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24/11/21

Covardia e Citação

Nayane L: bela, culta e descolada. Figura sempre presente em meu passado. 
 
Reconheço que, afetivamente, sou um covarde. Medroso, negligente e magistralmente covarde. Frequentemente penso que deveria dizer certas coisas a certas pessoas. Explicar, esclarecer, fazer com que me entendam, pedir desculpas pelos tantos vacilos, mostrar que apesar de ser um imbecil, eu gostaria de não ser tão imbecil. No entanto, raramente sou capaz de abrir a boca e, olhando nos olhos, dizer o que é necessário no momento em que é preciso dizê-lo. Minha opção é outra: sair de fininho e esperar que a pessoa me esqueça. É a covardia afetiva em ação. Como sei ser solitário e estou mais acostumado que a maioria, a solidão não me apavora - embora a ideia de solidão eterna certamente cause alguns arrepios. 

E assim este estranho blogueiro prefere a solidão a ver-se em situação de fraqueza emocional. Sente o maior pavor de que descubram seu lado sensível e consciente, já que no fundo não passa de um romântico sentimentalóide.

Essa característica medíocre, que é apenas uma das várias características medíocres que constituem a minha personalidade medíocre, faz com que eu abandone ou perca várias relações interessantes e inspiradoras. Especialmente com as mulheres. Especialmente com as mulheres que importam: as cultas, literatas, espirituosas, vivazes...

Foi o que aconteceu em minha amizade com a Nayane L. Estudamos juntos na Universidade, fomos amigos e trocamos e-mails durante dois anos. Um moça deveras interessante, uma amiga literata e  virginiana. Mais uma das boas amizades que perdi. 

Hoje senti vontade de escrever a ela. Ao invés disso, preferi visitar-lhe o blog, num exercício de nostalgia covarde. A última vez que visitei não estava disponível. Mesmo assim, quis visitar. Nayane é uma escritora, tenho certeza disso. Escritores precisam manifestar-se. Os blogs, sendo populares ou obscuros, cumprem essa demanda. 

Grata surpresa foi descobrir que o blog de minha (antiga) amiga está novamente disponível. Conferi alguns textos e fui procurar o trecho que mais me comove. Ei-lo:

"Até que ponto podemos nos sentir sozinhos? Outro dia, recebi um e-mail onde um amigo diz que quase todos meus textos soam como um grito desesperado de socorro. Talvez sejam. Talvez eu sempre cantarole músicas tristes, enquanto caminho pela vida com a pose de mulher bem-resolvida, pedindo um socorro baixinho. Acho que você nunca notou essa minha anatomia extremamente frágil e melancólica. Eu constantemente peço socorro, – aqui respondo ao meu bom amigo – um socorro não se de quê, não sei de quem, não sei de onde. Eu tenho um desassossego na alma que me engole inteira, sem pestanejar."

O amigo era eu.

28/04/21

Cansei do Feicibuque e fiz este blog



Nunca fui uma pessoa popular, e nunca quis ser. Sempre achei que a popularidade exige certo cinismo, certa hipocrisia ou, ao menos, certa leniência com a estupidez alheia. Não tenho muita paciência com estupidez. Gosto pouco da minha e menos ainda da dos outros. O que significa que evito conversas e interações desnecessárias com quem considero estúpido: acho que são perda de tempo, me tiram a paciência e nada me acrescentam. Além disso, tendo a verbalizar meus pensamentos, e se penso que alguém é estupido, é provável que eu diga ou insinue, coisa que, dependendo do meu humor, posso fazer de modo sutil ou escrachado - e isso é melhor não fazer, porque gera conflitos e ressentimentos desnecessários. 

Não sendo e nem querendo ser popular, fui sempre impopular, e persistentemente polêmico. Polêmico não porque eu queira, mas porque as pessoas tendem a achar estranho e prestar atenção em quem discorda delas. Mesmo assim, por gostar da vida cultural letrada, fiz questão de escrever análises opinativas e publicar na rede social do Zuckerberg. Para minha surpresa, chamei a atenção de algumas pessoas bem espertas.  Algumas, concordando ou discordando, comentavam e sempre acrescentavam, enriquecendo minha mente. Foi legal por um tempo, fiz amigos e ganhei até alguns admiradores, gente que compartilhava minhas postagens e elogiava alguns textos. 

São muitas as críticas que podem ser feitas ao Facebook, e muitos analistas culturais já as fizeram. Mesmo concordando com boa parte das críticas, fui um usuário assíduo da rede. Acontece que, ao longo do tempo, estabeleci algumas relações interessantes ali, e em maior quantidade do que na vida fora da internet. Lá, na rede do Zuck, tenho acesso às opiniões e perfis de grandes cientistas, professores, artistas, escritores e militantes diversos. Pessoas que não encontro em meu meio social imediato (que é periférico e precário...). 

Por tudo isso o Facebook foi muito útil e importante para mim, um mero nerd e blogueiro pretencioso, mas sem recursos e originário da periferia do Rio. Sem ele, eu dificilmente teria travado contato com figuras relevantes dos  meios científicos, artísticos e literários do país. Então acho até que fiz bom uso, porque busquei por pessoas mais inteligentes e tentei aprender com elas. E eu realmente aprendi um bocado.

O  que me cansou no Face foi a mesma coisa que me cansou no Quora: o público. Talvez não exatamente o público, mas a dinâmica do debate, das reações e das explicações posteriores, cada vez mais necessárias. Se escrevo sobre algo polêmico ou trago alguma linha de raciocínio ou de humor menos comum, são poucos os que compreendem. Algumas reações, muito caricatas, se repetem a cada elaboração incomum. Eu sei que faz parte, e o objetivo do texto é provocar o leitor. Sei que quando não há compreensão, é importante tentar esclarecer. O problema é que essa é a parte que envolve paciência e outras qualidades que, muitas vezes, eu não tenho.

Comentários e reações de natureza profundamente débil-mental eram mais comuns no Quora, porque  lá meus textos recebiam mais visualizações. No entanto, na medida em que expando meu círculo de contatos interessantes e necessários no Face, tenho que lidar com comentários descabidos, o que me frustra e cansa. Sei que não sou o único, porque outros amigos já reclamaram da mesma coisa.

Por isso eu decidi substituir minha escrita no Facebook pela escrita neste blogzinho, que é  muito simples e feito apenas para isso mesmo: escrever, sem precisar ficar explicando cada vírgula ou sutileza em meus raciocínios. Virá por aqui o que me der na telha. O que certamente não é bom sinal...