Perder tempo com os tolos? Não eu..]


A verdade é que ninguém pode imergir na parvoíce das gentes sem tornar-se também um tanto quanto parvo. A mente não apenas é moldada pelo conteúdo com o qual a alimentamos, mas torna-se também uma reprodutora desse conteúdo. A mente é uma replicante de memes*. Daí a importância de uma cultura que eleve e nos instigue à virtude e não ao vício. Já jovem sabia muito bem disso. Como a cultura ao meu redor parecia induzir ao vício e a confusão, julguei necessário me resguardar. Busquei pessoalmente, muitas vezes isoladamente (algumas vezes socialmente, em pequenos grupos de amigos), cultivar uma outra cultura. Uma que não apenas me entretesse, mas que me inspirasse, que me ensinasse a ter alguma orientação no mundo, a responder minhas dúvidas capitais, a compreender melhor e a ser alguém melhor.

Assim o fiz. Assim o faço. Por isso o afastamento.

Fato é que nunca me tornei exatamente alguém melhor. Na maior parte das vezes, sigo sendo o mesmo traste de sempre, entretanto, ao menos alguma orientação mínima e alguma compreensão mínima (do mundo, dos homens e dos deuses) eu obtive. Não é muito, mas é já alguma coisa.

Me arrependo de me ter afastado das pessoas?

Nem por um segundo.


*O termo "meme" é usado aqui em seu sentido original, isto é: uma unidade mínima de ideia ou conteúdo mental reproduzível culturalmente.



02/08/23

Como é a vida de um vagabundo

 

[Novos Baianos - A face da vagabundagem artística]


Embora seja verdade que ando procurando emprego, não posso, não devo e não tenho a mínima pretensão de negar que sou, em espírito e em ideologia, um vagabundo.

"Vagabundo Intelectual", "Ocioso Profissional", "Vagabundo de Elite" são alguns dos termos que poderia usar para me descrever. O que mais gosto, no entanto, é o sonoro e retumbante "Elite da Escória" (Será, se tudo der certo, título de algum livro ou conto futuro).

A vida de um vagabundo profissional, dentro dos seus limites, é boa - provavelmente melhor que a vida de muitos de vocês. Certamente não é para qualquer um, já que exige um nível de desapego e de distanciamento social considerável; junto da permanente instabilidade financeira, é claro.

Contarei já tudo o que é necessário saber sobre esse estilo de vida. Mas antes, como me é típico, trarei alguns esclarecimentos prévios. O amigo leitor, caso queira, pode pular para a segunda parte.


[Colin Wilson - o vagabundo literato]

  1. De como me tornei um vagabundo profissional

Ao contrário do que se pensa, não é fácil se tornar um vagabundo. Não estou considerando aqui aqueles casos em que não houve escolha, onde o processo foi consequência de fracassos pessoais e de uma certa maré de azar. Não foi o meu caso, nem o dos meus amigos. O nosso processo foi ideológico/ filosófico: está totalmente atrelado a um sistema de crenças e valores que desafia os modelos e as imposições sociais da civilização atual.

Sofri influências diversas. Literárias, cinematográficas, filosóficas. A ideia de uma vida simples e contemplativa, do Thoreau; a sugestão de uma vida boêmia e calorosa, do Jack Keruac. Um modelo mais próximo e contemporâneo, Eduardo Marinho, outro; o Alexander Supertramp. A história do Leonardo Maceira; viajar sem dinheiro pelo Brasil tirando fotos de belas mulheres nuas em meio à natureza. Contagiante. Qual artista aventureiro não gostaria de uma experiência dessas? E a base filosófica mais profunda veio do Bertrand Russel em seu Elogio ao Ócio. Também os relatos de Orwell sobre seu tempo de vagabundo - Como Morrem os Pobres e Outros Ensaios - e o ensaio de Tocqueville sobre a pobreza me cativaram. Tolstoi, com seu cristianismo anarquista naturalista, uma influência mais distante. Thomas Merton, com sua apologia da solidão, também.

Enfim, modelos não me faltaram. Fossem aristocratas, burgueses, intelectuais, drogados, monges ou pobretões.

Entendam: sou um sujeito livresco, artístico, cultural e contracultural, com certa admiração pelo que foge à regra. O que as pessoas normais acham absurdo, fora do comum, coisa de maluco, acho interessante, faz parte do meu imaginário. Então viajar de carona, levar uma vida boêmia ou ser um tanto vagabundo sempre foram ideias bastante aceitáveis para mim, pois me lembravam as experiências de pessoas que eu admirava.

No entanto, perceber que o modelo de vida vagabundo era, para mim, psicologicamente mais saudável do que uma vida integrada ao sistema foi algo que só aprendi com o tempo. Já fui um agente do sistema. Já estive em suas entranhas, vi seu funcionamento torpe e corruptor por dentro. Estive nas forças armadas, convivi com autoridades, tinha uma carreira estável. Estive numa das melhores universidades públicas do país, tive acesso à nossa elite, seja a intelectual seja a econômica. Em todos esses lugares, sempre me impressionou a mesquinharia, o imaginário débil, a preguiça intelectual, a burrice, o medo da superioridade alheia, a hipocrisia, o corporativismo tacanho, a sujeição bovina aos símbolos de status e autoridade, a burocracia kafkaniana, as leis sem sentido, o fuzuê geral que se instaura em cada instituição, em cada debate, em cada círculo do funcionalismo.

Com o tempo, foi ficando claro que eu tinha uma forma de pensar, um tipo psicológico, um certo sentimento filosófico - outsider - que não era comum. Fui percebendo que nessa sociedade, nessa cultura, as pessoas como eu acabavam enlouquecendo. Alguns dos meus amigos, iguais à mim, foram parar no hospício. Outros, no caixão. Eu iria pelo mesmo caminho, não tenho dúvidas. Já tinha até carta de suicídio pronta.

Por outro lado, minha vocação em escrever e ter uma vida contemplativa, em ser um observador da loucura do mundo, em pôr o dedo nas feridas, se fazia cada vez mais pujante. Até que uma série de tragédias - incluindo o suicídio de alguns bons amigos - me fez perceber que minha sanidade estava também indo para o ralo, e logo eu teria que - como a maioria de vocês- viver à base de psicoterapia, remédios de tarja preta, sessões de auto-hipnose na igreja evangélica e conselhos do Dráuzio Varíola e do Flavio Gikovate. Então, apreensivo, optei por um período de isolamento com a tríade: eremistismo urbano + misticismo cristão + vagabundagem filosófica.

Pôr a mente no lugar, deixar a vocação fluir. Encontrar Deus no Silêncio, nas Trevas e na música de Wagner. Foda-se o resto.

Inteligência, orientação e sanidade sempre foram importantes para mim. Se o único jeito de mantê-las era me afastando da sociedade e frustrando as expectativas dos meus pais, tudo bem; era um preço que eu podia pagar. Aceito bem a infâmia.


[Renton e sua trupe de vagabundos junkies - Trainspotting]

2. Aspectos da vida de um vagabundo.

Tempo

O vagabundo tem tempo, não tem pressa para quase nada. A únicas grandes preocupações são com o mínimo de comida, de saúde e de moradia (E, no meu caso, com o caminhar da vida intelectual e espiritual).

Se o vagabundo acorda e diz: "Declaro hoje feriado pessoal. Está proibido trabalhar." É a Lei e não se fala mais nisso.

Podemos passar horas sentados, descompromissadamente, observando o ambiente ao redor, refletindo, comparando nossa vida livre com as das outras pessoas, cheias de compromissos, presas a todo tipo de senhores, padrões, comportamentos, relações e ideias.

A noção do tempo dos vagabundos, obviamente, não é das melhores. O vagabundo pode demorar muito para fazer as coisas. Hoje é quinta? Sexta? Sábado? O vagabundo não sabe. E nem se importa.

Stress

Em decorrência dessa liberdade de ação, o vagabundo não tem stress, ou o tem em pouquíssima quantidade. Pode ficar ansioso quando se aproxima o dia de pagar o aluguel, ou temerário depois do segundo dia sem comer, mas a vida lhe ensinou que há, quase sempre, alguma resolução, que a Providência não abandona os justos, nem aqueles que tentam sê-lo. O vagabundo tem fé, tem fé em Deus, tem fé no Destino, tem fé em milagres, tem fé na bondade humana.

Ele é, a um só tempo, um homem só, abandonado, e um exército de resiliência.

Renda

O vagabundo sabe, mais do que todos, que dinheiro, por mais importante que seja, está longe de ser a coisa mais importante. Ele consegue as coisas, muitas vezes, na base da lábia, da amizade e da boa fé. Ele não teme se expor. Sabe de sua condição e não pretende negá-la. Mesmo não sendo apegado ao dinheiro, sabe que deve honrar seus compromissos financeiros quando são com pessoas. Como o vagabundo entende que pessoas jurídicas não são pessoas, ele se permite furtar algumas coisas do supermercado e dar alguns calotes institucionais aqui e ali.

Mas sempre há algo que o vagabundo sabe fazer. Eu, por exemplo, escrevo - mal, mas escrevo. Também desenho - mal, mas desenho. Eu sei hipnose - pouco, mas já impressiona. Também sei falar, dar aulas, entreter. Quando o vagabundo não é bom em obter dinheiro com seus talentos (meu caso), ele sabe ao menos onde ir e obter recursos de graça ou a preços irrisórios. Vai recorrer, evidentemente a caridade dos bem afortunados, sejam parentes, sejam amigos, sejam desconhecidos. Ou aos órgãos públicos destinados ao serviço social. Aqui em Brasília há, por exemplo, o "Rorizão", Restaurante Comunitário cujas refeições (café da manhã e almoço) custam apenas dois reais cada.

Os caridosos, por sua vez, amam o vagabundo, especialmente quando é esclarecido. A maioria das roupas que tenho, ganhei. Perfumes, ganhei. Relógios, ganhei. Livros, também.

Saúde

O vagabundo conhece os melhores métodos de sobreviver às intempéries e privações. Ele sabe o que comer para manter a imunidade elevada, sabe como se exercitar, conhece as receitas mágicas, passadas de geração em geração, para curar as moléstias. Conhece as plantas, sabe onde obtê-las. E se ele não sabe de nada disso, conhece quem sabe.

Vida interior

Não dispondo de muitos recursos externos, o vagabundo se volta para si mesmo. É um homem cuja vida interior é invejável, de imaginação aflorada, com uma memória vívida do passado. A prática da reflexão, pelo tempo, fez dele um filósofo, naquele sentido kantiano do termo, segundo a qual a maior característica do filósofo está na reflexão aprofundada e não necessariamente no conteúdo da reflexão.

O vagabundo pode conversar sobre qualquer assunto que envolva aspectos humanos. Ele desenvolveu uma capacidade incrível de separar o que é realmente importante na vida e o que não é.

Amizades

Está aí o que talvez seja a maior fonte de prazer para o vagabundo. Ele pode ficar sem comer, sem pagar o aluguel, sem atualizar seu vestuário, mas não pode ficar sem beber com seus amigos. Muitas vezes, os amigos acabam o induzindo a se entorpecer além do álcool, o que ele faz, embora vá se arrepender depois.

Há momentos em que a rabugem lhe toma conta e então ele se torna agressivo e desdenhoso. Mas logo se arrependerá e recorrerá, novamente, aos amigos. De onde sempre extraí ânimo de viver e alguma força. Por isso o vagabundo é extremamente fiel aos amigos, como um cachorro. Está disposto não só a fazer o bem, mas mesmo a fazer o mal para defender os seus.

Tragédia Existencial

O vagabundo tem muito claro para si a dimensão trágica da vida. Ele não nega suas dores, seus sofrimentos, nem os alheios. Mas nada disso o faz fraco, pelo contrário. Encara a morte de um amigo, por mais que o ame, como encara a morte de uma borboleta ou a imprevisibilidade geográfica dos raios: são fatos da vida, inevitáveis, inescapáveis.

O vagabundo é, sobretudo, um estoico. Jamais se incomoda ou se revolta com aquilo que não pode mudar. Longe de se rebelar contra a Natureza, ele a respeita profundamente.


E há, certamente, muito o que poderia ser dito. Mas creio que pude lhes dar ao menos uma breve dimensão desse estilo de vida. Não recomendo. É só para os doidos.

"As únicas pessoas que me interessam são as loucas, aquelas que são loucas por viver, loucas por falar, loucas por serem salvas; as que desejam tudo ao mesmo tempo. As que nunca bocejam ou dizem algo desinteressante, mas que queimam e brilham, brilham, brilham como luminosos fogos de artifícios cruzando o céu."

Jack Kerouac


26/07/23

Intelectualidade e Solidão

 

[Os processos de cognição e significação acontecem no cérebro e no espírito do estudante. Se a pessoa é burra, não gosta de pensar e é incapaz de fazer esforço mental, não há professor que ajude, nem método de ensino que resolva.]


Aprendizagem é um processo que acontece, em grande parte, na sua mente. Não adianta o melhor professor do mundo, com a melhor didática, com a melhor aula. Se você não fizer esforço pessoal, cerebral e espiritual para compreender o tema em questão, então não irá compreendê-lo.

E aí vem a causa da solidão: é a minoria que está disposta a fazer o esforço necessário para aprender tudo que é relevante e importante na vida intelectual.

Se o que se quer é ser como qualquer um, fazer as coisas no nível de qualquer um, pensar como qualquer um, então o caminho é, realmente, se misturar com qualquer um, ouvir qualquer um, fazer o que todo mundo faz e, em consequência, obter os mesmos resultados e ser como o homem médio, com aquele QI médio nada lisonjeiro, típico de uma sociedade cuja cultura contém uma dose extremamente elevada de anti-intelectualismo e de praticidade imediatista.

Por outro lado, se o que se quer é obter resultados superiores, compreensão superior, ser diferente da turba, será necessário agir de modo diferente da turba. É preciso saber que a vida intelectual, nos seus aspectos mais exigentes, mais elevados, não é uma escolha, mas um sacerdócio. É vocacional, não é para qualquer um. Ela exige mais do que o homem comum está disposto a sacrificar.

Quanto maior e mais profunda for a compreensão de um homem sobre um assunto, mais dificuldade as pessoas terão para compreender o que ele está dizendo, e por conta dessa dificuldade, menos interesse elas terão. Não estão dispostas a fazer os mesmos sacrifícios para adquirir as mesmas habilidades cognitivas, a mesma profundidade e a mesma sensibilidade intelectual. Isso acontece em qualquer área do conhecimento, é um padrão que tem a ver com a estrutura hierárquica do conhecimento, que reflete a estrutura hierárquica da Natureza.